Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus 8, 23-27
Depois subiu para o barco e os discípulos seguiram-no. Levantou-se, então, no mar, uma tempestade tão violenta, que as ondas cobriam o barco; entretanto, Jesus dormia. Aproximando-se dele, os discípulos despertaram-no, dizendo-lhe: «Senhor, salva-nos, que perecemos!» Disse-lhes Ele: «Porque temeis, homens de pouca fé?» Então, levantando-se, falou imperiosamente aos ventos e ao mar, e sobreveio uma grande calma. Os homens, admirados, diziam: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?»
Breve introdução sobre a Esperança e o Apóstolo Patrono
Quoniam in me speravit, liberabo eum, protegam eum, quoniam cognovit nomen meum – Porquanto em mim esperou, livrá-lo-ei; protegê-lo-ei, porquanto conheceu o meu nome (Sl 90, 14)
A esperança é uma virtude sobrenatural, pela qual, firmados nas promessas de Deus, esperamos confiadamente a salvação eterna e todas as graças que necessitamos para consegui-la. Para nos persuadirmos de grande valor desta virtude e nos estimularmos à sua prática, consideremos os motivos, os objetos, as propriedades e os efeitos da esperança. A nossa esperança de conseguir a salvação e os meios necessários para isto deve ser certa da parte de Deus. Os fundamentos desta certeza são o poder, misericórdia e fidelidade de Deus: mas destes três motivos de confiança, o mais firme e certo é a fidelidade infalível de Deus na promessa que nos fez, por causa dos méritos de Jesus Cristo, de nos salvar e conceder-nos as graças necessárias à salvação... Todavia esta promessa é condicional, pois exige, da nossa parte, que correspondamos à graça e oremos. Aquele que ora com certeza se salva. Crê firmemente “que ninguém esperou no Senhor e foi confundido” (Eclo 2, 11). Pondera que Deus te ama mais do que tu a ti mesmo. Davi achava consolação no pensamento:
“O Senhor cuida de mim” (SI 39, 18)
Dize também tu ao Senhor:
Senhor, lanço-me nos Vossos braços; só quero pensar em amar-Vos e agradar-Vos; Vós não só desejais o meu bem, mas cuidais igualmente de mo assegurardes. Em Vós, pois, confio, porque quereis que ponha em Vós só toda a confiança: 'Ponde no Senhor toda a vossa solicitude, porque ele tem cuidado de vós” (Pd 5, 7)
Para te firmares mais na confiança em Deus, lembra-te muitas vezes da maneira carinhosa com que te tratou até agora e dos meios compassivos de que usou para ganhar-lo a Seu amor. Agora que estás resolvido a amar a Deus quanto possível, deves temer unicamente mostrar pouca confiança no trato com Deus. Sua misericórdia para contigo é a mais segura prova de Seu amor. A falta de confiança naquelas almas que O amam ternamente e são por Ele amadas, O desagrada sumamente. Se queres, pois, agradar Seu amoroso coração, mostra-lhe então, no futuro, a maior e mais íntima confiança que te for possível. Um ato especial de confiança, que agrada de um modo todo particular a Deus, consiste em lançar-se a Seus pés e pedir-Lhe perdão logo depois de se ter cometido uma falta. Pondera que Deus está tão inclinado a perdoar, que Ele deplora vivamente a desgraça do pecador que vive longe dEle, privado de Sua graça. Se caíres, pois, em algum pecado, eleva imediatamente teus olhos a Deus, espera confiadamente o perdão, e dize:
“Senhor, aquele a quem amais está doente” (Jo 11, 3)
“Curai a minha alma, porque contra Vós pequei” (SI 40, 5)
O mal está feito; que devo fazer? Não quereis que eu desespere; amais-me ainda, apesar de meu pecado. Arrependo-me de todo o coração de Vos ter desagradado; perdoai- me, pois, e fazei-me ouvir as palavras que dissestes a Madalena: “Teus pecados te são perdoados" (Lc 7, 48)
Ainda que recaias cem vezes no dia no mesmo pecado, não deves deixar de recorrer a Deus depois de cada queda. Se tua alma permanecer abatida e pusilânime, teu amor arrefecerá dentro em breve; se, porém, recorreres a Deus imediatamente pedindo-Lhe perdão e prometendo-Lhe emenda, tuas faltas te servirão para maior progresso no amor de Deus.
Apóstolo Patrono para o Mês de Fevereiro: Santo André.
Meditação para o Sábado da 2ª Semana depois da Epifania
SUMARIO
Consideraremos hoje: 1.° O reconhecimento; 2.º A confiança que devemos ao Menino Jesus no berço. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De termos muitas vezes aspirações de reconhecimento e de amor para com o divino Menino; 2.° De nunca nos deixarmos abater nem entristecer pelas nossas fraquezas, mas de nos animarmos incessantemente a ter uma vida melhor e a confiar no socorro de Jesus. O nosso ramalhete espiritual será o cântico da Igreja:
"Quem não retribuirá amor com amor a um Deus tão cheio de ternura?" - Sic nos amatem quis non redamaret?
O grande São Remígio, arcebispo de Rheims, mostrou-se, numa desgraça,modelo de heroica paciência. Ameaçava o país uma crise terrível, e a fome seria fatal. O santo, previdente, juntou para os seus pobres grande quantidade de trigo. Uns malfeitores invejosos correram a lançar fogo em todos os celeiros. O santo, mal teve disso notícia, montou a cavalo e sem demora se precipitou para ver se continha ainda os criminosos e salvar o trigo dos pobrezinhos. Mas ai! Era já tarde. As chamas se levantavam, devorando tudo. Que fazer?
A felicidade na terra é a eterna fugitiva. Um relâmpago. Brilha no oriente, some no ocidente. A terra a vê e exulta, mas ela passa. Passa como a juventude, como a beleza, como o talento, como tudo que é bom. E assim vai esta vida, cheia de dores e mil angústias, entre luzes e trevas. Buscam os homens a Felicidade como quem persegue a própria sombra. E o homem, saciado de prazer e de glória, torna-se infeliz, porque chega à triste realidade das coisas, ao conhecimento experimental da incapacidade de tudo que é finito para lhe saciar o coração.
“Não há grande homem sem melancolia”, diziam os antigos. A melancolia nos grandes corações é uma aparição velada, um sentimento do Infinito, a nostalgia do Céu. O Infinito é fim supremo dos desejos do homem. Fora disto, nada pode satisfazer suas aspirações e encher o vácuo imenso que a necessidade de ser feliz cavou em nossa alma. Chateaubriand estuda com fina psicologia essa imensa e misteriosa vaga de tristeza que nos invade a alma e faz chorar por um nada, por uma flor, um olhar, uma recordação, um espetáculo da natureza. É uma paixão que não é a glória, uma paixão que não é o amor, nada de carnal ou terrestre. Algo de estranho, indefinível, que se apodera da alma e a faz chorar e perguntar a si própria:
Um religioso da Ordem de São Domingos, ao exorcizar um possesso, perguntou ao demônio em que lugar queria ele habitar. O demônio respondeu pela boca do possesso:
“Quisera estar no Céu, para gozar a visão de Deus. Eu só vi um instante a Sua Face Adorável e, para obter segunda vez esse favor e gozar ainda, um instante só, a mesma felicidade, aceitaria tudo, tudo o que sofreram todos os demônios reunidos, desde o começo e até o último dia do Juízo”
Lucie-Christine é o pseudônimo que oculta o nome de uma grande mística contemporânea, que viveu em Paris e nos deixou, em seus escritos, luzes maravilhosas sobre a Bondade Infinita de Nosso Senhor. Ela escreveu em um diário íntimo, publicado pelo Pe. Poulain, S.J., esta nota breve e tão sugestiva:
“25 de agosto de 1882 – Bondade de Jesus sentida na Comunhão. – Morremos sem ter conhecido a bondade de Nosso Senhor, mesmo com estas inefáveis comunicações”
“Nossa confiança – diz o Pe. Paulo de Jaeguer, S.J. – é, infelizmente, como um barômetro: abaixa com a chuva e sobe com o tempo bom" (1)
Sentimos na oração, na santa comunhão, um fervor delicioso, um recolhimento doce, lágrimas de ternura: sobe nossa confiança. Depois, vêm logo, muitas vezes, uma aridez torturante, fadiga, distrações na oração, provações, etc. Que frieza! Julgamo-nos tíbios e indiferentes. A tempestade, a chuva, a borrasca, as trevas. Nossa confiança desce e desce muito.
O pintor, ao começar a sua obra, traça riscos na tela e faz borrões azuis, amarelos, verdes etc. Quem não entende e jamais viu como se executam as obras-primas, sorri, talvez incrédulo e sem perceber o que deseja o artista. Mas uns minutos e o borrão azul é um céu, o verde, uma campina, o amarelo, um canteiro de rosas. O quadro maravilhoso aí está, chamando a atenção e a provocar as críticas e exclamações mais lisonjeiras de todos. A obra maravilhosa do Artista Divino, a que Ele executa nas almas, é também assim.