Sumário. Vendo tantos ímpios em prosperidade e tantos justos em tribulação, os próprios pagãos, guiados pela luz da razão, reconheceram que a terra não é nossa pátria, mas somente um lugar de passagem e de merecimento. Quão insensatos, pois, somos, se, sendo cristãos e crendo as verdades da fé, nos afeiçoamos aos bens deste mundo, do qual teremos de sair um dia e, entretanto, nos descuidamos de construir com as boas obras uma morada no outro mundo, onde ficaremos por toda a eternidade!Non enim habemus hic manentem civitatem, sed futuram inquirimus - “Não temos aqui cidade permanente, mas procuramos a futura” (Hb 13, 14)
19º Domingo depois de Pentecostes
Sumário. Pelo banquete do qual fala o Evangelho de hoje, entende-se a doutrina católica, os sacramentos e a abundância das graças celestiais. Como filhos da Igreja católica, somos do número dos convidados, e portanto, agradeçamos sempre a Jesus Cristo tão grande favor que nos foi concedido com preferência a tantos outros. Cuidemos, porém, que estejamos vestidos da veste nupcial, isto é, da graça santificante, afim de não sermos, cedo ou tarde, lançados às trevas exteriores, no inferno. Quantos cristãos não se perdem, porque as obras não respondem à fé que professam!Simile factum est regnum caelorum homini regi, qui fecit nuptias filio suo - “O reino dos céus é semelhante a um rei que fez núpcias para seu filho” (Mt 22, 2)
Confira as importantes advertências de Santo Afonso para bem aproveitar esta obra!
CONSIDERAÇÃO X
Memorare novissima tua, et in aeternum non peccabis. - "Lembra-te de teus novíssimos, e não pecarás jamais" (Ecl 7, 40)
PONTO I
Todos cremos que temos de morrer, que só uma vez havemos de morrer e que não há coisa mais importante que esta, porque do instante da morte depende a eterna bem-aventurança ou a eterna desgraça. Todos sabemos também que da boa ou má vida depende o ter boa ou má sorte. Como se explica, pois, que a maior parte dos cristãos vivem como se nunca devessem morrer, ou como se importasse pouco morrer bem ou mal? Vive-se mal porque não se pensa na morte:“Lembra-te de teus novíssimos, e não pecarás jamais.”
Sumário. A morte, considerada segundo os sentidos, causa pavor e temor, mas considerada segundo a fé, é consoladora e desejável; porque é a porta da vida, pela qual forçosamente deve passar quem quiser entrar no gozo de Deus. Tal é a graça que Jesus Cristo nos alcançou pela sua morte. Pelo que os santos, enquanto estavam na terra, não desejavam senão sair do cárcere do miserável corpo e entrar no reino celestial. Se nós temos tamanho horror à morte, é porque amamos pouco ao Senhor.Haec porta Domini, iusti intrabunt in eam - “Esta é a porta do Senhor, os justos entrarão por ela” (Sl 117, 20)
18º Domingo depois de Pentecostes
Sumário. De ordinário, a causa de todas as tribulações, e especialmente das enfermidades, são os pecados. Eis porque o Senhor, como refere o Evangelho, antes de restituir ao paralítico a saúde do corpo, lhe restituiu a da alma, concedendo-lhe o perdão dos pecados. Portanto, se quisermos que Deus nos livre das aflições que nos oprimem, arranquemos primeiro a raiz, isto é, o pecado. Aconselhemo-lo igualmente a nosso próximo em suas tribulações.Confide, fili: remittuntur tibi peccata tua - “Filho, tem confiança, perdoados te são os pecados” (Mt 9, 2)
Sumário. O lenho da cruz serviu a Jesus Cristo, não só de patíbulo, para operar o nosso resgate; mas também de cátedra para nos ensinar as mais sublimes virtudes. À imitação dos santos, procuremos estudar amiúde o grande livro do Crucifixo e nós também nele aprenderemos como devemos praticar a obediência aos preceitos divinos, o amor para com o próximo, a paciência nas adversidades. Nele aprenderemos sobretudo como devemos odiar o pecado e amar a Deus, aceitando por seu amor trabalhos, tribulações e a própria morte.Non iudicavi me scire aliquid inter vos, nisi Iesum Christum, et hunc crucifixum - “Não entendi saber entre vós coisa alguma, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (Jo 13, 1)
Sumário. Posto que o Senhor é todo-poderoso, pode-se todavia dizer que foi vencido pelo amor. O amor levou-O a não só morrer por nós, pregado num patíbulo infame, como a instituir ainda o Santíssimo Sacramento, onde se dá a cada um sem reserva, sem interesse próprio e sempre. Mas se um Deus se dá a nós de tal modo, é de toda a justiça que nós também lhe façamos semelhante oferta; protestando que queremos servi-Lo em todas as coisas e sempre, sem aspirarmos à recompensa e unicamente para Lhe agradarmos e Lhe darmos gosto no tempo e na eternidade.Cum dilexisset suos qui erant in mundo, in finem dilexit eos - “Como tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13, 1)
Sumário. É sobretudo por três motivos que o Senhor permite que as suas mais queridas almas sejam mais frequente e fortemente tentadas: para as conservar na humildade, para as desapegar da terra, e para as enriquecer de merecimentos. Cada tentação vencida é uma pedra preciosa engastada em nossas coroa celestial. Nem por isso devemos desejar as tentações; mas quando o demônio nos assalta, sem que lhe tenhamos dado ocasião, entreguemo-nos a Deus e não temamos; pois, se ele nos lança ao combate, dar-nos-á também com a tentação a força para resistir.Fidelis Deus est, qui patietur vos tetari supra id quod potestis; sed faciet etiam cum tentatione proventum - “Deus é fiel, e não permitirá sejais tentados mais do que podem as vossas forças; antes fará que tireis proveito da tentação” (1 Cor 10, 13)
Sumário. A sombra sinistra da morte escurece o brilho de todos os cetros e coroas; faz-nos compreender que o que o mundo estima não é senão fumaça, lodo e miséria. Com efeito, para que servem as riquezas, as dignidades e as honras, já que depois da morte não nos restará nada senão um caixão, dentro do qual nosso corpo se corromperá? Para que serve a beleza e a saúde do corpo, já que afinal não restará nada senão um punhado de pó nojento e alguns ossos descarnados? Nossas obras somente acompanhar-nos-ão para a eternidade. Todavia quão poucos são os que procuram fazer provisão de boas obras?Qui utuntur hoc mundo, tamquam non utantur; praeterit enim figura huius mundi - “Os que usam deste mundo, sejam como se não usassem; porque a figura deste mundo passa” (1 Cor 7, 31)
O Poço e o Túnel
O teólogo belga Jacques Leclecq usa uma comparação sugestiva. Diz que muitos são como um homem que vive agachado no fundo de um poço, estreito, escuro e cheio de lama. Não é um poço alto. Bastaria que fizesse o esforço de ficar em pé, de apoiar as mãos na borda do poço, retesar os músculos e erguer-se até colocar a cabeça para fora. Veria, então, um panorama maravilhoso: campos verdejantes, caminhos, riachos, montanhas ao longe, cidades... Uma paisagem que poderia ser para ele um mundo novo, um mundo maravilhoso, se se decidisse a sair do poço. Quando alguém começa a ter presença de Deus, sai do poço; ou então, sai de dentro de um túnel, como dizia São Josemaria, mostrando, além disso, em que consiste este “mundo novo”:"Alguns passam pela vida como por um túnel, e não compreendem o esplendor e a segurança e o calor do sol da fé" (Caminho, n. 575).