“Por vosso amor Cristo se fez pobre, a fim de que vós fôsseis ricos” (2 Cor 8,9).Daí a exortação do Senhor a quantos o querem seguir: Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, e dá-o aos pobres (Mt 19,21). Maria, sua mais perfeita discípula, também lhe quis seguir o conselho. Com a herança de seus pais, teria ela podido viver folgadamente, como prova São Pedro Canísio. Preferiu, no entanto ser pobre, muito pouco reservando para si e o mais distribuindo em esmolas ao templo e aos pobres. Afirmam muitos autores que a Virgem fez voto de pobreza. De fato, nas revelações de S. Brígida lemos estas palavras de Maria: Desde o começo prometi a meu Senhor nada possuir neste mundo. Não deviam certamente ter pouco valor os presentes dos Santos Magos. Fê-los, porém, a Senhora repartir com os pobres, pelas mãos de São José, conforme atesta Santo Antonino. Que os distribuiu imediatamente, prova-o a oferta que trouxe quando da apresentação no templo. Não ofertou o cordeiro, que era o presente dos ricos, imposto pelo Levítico, mas as duas rolas ou pombas, oferta dos pobres (Lc 2,24). O que possuía - disse a Virgem Santíssima a Santa Brígida - dei-o aos pobres; só guardei o indispensável para vestir e comer.
Sumário. Ó Deus, quem não teria compaixão se visse um jovem príncipe, filho de um grande monarca, nascer em tão grande pobreza, que, necessitado de tudo, até se fazia mister deitá-lo numa manjedoura? Tal é exatamente o estado de Jesus-Menino, Filho de Senhor do céu e da terra. Os anjos, é verdade, estão ali para o adorar; não, porém, o socorrem. Mas como Jesus abraçou tão apertada pobreza unicamente para nos fazer ricos dos seus bens e nos obrigar a amá-lo, quanto mais pobre se fez, tanto mais amável se nos mostra.Propter vos egenus factus est, cum esset dives; ut illius inopia vos divites essetis — “Sendo rico, se fez pobre por vosso amor, a fim de que vós fôsseis ricos pela sua pobreza” (2 Cor 8, 9)
Circunstâncias do nascimento de Jesus
Entramos em espírito no pobre presépio de Belém, e consideremos com os olhos da fé as circunstância do nascimento do nosso adorável Salvador. Neste mesquinho albergue é que a divina Maria, arrebatada em sublime contemplação e abrasada em ardente amor de Deus e em desejo extremo de ver o seu Filho, sem sofrer a menor dor e sem deixar de ser a mais pura das virgens, deu à luz o rei do céu e da terra, o Messias prometido e esperado, havia quatro mil anos. Prostremo-nos profundamente aos pés deste divino Infante, adoremo-lO como nosso Criador, Redentor, soberano Mestre e Deus. Depois de Lhe termos tributado vassalagem com todos os afetos que à fé, a religião, o amor e a gratidão podem inspirar-nos, rendamos obséquios a Sua terna Mãe; felicitemo-la pela ventura inefável de ser Mãe de Deus; honremo-la nesta qualidade e ponhamos nela a nossa confiança.Mês de Maio
Breve introdução sobre a Pobreza de Espírito e o Apóstolo Patrono
Há pessoas que querem santificar-se, mas a seu modo; querem amar a Jesus Cristo, mas seguindo as suas inclinações, isto é, sem renunciar aos seus divertimentos, à vaidade dos trajes, às delícias da mesa; amam a Deus, mas se não conseguem tal emprego, vivem inquietas; se lhes tocam na reputação, irritam-se; se não saram de tal doença, perdem a paciência; amam a Deus, mas não se desapegam das riquezas, honras do mundo, vaidade de passar por nobres, sábias, melhores do que as outras. Essas pessoas fazem oração, frequentam os Sacramentos, mas, como têm o coração cheio de afeições terrenas, logram pouco fruto das suas devoções. O Senhor nem sequer lhes fala, porque vê que seria em vão. Não invejes os grandes do mundo, suas riquezas e honras. Feliz de quem nada mais deseja senão Deus só, podendo dizer, com São Paulino:Podes estar certo de que ninguém vive no mundo mais contente do que aquele que menospreza todas as coisas terrenas e só cuida em cumprir com a vontade de Deus. Não poucos ricos, não poucos príncipes não encontram a paz no meio da abundância dos bens terrenos, enquanto que muitos irmãos leigos, que vivem recolhidos, pobres e escondidos em sua cela, gozam de uma indescritível satisfação."Tenham os ricos suas riquezas, os reis os seus reinos: para mim toda a minha riqueza, todo o meu reino é Cristo”
Quando, pois, quiserem as criaturas entrar em teu coração para participar daquele amor que deves inteirinho a Deus, repele-as imediatamente, fecha-lhes a porta e exclama:"Experimentai e vede quão doce é o Senhor” (SI 33, 9)
Desapega-te de toda a afeição às coisas terrenas; toda a tua riqueza consiste na virtude, que te protegerá aqui na terra contra os inimigos de tua salvação e além constituirá tua glória no céu. Dize, por isso, muitas vezes ao divino Salvador:"Afastai-vos de mim e procurai aqueles que vos desejam: eu entreguei meu coração inteiro e sem reserva a Jesus Cristo, de forma que não há nele mais lugar para vós"
Sumário I. A sua natureza II. Do Desapego dos Bens da Terra III. Do Desapego das Honras do Mundo IV. Do Desapego dos Homens V. Do Desapego de Si Mesmo VI. A Pobreza do Redentor VII. A Prática da Pobreza e do Desapego VIII. Orações para alcançar a Virtude do MêsÓ Deus de minha alma: Sois um bem infinitamente maior do que todos os outros bens; Sois o único objeto de todo o meu amor. Nada desejo aqui na terra; mas se me fosse permitido desejar alguma coisa, quereria possuir todos os tesouros deste mundo para renunciá-los imediatamente por amor de Vós. Destruí em mim toda a inclinação que não tiver a Vós por objeto e fazei que eu viva unicamente para Vos agradar
Meditação para a Segunda-feira da 6ª Semana depois da Epifania
SUMARIO
Continuaremos a estudar a vida de Jesus em Nazaré, e veremos: 1.° Que foi uma vida pobre; 2.° Como devemos imitá-la. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De escolhermos sempre para nós o que é de menos valor e mais incomodo, deixando o que é melhor aos outros; 2.° De gostarmos de ser pobres em tudo, no vestuário, no alimento, na morada, em tudo o mais. O nosso ramalhete espiritual será a primeira das bem-aventuranças:"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" - Beati pauperes spiritu, quoniam ipsorum est regnum caelorum (Mt 5, 3)
Meditação para a Sexta-feira da 3ª Semana do Advento
Sumário
Meditaremos a vida mortificada que teve o Verbo Encarnado, no seio de Sua Mãe; e admiraremos como neste estado mortificou: 1.° Os seus sentidos; 2.° A sua vontade; 3.° A sua liberdade. - Tomaremos depois a resolução: 1.° De mortificar os nossos sentidos, principalmente os olhos e a língua, até mesmo nas coisas permitidas, a fim de nos acostumarmos a mortificá-los nas coisas proibidas; 2.° De viver com regra e na obediência, sem jamais ceder ao capricho. O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo:Jesus Cristo nunca buscou a sua própria satisfação - Christus non sibi placuit (Rm 15, 3)
Meditação para a Quinta-feira da 3ª Semana do Advento
Sumário
Continuaremos a meditar a vida de Jesus em Maria; e veremos que é: 1.° A vida mais humilde; 2.° A vida mais pobre. - Tonaremos depois a resolução: 1.° De não buscar distinguir-nos e fazer-nos conhecer, e de nunca dizer nada em nosso proveito; 2.° De amar a pobreza e de empregar o nosso supérfluo em boas obras. O nosso ramalhete espiritual será a palavra da Imitação:"É uma grande glória servir-Vos, ó meu Deus, e desprezar todas as coisas por amor de Vós" - Magna gloria tibi servire et omnia propter te contemnere (III Imitação de Cristo, 10, 50)
SUMÁRIO ESCRITO POR BOSSUET
Exordio. — A vida e a morte são menos dissemelhantes do que se diz e pensa. Proposição e divisão. 1°. O homem mundano, insensível à miséria dos pobres e estranho ao pensamento da salvação, morre aterrorizado e cercado de dores cruéis; 2.° Cai nas mãos de Deus sem ter o espírito preparado; 3°. Vai à presença do Juiz sem ter quem o defenda. 1.º Ponto. — O habito de não nos contentarmos com o que é lícito conduz em breve a afouteza de perseguirmos o que é verdadeiramente ilícito. E para depois modificar tão profundas inclinações, seria preciso um milagre. 2.º Ponto. — As ambições, as inquietações e as curiosidades absorvem e tiranizam o homem mundano e o cortesão até ao último momento da vida. 3.º Ponto. — O homem desmedidamente egoísta não ama o próximo; é cúpido, avaro, sente-se dominado pela embriaguez das paixões satisfeitas, até ao dia em que seja entregue ao tribunal divino por aqueles de quem ele se não compadeceu. Peroração. — Sejamos caritativos, principalmente numa época em que é mais horrível a miséria dos pobres.Mortuus est autem et dives O rico também morreu (Lc 16, 22)
Sermão sobre a eminente Dignidade dos Pobres na Igreja
Este discurso, que é um Sermão de Caridade em toda a extensão do termo, não conclui, como poderá ver-se, pela Ave-Maria tradicional. Os editores são unânimes em afirmar com Floquet que este sermão foi pregado no Seminário das Filhas da Providência, estabelecimento situado junto do Val-de-Grace. Lachat, afirmativo sempre, menciona os nomes de senhoras ilustres, na presença das das quais falou Bossuet. A data deste discurso não pode precisar-se ao certo, nem o lugar onde Bossuet o pronunciou é rigorosamente o seminário das Filhas da Providência. No verso de duas cartas que vieram de Sedan para Metz, e que foram remetidas de Metz para Paris, acham-se escritas duas páginas deste sermão. O sinete duma dessas cartas tanto pode ser o da famílias de Bouillon, como o dos Schombergm, como até o do marechal Fabert. (Gazier) - Ms. Tomo XI, pag. 269 - Déforis, IV, 536. - Lachat, VIII, 125. - Gandar, pag. 161.
Pregado em Paris, em fevereiro de 1659.
SUMÁRIO
Exordio. — A subversão das condições que o Salvador nos anuncia na passagem do Evangelho, que serve de tema a Bossuet, começou já nesta vida. Proposição e divisão. — O orador desenvolve três pensamentos que se opõem ao que decorre no mundo e na Igreja, que é o reino de Jesus Cristo. No 1° prova que a maior grandeza pertence aos pobres, que são os primogênitos da Igreja, os seus verdadeiros filhos; no 2° que os ricos são os servos dos pobres; e no 3° que são os pobres que têm as graças e as bênçãos do céu, e só por intervenção deles é que as podem ter os ricos. 1.º Ponto. — A Igreja é realmente a cidade dos pobres, por que nos seus princípios só foi edificada para eles. Difere, portanto, da Sinagoga na ausência das riquezas e da abundância que são as partilhas desta. É isto o que nos faz compreender o Salvador, quando diz: Beati pauperes, quia vetrum est regnum Dei. Deve-se, pois, amar e respeitar os pobres, ainda mesmo quando se lhes faz uma esmola, porque são eles os primogênitos da família de Jesus Cristo. 2.º Ponto. — Jesus Cristo não necessita para Si dos favores dos ricos, mas necessita deles para os Seus pobres, de quem serve de medianeiro junto dos grandes deste mundo. Portanto, os ricos devem considerar uma honra o fato de serem os servos dos pobres; porém, valendo-lhes nas suas misérias, valem ao próprio Jesus Cristo. Além disso, devem servi-los com grande prazer e gratidão, pois aliviam assim o fardo das suas riquezas, que, aliás, os arrastaria ao abismo. 3.º Ponto. — Em todos os reinos há privilegiados. Os privilegiados do reino de Jesus Cristo são os pobres, porque é na pobreza que reside a magnificência desse reino. Todos os benefícios são prometidos aos pobres; aos ricos só cabem maldições: Vae vobis divitibus. Peroração. — Posto isto, será necessário que os ricos procurem o meio de que os pobres se interessem por eles? E como? Por meio de esmolas: Peccata tua eleemosynis redime.Erunt novissimi primi, et primi novissimi Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos (Mc 20, 16)
I. Sermão para o Dia de Natal
Bossuet pregou duas vezes este sermão; perante a côrte em 1665 e nas Carmelitas do subúrbio Saint-Jacques, em Paris, em 1668, com variantes e aperfeiçoamentos. É a segunda redação que publicamos.
SUMÁRIO
Exordio. — O Verbo, que no princípio estava no seio de Deus... criou três degraus, por meio dos quais a soberana grandeza desceu até à última baixeza. Proposição e divisão. — Ele apenas desceu até nós para nos indicar esses degraus, por meio dos quais nós podemos subir até Ele: 1.° Se Ele acode à nossa natureza caída, é com intenção de a levantar; 2.° Se se apodera das nossas enfermidades, é com o fim de as curar; 3.° Se se expõe às misérias e aos ultrajes da sorte, é para triunfar de todos ps atrativos do mundo. 1.º Ponto. — Só Deus é grande em tudo: Nostra suscipiendo provehit et sua communicando non perdit. O homem pelo seu orgulho quis fazer-se Deus, e para combater esse orgulho quis Deus fazer-se homem. Não é a independência de Deus que devemos imitar, senão a Sua bondade e as Suas humilhações. Sejamos deuses com Jesus Cristo e tomemos sentimentos inteiramente divinos. 2.º Ponto. — Visto que o Salvador era Deus, devia fazer milagres; e visto que era homem, não devia vexar-se de mostrar imperfeição: Ut solita sublimaret in solitis, et insolita solitis temperaret. Nós não temos um pontífice que seja insensível aos nossos males. «Porque ele passou, como nós, por todas as espécies de provação, à excepção do pecado». 3.º Ponto — Deus vem à terra para confundir com a Sua pobreza o fausto ridículo dos filhos de Adão, e desenganá-los dos vãos prazeres que os encantam. Diz-lhes: Confidite ego vici mundum. Peroração. — Não imitemos os judeus, reconheçamos o nosso verdadeiro Salvador: Si ignobilis, si inglorius, si inhonorabilis meus, erit Christus. O presépio de Jesus Cristo tornou ridículas todas as nossas vaidades. Aspiremos às riquezas inestimáveis que a gloriosa pobreza do Salvador nos preparou para a felicidade eterna.Natus est nobis hodie Salvator mundi, et hoc vobis signum: Invenietis infantem pannis involutum, positum in praesepio. O Salvador do mundo nasceu hoje para nós, e haveis de reconhecê-lO por este sinal: Achareis um menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura.(Lc 2, 11-12).