I
Demonstra-se que o primeiro meio de adquirir a Perfeição é o desejo de consegui-la
Se eu vos mencionasse todos os meios que possam coadjuvar a posse da perfeição, seria mister que vos fizesse longo tratado, que seria fora do meu intento de escrever pequeno opúsculo adaptado a capacidade e estado de toda a gente. Só vos indicarei dois meios, de que os outros dependem. O primeiro vos fará trilhar a estrada da perfeição, o segundo vos servirá de guia seguro, para caminhardes bem e fazerdes progressos nela. O primeiro é o desejo de conquistar a perfeição, e sem este nada se consegue. Ninguém poderia aprender uma arte que não desejasse saber, e só a sabe bem quem vivamente a deseja. Se quereis ter a perfeição, desejai ardentemente obtê-la. Não julgueis soberbo o anelo de atingir a santidade perfeita; o demônio, disse Santa Tereza, faz pensar que é soberbo tão santo desejo; não o é, sim boa vontade de fazermos o que Deus exige de nós, pois é sua vontade que nos santifiquemos: Voluntas Dei sanctificatio vestra. Felizes seriamos se todos tivéssemos esta santa soberba! A de querermos ser santos!
I
Quando uma coisa tem estes dois predicados, beleza e utilidade atrai o coração das criaturas com doce violência, que as obriga a amá-la, e buscar possui-la; como desejo que vos apaixoneis pela perfeição cristã, e procureis com muito empenho conseguir sua feliz posse, quero apresentar-vos parte da sua celeste beleza, e algumas razões da sua incompreensível utilidade. Começando pelo primeiro destes predicados, quanto é belo a Santidade que consiste na simples posse da graça santificante, tal beleza tem que enamora não só os Santos e Anjos, mas até o próprio Deus; a alma que a possui é na realidade amiga do Senhor, sua filha, embora tivesse e tenha bastantes manchas veniais. Ainda que uma alma fosse manchada com um milhão de faltas veniais, tendo a graça santificante, seria, porém resplandecente com tal formosura, que agradaria a Deus, que sempre a olharia como sua amiga e filha.
I A prática dos Conselhos Evangélicos não é necessária para a Perfeição Cristã
Não obstante o que se disse alma devota, talvez penseis que para possuir a perfeição, a santidade perfeita, se exige muito mais; primeiro que tudo perguntais que valia dou aos Conselhos Evangélicos, que não mencionei, e que hão de ter o primeiro lugar quando se trata da perfeição. Se os julgais indispensáveis, estais enganada. Primeiro, como diz Santo Tomás, só é preciso para a santidade à obediência aos mandamentos (ver Sum. Teol. 2-2 que. 184 a. 3) tão grande autoridade deveria bastar-vos, porém quero convencer-vos com razões evidentes. Os Conselhos Evangélicos são três, Pobreza, Obediência, Castidade perfeita. Porém se fosse verdade que a prática destes conselhos fosse necessária para se obter a santidade, talvez que só os frades e freiras pudessem aspirar a tal glória. Dela seriam excluídos os casados e todos que não sujeitam a mãos alheias a vontade própria, nem vivem de esmolas. Neste caso não seria verdade que Deus quer que todos sejam Santos, como em vários lugares afirma a Sagrada Escritura, pois não quer que todos os homens pratiquem os Conselhos. A ordem de sua Providência quer que uns observem a continência, outros se casem, sejam ricos, pobres, não desaprova o Senhor que algumas pessoas se governem a si, aprecia, porém os que se submetem à obediência sacrificando a vontade própria. No entanto, quer que todos se tornem Santos. É, pois, um erro verdadeiro pensar que os Conselhos Evangélicos são necessários para a santidade.

I
Todos os Santos concordam que a Santidade cristã consiste na caridade, isto é na prática da vontade divina, a alma que a executa é santa, que melhor lhe obedece mais santa é. Não se pode duvidar da verdade desta doutrina, e nenhum autor espiritual dela duvidou. Alma devota, vede em que estado e condição estais, se procurais cumprir a vontade de Deus sois santa, e quanto melhor a executardes com perfeição mais santa sereis.
Meditação para o Quinto Sábado depois de Pentecostes
SUMARIO
Meditaremos dois outros princípios da vida cristã: o primeiro é que, qualquer que seja o grau de virtude que tivermos alcançado, cumpre-nos sempre julgar que estamos muito longe do que deveríamos ter alcançado; o segundo é que deixar de progredir na virtude, é retroceder. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De diligenciarmos fazer cada uma das nossas ações com toda a perfeição, de que somos capazes; 2.º De examinarmos, depois de cada ação, os seus defeitos, e de repará-los, fazendo melhor a ação seguinte. O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apocalipse:"Aquele que é justo, justifique-se ainda; e aquele que é santo, santifique-se ainda" - Qui justus est, justificetur adhuc; et sanctus sanctificetur adhuc (Ap 22, 11)

Meditação para a Quinta Sexta-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Continuaremos a meditar sobre o desejo da vida perfeita, e veremos: 1.° Que este desejo é um indício de predestinação; 2.° Que cresce na alma à proporção que se progride na virtude. — Tomaremos depois a resolução: 1.º De aspirarmos incessantemente a uma mais alta perfeição; 2.° De nos lembrarmos muitas vezes do modo como os santos amavam e serviam a Deus, de nos envergonharmos de estar tão longe deles, e de nos excitarmos a amar e a servir a Deus como eles. O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salmista:"Bem-aventurado aquele que resolveu no seu coração subir de virtude em virtude" - Ascenciones in corde suo disposuit (Sl 83, 6)

Devoção a Santo Afonso como modelo das Virtudes Fundamentais. Mês de Julho
Sumário. Posto que o nosso Santo, na sua qualidade de Superior, tivesse menos ocasião para praticar tão bela virtude, a sua santidade industriosa soube contudo achar modos de se distinguir nesta virtude como em todas as outras, pela dependência contínua do seu Diretor espiritual e pela observância das Regras do seu Instituto. Procuremos, cada um na sua condição, imitar a Santo Afonso, guardando os mandamentos de Deus e da Igreja, e cumprindo os deveres do nosso estado. Sendo religiosos, lembremo-nos que a essência do nosso estado consiste exatamente na obediência.Inveni... virum secundum cor meum, qui faciet omnes voluntates meas - “Achei... um homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades” (At 13, 22)

Devoção a Santo Afonso como modelo das Virtudes Fundamentais. Mês de Junho
Sumário. A santa pureza nos faz de algum modo iguais aos anjos, e sob certo ponto de vista, mesmo superiores; porque por ela o homem se torna por virtude o que os anjos são por natureza. Por isso Santo Afonso tomou a bela virtude por companheira inseparável, e guardou-a ilesa, apesar das tentações mais horrorosas. Para este fim se serviu o Santo de diversos meios, mas o principal foi a oração e a sua devoção particular à Santíssima Virgem. Felizes de nós se soubermos imitá-lo!Erunt sicut angeli Dei in coelo - “Eles serão como os anjos de Deus no céu” (Mt 22, 30)