“Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para tudo o que acontece debaixo do céu. Tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher a planta. Tempo de matar e tempo de salvar; tempo de destruir e tempo de construir. Tempo de chorar e tempo de rir; tempo de lamentar e tempo de dançar. Tempo de atirar pedras e tempo de as amontoar; tempo de abraçar e tempo de separar. Tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de esbanjar. Tempo de rasgar e tempo de costurar; tempo de calar e tempo de falar. Tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz. Que proveito tira o trabalhador de seu esforço? Observei a tarefa que Deus impôs aos homens, para que nela se ocupassem. As coisas que Ele fez são todas boas no tempo oportuno. Além disso, Ele dispôs que fossem permanentes; no entanto o homem jamais chega a conhecer o princípio e o fim da ação que Deus realiza”.
Sumário. É certo que Deus, excetuando as primeiras graças, tais como a vocação para a fé ou penitência, nenhuma outra graça concede em regra geral (e menos ainda a perseverança) senão àquele que ora. Pelo que a oração é necessária aos adultos por necessidade de meio, de modo que o que ora, certamente se salva e o que não ora, certamente se condena. Este será o maior motivo de desespero para os réprobos, verem que tão facilmente se podiam salvar pela oração e que não há mais tempo para orar. Meu irmão, como usaste até hoje deste grande meio?Oportet semper orare et non deficere - “É preciso orar sempre e não deixar de o fazer” (Lc 18, 1)
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CONSIDERAÇÃO XV
Filios enutrivi et exaltavi; ipsi autem spreverunt me. - "Filhos criei e engrandeci-os; mas eles me desprezavam" (Is 1,2)
PONTO I
Que faz aquele que comete pecado mortal?... Injuria a Deus, desonra-O e, no que depende dele, cobre-o de amargura. Primeiramente, o pecado mortal é uma ofensa grave que se faz a Deus. A malícia de uma ofensa, diz São Tomás, se mede pela pessoa que a recebe e pela pessoa que a comete. A ofensa feita a um simples particular é sem dúvida um mal; mas constitui delito maior se é feita a uma pessoa de alta dignidade, e muito mais grave quando visa o rei... E Quem é Deus? É o Rei dos reis (Ap 17,14). Deus é a Majestade infinita, perante quem todos os príncipes da terra e todos os santos e anjos do céu são menos que um grão de areia (Is 40,15). Diante da grandeza de Deus, todas as criaturas são como se não existissem (Is 40,17). Eis o que é Deus... E o homem, o que é?... Responde São Bernardo: saco de vermes, pasto de vermes, que cedo o hão de devorar. O homem é um miserável que nada pode, um cego que nada vê; pobre e nu, que nada possui (Ap 3,17). E este verme miserável se atreve a injuriar a Deus? exclama o mesmo São Bernardo. Com razão, pois, afirma o Doutor Angélico, que o pecado do homem contém uma malícia quase infinita. Por isso, Santo Agostinho chama, absolutamente, o pecado mal infinito. Daí se segue que todos os homens e todos os anjos não poderiam satisfazer por um só pecado, mesmo que se oferecessem à morte e ao aniquilamento. Deus castiga o pecado mortal com as penas terríveis do inferno; contudo, esse castigo é, segundo dizem todos os teólogos, citra condignum, isto é, menor que a pena com que tal pecado deveria ser castigado.20º Domingo depois de Pentecostes
Sumário. Em nossas tribulações não nos é proibido pedirmos a Deus que nos livre delas; mas é necessário que nos conformemos com a sua vontade. Estejamos certos de que Deus não nos envia as cruzes para nossa perdição, mas para nossa salvação e para nos comunicar as suas graças. Vede o bom régulo de quem nos fala o Evangelho. Talvez nunca tivesse pensado em ser discípulo de Jesus Cristo; mas o Senhor atraiu-o a si por meio da enfermidade do filho, e comunica-lhe, a ele e a toda a família, o mais precioso de seus dons, a fé.Credidit ipse et domus eius tota - “Creu ele e toda a sua família” (Jo 4, 53)
Sumário. Desde o grande dia em que a Santíssima Virgem teve a felicidade e ao mesmo tempo a dor de assistir no Calvário à morte de Jesus Cristo, tornou-se protetora especial dos pobres moribundos. Quando a divina Mãe vê um seu devoto nestes extremos, ordena a São Miguel que o defenda contra os assaltos do demônio e ela mesma também vai assisti-lo e socorrê-lo. Avivemos, pois, a nossa devoção para com Maria, e, ainda que pecadores, esperemos que também nós havemos de gozar da sua proteção na hora de nossa morte. Oh! Que doce consolação morrer entre os braços de Maria!Non tanget illos tormentum mortis - “Não os tocará o tormento da morte” (Sb 3, 1)
“Senhor, por que estás tão longe e Te escondes no tempo da angústia?”Por que, Senhor, és um Deus fugidio? Por que parece que não ligas para nossas angústias, para o sofrimento dos Teus, para o grito dos oprimidos desta vida? Tu não és amor? Não és providência? Não és piedade e compaixão? Por que, então fazes assim? Por que parece até que não existes, que fugiste deste nosso tempo de dores, impiedades e descrença?
Sumário. É sobretudo por três motivos que o Senhor permite que as suas mais queridas almas sejam mais frequente e fortemente tentadas: para as conservar na humildade, para as desapegar da terra, e para as enriquecer de merecimentos. Cada tentação vencida é uma pedra preciosa engastada em nossas coroa celestial. Nem por isso devemos desejar as tentações; mas quando o demônio nos assalta, sem que lhe tenhamos dado ocasião, entreguemo-nos a Deus e não temamos; pois, se ele nos lança ao combate, dar-nos-á também com a tentação a força para resistir.Fidelis Deus est, qui patietur vos tetari supra id quod potestis; sed faciet etiam cum tentatione proventum - “Deus é fiel, e não permitirá sejais tentados mais do que podem as vossas forças; antes fará que tireis proveito da tentação” (1 Cor 10, 13)
Sumário. Se é verdade que todas as graças passam pelas mãos de Maria, também será certo que só por meio de Maria poderemos esperar e conseguir a graça suprema da perseverança final. Se nos quisermos salvar, sejamos devotos desta querida Mãe; recorramos a ela em todas as nossas necessidades; e quando os demônios nos vierem tentar, como os pintainhos ao ver no ar o milhafre, vamo-nos meter debaixo do seu manto. Mas ai de nós, se resfriarmos nesta devoção! Porquanto, assim como é impossível que se condene um verdadeiro devoto da Virgem, assim é igualmente impossível que se salve o que não for protegido por ela.Qui operantur in me non peccabunt - “Os que trabalham por mim não pecarão” (Eclo 24, 30)
Sumário. A terra é um campo de batalha, no qual fomos postos todos para combater. Felizes de nós se formos vencedores! Se nos chegarmos a salvar, terminarão as adversidades, as tentações, as enfermidades e todas as misérias da vida presente; e Deus mesmo será a nossa recompensa eterna. Anime-nos a esperança deste galardão a combatermos até à morte, e a não nos deixarmos enquanto não estivermos na posse da pátria bem-aventurada. Para que não sintamos tanto o peso das tribulações, deitemos um olhar sobre Jesus crucificado e lembremo-nos do inferno que temos merecido.Usque in tempus sustinebit patiens, et postea redditio iucunditatis - “O homem paciente sofrerá até o tempo destinado, e depois tornar-se-lhe-á a dar a alegria” (Eclo 1, 29)