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Tag: homilia

Panegírico de Santa Catarina de Alexandria

Panegírico de Santa Catarina

Santa Catarina de Alexandria, virgem e mártir, que viveu pelo ano de 312, foi tão notável pela sua ciência que confundiu e converteu muitos filósofos pagãos. Morreu no reinado de Maximino Daia, presa a uma roda guarnecida de dentes de ferro. O seu corpo foi encontrado no Egito no século VIII e transportado pelos anjos, segundo a lenda, para o mosteiro de Santa Helena, no monte Sinai. Santa Catarina é a padroeira dos filósofos e das escolas. Em 1063 foi instituída uma ordem militar de Santa Catarina, para guardar as suas relíquias no monte Sinai e proteger os peregrinos que vinham venerá-las.

Pregado no dia 26 de novembro de 1693, no Seminário de Saint-Nicolas-du-Chardonnet.

SUMÁRIO

Exordio. – O orador, servindo-se do exemplo de Santa Catarina, propõe-se mostrar neste Panegírico o uso que devemos fazer da ciência. Proposição e divisão. – Há três espécies de pessoas que abusam deste dom de Deus: as que só desejam a ciência pela própria ciência, as que a desejam para armar à vanglória, e finalmente as que a pretendem para acumular riquezas. Daqui procede um triplicado móbil criminoso que temos de evitar no estudo: a curiosidade, o orgulho e a avareza. 1.º Ponto. — Santa Catarina soube evitar admiravelmente este tríplice escolho. Quinhoou da ciência; mas essa ciência empregou-a ela a contemplar a luz divina e não a contentar o espírito. Tomou a Deus como princípio e fim de todos os seus conhecimentos, e assim como um edifício que assenta no alicerce deve ser sempre sólido e perdurável, assim também a sua ciência foi verdadeira e fecunda em frutos de salvação. 2.º Ponto. — Ela também difundiu o seu saber pelos filósofos e pelos grandes do mundo; mas com que prudência e sabedoria não se desobrigou ela dessa missão!... Deus, o Deus universal, o Deus eterno, é que foi constantemente o objeto para que ela dirigiu os seus esforços. E não se imagine que isto lhe tenha passado pela mente um instante sequer com o fim de estabelecer a sua glória e a sua reputação. Não, não foi este o seu intuito. Ela só quis ver por toda a parte Nosso Senhor e o Evangelho, procurando granjear-lhes o triunfo, e conseguiu-o. 3.º Ponto. — Finalmente não foram favores temporais que ela buscou na ciência. O seu único móbil, como o prova toda a sua vida, foi conquistar almas para Jesus Cristo. Não teve outro fito, não albergou outro desejo, não procurou outro resultado. Peroração. — Ah! Aprendamos, como Santa Catarina, a fazer com que tudo convirja para Deus, aprendamos a ver Deus em todas as nossas empresas, proclamemo-lO por toda a parte, tenhamos a generosidade de Lhe pertencer desinteressadamente, e então Deus há de recompensar-nos um dia como recompensou a ela.

Dedit ili scientiam sanctorum E Ele deu-lhe á ciência dos santos (Sb 10, 10)

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As Duas Alianças

2º Domingo depois da Epifania - As Duas Alianças

Sermão para o 2º Domingo depois da Epifania

SUMÁRIO

Exórdio. - Jesus Cristo une-se às almas fiéis por vias misteriosas; e eis o motivo porque tantas vezes lhe chamam, e com razão, o divino Esposo das almas. Proposição e divisão. - O orador tira o assunto do seu sermão da história milagrosa das bodas de Caná. Desenvolve sucessivamente três pensamentos principais que lhe são sugeridos pela conversão da água em vinho. Jesus Cristo transformou: 1.° O símbolo em realidade; 2.° A letra em espírito; 3.° A lei de rigor em lei de misericórdia e de amor. 1.º Ponto. — Pelo milagre das bodas de Caná, quis Jesus Cristo fazer-nos compreender quê, do mesmo modo que convertia a água em vinho, convertia também o símbolo em realidade. No Antigo Testamento tudo é simbólico, no Novo tudo é real; e assim como o símbolo não pode existir sem a realidade, assim todas as Escrituras proféticas não teriam razão alguma de ser, e até nos pareceriam às vezes bem extravagantes, se nelas não se destacasse a figura de Jesus Cristo. São águas sem ímpeto e sem sabor, frias e languidas, que de repente se convertem num vinho generoso, sob a divina influência de Jesus Cristo

«A lei é, pois, um Evangelho oculto; e o Evangelho é a lei explicada»

2.º Ponto. — Deus mandará dizer pelo seu profeta:

«Eu hei de inspirar-lhes nas almas a minha lei, e hei de escrevê-la, não em tábuas de pedra, mas nos seus corações» (Jr 31, 31)

E na verdade, com Jesus Cristo, o Espírito de Deus apoderou-se dos nossos corações por uma caridade sinceríssima, por um poderoso amor que Ele nos inspira, e por uma bondade santa e arrebatadora. A lei antiga ordenava, mas não vivificava, mas não atraía; impunha-se ao espírito pelo raciocínio, mas não ao coração pela caridade; impressionava profundamente os ouvidos, como diz Bossuet, mas não comovia o coração. A lei nova, pelo contrário, entusiasma-nos com um divino fervor, alenta-nos, aquece-nos com benditos arderes. 3.º Ponto. — A lei antiga é uma lei de receio e de rigor; os seus transgressores eram punidos impiedosamente; e Deus oprimia-os muitas vezes com eternas maldições. A lei nova é uma lei toda de amor. Peroração. — Nós já não estamos sob o império da lei do temor, estamos sob o império da lei do amor. Sirvamos a Deus com um amor liberal e sincero. E vós, sobretudo, neófitas, rendei-lhe eternamente as vossas ações de graças.

Nuptiae factae sunt in Cana Galilaeae, et erat mater Jesu ibi. Vocatus est autem et Jesus et discipuli ejus. Celebrava-se uma boda em Caná da Galileia e a mãe de Jesus estava lá. Jesus e os seus discípulos também foram convidados para a boda (Jo 2, 1 e 2)

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Jesus é o Cordeiro que tira os Pecados do Mundo

Festa da Circuncisão - II. Jesus é o Cordeiro que tira os Pecados do Mundo

II. Sermão para a Festa da Circuncisão

Pregado no 1° de janeiro de 1687, em Paris, na capela da Casa professa dos Jesuítas.

SUMÁRIO

Exordio. — Desenvolvimento do texto: Ipse salvum faciet populum suum a peccatis eorum... Proposição e divisão. —Jesus é o Cordeiro que tira os pecados do mundo: 1.º O pecado avilta a alma e dá-lhe a morte eterna, mas Jesus ressuscita-a pelo perdão; 2.° A alma perdoada é de novo arrastada ao mal, mas a graça de Jesus fortifica-a contra a tentação; 3.° Neste mundo estamos sempre, sujeitos a abusar da nossa liberdade, mas com a glória do céu torna-nos Jesus impecáveis. 1.º Ponto. — O pecado é um ato de rebelião contra Deus e de ódio contra o próprio indivíduo, um mal íntimo que apaga em nós por completo tudo que nos une a Deus. A graça de Jesus, fruto do Seu sangue divino, cura este mal nas almas penitentes. 2.º Ponto. — O pecado, entrando na nossa alma, e residindo sobretudo nela, faz-lhe chagas que não desaparecem juntamente com Ele, enfraquece a nossa natureza e produz-lhe as maiores alterações. A graça de Jesus, porém, está sempre preparada para nos lavar dos nossos pecados, para nos ajudar a triunfar, para nos premunir enfim contra novas fraquezas. 3.º Ponto. — Finalmente, para completar a sua vitória, a graça de Jesus Cristo há de ajudar-nos a alcançar o repouso eterno, isto é, esse estado em que a nossa alma, firmada na felicidade, não tornará jamais a pecar. Peroração. — Ai do que diz:

«Eu pequei e que mal me sucedeu?»

Não se lembra de que o Omnipotente o espera no dia fatal, e que, certo do golpe que há de dar, não  precipita a sua vingança. — Elogio do zelo da Companhia de Jesus.

Vocabis nomen ejus Jesum: ipse enim salvum faciet populum suum a peccatis eorum E vós lhe chamareis Jesus, que quer dizer Salvador, porque é Ele quem há de salvar o povo dos seus pecados (Mt 1, 21)

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Realeza de Jesus Cristo

Festa da Circuncisão - I. Realeza de Jesus Cristo

I. Sermão para a Festa da Circuncisão

Pregado no 1º de janeiro de 1654 ou 1656.

SUMÁRIO

Exordio. — O poder real e o poder sacerdotal estão intimamente ligados e derivam naturalmente de duas inclinações que existem no Coração humano: a inclinação para Deus ou para a religião e a inclinação para o homem ou para a sociedade. Proposição e divisão. — Jesus Cristo é simultaneamente rei e pontífice, porque é salvador: Realeza de Jesus Cristo; em que consiste, como Ele a adquiriu e como a exerce; sacerdócio de Jesus Cristo e Sua excelência. 1.º Ponto. — Jesus Cristo veio ao mundo com um poder real: não é uma realeza temporal, como a entendiam os judeus e os próprios apóstolos, mas uma realeza inteiramente espiritual; e por isso, só durante a Paixão é que se ouve falar da Sua realeza: Tu dicis quia rex ego sum. Jesus reina em toda a parte: Christi regnum et nomen ubique porrigitur, ubique regnat ubique adoratur. Tertuliano. 2.º Ponto. — O sacerdócio de Jesus Cristo é muito mais perfeito do que o de Aarão. O nome de Jesus, que encerra todas as maravilhas da realeza e do sacerdócio, é um nome superior a todos os nomes. Amam-se os reis benfazejos, mas não se ama a Jesus, que é o mais generoso dos reis, Jesus, que deu o Seu sangue para a conquista da nossa alma. Peroração. — Povos, até quando hesitareis entre dois partidos?

«Se Jesus é o vosso rei, prestai-lhe obediência; mas se o vosso rei é Satanás, colocai-vos ao lado de Satanás. O governo de Jesus sobre os vassalos de Satanás há de ser severo. Renovemos o nosso juramento de fidelidade que devemos a Jesus, o nosso grande rei»

Vocabis nomen ejus Jesum; ipse enim salvum faciet populum E vós lhe chamareis Jesus, porque é Ele quem salvará o vosso povo (Mt 1, 21)

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Jesus Cristo estabelecido para Ruína e Ressurreição de Muitos

Dia de Natal - II. Jesus Cristo estabelecido para Ruína e Ressurreição de Muitos

II. Sermão para o Dia de Natal

Pregado em Meaux, no dia 25 de dezembro de 1667.

Não existe manuscrito. —Déforis, IV, p. 877. - Lachat, VIII, 279. Foi por uma cópia do abade Ledieu, a quem Bossuet o tinha ditado para uma religiosa de Jouarre, que Déforis publicou este sermão. Como Sermão da Paixão, tem ele a vantagem de manifestar na sua forma definitiva o pensamento de Bossuet.

SUMÁRIO

Exordio. —Desenvolvimento do texto: Positus est hic... Proposição e divisão. — Um dos caracteres do Messias prometido a nossos pais era ser ao mesmo tempo um motivo de consolação e um motivo de contradição; uma pedra angular e uma pedra de escândalo. O que nos desagrada é: 1° a profunda humilhação da sua pessoa; 2.° a verdade inexorável da sua doutrina e a grandeza da sua misericórdia. 1.º Ponto. — Os filósofos da antiguidade tanto se aproximavam de Deus pela sua inteligência, como se afastavam dEle pelo seu orgulho... É o que hoje fazem muitos cristãos. A exemplo de Jesus, aniquilemos tudo o que somos, pois isso não nos causará ruína, mas dá-nos a ressurreição. 2.º Ponto. — Jesus Cristo apresentando aos homens a verdade que os condenava, e apresentando-a de mais perto do que nenhum dos profetas, fizera-o com mais vivo esplendor, sublevava necessariamente contra si todos os espíritos, até aos últimos excessos.

«Amado irmão, é Jesus Cristo que te ilumina ainda... caminha, pois, com o auxílio dessa luz»

3.º Ponto. — Como na instituição dos Seus Sacramentos, sobretudo na instituição do Batismo e da Penitência, Jesus Cristo não quis limitar a Sua bondade, também os cristãos não quiseram limitar os seus crimes; não receiam pecar porque esperam arrepender-se um dia.

«Tremei... e temei... de cometer... esse pecado contra o Espírito Santo, que não se perdoa neste mundo nem no outro»

Peroração.«Vinde contemplar os mistérios do Salvador; olhai para o lugar por onde eles vos podem causar ruína e para aqueles por onde vos podem dar consolação»

Ecce positus est hic in ruinam et in resurrectionem multorum in Israel. Eis que este é enviado para queda e ressurreição de muitos em Israel. (Lc 2, 34)

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Os Divinos Caracteres do Salvador

Dia de Natal - I. Os Divinos Caracteres do Salvador

I. Sermão para o Dia de Natal

Bossuet pregou duas vezes este sermão; perante a côrte em 1665 e nas Carmelitas do subúrbio Saint-Jacques, em Paris, em 1668, com variantes e aperfeiçoamentos. É a segunda redação que publicamos.

SUMÁRIO

Exordio. — O Verbo, que no princípio estava no seio de Deus... criou três degraus, por meio dos quais a soberana grandeza desceu até à última baixeza. Proposição e divisão. — Ele apenas desceu até nós para nos indicar esses degraus, por meio dos quais nós podemos subir até Ele: 1.° Se Ele acode à nossa natureza caída, é com intenção de a levantar; 2.° Se se apodera das nossas enfermidades, é com o fim de as curar; 3.° Se se expõe às misérias e aos ultrajes da sorte, é para triunfar de todos ps atrativos do mundo. 1.º Ponto. — Só Deus é grande em tudo: Nostra suscipiendo provehit et sua communicando non perdit. O homem pelo seu orgulho quis fazer-se Deus, e para combater esse orgulho quis Deus fazer-se homem. Não é a independência de Deus que devemos imitar, senão a Sua bondade e as Suas humilhações. Sejamos deuses com Jesus Cristo e tomemos sentimentos inteiramente divinos. 2.º Ponto. — Visto que o Salvador era Deus, devia fazer milagres; e visto que era homem, não devia vexar-se de mostrar imperfeição: Ut solita sublimaret in solitis, et insolita solitis temperaret. Nós não temos um pontífice que seja insensível aos nossos males. «Porque ele passou, como nós, por todas as espécies de provação, à excepção do pecado». 3.º Ponto — Deus vem à terra para confundir com a Sua pobreza o fausto ridículo dos filhos de Adão, e desenganá-los dos vãos prazeres que os encantam. Diz-lhes: Confidite ego vici mundum. Peroração. — Não imitemos os judeus, reconheçamos o nosso verdadeiro Salvador: Si ignobilis, si inglorius, si inhonorabilis meus, erit Christus. O presépio de Jesus Cristo tornou ridículas todas as nossas vaidades. Aspiremos às riquezas inestimáveis que a gloriosa pobreza do Salvador nos preparou para a felicidade eterna.

Natus est nobis hodie Salvator mundi, et hoc vobis signum: Invenietis infantem pannis involutum, positum in praesepio. O Salvador do mundo nasceu hoje para nós, e haveis de reconhecê-lO por este sinal: Achareis um menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura.(Lc 2, 11-12).

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Necessidade da Penitência

3º Domingo do Advento - I. Necessidade da Penitência

I. Sermão para o 3º Domingo do Advento

Pregado na capela real de Saint-Germain-en-Laye, em 1669.

SUMÁRIO ESCRITO POR BOSSUET

Os pecadores adormecem, porque imaginam estar muito longínquo o seu infortúnio, mas Jesus Cristo prova que está disposto a ferir dois golpes: um tira a vida, o outro a esperança. O pecado sai da vontade humana contra a vontade divina. Duplamente contrário: a Deus, porque é ofensivo, ao homem, porque é prejudicial. Porque é prejudicial? Inimigos impotentes provam a sua inimizade: Deo resistendi voluntate, non potestate Iaedendi (S. Agost., De Civit Dei, liv. XII, cap. III). O pecado não caiu em Deus, a quem ataca; deixa todo o seu veneno em quem o comete. Comparação com a terra e as nuvens: Arcus eorum confringatur (Sl 36, 15). A empresa contra Deus é inútil. Gladius eorum intret in corda ipsorum (Ibid.); ele próprio se manifesta... O pecado é o próprio indivíduo: Ne putemus illam tranquillitatem et ineffabile lumen Dei de se proferre unde peccata punientur (S. Agost., Enar. in Psal., V. I, n. 16). Provas pela Escritura (Ez 7). A separação, a pena do sentimento. A primeira, pelo pecado; a segunda, perducam ignem de medio tui qui comedat te (Ez 28, 18). Os pecadores insensatos na sua certeza, tendo neles o principiam desse fogo. Contrariedade entre a lei e o pecador. Moisés e as Tábuas. Acerca da lei de justiça: Quod faceris patieris. Vós destruís a lei; a lei aufert eam de hominum vita (S. Agost., Epist., C. II, n. 24); a justiça divina sempre armada contra o pecador. Jam enim securis.

Jam enim securis ad radicem arborum posita est: omnis ego arbor non faciens fructum bonum, excidetur et in ignem mittetur. O machado já chegou à raiz da árvore; portanto, toda a árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo (Lc 3, 9).

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A Verdadeira Conversão

4º Domingo do Advento - I. A Verdadeira Conversão

I. Sermão para o 4º Domingo do Advento

Pregado em 22 de dezembro de 1669.

SUMÁRIO

Exordio. — Assim como sucedeu aos judeus, informados por São João Batista cerca do verdadeiro Messias, assim sucede que a paixão não nos deixa conhecer a verdade quando ela nos confunde. Proposição e divisão. — Tal como São João Batista, assim é o pregador: Vox clamantis in deserto: parate viam Domini. Resta compreendermos: 1.° O que é o deserto onde ela clama; 2.° Que preparação nos exige; 3.° Que equidade nos prescreve. 1.º Ponto. — O deserto em que deve achar-se o pecador que se quis converter é o retiro do mundo, ao menos pelo espírito, e um positivo regresso à própria individualidade, visto que o mundo nos conduz ao mal: Ipsumque aerem... scelestis vocibus constupratum. Foi para chorar os nossos pecados que Deus nos concedeu a faculdade do arrependimento e o dom das lágrimas. 2.º Ponto. — É preciso sofrermos provações, porque a conversão é coisa difícil, o bem custa mais do que o mal e certas afeções viciosas nas quais se envelheceu, não desaparecem com um único esforço. 3.º Ponto. —A pureza de coração que Deus exige ao pecador é a caridade: Diligere incipiunt... ac propter a moventur adversus peccata per odium aliquod ac detestationem. O temor não faz desaparecer o mal, porque é o efeito do amor. Peroração. — Despertemos nos nossos corações um princípio de amor, e cultivemo-lo, a fim de que ele estenda os seus ramos para toda a parte, e receemos a tentação.

Ego vox clamantis in deserto. Eu sou a voz daquele que clama no deserto (Jo 1, 23)

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Divindade da Religião

2º Domingo do Advento - II. A Divindade da Religião

II. Sermão para o 2º Domingo do Advento

Nota: Ms. t. XI, p. 164. - Déforis, IV, 200. - Lachat, VIII, 177. — Este magnífico sermão deve ser estudado de muito perto sob todos os pontos de vista; haveria grande proveito em o comparar com os Pensamentos de Pascal; é, por assim dizer, o resumo eloquentíssimo dessa Apologia do cristianismo. O discurso da Divindade da Religião seria talvez, se o discurso da Unidade da Igreja não existisse, a obra prima de Bossuet, como autor de Sermões

Pregado no Louvre no dia 6 de dezembro de 1665.

SUMÁRIO

Exordio. — O Salvador passou, fazendo bem e curando todas as enfermidades. Os milagres eram os sinais sagrados dos prodígios sobrenaturais que a sua religião devia realizar. Proposição e divisão. — Jesus Cristo quis na fé «que as verdades fossem sublimes; na regra dos costumes que o caminho fosse estreito; na remissão dos pecados que o meio fosse fácil». 1.º Ponto.«A doutrina do Salvador estabeleceu-se no mundo e mantem-se nele como uma rainha no seu império; ora a sublimidade das verdades cristãs» leva-nos a sublevar-nos «contra a autoridade de Jesus Cristo». 2.º Ponto. — A moral do Salvador disciplinou maravilhosamente o indivíduo, a família, as amizades e a sociedade; ora, a exatidão da regra cristã leva-nos a queixar-nos do rigor da Igreja. 3.º Ponto. — As portas da penitência estão sempre abertas, o que nos arrasta a abusar da paciência da Igreja. Peroração. — Nós devemos viver de tal maneira que as instituições da clemência divina não venham a ser para nós uma causa de condenação.

Caeci vident, claudi ambulant, leprosi mundantur, etc., e quase em seguida: Beatus qui non fuerit scandalizatus in me! Os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, e bem-aventurado é aquele que em mim se não escandalizar! (Mt 11, 5 e 6).

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Jesus Cristo, objeto de Escândalo

2º Domingo do Advento - I. Jesus Cristo, objeto de Escândalo

I. Sermão para o 2º Domingo do Advento

SUMÁRIO ESCRITO PELA MÃO DE BOSSUET

O seu coração escutava a voz da miséria e solicitava o seu braço. A alma, afastando-se de Deus, desvigoriza o corpo. Pecado maior que o castigo. Pobres evangelizados. De como ele veio a ser objeto de escândalo: Scandalizantur in me? Razão porque não consideramos a obra de Deus como scandalum: é porque imaginamos que Deus tudo destrói quando reedifica, contra o empreendedor. É preciso crer antes de ver. Devemos submeter o entendimento assim como a vontade. Crer no que é incrível e fazer o que é difícil. É preciso reconhecer o perdão, porque a natureza tende a pecar. Jesus Cristo, escândalo para todos e até para os cristãos.

Caeci videnl, claudi ambulant, leprosi mundantur, surdi audiunt, mortui resurgunt, pauperes evangelizantur, et beatus esi qui non fuerit scandatizatus in me. Os cegos recebem vista, os surdos ouvem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres, e bem-aventurado é aquele que em mim se não escandalizar (Mt 11 5, 6)

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