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Tag: filoteia

Quando se pode Jogar ou Dançar

Parte III Capítulo XXXIV

Para que um jogo ou uma dança sejam lícitos, é necessário que nós nos sirvamos desses divertimentos por deleite, e não por inclinação; por pouco tempo e não até nos estafarmos; raramente e não como uma ocupação diária. Mas em que ocasião é lícito jogar-se e dançar-se? As ocasiões próprias dum jogo ou duma dança inócua não são raras. Menos frequentes, porém, são as dos jogos proibidos, censuráveis e mais perigosos. Numa palavra: joga e dança, observando as condições que te indiquei, todas as vezes que a prudência e a discrição te aconselharem a ter esta condescendência para com a sociedade em que estiveres; porque a condescendência, sendo um ato de caridade, torna as coisas indiferentes boas e até pode permitir certas perigosas, chega mesmo a tirar a malícia ele algumas que de algum modo são más, como nos jogos de azar, que, sendo em si repreensíveis, tornam-se as vezes lícitos, se partilhados por uma justa complacência para com o próximo.

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Os Bailes e outros Divertimentos Permitidos, mas Perigosos

Parte III Capítulo XXXIII

As danças e os bailes são coisas de si inofensivas; mas os costumes de nossos dias tão afeitos estão ao mal, por diversas circunstâncias, que a alma corre grandes perigos nestes divertimentos. Dança-se a noite e nas trevas, que as melhores iluminações não conseguem dissipar de todo, e quão fácil é que debaixo do manto da escuridão se façam tantas coisas perigosas num divertimento como este, que é tão propício ao mal. Fica-se aí até alta hora da noite, perdendo-se a manhã seguinte e conseguintemente o serviço de Deus. Numa palavra, é uma loucura fazer da noite dia e do dia noite, e trocar os exercícios de piedade por vãos prazeres. Todo baile está cheio de vaidade e emulação e a vaidade é uma disposição muito favorável as paixões desregradas e aos amores perigosos e desonestos, que são as consequências ordinárias dessas reuniões.

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Os Jogos Proibidos

Parte III Capítulo XXXII

Os jogos de dados, de cartas e outros semelhantes, em que a vitória depende principalmente do acaso, não só são divertimentos perigosos, como a dança, mas são mesmo por sua natureza absolutamente maus e repreensíveis; por esta razão os proíbem as leis eclesiásticas e as leis civis de muitos países. Dirás talvez: mas que mal há nisso? Eu respondo que, sendo a sorte e não a habilidade do jogador que decide, ganhando muitas vezes o menos industrioso, este procedimento é contrário a razão; nem podes dizer que foi este o ajuste, porque isto só serve para justificar que o vencedor não injuria os outros, mas não tira a desonestidade da convenção e do próprio jogo; o ganho, que deve ser um prêmio da habilidade, torna-se um premio da sorte, que não depende de nós e nada merece.

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Os Divertimentos; em primeiro lugar os Honestos e Lícitos

Parte III Capítulo XXXI

A necessidade dum divertimento honesto, para dar uma certa expansão ao espírito e alívio ao corpo, é universalmente reconhecida. Conta o beato Cassiano que um caçador, encontrando São João Evangelista a brincar com uma perdiz que segurava em suas mãos, lhe perguntou como um homem como ele podia perder tempo com um divertimento semelhante; o santo por sua vez perguntou ao caçador por que ele não tinha sempre o seu arcó esticado, ao que este respondeu que, se fizesse assim, o arco perderia toda a força. Retorquiu então o santo apóstolo: Não há, pois, que admirar que de agora um pouco de descanso ao meu espírito, para o tornar capaz de prosseguir em suas contemplações. Não há duvidar: muito defeituosa é aquela severidade de alguns espíritos rudes, que nunca querem permitir um pouco de repouso nem para si nem para os outros.

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Alguns outros avisos acerca do Falar

Parte III Capítulo XXX

Seja sincera tua linguagem, agradável, natural e fiel. Guarda-te de dobrez, artifícios e toda sorte de dissimulações, porque, embora não seja prudente dizer sempre a verdade, entretanto é sempre ilícito faltar a verdade. Acostuma-te a nunca mentir, nem de propósito nem por desculpa nem doutra forma qualquer, lembrando-te que Deus é o Deus da verdade. E, se alguma mentira te escapar, por descuido e a podes reparar por uma explicação ou de algum outro modo, faze-o prontamente. Uma escusa verdadeira tem muito maior graça e eficácia, para justificar, que uma mentira meditada. Conquanto se possa as vezes disfarçar e encobrir a verdade por algum artifício de palavras, só o devemos fazer nas coisas importantes, quando a glória e o serviço de Deus o exigem manifestamente; fora disso são estes artifícios muito perigosos, tanto assim que diz a Sagrada Escritura que o Espírito Santo não habita num espírito dissimulado e duplo.

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A Maledicência

Parte III Capítulo XXIX

A inquietação, o desprezo do próximo e o orgulho são inseparáveis do juízo temerário; e, entre os muitos outros efeitos perniciosos que deles se originam, ocupa o primeiro lugar a maledicência, que é a peste das conversas e palestras. Oh! Quisera ter uma daquelas brasas do altar sagrado para purificar os homens de suas iniquidades, a imitação do serafim que purificou a Isaías das suas, para torná-lo digno de pregar a palavra de Deus. Certamente, se fosse possível tirar a maledicência do mundo, exterminar-se-ia uma boa parte dos pecados. Quem tira injustamente a boa fama ao seu próximo, além do pecado que comete, está obrigado a restituição inteira e proporcionada a natureza, qualidade e circunstâncias da detração, porque ninguém pode entrar no céu com os bens alheios, e entre os bens exteriores a fama e a honra são os mais preciosos e os mais caros. Três vidas temos nós diferentes: a vida espiritual, que a graça divina nos confere; a vida corporal, de que a alma é o princípio, e a vida social, que repousa os seus fundamentos na boa reputação. O pecado nos faz perder a primeira, a morte nos tira a segunda e a maledicência nos leva a terceira.

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Os Juízos Temerários

Parte III Capítulo XXVIII

Não julgueis, diz nosso Salvador, e não sereis julgados. Não condeneis, e não sereis condenados. Não julgueis antes do tempo, diz o apóstolo, até que venha o Senhor, o qual descobrirá o que há de mais secreto nos corações.

Oh! Quanto os juízos temerários desagradam a Deus! São temerários os juízos dos filhos dos homens, porque não são juízes uns dos outros, e, julgando, se arrogam o direito e o ofício de Nosso Senhor. São temerários, ainda, porque a principal malícia do pecado depende da malícia e do conselho do coração, que é para nós um segredo tenebroso. São, enfim, temerários, porque cada um tem bastante que fazer em julgar a si mesmo, sem se meter a julgar o seu próximo. Para não ser julgado, é tão necessário não julgar os outros como julgar a si mesmo, porque Nosso Senhor nos proíbe o primeiro e o apóstolo nos preceitua o segundo, dizendo:

Se nos julgarmos a nós mesmos, não seremos julgados.

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Honestidade das Palavras e Respeito que se deve ao Próximo

Parte III Capítulo XXVII

Se alguém não peca por palavras, é um homem perfeito, diz São Tiago. Tem todo o cuidado em não deixar sair de teus lábios alguma palavra desonesta, porque, embora não proceda duma má intenção, os que a escutam a podem interpretar de outra forma. Uma palavra desonesta que penetra num coração frágil estende-se como uma gota de azeite e as vezes toma posse de tal modo dele que o enche de mil pensamentos e tentações sensuais. É ela um veneno do coração, que entra pelo ouvido; e a língua que serve de instrumento a esse fim é culpada de todo o mal que o coração pode vir a sofrer, porque, ainda que neste se achem disposições tão boas que frustrem os efeitos do veneno, a língua desonesta, quanto dela dependia, procurou levar esta alma a perdição. Nem se diga que não se prestou atenção, porque Nosso Senhor disse que a boca fala da abundância do coração. E, mesmo que não se pensasse nada de mal, o espírito maligno o pensa e por meio dessas palavras suscita o sentimento mau nos corações das pessoas que as ouvem.

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As Conversas e, em primeiro lugar, como se há de falar de Deus

Parte III Capítulo XXVI

Um dos meios mais triviais que tem os médicos para conhecer o estado de saúde de uma pessoa é a inspeção da língua; e eu posso afirmar que as nossas palavras são o indício mais certo do bom ou do mau estado da alma. Nosso Senhor disse:

Por vossas palavras sereis justificados e por vossas palavras sereis condenados

Muitas vezes e espontaneamente movemos a mão para o lugar em que sentimos uma dor e movemos a língua, a todo o amor que sentimos no coração. Se amas a Deus, Filotéia, falarás frequentemente de Deus nas tuas conversas íntimas com as pessoas de casa, com teus amigos e vizinhos:

A boca do justo, diz a Escritura, meditará sabedoria e a sua língua falará prudência.

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A Decência dos Vestidos

Parte III Capítulo XXV

São Paulo quer que as mulheres cristãs (o que há de entender-se também dos homens) se vistam segundo as regras da decência, deixando de todo excesso e imodéstia em seus ornatos. Ora, a decência dos vestidos e ornatos depende da matéria, da forma e do asseio. O asseio deve ser geral e contínuo, de sorte que evitemos toda mancha ou coisa semelhante que possa ofender os olhos; esta limpeza exterior considera-se como um indício da pureza da alma, a ponto de o mesmo Deus exigir dos seus ministros dos altares uma pureza e honestidade perfeita quanto ao corpo. No tocante a matéria e a forma dos vestidos, a decência só se pode determinar com relação as circunstâncias do tempo, da época, dos estados ou vocações, da sociedade em que se vive e das ocasiões. É uso geral vestir-se melhor nos dias de festa, a proporção de sua solenidade, ao passo que no tempo da penitencia, como na Quaresma, se escusa muita coisa. Os dias de casamento e os de luto tem igualmente grande diferença e regras peculiares. Achando-se na corte de um príncipe, o vestuário terá mais dignidade e esplendor do que quando se está em casa.

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