RECENTEMENTE, uma mulher, em assembleia de propaganda eleitoral, propôs a um político importante esta questão:
«Por que é que os nossos dirigentes políticos nunca falam de sangue, suor, lágrimas e sacrifício, mas somente de quanto darão aos fazendeiros, aos industriais e aos sindicatos se forem eleitos?»
O político, respondendo, citou outro político, mas deu a impressão de não ter atingido o profundo significado da pergunta da mulher. Na verdade, esta mulher era a representante de uma grande seção do povo americano, que conhece bastante de história e psicologia para não ignorar que jamais ou nação ou indivíduo realizou algo de valor sem sacrifício e abnegação.
Toynbee fez notar que, de dezenove civilizações que pereceram, desde o principio da história até ao presente, dezesseis sucumbiram à corrupção interna; apenas três sobraram aos ataques de fora. Muito frequentemente, um ataque do exterior solidifica uma nação e revigora as suas fibras morais. Lincoln disse, uma vez, que nunca temera que a América fosse conquistada do exterior, mas que do interior lhe poderia vir a ruína. Lenine disse, um dia, que a América, esgotando-se mortalmente, sofreria um colapso, eventualidade que não está demasiado distante, com uma dívida nacional de pouco menos de trezentos bilhões de dólares.
Falara Walter Whitman não menos do nosso tempo do que do seu quando escreveu:
«A sociedade dos nossos dias, está cancerosa, escalavrada, supersticiosa e apodrecida… A fé genuína parece ter desaparecido. As grandes cidades exalam vapores fétidos do roubo respeitável e não respeitável e da vilania. Na vida elegante, a irreverência, os esquivos e lânguidos amores, infidelidades fáceis, ideais rasteiros ou ausência total deles, somente para matar o tempo… É como se, porventura, fôssemos dotados de um corpo hercúleo com o seu objetivo bem marcado, mas recebêssemos uma alma pequenina ou até dela fôssemos privados»
O tormento de Whitman repercutia os pensamentos da mulher, porque ela estava preocupada com a nossa indiferença, tibieza e apatia moral. Se há coisa que se está a tornar clara na nossa vida nacional, é que a chamada educação progressiva é extremamente não-progressiva. A delinquência juvenil, o crime, o roubo, os escândalos políticos — todos esses filhos ilegítimos são lançados à soleira da porta da teoria educativa que negava a distinção entre o bem e o mal, e presumia que a continência era idêntica à destruição da personalidade. Não há instinto ou impulso que, abandonado a si mesmo, produza necessariamente bons resultados. O homem tem o instinto de caçar, que é bom, quando dirigido para os veados na época da caça, mas mau, quando dirigido contra a polícia, na época ou fora dela.
O desrespeito pela autoridade, que é excrescência dessa doutrina estúpida de que o indivíduo é a sua própria regra de bem ou de mal, tornou-se agora a epidemia de ilegalidades.
Virá o dia em que os nossos educadores acordarão para alguns fatos básicos acerca da juventude:
1 ) A juventude tem uma inteligência e uma vontade. A inteligência é a fonte do conhecimento: a vontade é a fonte das decisões. Se as suas preferências são perversas, a juventude será perversa, por maiores que sejam os seus conhecimentos.
2) A educação pela comunicação de conhecimentos não faz, necessariamente, um homem bom; poderá, talvez, fazer demônios instruídos, em vez de demônios estúpidos.
3) Tem a educação bom êxito, quando prepara o espírito para ver os objetivos que há que ter em vista, e disciplina a vontade para os preferir a objetivos reprováveis. Presentemente, duas torrentes se manifestam no nosso estilo americano de vida: uma segue no sentido de um grande desenvolvimento do caráter moral, tanto do indivíduo como da nação; outra, no sentido de rendição da moralidade e responsabilidade a um estado socialista, no qual não haverá moralidade, senão moralidade estatal, nem consciência, senão consciência do estado. Das duas, a primeira é sumamente mais forte, embora nem a política nem a economia o tenham visto ainda. Alguns dos nossos educadores estão arrepiando caminho da psicologia de criança estragada, em que a criança se chamava progressiva, se fazia tudo o queria; volta-se agora a excogitar um pouco e a trabalhar, para nos libertar da nossa delinquência juvenil e flacidez moral.
É a juventude, sobretudo, que está anelando por algo difícil; já não acredita nos mestres que afirmam não importa aquilo em que se acredite. Agora, os jovens querem acreditar que há coisas tão más que temos obrigação de combater contra elas, e que há coisas tão boas que nos devemos, se necessário for, acerar e disciplinar até morrer para as defender. Esta potência latente de sangue, suor e lágrimas na nossa juventude americana cairá em poder, na próxima geração, de uma destas forças: ou de algum cacique político que usará esse desejo de sacrifício em qualquer coisa parecida com nazismo, fascismo ou comunismo, ou dos dirigentes políticos, morais e educativos, os quais mostrarão, primeiro, autodisciplina e coragem moral na sua própria vida, e, depois, darão exemplo aos outros.
A maior responsabilidade cabe aos dirigentes religiosos, cuja mensagem deve ser aquela que a mulher exigia dos políticos — um toque de clarim a proclamar o domínio sobre as tendências desordenadas e uma manifestação bem patente de altruísmo e de amor de Deus.
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(SHEEN, Dom Fulton. Rumo à Felicidade – WAY TO HAPPINESS. Tradução de Dr. A. J. Alves das Neves, pároco de São Pedro da Cova. Livraria Figueirinhas, Porto, 1956, p. 105-108)