Skip to content Skip to footer

Roteiro de leituras bíblicas para o Tríduo Pascal

Tríduo Pascal

 

Por Dom Henrique Soares

Caro Irmão e Amigo, ofereço-lhe aqui, no âmbito deste Retiro Quaresmal, um esquema de leituras da Sagrada Escritura para os dias do Santo Tríduo Pascal. Seguindo-o, você estará unido ao Cristo na celebração solene dos mistérios de Sua Paixão, Morte e Ressurreição. A proposta que faço é exigente; requer fôlego, perseverança e amor ao Senhor! Mas, a recompensa será imensa: com as Escrituras nas mãos, você entrará no Coração do Cristo, naquilo que Ele sentiu e viveu nesses dias e, assim, poderá trazer os mesmos sentimentos do Cristo Jesus (cf. Fl 2,5). Coragem e bom proveito!

Lembre: este esquema é a continuação do Retiro Quaresmal… Vou colocá-lo por dia do Tríduo!

Uma observação: Os números dos salmos depois da barra são da Vulgata (e da Ave Maria). Os números antes da barra são da Bíblia hebraica (e da Bíblia da CNBB, de Jerusalém e da TEB).

Reflexão para a Quinta-feira Santa

Neste dia, toda a atenção da Igreja se volta para o Cristo que, na Ceia, celebrou ritualmente a Páscoa com Seus discípulos:

“Desejei ardentemente comer convosco esta Páscoa antes de sofrer…” (Lc 22,15).

Aquilo que o Senhor fizera nos gestos rituais (lavar os pés aos Seus, entregar-Se no pão e no vinho) na Quinta, Ele realizou historicamente na Sexta-feira.

Recordemos que o Senhor fez Sua despedida no decorrer da ceia pascal judaica, na qual os judeus faziam memorial da saída do Egito, libertação do povo de Israel. Jesus, agora, sairia do mundo, passando ( = fazendo a Páscoa) para o Pai, após atravessar o profundo e tenebroso mar da morte.
Por tudo isso, para a Quinta-feira são recomendáveis os seguintes textos:

Para serem lidos antes da Missa na Ceia do Senhor

1. Jo 13,1 – 14,31

É a emocionante narração da Ceia segundo João. Procure unir-se aos sentimentos de Cristo; procure entrar no clima de despedida e comoção daquela Ceia derradeira.

2. Sl 113(112) – Sl 118(117)

Estes seis salmos formam o Hallel ( = Louvor: Hallelu-Iah: louvai o Senhor) que os judeus cantavam na Ceia pascal judaica. Jesus cantou-os neste dia, recordando tudo quanto Deus fizera pelo Seu povo, ao tirá-lo do Egito:

“Depois de terem cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras” (Mc 14,26).

Se não for possível rezar estes salmos antes da Missa na Ceia do Senhor, que eles sejam rezados logo após.

Para serem lidos após a Missa na Ceia do Senhor

3. Jo 15,1 – 17,26

Estes discursos de Jesus devem ser lidos após a Missa na Ceia do Senhor e dos Salmos do Hallel. Procure lê-los com o coração, devagar, curtindo, como que em câmara lenta, cada palavra do Senhor que Se entregou. É um discurso de despedida, que termina com a Oração Sacerdotal de Jesus. Antes de ser entregue, Ele Se ofereceu por nós e por nós rezou ao Pai. Que graça, poder entrar nesta oração do Senhor!

4. Salmos 6, 32(31), 38(37), 51(50), 102(101), 130(129) e 143(142)

Após a Ceia, Jesus entrou numa profunda agonia, no Horto das Oliveiras.

Seria ótimo terminar o dia com estes sete salmos. São os salmos penitenciais da Igreja.

Reze-os por você, pela Igreja e pelo mundo inteiro, pelos quais o Cristo sofreu e Se entregou à morte. Reze-os como se fosse o próprio Cristo rezando pela sua voz.

É verdade que Ele não teve nenhum pecado, mas nunca esqueça: Ele assumiu os nossos, foi “feito pecado”, isto é, “vítima pelo pecado!

Reflexão para a Sexta-feira da Paixão do Senhor

Neste santíssimo dia de jejum e abstinência de carne, devemos manter um respeitoso recolhimento, unindo-nos piedosamente Àquele que por nós Se entregou até a morte. Nada de atividades inúteis, nada de músicas profanas, nada de televisão dispersiva, nada de conversas inúteis! O que proponho aqui é realmente pesado, tornado leve e suave somente pelo desejo de estar com o Senhor, de a Ele unir-se neste dia sagrado, de Dele não se apartar nem ao menos por um instante!

Antes da Celebração da Paixão

Pela manhã, preparando-se para participar à tarde da Solene Ação Litúrgica da Paixão do Senhor, reze o seguinte:

1. Is 42,1-9; 49,1-7; 50,4-10; 52,13 – 53,12

São os quatro cânticos do Servo Sofredor. Eles prenunciam a paixão do Senhor e revelam os sentimentos do Seu coração bendito. Esses cânticos devem ser rezados com o “coração na mão”, com toda unção e devoção!

2. Salmos 21(22), 31(30) e 69(68)

Destes três salmos, dois (o 21 e o 31) foram citados por Jesus na cruz. Os três revelam os Seus sentimentos, Ele, que tomou sobre Si todos os nossos pecados! Estes salmos devem ser rezados como que emprestando nossa voz ao próprio Cristo, reproduzindo em nós os Seus sentimentos benditos, unindo nosso coração ao Dele!

Após a Celebração da Paixão do Senhor:

3. Salmos 3, 5, 7, 10, 13(12), 17(16), 25(24), 27(26), 28(27), 35(34), 38(37), 42(41), 43(42), 54(53), 55(54), 56(55), 57(56), 59(58), 61(60), 63(64), 70(69), 71(70), 86(85), 88(87), 120(119), 140(139), 141(140), 142(141), 143(142)

Após a celebração da Paixão, ainda na Sexta-feira, procure rezar todos estes salmos. São muitos, mas recorde que este é um dia de penitência e oração. Estes salmos devem ser rezados em união com o Cristo, que assumindo nossos pecados, tomou toda nossa dor, todo nosso medo, toda nossa infidelidade, toda nossa fraqueza.

Se você rezar todos estes salmos, terá a graça imensa de compreender por dentro os sentimentos do Cristo na Sua paixão e morte… E irá dormir em paz, como Ele:

“Em paz Me deito e logo adormeço, porque só Tu, Senhor, Me fazes viver em segurança” (Sl 4,9).

Reflexão para o Sábado Santo

Neste dia tremendo, a Igreja permanece em profundo silêncio, unida a Maria no dia mais difícil de sua vida: dia de solidão imensa, de vazio sem fim…. Hoje, a Virgem é chamada de “Nossa Senhora da Soledade”, da solidão… Mas, este é também dia de esperança. Os mais generosos devem jejuar. Deve-se manter um respeitoso recolhimento; nada de atividades mundanas e dispersivas!

Hoje, é proibida a comunhão eucarística até mesmo aos doentes. Somente os doentes moribundos, às portas da morte, podem comungar.

A Igreja une-se a Cristo na Sua descida aos infernos: Ele entrou de verdade na situação de cadáver, de defunto, de nada, Ele desceu aos Infernos, ao Sheol, ao Hades, à situação de morte… Durante todo o dia, vá distribuindo os seguintes textos (alguns deles poderiam ser rezados na igreja, diante da Cruz que ontem fora apresentada na Solene Celebração da Paixão e deverá estar exposta na igreja pelo menos até o meio da tarde):

 

1. Todo o Livro das Lamentações

Neste livro, o Profeta canta a miséria e a esperança de Jerusalém e a sua própria.
É Cristo, Quem canta a miséria e a esperança da Igreja, da humanidade toda e de cada um de nós!
Reze as lamentações durante todo o dia, repartindo-a em cinco partes, de acordo com os capítulos.

2. Os seguintes hinos do Antigo Testamento

Estes poemas cantam as dores e as esperanças do Povo de Deus da Antiga Aliança, as dores e esperanças dos que caminharam na presença do Senhor Deus, as nossas dores e esperanças… Tudo foi assumido pelo nosso bendito Salvador na Sua morte e sepultura… Tudo foi transformado em ressurreição e Vida eterna!

Is 38,10-20
Jr 14,17-21
Hab 3,2-19
Is 45,15-25

3. Salmos 4, 16(15) e 139(138)

Estes três salmos devem ser rezados no sábado à tardinha ou no início da noite, mas antes da Santa Vigília Pascal. Os três já prenunciam a Ressurreição: “Em paz Me deito e logo adormeço, porque só Tu, Senhor, Me fazes viver em segurança” (Sl 4,9), “Bendigo ao Senhor que Me aconselha, e mesmo à noite, Meus rins Me instruem. Meu coração exulta e minha carne repousa em segurança.. Ensinar-Me-ás o caminho da Vida” (Sl 16[15], 79) e “Senhor, Tu conheces quando Me deito (na morte) e Me levanto (na ressurreição)… Sobre Mim tu pões a Tua mão!” (Sl 139[138],2.5).

Reflexão para o Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor

Neste Dia santíssimo – o mais sagrado de todos, Dia do Senhor, prenúncio do Dia sem fim, do Dia final – pode-se retomar os salmos da Santa Vigília!

Durante o dia todo, vá curtindo os textos que narram as aparições do Ressuscitado. Não tente compará-los nem fazer uma sequência histórica dos fatos. É impossível! Aqui, cada texto tem sua mensagem, sua característica própria, sua vibração, seu encanto… São textos para serem curtidos com pura emoção e gratidão, com pura louvação ao Deus fiel, que ressuscitou o Seu Filho dentre os mortos, fazendo-O para sempre Senhor e Cristo, como primícias da ressurreição nossa e do mundo!

Leia-os na ordem que eu coloquei:

  • Mt 18,1-20; Depois reze o Salmo Pascal por excelência: 118/117: “Este é o Dia que o Senhor fez para nós!”
  • Lc 24,1-53; Depois reze o Sl 30/29
  • Mc 16,1-20; Depois reze o Sl 96/95
  • Jo 20,1 – 21,25; Depois reze o Sl 98/97

Conclua tudo unindo-se à Igreja do Céu, que rejubila e rejubilar-se-á para sempre cantando:
Ap 4,11; 5,9-10.12.13; 6,10.12; 11,15.17-18; 12,10-12; 1 9,6-8…

E, se ainda tiver forças, leia Ap 21,1 – 22,5.

Durante toda a Oitava de Páscoa devemos nos desejar ardentemente “Feliz Páscoa!” Nossos irmãos orientais saúdam-se assim: “O Irmão Jesus ressuscitou!” e o outro responde: “Ressuscitou verdadeiramente!

A você, querido(a) Irmão(ã), Amigo neste espaço digital, uma santa e abençoada Páscoa!
Se eu pudesse, dar-lhe-ia pessoalmente um abraço!

Neste Dia, por amor do Ressuscitado, perdoemo-nos, amemo-nos, renovemos nossa vida e nossas atitudes, sejamos novas criaturas!

Deixo para você estas palavras de lirismo insuperável, da Noite Santa de Páscoa da Liturgia bizantina:

Dia da Ressurreição,
resplandeçamos, ó povos!
Páscoa do Senhor! Páscoa!

Cristo Deus nos fez passar
da morte à Vida, da terra ao Céu,
entoando o hino de Sua Vitória!

Purifiquemos os sentidos e veremos
a Luz inacessível da Ressurreição
a Cristo resplandecente
que diz: Alegrai-vos!

Exultem os céus e a terra.
Exulte o universo inteiro, visível e invisível:
Cristo ressuscitou! Alegria eterna!
Exultem os céus e exulte a terra,
faça festa todo o universo
visível e invisível.
Alegria eterna,
porque Cristo ressuscitou!

Dia da Ressurreição,
resplandeçamos, ó povos:
Cristo ressuscitou dentre os mortos,
ferindo com Sua morte a própria Morte
e dando a Vida aos mortos em seus túmulos.
Ressurgindo do túmulo,
como havia predito
Jesus nos deu a Vida eterna e a grande misericórdia!

Este é o Dia que o Senhor fez:
seja ele nossa alegria e nosso gozo!
Páscoa dulcíssima,
Páscoa do Senhor, Páscoa!
Uma Páscoa santíssima nos amanheceu.
Páscoa! Plenos de gozo,
abracemo-nos todos!

Ó Páscoa, que dissipas toda tristeza!
É o Dia da Ressurreição!

Irradiemos alegria por tal Festa,
abracemo-nos mutuamente
e chamemos de irmãos até àqueles que nos odeiam;
perdoemos-lhes tudo
por causa da Ressurreição,
e gritemos sem cessar dizendo:
Cristo ressuscitou dentre os mortos,
ferindo a Morte com a Sua morte
e dando a Vida aos mortos em seus túmulos!