


É outro fruto da mesma segunda palavra a o conhecimento do poder da graça de Deus, e da fraqueza da vontade humana, do qual poderemos aprender que nada há tão proveitoso como ter muita confiança no auxílio de Deus e desconfiar muito das próprias forças. Deseja saber qual é o poder da Sua divina graça? Põe os olhos no bom ladrão. Tinha ele sido um notável pecador, e neste malíssimo estado tinha permanecido até o suplício da Cruz, isto é, pouco menos do que até a morte; e, no perigo iminente de condenação eterna, não havia ao menos uma pessoa que o aconselhasse, ou o socorresse; pois, apesar de estar tão próximo do Salvador, contudo estava ouvindo os Pontífices e os Fariseus que afirmavam que Ele era um revolucionário, e um ambicioso, que pretendia assenhorear-se de um reino, que não era Seu; estava ouvindo ao outro ladrão, seu companheiro, os mesmos impropérios que ele dirigia a Cristo, não havia ninguém, que a favor de Cristo dissesse nenhuma palavra, e nem Ele mesmo refutava aquelas blasfêmias e injúrias, e, não obstante isto, quando aquele ladrão parecia de todo abandonado para a sua salvação, muito próximo das penas eternas, e o mais distante, que era possível, da eterna bem-aventurança, instantaneamente iluminado e convertido pela divina graça, confessa que Cristo é inocente, é Rei da vida futura, e, como pregador repreende o seu companheiro, exorta-o a penitência, e diante de todos se encomenda devota e humildemente a Cristo.
"Graças a Deus pelo seu dom inefável!" - Gratias Deo super inenarrabili dono ejus (2Cor 9, 15)

"Sarai a minha alma porque pequei contra vós" - Sana animam meam quia peccavi tibi (Sl 40, 5)
"Dizei à minha alma, eu sou a tua salvação" - Dic animae meae: Salus tua egosum (Sl 36, 3)
Deus recompensou tamanha confiança, e a saúde e a prosperidade voltaram à casa de Jó. Exemplos sublimes dessa confiança heroica, sempre os encontramos nas Escrituras e na vida dos santos. Nunca se ouviu dizer deixasse Nosso Senhor sem recompensa quem Nele confiou. A confiança faz milagres. Numa de suas viagens, São Martinho caiu nas mãos de salteadores, na estrada. Foi roubado e despojado. Iam já os bandidos matar o santo, quando, repentinamente, cheios de um pavor misterioso, puseram-no em liberdade, contra toda expectativa.“Ainda que o Senhor me tirasse a vida, ainda assim esperaria Nele”
A entrega total, o perfeito abandono nas Mãos da Providência, eis o ideal da perfeição, porque a perfeição é o amor e o abandono é o cume da montanha do Amor.“O perfeito abandono de nós mesmos nos braços da Divina Providência, a aquiescência amorosa a tudo que de nós quiser, o santo afeto de lhe agradar pelos atos de todas as virtudes, segundo as ocasiões, sobretudo a santa caridade e a humildade, – tudo isso é lenha que alimenta o sagrado fogo do amor celeste”
“Não vos desespereis – diz o Pe. Luiz Dupont – quando Vosso Pai Celeste demora em vos atender”