Devoção a Santo Afonso como modelo das Virtudes Fundamentais.
Mês de Outubro
Ego sum Deus omnipotens: ambula coram me, et esto perfectus — “Eu sou o Deus todo-poderoso: anda em minha presença e sê perfeito” (Gn 17, 1)
Sumário. Embora o nosso santo sempre tenha levado uma vida das mais ativas, pode contudo ser considerado como um modelo perfeito de vida interior e recolhida; porque sempre trabalhou com intenção reta, e não permitiu que a distração se apossasse do seu espírito. Esforcemo-nos por imitar os exemplos de tão grande pai, andando sempre na presença divina e não falando senão de coisas concernentes à glória de Deus. Habituemo-nos sobretudo a ter sempre sobre a língua alguma fervorosa oração jaculatória.
Devoção a Santo Afonso como modelo das Virtudes Fundamentais.
Mês de Setembro
Castigo corpus meum et in servitutem redigo, ne forte, cum aliis praedicaverim, ipse reprobus efficiar — “Castigo o meu corpo, e o reduzo à escravidão, com temor de que não suceda que, tendo pregado aos outros, eu mesmo seja reprovado” (1 Cor 9, 27)
Sumário. Para chegar à perfeição, a mortificação é indispensável. Persuadido desta verdade, Santo Afonso cuidou primeiramente de reprimir as paixões interiores e particularmente a ira, à qual era propenso pela sua índole. À mortificação interior juntou sempre a exterior dos sentidos, recusando-se qualquer satisfação. Se quisermos ser filhos do santo Doutor, procuremos imitar os seus exemplos; e para sermos mais bem-sucedidos, tornemo-nos familiar a meditação da Paixão de Jesus Cristo, e estudeis sempre, com Afonso, o grande livro do Crucifixo.
Devoção a Santo Afonso como modelo das Virtudes Fundamentais.
Mês de Agosto
Discite a me, quia mitis sum et humilis corde — “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29)
Sumário. Uma das razões pelas quais aprouve ao Senhor dispensar tantas graças ao nosso santo, foi vê-lo muito humilde. Inúmeras vezes foi maltratado e desprezado; mas suportou tudo em paz dizendo: Se me conhecessem melhor, tratar-me-iam pior ainda. Que vergonha para nós, que somos tão orgulhosos e ficamos ressentidos com o mais leve desprezo! Procuremos ao menos para o futuro imitar a Santo Afonso, e persuadam-nos de que a humildade se alcança mais pela prática do que por meio de mil teorias.
Breve introdução sobre a Paciência e o Apóstolo Patrono
Estamos na terra para fazermos penitência e merecermos; não é ela, portanto, lugar de repouso, mas de trabalhos e sofrimentos. As dores, adversidades e outras tribulações hão de ser as mais belas jóias da nossa corôa no paraíso. Pratiquemos a paciência: 1. Quando a morte nos arrebata os parentes ou amigos; 2. Na pobreza; 3. Nos desprezos e perseguições; 4. Nas desolações espirituais; 5. Nas tentações; 6. Nas doenças. A resignação na morte, para fazer a vontade de Deus, é bastante para assegurar a nossa salvação eterna. Pondera que nesta vida, quer queiras, quer não, terás necessariamente de padecer. Procura por isso padecer de maneira meritória, isto é, pacientemente; violenta-te e evita romper em queixas e lamentos. Se te venceres, Deus te fará experimentar durante a tribulação uma doçura desconhecida dos mundanos, mas muito conhecida daqueles que amam a Deus. Se Deus te visitar com doenças, pobreza, perseguições e outras adversidades, humilha-te diante dEle, e dize com o bom ladrão:
"Recebemos o que mereciam nossas ações” (Lc 23, 41).
E mesmo que não tenhas perdido a inocência batismal, certamente já terás merecido um longo purgatório. Por isso alegra-te se fores castigado neste mundo e não no outro. Consola-te também nos sofrimentos internos com a esperança do céu. Recorda-te das palavras de São Paulo:
“Os padecimentos deste mundo não tem comparação com a glória futura que será manifestada em nós” (Rom 8, 18)
“O que aqui é para nós uma tribulação momentânea e ligeira produz em nós, de um modo maravilhoso no mais alto grau, um peso eterno de glória” (2 Cor 4, 17)
Se tua vida te parecer insuportável, olha para teu divino Salvador, que te precede, carregando a cruz. Ouve o que Ele diz:
“Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo e tome todos os dias a cruz sobre si” (Lc 9, 23)
Teu Salvador vai sempre adiante, e só pára ao chegar ao monte Calvário, para ai morrer por ti. Acostuma-te a submeter-te já antecedentemente na oração a todos os sofrimentos que talvez te sobrevirão; assim procederam os santos e por isso estavam sempre prontos a abraçar todas as cruzes, mesmo as que lhes sobrevinham inesperadamente. Suplica, finalmente, ao Senhor instantemente que te conceda a graça da paciência, pois, sem a oração, nunca obterás essa grande graça. Justamente na oração encontraram os santos mártires a coragem para suportar os mais atrozes tormentos e a morte mais ignominiosa. Se recorreres ao Senhor com confiança, Ele te livrará dos teus padecimentos ou então te concederá a graça de suportá- los com paciência. Ele mesmo disse:
“Vinde a mim todos que andais em trabalhos e vos achais carregados e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28)
Breve introdução sobre a Oração e o Apóstolo Patrono
Jamais duvides que é só por meio da oração que podes alcançar a tua salvação e chegar à perfeição. Para vencer as tentações, praticar as virtudes e guardar perfeitamente os mandamentos da lei de Deus, precisas no momento decisivo de um especial auxílio da graça, o qual Deus te concede unicamente por meio da oração, e da oração perseverante. Especialmente no tempo da tentação deves recorrer a Deus, pedindo-Lhe seu auxílio, ao menos pela invocação dos santíssimos nomes de Jesus e Maria. Antes de rezar prepara teu corarão. Pondera que vais falar com Deus para obter sua misericórdia; que os anjos olham para ti com turíbulos de ouro nas mãos e estão prontos a oferecer a Deus tua oração como um agradável incenso. Esforça-te, por isso, para rezar não só com os lábios, mas também com o coração, pois, contrariamente, em vez de obteres graças, só provocarias a ira de Deus contra ti. Procura rezar com especial devoção aquelas orações que mais se repelem, como o Pai-Nosso, a Ave-Maria e o Glória ao Pai. Dedica-te com grande zelo à prática das jaculatórias que não estão ligadas a lugar algum, nem a nenhum tempo. Faze tuas orações com humildes sentimentos e com uma firme, constante e inabalável confiança. Se te parecer que Deus não quer te atender, continua a rezar e a confiar apesar disso, porque é certo que Deus ouve a todos que Lhe suplicam com confiança e perseverança.
Alimenta também um amor especial pela oração mental e consagra-lhe cotidianamente tanto tempo quanto te for possível. Liga toda a importância aos atos da vontade: faze atos de humildade, de confiança, de abnegação própria, de arrependimento e principalmente de amor. Não permitas que teus pensamentos vaguem a seu bel-prazer, mas, se involuntariamente sofreres distrações, não te inquietes por isso, não deixes a oração. Igualmente não deves abandonar a oração por causa da aridez espiritual, ainda que ela dure toda a tua vida. Humilha-te então e dize, cheio de resignação na vontade de Deus:
Senhor, estou plenamente resignado com me privares das Vossas consolações, não as mereço e não as reclamo. Basta-me saber que não repelis uma alma que Vos ama. Estou satisfeito com tudo se puder dizer, em toda a verdade: Ó Deus, eu vos amo e quero amar-Vos sempre.
Breve introdução sobre o Recolhimento, Silêncio e o Apóstolo Patrono
Muitas pessoas há, que não podem, por mais que o queiram, recolher-se à solidão e separar-se das criaturas para se ocuparem só com Deus; cumpre, porém, observar que pode a gente gozar dos benefícios da solidão do coração em outros lugares que não sejam desertos e grutas. Aqueles mesmos que se vêem na necessidade de viver no mundo podem sempre conservar, ainda no meio dos caminhos, praças públicas e ocupações, a solidão do coração e a união com Deus, uma vez que tragam o coração livre de mundanos apegos. Nenhuma ocupação impede a solidão do coração, uma vez que tenha por objeto o cumprimento da vontade de Deus. Se quiseres entreter-te continuamente com Deus, ama a solidão. Toma a peito as palavras que o Senhor disse um dia a Santa Teresa:
“Com que gosto não falaria eu com muitas almas; mas o mundo faz tanto barulho em seus corações, que elas não ouvem mais a minha voz"
Por isso ocupa-te com o mundo só tanto quanto o exigirem teus deveres de estado, a obediência ou a caridade. Prepara no íntimo de teu coração uma camarazinha escondida para ai te recolheres em Deus. Para isso tem em grande apreço o silêncio, pois quem não o ama nunca achará a solidão. Segue o conselho de Santo Efrem:
“Fala muito com Deus e pouco com os homens"
Marca uma hora certa do dia para o silêncio e retira-te durante ela para um lugar solitário. Se isso não te for possível, procura ganhar de vez em quando alguns momentos livres para o recolhimento interior. Compenetra-te bem da verdade de que Deus está a teu lado em toda a parte e observa todas as tuas ações.
“Nele vivemos, nos movemos e somos” (At 17, 28)
Esse pensamento te ajudará a evitar todo o pecado e ter em vista unicamente o beneplácito de Deus em tudo que fizeres. Acostuma-te a dirigir tuas vistas das criaturas a Deus, que lhes deu a existência e destinou-as ao nosso serviço. Faze então atos de agradecimento e amor, recordando-te que Deus, desde toda a eternidade, pensou em obrar tantas maravilhas para ganhar teu coração. Procura, além disso, avivar a tua fé na verdade de que Deus mora de um modo especial em lua alma:
“Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espirilo de Deus mora em vós?" (1 Cor 3, 16)
Ele habita em ti cheio de amor e bondade para te iluminar, te dirigir e te assistir em tudo que pode servir para tua eterna salvação. Acostuma-te por isso a falar com Ele da maneira mais íntima, cheio de confiança e amor como com teu melhor amigo. Ele gosta que te entretenhas mui familiarmente com Ele. Os amigos, no mundo, tem suas horas marcadas, em que se entretêm mutuamente e as em que estão separados uns dos outros; mas não há hora de separação entre Deus e ti, contanto que queiras. Ele não se separa de ti, mesmo quando descansas. Fala, portanto, com Ele tanto quanto te for possível; se amas, sempre terás alguma coisa a dizer-Lhe. Trata com Ele a respeito de teus negócios, teus planos, teus sofrimentos e tudo o que te diz respeito. Ele acha satisfação se Lhe comunicas tudo, mesmo as mínimas coisas, até as mais vulgares. Entretém-te repetidas vezes com Ele por meio de curtas mas fervorosas jaculatórias e suspiros de amor. Se te ocupaste por mais tempo com negócios que distraem, cuida em te recolher novamente em Deus por meio de piedosas aspirações. Sumário I. A sua natureza II. Do Amor à Solidão III. Do Silêncio IV. Do andar na Presença de Deus V. O Recolhimento do Redentor VI. A Prática do Recolhimento e do Silêncio VII. Orações para alcançar a Virtude do Mês
Breve introdução sobre a Mortificação e o Apóstolo Patrono
Nunca percas de vista esta bela sentença de Santa Teresa:
"Quem julga que Deus admite à sua amizade pessoas que amam a comodidade, engana-se redondamente"
"Os que são de Cristo, crucificaram sua carne com seus vícios e concupiscência”, diz o Apóstolo (Gl 5, 24). Por isso considera como uma dádiva divina toda a ocasião de te mortificares e não deixes passar nenhuma sem te aproveitares dela. Reprime teus olhos e não os detenhas em coisas que satisfazem unicamente a curiosidade. Evita toda conversação em que se trata unicamente de novidades ou de outras coisas mundanas. Esforça-te sempre em mortificar o paladar: nunca comas e bebas unicamente para contentar tua sensualidade, mas só para sustentar teu corpo. Renuncia voluntariamente aos prazeres lícitos e dize generosamente, quando ouvires falar das alegrias do mundo:
“Meu Deus, só a Vós eu quero e nada mais”
Faze com fervor todas as mortificações externas que a obediência e as circunstâncias permitirem. Se não puderes mortificar teu corpo com instrumentos de penitência, pratica ao menos a paciência nas doenças, suporta alegremente toda incomodidade que consigo traz a mudança do calor e do frio; não te queixes quando te faltar alguma coisa, alegra-te antes quando te faltar até o necessário. Mas principalmente a mortificação interna é que deves praticar, reprimindo tuas paixões e nunca agindo por amor-próprio, por vaidade, por capricho, ou por outros motivos humanos, mas sempre com a única intenção de agradar a Deus. Por isso, enquanto, possível, deves te privar daquilo que mais te agradar e abraçar o que desagrada a teu amor-próprio. Por exemplo: quererias ver um objeto: renuncia a isso justamente por te sentires levado a contemplá-lo; sentes repugnância por um remédio amargo: toma-o justamente por ser amargo; repugna-te fazer benefícios a uma pessoa que se mostrou ingrata para contigo: faze-o justamente porque tua natureza se rebela contra isso. Quem quer pertencer a Deus, deve se violentar incessantemente e exclamar sem interrupção:
"Quero renunciar a tudo, contanto que agrade a Deus"
Em resumo, portanto: Pela mortificação interior nos aplicamos a domar as nossas paixões, principalmente a que mais predomina em nós. Não vencer uma paixão dominante é pôr-se em grande perigo de se perder. Pela mortificação exterior negamos aos sentidos as satisfações que desejam. É necessário, portanto, mortificar: 1. Os olhos, abstendo-nos de ver objetos perigosos. 2. A língua, fugindo das maledicências, palavras injuriosas ou impuras. 3. A boca, evitando todo o excesso no comer e beber, e praticando até algum jejum e abstinência. 4. O ouvido, negando-nos a dar ouvidos a discursos que ferem a modéstia ou a caridade. 5. O tato, usando de precaução quer conosco quer nas relações com outros. Sumário I. A sua natureza II. Da Mortificação Externa III. Da Mortificação Interna IV. A Mortificação e o Redentor V. A Prática da Mortificação VI. A Prática da Mortificação Externa VII. Orações para alcançar a Virtude do Mês
Breve introdução sobre a humildade e mansidão e o Apóstolo Patrono
Sem a humildade não se pode agradar a Deus:
"Deus resiste aos soberbos, dá a Sua graça aos humildes" (Tg 4, 6)
A humildade de espírito consiste em nos termos por miseráveis como realmente o somos. Na prática: 1.º Desconfiemos sempre de nós mesmos; 2.º Não nos gloriemos de coisa alguma;evitemos até falar a nosso respeito; 3.º Não nos indignemos contra nós mesmos depois duma falta, mas levantemo-nos, contando com o socorro de Deus para não cairmos mais; 4.º Sejamos compassivos para com as quedas dos outros; 5.º Olhemo-nos como os maiores pecadores do mundo, pois tantas graças havemos recebido e tão pouco nos havemos aproveitado delas. — A humildade de coração exige que folguemos de ser desprezados pelos outros. Na prática: 1.º Recebamos tranquilamente as admoestações, e agradeçamos a quem nos corrige; 2.º Quando recebemos alguma afronta, suportemo-la com paciência, e procuremos amar ainda mais aquele que nos despreza. Que de desprezos não padeceu Jesus por nós? Dize, muitas vezes, com Santo Agostinho:
“Senhor, fazei-me conhecer quem Sois Vós e quem sou eu, para que Vos ame e me despreze”
Sabes quantos pecados cometestes; sabes que tua vida inteira é uma cadeia ininterrupta de faltas e que merecestes talvez mais castigo do que recompensa por tuas boas obras, visto estarem cheias de imperfeições. Persuade-te, pois, que ignomínia e desprezo é que mereces e alegra-te quando os tiveres de suportar. Nunca fales coisa alguma em teu louvor, quer se trate de teus talentos, de tuas boas obras, de teres ilustre descendência ou de qualquer outra prerrogativa. Quando, porém, fores louvado por outros, humilha-te interiormente, lançando uma vista a teus pecados. Sendo criticado, não te irrites com isso, agradece antes a quem te repreende, pois seria muito injusto, como diz São Bernardo, se quisesses te irritar contra aquele que te mostra o caminho da salvação. Mesmo sendo a repreensão injusta, deves, por amor à santa humildade, renunciar à tua defesa, a não ser que a tua justificação seja necessária para evitar um escândalo público. Convence-te que, para chegares à perfeição, deves ser humilhado sensivelmente. Ainda que todos que te circundam fossem santos, Deus saberia dispor as coisas de tal maneira que encontrarias toda a espécie de contradição, e serias desprezado, criticado e posposto aos outros. Por isso toma a peito a bela admoestação que o Pe. Torres dava a seus penitentes:
“Rezai todos os dias um Pai-Nosso e uma Ave-Maria em louvor da vida desprezada de Jesus e oferecei-vos para suportar não só com calma, mas até com alegria, toda a adversidade e desprezo que Deus vos enviar; pedi-Lhe ao mesmo tempo Seu auxílio para que possais executar a vossa resolução’'
Não te deixes dominar jamais peia ira, aconteça o que acontecer. Se às vezes te sentires internamente irritado, encomenda-te quanto antes a Deus, reprime tua língua e nada faças antes de se acalmar por completo tua irritação. Se tiveres de dar alguma ordem a alguém, faze-o mais suplicando do que mandando. Se tiveres de agir com severidade, acautela-te contra todo o azedume, tão desaprovado por São Tiago; ajunta sempre à séria exortação algumas palavras de bondade. Mostra-te benévolo e caridoso para com todos, em toda a ocasião e lugar, mas especialmente quando encontrares alguma contradição. Para esse fim prepara-te na oração para todas as contrariedades que te poderão suceder; assim praticaram os santos e essa prática levou-os a suportar com paciência todas as ofensas, e até pancadas e maus tratos. Não percas igualmente a coragem à vista de teus próprios defeitos, mas ergue-te com toda a tranquilidade de tua queda, humilha-te diante de Deus e continua resolutamente o teu caminho. Sumário I. A sua natureza II. Da grande importância da Humildade III. Da Humildade do Entendimento IV. Da Humildade da Vontade V. Da grande importância da Mansidão VI. Do Exercício da Mansidão VII. Meios contra a Raiva VIII. A Humildade e a Mansidão do Redentor IX. A Prática da Humildade e da Mansidão X. Orações para alcançar a Virtude do Mês
Breve introdução sobre a Obediência e o Apóstolo Patrono
Se poucas almas há que se dão inteiramente a Deus, é porque poucas são as que se submetem inteiramente à obediência. Há pessoas tão aferradas à própria vontade, que a mesmíssima coisa que, fora da obediência, lhes seria de gosto para ser executada, amarga e difícil se lhes faz quando exigida por obediência, é unicamente por esta causa; tais pessoas tomam prazer somente com executar o que lhes dita a vontade própria. Este não é o proceder dos santos, os quais só ficam tranquilos quando obedecem. São Filipe Néri dizia:
“Os que desejam progredir no caminho de Deus devem submeter-se a um confessor instruído, e dar-lhe obediência como ao próprio Deus; quem procede assim, pode estar certo de que não dará a Deus contas do que faz”
Deve-se ter confiança no confessor, ajuntava o Santo, e crer que Deus não lhe permitirá se engane: não existe meio mais seguro para um desfazer os artifícios do inimigo que seguir no bem a vontade de outrem; ao contrário, nada mais perigoso do que querer dirigir-se pelos seus conselhos pessoais. Se queres andar seguro no caminho da perfeição, deixa-te guiar por teus superiores, quanto às coisas externas, e obedece, em tudo que diz respeito a teu interior, a teu diretor espiritual. Os negociantes, para se assegurarem de seus negócios, exigem que outros prestem fiança; do mesmo modo, para assegurar teu eterno ganho, deves procurar a fiança da obediência para tuas obras todas. Persuade-te, por isso, vivamente de que é a Deus que obedeces quando obedeces a teus superiores. Se Jesus viesse pessoalmente para te encarregar de algum negócio ou ofício, recusar-te-ias talvez a obedecer-lhe ou desculpar-te-ias? Ora, é muito mais certo que é Deus mesmo quem te fala, quando teus legítimos superiores te mandam alguma coisa, do que quando Jesus, aparecendo-te, te incumbisse de alguma coisa, porque essa aparição poderia basear-se em um engano, ao passo que está fora de dúvida que Deus disse, em relação aos superiores:
“Quem vos ouve, a mim ouve” (Lc 10, 16)
Esforça-te, portanto, para obedeceres em tudo que não for claramente pecado, com toda a prontidão, alegria e simplicidade. Não te faças muito rogar: um verdadeiro obediente não demora, não se desculpa, não mostra sua repugnância interna por um rosto enfadado, mas começa a executar imediatamente o preceito com alegria, nem sequer espera a ordem expressa do superior: basta saber que é sua vontade dirigir-se conforme isso. Não desejes igualmente saber as razões por que te mandaram fazer isto ou aquilo, pois assim tua obediência seria muito imperfeita. Se quiseres ser muito agradável a Jesus Cristo, suplica a teus superiores que te tratem inteiramente conforme o seu parecer e sem consideração alguma por ti; o merecimento da obediência será então muito maior. Esforça-te para que tua obediência se origine sempre da intenção de cumprir com a vontade de Deus, porque, se a praticares com outro intenção, por exemplo, para granjear a benevolência de teus superiores, satisfarás aos homens, mas não a Deus. Em casos duvidosos, faze aquilo que julgas que teus superiores ordenariam; e se não puderes resolver de forma alguma, faze aquilo que é mais oposto à tua inclinação. Sumário I. A sua natureza II. Do Mérito da Obediência III. Da Obediência dos Filhos a seus Pais IV. Da Obediência dos Criados a seus Amos V. Da Obediência ao Diretor Espiritual VI. A Obediência do Redentor VII. A Prática da Obediência VIII. Orações para alcançar a Virtude do Mês
Nota: Quanto a esta matéria, recomenda-se vivamente a orientação e acompanhamento de um diretor espiritual/confessor. Isto inclui a leitura deste capítulo. Digo isto para evitarmos qualquer tipo de escrúpulo e medidas que podem prejudicar ao invés de fazer progredir a fiel alma que busca crescer nessa santa virtude.
Mês de Junho
Breve introdução sobre a Castidade e o Apóstolo Patrono
Quanto à santa pureza, nunca tenhas em conta de demasiada toda e qualquer precaução.
"O sábio teme e foge, diz a Sagrada Escritura; só o louco confia em si mesmo e sucumbe” (Pr 14, 10)
Quem se expõe voluntariamente à ocasião de pecado, dificilmente se preservará da queda. Evita, por isso, toda a familiaridade com pessoas de outro sexo, por mais piedosas que sejam elas, pois o demônio sabe prender entre si as pessoas piedosas por uma certa inclinação natural, que é contrária à pureza do coração; ele não as incita ao princípio a grandes pecados, mas condu-las, se elas não se acautelam, pouco a pouco, à beira do abismo. Por isso, logo que notares qualquer inclinação desregrada no teu corarão, procura sufocá-la imediatamente, porque, se a deixares crescer, será mais forde, dificílimo arrancá-la e destruí-la. Guarda cuidadosamente tuas vistas, para que não sejas obrigado a exclamar, um dia, chorando e suspirando:
“Meus olhos perderam minha alma” (Lm 3, õl)
No falar observa a maior modéstia, e se tiveres de ouvir conversas inconvenientes, foge quanto antes e, se isso não te for possível, segue o conselho do Espírito Santo:
“Circunda teus ouvidos de espinhos e não queiras ouvir a língua perversa” (Eclo 28, 28)
Corrige aquele que entretém tais conversas ou, ao menos, dá mostras de que uma tal conversa te desagrada. Procura repelir de teu coração todos os pensamentos desonestos logo que os perceberes. Não entres em questão alguma com o demônio, mas arma-te imediatamente com a oração. A experiência ensina que aquele que recorre a Deus nas tentações não cai, ao passo que consente no pecado quem então deixa de rezar. Por isso, logo que fores atacado por uma tentação impura, invoca os santos nomes de Jesus e Maria; esses nomes têm o poder de afugentar o inimigo e apagar o fogo da impureza. Se a tentação perdura, não te perturbes por isso. Entrega-te então com toda a humildade à vontade de Deus, que permite essa provação, e dize:
Senhor, por meus muitos pecados mereço ser molestado por tentações tão horrorosas; a Vós compete, porém, auxiliar-me. Renova o propósito de antes morrer que ofender a Deus