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Maternidade

Capítulo 25. Maternidade - Livro Rumo à Felicidade, de Fulton Sheen
A MATERNIDADE humana é dupla na essência, e é uma coisa mais complexa do que a maternidade dos animais. Há, primeiro, o ato físico da procriação, que é comum às mães e a toda a natureza. Assim como a árvore produz frutos e a galinha incuba os ovos, assim toda a mãe, pelo ato da procriação, está associada à vida de todos os seres viventes, e dela pode com razão dizer-se:

«Bendito é o fruto do teu ventre»

Mas a maternidade humana tem um segundo e muito mais nobre aspecto — o do espírito. A alma de uma criança não provém da alma ou do corpo da mãe, mas é criada em toda a sua frescura pelo próprio Deus, que a infunde no corpo da criança, antes de nascer. A maternidade fisiológica é glorificada por esta cooperação com o próprio Deus, que perfilou a alma da criança, e, seguidamente, permitiu à mulher que a revestisse de sua carne. A mãe humana não gera um mero animal, mas um homem, feito à imagem e semelhança do mesmo Deus, que o criou.

Toda a criança nascida da mulher tem, pois, dois pais: o pai terrestre sem o qual não poderia ter vida, e o Pai celeste, sem o qual não poderia ter uma personalidade, uma alma, um insubstituível «Eu». A mãe é a consorte essencial mediante a qual ambos os pais trabalham. O seu próprio parentesco com a criança tem dois aspectos que daí resultam: em primeiro lugar o aspecto que se pode chamar materno-infantil, no qual a criança é física e quase absolutamente dependente da mãe. Mas além disso há também o parentesco da pessoa do filho com a mãe (expresso no batismo, quando à criança se dá um nome próprio). Isto confirma a dignidade e a distinta personalidade, mesmo da criança mais pequenina, e prefigura o seu direito de um dia vir a ter vida independente se separar dos pais para ir unir-se à esposa da sua escolha.

Todo o nascimento reclama submissão e disciplina. A própria terra tem de ser rasgada pela charrua, antes de passivamente aceitar a semente. Na mulher, a submissão não é passiva, é sacrifical, conscientemente criadora, e é para esta abnegação que toda a sua natureza foi formada. É bem sabido que as mulheres são capazes de muito mais aturadamente se sacrificar que os homens. O homem pode ser um herói numa crise, mas depois volta à mediocridade. Falta-lhe a capacidade moral de sofrer, que habilita a mulher a ser heroica durante anos, meses, dias e até segundos da sua vida, quando a própria monotonia enfadonha das suas tarefas prostra de cansaço o espírito. Nem só os dias da mulher, mas também as noites, não só a alma, mas também o corpo hão que partilhar do Calvário da maternidade. É por isso que a mulher tem da doutrina da Redenção uma compreensão mais nítida que os homens: ela, ao dar à luz, pôde associar com a vida o risco da morte, e compreender o sacrifício de si mesma por outro ser, nos meses incômodos da gestação.

Na mãe, estão unidas numa, duas das grandes leis espirituais: o amor do próximo e a colaboração com a graça de Deus, e ambas são aplicadas de um modo sem igual, porque para todos, exceto para a mãe, amar o próximo é amar alguém que não é a minha pessoa; o próximo da mãe, durante a gravidez, é um consigo mesma, o qual, porém, há de ser amado de modo diferente do próprio eu. O sacrifício que algumas vezes o amor do próximo implica, realiza-se agora dentro das suas entranhas: o agente e o objeto do seu sacrifício estão ambos contidos nela.

E, embora a cooperação com a graça possa na mãe ser inconsciente, faz dela, todavia, uma colaboradora da própria Divindade: toda a mãe humana é, em certo sentido, «envolvida pela sombra do Espírito Santo». Não sendo sacerdote é, no entanto, dotada de uma espécie de poder sacerdotal; e ela também leva Deus ao homem e o homem a Deus. Leva Deus ao homem, aceitando o papel de mãe, e permitindo assim a Deus infundir no seu corpo uma nova alma para gerar. Leva o homem a Deus quando dá à luz, porque aceita ser utilizada como instrumento pelo qual um novo filho de Deus é dado ao mundo.

Se na maternidade se vir apenas uma questão que não diz respeito senão a um homem e a uma mulher, vê-se demasiado astigmaticamente, e sem a honra que lhe é devida. Para compreendermos o real significado da maternidade, devemos incluir o elemento espiritual que vai informar a criança, devemos ver a esposa colaborando com o marido, o pai do ser humano, e com Deus, o Pai de uma alma eterna, imortal e diferente de qualquer outra, formada na história do mundo.

Assim, toda a maternidade humana implica um consórcio com a Divindade.

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(SHEEN, Dom Fulton. Rumo à Felicidade – WAY TO HAPPINESS. Tradução de Dr. A. J. Alves das Neves, pároco de São Pedro da Cova. Livraria Figueirinhas, Porto, 1956, p. 95-98)