
Antes, porém de dizermos alguma coisa da necessidade da paciência, é preciso distinguir a verdadeira da falsa. A verdadeira é a que nos manda sofrer o mal do prejuízo, para não nos vermos obrigados a cometer atos culpáveis (2). Tal foi à paciência dos mártires, que antes quiseram sujeitar-se aos tormentos dos algozes do que negar a fé de Cristo; e preferiam perder tudo quanto tinham a prestar culto aos falsos deuses. A falsa paciência é a que nos leva a sofrermos todos os males, para obedecermos às leis do apetite, e a perdermos os bens sempiternos, para conservarmos os temporais. Tal é a paciência dos mártires do diabo, que suportam facilmente a fome, a sede, o frio, o calor, a perda da boa reputação, e, o que mais admira, a do Reino do Céu, para acumularem riquezas, satisfazerem a luxúria, e subirem a cargos honoríficos.«Não acho entre os outros caminhos que levam à sabedoria do Céu, algum, que seja ou mais útil para a vida, ou mais espaçoso para a glória, do que a paciência, a qual deve com todo o empenho fazer por conseguir, quem quiser firmar-se bem nos preceitos do Senhor por obséquio de temor e de devoção»