Bastantes são os frutos que da sexta palavra pode colher quem atentamente considerar a sua fecundidade; e em primeiro lugar do: Tudo está consumado, que dissemos que se deve entender do cumprimento dos vaticínios, deduz Santo Agostinho (1) uma utilíssima prova. Pois, assim como temos a certeza, pelo que sabemos, que se realizou, que foi verdade o que os profetas predisseram tanto tempo antes, também, não devemos duvidar de que há de realizar-se o que os mesmos profetas predisseram que há de acontecer, posto que isso ainda não aconteceu; pois; que os profetas não o disseram por si mesmos mas inspirados pelo Espírito Santo (2 Pd 1); e, porque o Espírito Santo é Deus, e Deus de modo nenhum se pode enganar nem faltar à verdade, devemos com toda a certeza acreditar que sem falta nenhuma se há de cumprir que está profetizado, e que ainda se não realizou.
«Assim como até hoje tudo, se verificou, diz Santo Agostinho, também se há de verificar o que resta: temamos o dia do juízo: há de vir o Senhor; o que veio humilde virá exaltado»
SUMÁRIO ESCRITO POR BOSSUET
Exordio. — A vida e a morte são menos dissemelhantes do que se diz e pensa. Proposição e divisão. 1°. O homem mundano, insensível à miséria dos pobres e estranho ao pensamento da salvação, morre aterrorizado e cercado de dores cruéis; 2.° Cai nas mãos de Deus sem ter o espírito preparado; 3°. Vai à presença do Juiz sem ter quem o defenda. 1.º Ponto. — O habito de não nos contentarmos com o que é lícito conduz em breve a afouteza de perseguirmos o que é verdadeiramente ilícito. E para depois modificar tão profundas inclinações, seria preciso um milagre. 2.º Ponto. — As ambições, as inquietações e as curiosidades absorvem e tiranizam o homem mundano e o cortesão até ao último momento da vida. 3.º Ponto. — O homem desmedidamente egoísta não ama o próximo; é cúpido, avaro, sente-se dominado pela embriaguez das paixões satisfeitas, até ao dia em que seja entregue ao tribunal divino por aqueles de quem ele se não compadeceu. Peroração. — Sejamos caritativos, principalmente numa época em que é mais horrível a miséria dos pobres.Mortuus est autem et dives O rico também morreu (Lc 16, 22)
II. Sermão para o 1º Domingo do Advento
Pregado em São Tomé do Louvre em 1668.
SUMÁRIO
Exordio. — A Igreja, sabendo que o receio vem antes do amor, mostra-nos Jesus Cristo terrível nos seus juízos antes de no-lo mostrar condescendente para com as nossas misérias. Proposição, divisão. — Os que desprezarem a bondade do Senhor, hão de suportar a Sua justa cólera. Se se sublevarem contra o Seu poder, ela há de abatê-los; se desprezarem a Sua bondade, experimentarão os Seus rigores; se não quiserem viver num império suave e legítimo, ficam sujeitos a uma dura e insuportável tirania. 1.° Ponto — Devemos usar da nossa liberdade para nos submetermos filialmente a Deus a quem pertencemos absolutamente. 2.° Ponto — O amor de Deus enche-nos de favores, e se nós desconhecemos os benefícios do Senhor e as liberdades infinitas de Jesus Cristo, sofreremos as Suas terríveis consequências. 3.° Ponto — Visto que não quisestes servir o Senhor alegremente, haveis de sofrer o jogo do vosso inimigo. Não há império mais suave e mais legítimo do que o de Deus sobre o homem. Peroração — Os nossos inimigos preferem antes corromper-nos do que atormentar-nos. Envergonhemo-nos de suportar a sua tirania e de sermos algemados, depois de Jesus Cristo nos ter feito reis.Justus es Domine, et rectum judicium tuum Senhor, vós sois justo e o vosso juízo é reto. (Sl 118, 134)
Meditação para o Dia 29 de Setembro
A Justiça Divina, que amedronta as grandes almas, é motivo de alegria e confiança para as almas pequeninas. Deus é justo e, porque é justo, conhecendo profundamente nossa fraqueza, sabe avaliar com precisão o que somos e podemos. Como, pois, não há de usar de misericórdia para conosco? Não é justo também que, já que Nosso Senhor nos deu a sua misericórdia, manifeste-se esta onde há maiores e mais tristes misérias? Fiquemos sempre pequeninos e não temamos.“Os pequeninos – diz o Espírito Santo – serão julgados com extrema doçura"
Meditação para o Dia 30 de Agosto
Segundo a Imitação de Cristo, Cap. XLVI - L. III
Jesus Cristo: O testemunho dos homens muitas vezes é falso, mas o meu Juízo é sempre verdadeiro, ele subsistirá e não será revogado. A maior parte das vezes é oculto e poucas pessoas descobrem suas particularidades, porém nunca erra, nem pode errar, ainda que aos olhos dos néscios nem sempre pareça justo. A Mim, pois, deves recorrer em todos os juízos que se formam sobre a terra e não confiar no teu próprio.
POR detrás de toda a tentativa de «se escapar», feito o dano, está a esperança de que nunca se será descoberto. Se há apenas uma inspeção aos livros, pode estar-se razoavelmente certo de que não se descobrirá o roubo; mas se há uma segunda inspeção por um guarda-livros superior, ser-se-á menos tentado a cometer o crime. Nada leva tanto ao mal como a crença de que este mundo é tudo, e de que, para além dele, não há um julgamento ulterior sobre o modo como vivemos e pensamos. Se este mundo é tudo, por que não tirar então dele o maior proveito possível, custe o que custar, contanto que se fique impune?