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Tag: filoteia

A Sociedade e a Solidão

Parte III Capítulo XXIV

Tanto procurar como fugir a convivência com os homens são dois extremos censuráveis na devoção, que deve regrar os deveres da vida social. O fugir é um sinal de orgulho e desprezo do próximo e o procurar é fonte de muitas coisas ociosas e inúteis. Cumpre amar ao próximo como a nós mesmos. Para demonstrar-lhe esse amor, não devemos fugir a sua companhia, e para patentear o amor que temos a nós mesmos devemos estar contentes, quando estamos sozinhos.

Pensai em vós mesmos, diz São Bernardo, e depois nos outros

Se nada te obriga a fazer ou receber visitas, fica contigo mesma e entretém-te com teu coração; mas, se algum motivo te impõe esses deveres, cumpre-os em nome de Deus, tratando o próximo com toda a amabilidade e caridade.

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Exercício de Mortificação Exterior

Parte III Capítulo XXIII

Afirmam os naturalistas que, escrevendo-se uma palavra numa amêndoa ainda intacta e fechando-a de novo, cuidadosamente, em sua casca, uma vez lançada em terra, todos os frutos que daí nascem trazem escrita essa mesma palavra. Quanto a mim, Filotéia, nunca aprovei o método de certas pessoas que, para reformarem o homem, começam pelo exterior: pelo semblante, pelos vestidos e pelos cabelos. Parece-me, ao contrário, que se deva começar pelo interior.

Convertei-vos a mim, diz Nosso Senhor, de todo o vosso coração. Meu filho, dá-me o teu coração.

E, de fato, o coração é a fonte das ações e são estas exatamente qual é o coração. O divino Esposo, convidando a alma para uma perfeita união, lhe diz:

Põe-me como um selo sobre o teu coração e sobre o teu braço.

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Outros avisos sobre as Amizades

Parte III Capítulo XXII

Sem uma íntima e grande cordialidade não se pode contrair nem manter uma amizade; e, como esta cordialidade é contínua, bem depressa se começam a confiar os segredos do coração. Todas as inclinações naturais passam invisivelmente de um para o outro, pelas mútuas impressões que um faz no outro e por uma troca recíproca de sentimentos e afetos. É o que acontece principalmente quando a amizade se funda numa grande estima, porque a amizade abre o coração e a estima dá entrada a tudo o que se apresenta, seja bom ou mau. As abelhas vão colher o seu mel nas flores e, se estas são venenosas, chupam-lhe também o veneno: imagem perfeita da amizade que, sem o notar, vai recebendo tanto o mal como o bem.

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Avisos e Remédios contra as Más Amizades

Parte III Capítulo XXI

Desde a primeira tentação que teu coração sentir, por mais leve que seja, vira-o imediata e completamente para o outro lado e com uma detestação oculta, mas firme, destas vaidades sensuais, eleva-te em espírito a cruz do divino Salvador e toma a sua coroa de espinhos, para fazer uma cerca, como diz a Escritura, em redor do teu coração, a fim de que, como ela mesma acrescenta, as pequenas raposas não se aproximem. Guarda-te cuidadosamente de entrar em alguma combinação com o inimigo; nem digas: eu o escutarei, mas não farei nada do que me disser; dar-lhe-ei atenção, mas recusarei tudo de coração.

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Diferença das Amizades Vãs e Verdadeiras

Parte III Capítulo XX

Vou te dar agora, Filotéia, um aviso importantíssimo e uma regra geral. O mel de Heracléia, de que já falei, e que é um veneno muito destrutivo, assemelha-se muito ao mel ordinário, que é tão saudável, e há grande perigo de tomar um pelo outro ou de tomar uma mistura de ambos, porque a utilidade de um não impede a malignidade do outro. Também quanto as amizades é preciso muito cuidado, para não nos enganarmos, principalmente tratando-se duma pessoa de sexo diverso, por melhores que sejam os princípios que nos unam a ela; pois o demônio tapa os olhos aos que se amam. Começa-se por um amor virtuoso; mas, se não se tomarem precauções prudentes, o amor frívolo se vai misturando e depois vem o amor sensual e por fim o amor carnal. Sim, mesmo no amor espiritual não se está livre de perigo, se não se sabe premunir-se de desconfiança e vigilância, conquanto o engano aqui não seja tão fácil, porque a inocência perfeita do coração descobre imediatamente tudo o que se pode ajuntar aí de impuro, assim como as manchas aparecem muito mais sobre o branco. Eis aí a razão por que, quando o demônio quer corromper um amor todo espiritual, o faz com mais astúcia, tentando ver se pode sugerir primeiro algumas disposições menos favoráveis a pureza.

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As Verdadeiras Amizades

Parte III Capítulo XIX

Ó Filotéia, ama a todos os homens com um grande amor de caridade cristã, mas não traves amizade senão com aquelas pessoas cujo convívio te pode ser proveitoso; e quanto mais perfeita forem estas relações, tanto mais perfeita será a tua amizade. Se a relação é de ciências, a amizade será honesta e louvável e o será muito mais ainda se a relação for de virtudes morais, como prudência, justiça, fortaleza; mas se for a religião, a devoção e o amor de Deus e o desejo da perfeição o objeto duma comunicação mútua e doce entre ti e as pessoas que amas, ah! Então tua amizade é preciosíssima. É excelente, porque vem de Deus; excelente, porque Deus é o laço que a une, excelente, enfim, porque durará eternamente em Deus. Ah! Quanto é bom amar já na terra o que se amará no céu e aprender a amar aqui estas coisas como as amaremos eternamente na vida futura. Não falo, pois, aqui simplesmente do amor cristão que devemos a nosso próximo, todo e qualquer que seja, mas aludo a amizade espiritual, pela qual duas, três ou mais pessoas se comunicam mutuamente as suas devoções, bons desejos e resoluções por amor ele Deus, tornando-se um só coração e uma só alma.

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As mais Perigosas Amizades

Parte III Capítulo XVIII

Certas amizades loucas entre pessoas de diverso sexo, e sem intenção de casamento, não podem merecer o nome de amizade nem de amor, pela sua incomparável leviandade e imperfeição. São abortos ou, melhor ainda, fantasmas da amizade. Prendem e comprometem os corações dos homens e das mulheres, entrelaçando-os em vãs e loucas afeições, fundadas nessas frívolas comunicações de miseráveis agrados de que acabo de falar. E ainda que estes loucos amores por via de regra vão parar e despenhar-se em carnalidades e lascívias muito baixas e torpes, contudo não é este o primeiro desígnio dos que andam nestas conversas, aliás não seriam já amizades, senão desonestidades manifestas. Algumas vezes passarão até muitos anos sem que entre os que estão contagiados desta loucura haja algo diretamente contrário a castidade do corpo, porque se contentam unicamente com desafogar os corações em anseios, desejos, suspiros, galanteios e outras ninharias e leviandades deste teor, levados por diversos fins. Uns não têm senão o desígnio de saciar o seu coração, dando e recebendo provas de amor, seguindo nisto a sua inclinação amorosa, e estes tais escolhem os amores, consultando apenas o seu gosto e propensão, de sorte que, apenas se lhes depara algum sujeito agradável, sem examinar o seu interior nem o seu procedimento, começam esta comunicação de namorados, e metem-se dentro das miseráveis redes, de que depois muito lhes custará sair. Outros deixam-se levar a isso por vaidade, parecendo-lhes que não é pequena glória agarrar e prender os corações com o amor. E estes, fazendo a sua escolha por ostentação, deitam os seus anzóis, e estendem as suas redes em lugares de bela aparência, elevados, famosos e ilustres. Outros são levados pela sua inclinação amorosa e ao mesmo tempo pela vaidade; porque, embora tenham o coração atreito e inclinado ao amor, não querem porém meter-se a ele senão com alguma vantagem de glória.

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A Amizade em geral e suas Espécies Más

Parte III Capítulo XVII

O amor ocupa o primeiro lugar entre as paixões; ele reina no coração e dirige todos os seus movimentos; apodera-se de todos eles, comunicando-lhes a sua natureza e as suas impressões; torna-nos semelhantes àquilo que amamos. Conserva, Filotéia, o teu coração livre de todo o amor mau, porque se tornaria imediatamente um coração mau. O mais perigoso de todos os amores é a amizade, porque os outros amores podem afinal existir sem se comunicar; mas a amizade é fundada essencialmente nesta redação entre duas pessoas, sendo quase impossível que as suas boas e as suas más qualidades não passem de uma para a outra. Nem todo o amor é amizade, pois que podemos amar sem ser amados; neste caso só há amor, mas não há amizade; porque a amizade é um amor mútuo, e se o amor não é mútuo, não pode ser chamado amizade. E ainda não é bastante que o amor seja mútuo, é necessário também que as pessoas que se amam conheçam esta afeição recíproca, de modo que, se a ignorarem, têm amor, mas não têm amizade. Em terceiro lugar requer-se que haja alguma comunicação. entre as pessoas que se amam, a qual é ao mesmo tempo o fundamento e o sustentáculo da amizade.

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As Riquezas de Espírito no Estado de Pobreza

Parte III Capítulo XVI

Se és de fato pobre, Filotéia, esforça-te, então, por sê-lo também de espírito; faze da necessidade uma virtude e negocia com esta pedra preciosa da pobreza segundo o seu alto valor. O mundo não o conhece e não sabe estimar o seu valor; entretanto, tem um brilho admirável e é dum grande preço. Tem um pouco de paciência; em tua pobreza estás em muito boa companhia. Nosso Senhor, a Santíssima Virgem, sua Mãe, os apóstolos, tantos santos e santas foram pobres e, podendo ter riquezas, as desprezaram. Quantas pessoas que podiam ocupar no mundo um lugar saliente, apesar de todas as contradições dos homens, foram procurar com avidez nos conventos ou nos hospitais a santa pobreza! Muito se esforçaram por achá-la e bem sabes quanto o custou a Santo Aleixo, a Santa Paula, a São Paulino, a Santa Angela e tantos outros. E a ti, Filotéia, ela se apresenta espontaneamente; nem é preciso que a procures e te esforces por adiá-la; abraçá-la; abraça-a, pois, como a querida amiga de Jesus Cristo, que nasceu, viveu e morreu na maior pobreza.

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Modo de praticar a Pobreza Real, permanecendo na posse das Riquezas

Parte III Capítulo XV

O célebre pintor Parrásio desenhou um retrato do povo ateniense, que foi tido em conta de muito engenhoso; porque, para pintá-lo com todos os traços do seu caráter leviano, variável e inconstante, ele representou em diversas figuras do mesmo quadro os caracteres opostos da virtude e do vício, da cólera e da brandura, da clemencia e da severidade, do orgulho e da humildade, da coragem e da covardia, da civilidade e da rusticidade. Dum modo semelhante, Filotéia, eu queria que teu coração unisse a riqueza com a pobreza, um grande cuidado com um grande desprezo dos bens temporais. Esforça-te ainda mais que os filhos do mundo por conservar e aumentar os teus bens; pois, não é verdade que aqueles a quem um príncipe incumbiu de cuidar de seus parques, os cultivarão c procurarão tudo o que os possa embelezar, com muito maior diligencia do que se fossem seus próprios? E por que isso? É porque os consideram como propriedade de seu príncipe, de seu rei, a quem querem agradar.

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