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História da Igreja 3ª Época: Capítulo IV

Século Décimo

O décimo século da Igreja foi assinalado por muitos deploráveis acontecimentos, devidos à prepotência exercida em Roma pelo conde Adalberto e por suas filhas Marósia e Teodora. Estas duas ambiciosas mulheres intro­duziram no Pontificado, por meio da força, os de seu partido, sem Consideração alguma a sua vir­tude e doutrina. Por isso, muitas vezes, fizeram-­se eleições nas quais, homens de pouca ciência e de não muito bons costumes eram preferidos a ou­tros que por doutrina e santidade eram os únicos que mereciam ser eleitos. Deve-se por outra par­te notar, que muitas coisas que se referem aos papas desta época, têm sido exageradas por histo­riadores posteriores e pouco inclinados à Igreja. Um cuidadoso estudo da história deste século pôs em claro que a calúnia e a maldade levaram vá­rios escritores a falar mal de alguns Papas, que autores imparciais acharam dignos dos maiores elogios. Igualmente deve-se fazer sobressair a especial assistência que prestou Deus a sua Igreja, posto que neste século, não houvesse heresia ou cisma, contra o qual fosse necessário convocar um concilio universal.

Progressos da fé

Neste mesmo século muitas nações abraçaram o Evangelho. Os Polacos com o seu duque Micislau converteram-se ao cristianismo; o mesmo fizeram os Húngaros, que depois de terem saqueado horrivelmente as igrejas cristãs, foram convertidos por São Estevão seu rei, que por isto é chamado o apóstolo da Hungria. Es­te monarca era muito devoto da Mãe do Salvador, sob cujo patrocínio pôs sua pessoa e seu reino, exemplo que seguiram mais tarde Luiz XIII, rei de França; Carlos Manoel II, duque de Sabóia, e a república de Genova. Também abraçam a fé de Cristo os Dinamarqueses os Turcos, os Nor­mandos com seu feroz chefe Rolon à frente, e os Russos; no mesmo tempo suscitava Deus nos países já cristãos, homens esclarecidos por sua santidade, para conservar e aumentar neles a fé.

São Bruno

Pelo fim do século nono e no princípio do décimo os Sarracenos e os Longobardos tinham assolado os mosteiros da Itália e da Espanha, ao passo que na França a guerra civil e os Normandos saqueavam os mosteiros e dispersavam os religiosos que os habitavam. Via-se por isso um grande número de monges expulsos de seus claustros andar errando de um a outro país e de uma a outra cidade em busca de asilo e entregues à maior miséria. São Bruno tratou de prover a estas necessidades públicas.

Nascido na Borgonha de família nobre, para evitar os perigos do mundo, entrou na ordem beneditina e fez maravilhosos progressos nas ciências e na virtude. Era superior da abadia de Aniano, quando o duque de Aquitânia, Guilherme o Piedoso, o convidou a que fosse aos seus estados procurar um lugar adaptado para uma fundação religiosa. Bruno escolheu um deserto per­to da cidade de Cluny, donde proveio o nome da nova abadia. Quando Bruno a fundou, foi seguido somente por doze companheiros, porém pouco a pouco a estes se uniram outros, que sob suas ordens foram fundar outros conventos e abadias. assim formou-se a famosa congregação de Cluny, donde saíram tantos homens esclarecidos por doutrina, santidade e milagres. Morreu Bruno no ano 927 com o consolo de ver florescer a observância en­tre seus religiosos. Alguns martirológios o cha­mam bem-aventurado; outros lhe dão o título de santo. (V. Moroni art. Cluny e Cong. Cluniac.)

São Romualdo

Nasceu este santo em Ravena no ano 956, e desde jovem sentiu-se prodigiosamente levado a abandonar o mundo e a fazer-se religioso no mosteiro de Santo Apolinário, próximo da sua cidade natal. Sua vida era mortificação contínua; trabalhava sem descanso durante o dia, e passava as noites inteiras em oração. Cingia seu corpo um áspero cilício. Possuía o dom da profecia, conhecia o interior dos corações e dava a conhecer a muitos as culpas que tinham cometido em segredo, com o que conseguiu converter a muitos obstinados pecadores. Desejando ganhar a palma do martírio, pôs-se em marcha para a Hungria a fim de levar ali a luz do evangelho; porém não o quis Deus, enviando-lhe uma enfermidade que lhe reaparecia sempre que queria pôr-se novamente em marcha. Retornou à Toscana, a um vale dos Apeninos onde lançou os alicerces do célebre mosteiro dos Camaldulenses, assim chamado porque então eram conhecidas aquelas terras por Campos de Maldo, nome do seu dono. Consumido pelos trabalhos e austeridades, tendo predito muito antes a hora de sua morte, voou ao céu São Romualdo no ano 1027 para receber a eterna recompensa. Seu corpo se conservava ainda incorrupto quatrocentos e vinte anos depois de sua morte.

Heresia de Estevão e de Lisóio

Nos princípios do século onze, tentou Satanás dar nova vida à heresia dos maniqueus, os quais, como já dissemos, ensinavam que há dois deuses, um bom e outro mau. Começou-se a manifestar o funesto erro em Orleans, cidade de França, e eram seus mais célebres propagadores Estevão e Lisóio. Como eram tidos estes no conceito de homens doutos e virtuosos, puderam em mui pouco tempo difundir tão monstruosa heresia. Para dar alguma idéia de suas torpezas, é suficiente recordar o que eles faziam em suas reuniões. Reuniam-se de noite em determinado lugar; quando se achavam todos presentes, tomava cada um deles uma luz na mão e recitavam juntos ladainhas em que invocavam os demônios, até que aparecia um, dentre eles, sob as formas de um pequeno animal. Então entregavam-se a toda sorte de excessos: tomavam um menino de oito dias, o atiravam no meio de uma grande fogueira em sacrifício aos demônios, e ajuntavam depois as cinzas que deviam servir de viático para os enfermos. Foram acusados ao rei de França que mandou se apresentassem perante um concílio convocado em Orleans; ali se reuniram muitos bispos que unanimemente condenaram tais hereges e seus erros. Estevão e Lisóio porém, obstinando-se no erro, foram excomungados e queimados vivos por ordem do rei. Sendo ameaçados com o fogo, zombaram dele dizendo que não lhes causaria dano algum, mas quando viram que os demônios, em que confiavam, tinham perdido suas forças, e que as chamas realmente os queimavam, começaram a gritar que tinham sidos enganados. Então acudiu gente, mas era demasiado tarde, porque a força do fogo reduzira a cinzas até seus ossos.

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