Parte II Capítulo X
Além da oração mental e vocal, há ainda outros tempos e modos de rezar; e o primeiro exercício de todos é a oração da manhã, que deve ser uma preparação geral para as ações de todo o dia. Aí tens um método de faze-la bem. 1. Adora a Deus com uma veneração profunda e agradece-Lhe de te ter conservado durante a noite; e, se a tua consciência te acusa de alguma coisa desde o último exame, pede-Lhe perdão. 2. Considera que o dia presente te é dado para mereceres a bem-aventurança eterna e propõe-te firmemente empregá-lo todo nesta intenção.Parte II Capítulo IX
Se acontecer que não aches prazer na meditação, nem sintas aí consolo algum para a tua alma, eu te conjuro, Filotéia, a não te perturbares com isso, mas procura remediar o mal com os alvitres seguintes: Recita algumas das orações vocais em que teu coração se compraz de preferência; queixa-te amorosamente a Jesus Cristo; chama-O em teu socorro; beija respeitosamente a Sua imagem, se a tens a mão, confessa-Lhe a tua indignidade; dize-Lhe com Jacob: De modo algum, Senhor, me afastarei, se não me abençoardes ou então como a mulher cananéia: Assim é, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos.Parte II Capítulo VIII
Cumpre, Filotéia, que no correr do dia tenhas tão presente no espírito e no coração as tuas resoluções, que, sobrevindo a ocasião, as ponhas efetivamente em prática. Este é o fruto da meditação, sem o qual ela, além de não servir para nada, pode ser até prejudicial. É certo que a meditação assídua sobre as virtudes, sem que as pratiquemos, ensoberbece o espírito e o coração e nos faz pensar insensivelmente que somos de fato aquilo que resolvemos ser. De certo que assim o seria, se nos propósitos tivéssemos força e solidez; mas, porque lhes faltam essas qualidades, permanecem vãos e, porque não produzem efeito algum, são até perigosos. Convém servir-se de todos os meios para os por em prática; deve-se mesmo ir em busca de ocasiões, tanto pequenas como grandes. Por exemplo: resolvi atrair pela brandura certas pessoas que costumam me ofender; hei de as procurar hoje, para as saudar com ares de estima e amizade; e, se não as posso achar, ao menos falarei bem delas e rezarei a Deus em sua intenção.Parte II Capítulo VII
Afinal, deve-se terminar a meditação por três atos que requerem uma profunda humildade. O primeiro é agradecer a Deus por nos ter dado profundo conhecimento de Sua misericórdia ou de outra de Suas perfeições, assim como pelos santos afetos e propósitos que Sua graça incutiu em nós. O segundo consiste em oferecer à Sua divina majestade toda a glória que pode provir de Sua misericórdia ou duma de Suas perfeições, ofertando-lhe também todos os nossos afetos e resoluções, em união com as virtudes de Jesus Cristo, Seu Filho, e dos merecimentos de Sua morte.Parte II Capítulo VI
Por esta viva atenção de sua mente, a meditação excita na vontade inúmeras moções boas e santas, como o amor de Deus e ao próximo, o desejo da glória celeste, o zelo pela salvação das almas, o ardor para imitar a vida de Jesus Cristo, a compaixão, a admiração, a alegria e o temor de desagradar a Deus, o ódio ao pecado, o temor do juízo ou do inferno, a confusão dos pecados, o amor a penitência, a confiança na misericórdia de Deus e tantas outras em que te deves exercer e comover, quanto puderes, a tua alma. Se quiseres usar de algum livro, para te instruíres mais sobre este ponto, aconselho-te o primeiro tomo das “Meditações”, de D. André Capiglia, em cujo prefácio ele expõe a arte de exercitar-se nesta prática, ou então o Pe. Arias, que o faz ainda mais difusamente no seu “Tratado de Oração".Meditação para o Dia 29 de Janeiro
São Francisco de Sales é um mestre admirável na arte de curar e aliviar as feridas da alma. É o santo da doçura e da paciência. Que riqueza de ensinamentos contêm os seus escritos! (1) Consolam e desafogam tanto o coração oprimido! Fazei, nas aflições, uma boa leitura de São Francisco de Sales. Que alívio tereis! O grande e melífluo Doutor não nos aconselha as penitências corporais, duras em excesso e que assustam a nossa fraqueza. Quer ele, de preferência, que aprendamos a mortificar a nossa vontade, abater o nosso orgulho e amar o próximo, aceitando o que Deus nos envia com resignação e doçura."(...) se achares gosto, luzes e utilidade numa das considerações, demora-te nela, imitando as abelhas, que não largam a flor em que pousaram, enquanto acham aí mel que ajuntar."
Parte II
Capítulo V
A esta atividade da fantasia deve seguir-se a do entendimento, que se chama meditação e que consiste em aplicá-lo as considerações capazes de elevar…

Parte II Capítulo IV
Existe ainda um terceiro prelúdio da oração mental, o qual, no entanto, não é comum a toda espécie de meditações e se chama geralmente “composição” ou representação do lugar. Consiste numa certa atividade da fantasia, pela qual nos representamos o mistério ou fato que queremos meditar, como se os acontecimentos se estivessem sucedendo realmente ante os nossos olhos. Por exemplo, se queres meditar sobre a morte de Jesus crucificado no Calvário, farás uma ideia de todas as circunstâncias, como os evangelistas no-las descrevem, quanto aos lugares, pessoas, ações e palavras; o mesmo te proporei acerca dos outros objetos que os sentidos percebem, como a morte e o inferno, como já vimos; tratando-se, porém, de objetos inteiramente espirituais, como a grandeza de Deus, a excelência das virtudes, o fim da nossa criação, essa prática não é tão conveniente.