Skip to content Skip to footer

3º Dia do Retiro Quaresmal: Sexta-feira depois das Cinzas

Exame de Consciência

Vimos, ontem, a profunda ferida, mais ainda, o desaprumo, a desorientação da humanidade marcada pelo pecado…

Não adianta: nascemos “filhos da ira”; por natureza, nossa filiação em relação a Deus é igual à de qualquer criatura animada ou inanimada…

O homem fora de Cristo, ainda que bom, ainda que possa ter sentimentos e pensamentos bons, é fundamentalmente dilacerado, precisa de uma redenção, de uma salvação. E ela não se dá fora de Cristo:

“Não há debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual devamos se salvos” (At 4,12).

Esta é a fé ensinada por Cristo nosso Senhor, é a fé dos Apóstolos, é a constante, perene e imutável fé da Mãe católica! Crer firmemente nesta certeza, anunciá-la com convicção é dever de todo cristão:

“Eu não me envergonho do Evangelho: ele é força de Deus para a salvação de todo aquele que crê!” (Rm 1,16)

Assim, os pagãos de ontem e de hoje, que estão fora de Cristo, necessitam de conversão e a eles o Senhor nos envia – a mim, a você, a inteira Igreja:

“Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura! Aquele que crê e for batizado será salvo” (Mc 16,15s).

Aqui, já é preciso perguntar, num sério exame de consciência:

(1) Creio firmemente que Jesus nosso Senhor é o Salvador meu e do mundo inteiro?

(2) Procuro testemunhar essa fé com minha vida e minha palavra?

(3) Tenho anunciado o Evangelho, testemunhando Jesus na minha família, no meu ambiente de estudo e trabalho, no meu círculo de amizade?

(4) Tenho vergonha de Cristo e do Seu Evangelho?

Agora, para hoje, vamos ler Rm 2,1-29.

1. Assim, és inescusável, ó homem, quem quer que sejas, que te arvoras em juiz. Naquilo que julgas a outrem, a ti mesmo te condenas; pois tu, que julgas, fazes as mesmas coisas que eles.

2. Ora, sabemos que o juízo de Deus contra aqueles que fazem tais coisas corresponde à verdade.

3. Tu, ó homem, que julgas os que praticam tais coisas, mas as cometes também, pensas que escaparás ao juízo de Deus?

4. Ou desprezas as riquezas da sua bondade, tolerância e longanimidade, desconhecendo que a bondade de Deus te convida ao arrependimento?

5. Mas, pela tua obstinação e coração impenitente, vais acumulando ira contra ti, para o dia da cólera e da revelação do justo juízo de Deus,

6. que retribuirá a cada um segundo as suas obras:

7. a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, buscam a glória, a honra e a imortalidade;

8. mas ira e indignação aos contumazes, rebeldes à verdade e seguidores do mal.

9. Tribulação e angústia sobrevirão a todo aquele que pratica o mal, primeiro ao judeu e depois ao grego;

10. mas glória, honra e paz a todo o que faz o bem, primeiro ao judeu e depois ao grego.

11. Porque, diante de Deus, não há distinção de pessoas.

12. Todos os que sem a lei pecaram, sem aplicação da lei perecerão; e quantos pecaram sob o regime da lei, pela lei serão julgados.

13. Porque diante de Deus não são justos os que ouvem a lei, mas serão tidos por justos os que praticam a lei.

14. Os pagãos, que não têm a lei, fazendo naturalmente as coisas que são da lei, embora não tenham a lei, a si mesmos servem de lei;

15. eles mostram que o objeto da lei está gravado nos seus corações, dando-lhes testemunho a sua consciência, bem como os seus raciocínios, com os quais se acusam ou se escusam mutuamente.

16. Isso aparecerá claramente no dia em que, segundo o meu Evangelho, Deus julgar as ações secretas dos homens, por Jesus Cristo.

17. Mas tu, que és chamado judeu, e te apóias na lei, e te glorias de teu Deus;

18. tu, que conheces a sua vontade, e instruído pela lei sabes aquilatar a diferença das coisas;

19. tu, que te ufanas de ser guia dos cegos, luzeiro dos que estão em trevas,

20. doutor dos ignorantes, mestre dos simples, porque encontras na lei a regra da ciência e da verdade;

21. tu, que ensinas aos outros… não te ensinas a ti mesmo! Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas!

22. Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras! Tu, que abominas os ídolos, pilhas os seus templos!

23. Tu, que te glorias da lei, desonras a Deus pela transgressão da lei!

24. Porque assim fala a Escritura: “Por vossa causa o nome de Deus é blasfemado entre os pagãos (Is 52,5).

25. A circuncisão, em verdade, é proveitosa se guardares a lei. Mas, se fores transgressor da lei, serás, com tua circuncisão, um mero incircunciso.

26. Se, portanto, o incircunciso observa os preceitos da lei, não será ele considerado como circunciso, apesar de sua incircuncisão?

27. Ainda mais, o incircunciso de nascimento, cumprindo a lei, te julgará que, com a letra e com a circuncisão, és transgressor da lei.

28. Não é verdadeiro judeu o que o é exteriormente, nem verdadeira circuncisão a que aparece exteriormente na carne.

29. Mas é judeu o que o é interiormente, e verdadeira circuncisão é a do coração, segundo o espírito da lei, e não segundo a letra. Tal judeu recebe o louvor não dos homens, e sim de Deus.

(Fonte: Bíblia Católica Online)

Depois de mostrar como os pagãos de todos os tempos sem Cristo estão debaixo da ira, o Apóstolo se volta para Israel, o povo da Antiga Aliança: qual a situação deles, que conhecem o Deus verdadeiro e vivem debaixo da Lei de Moisés? Por que teriam necessidade de crer em Jesus como o Cristo ( = Ungido) de Deus, prometido pelos profetas? Leia o texto… Só depois continue a leitura do que vou escrever… Leia com calma e espírito orante… É o Senhor Quem nos fala!

Vejamos o que diz o Apóstolo:

a) Começa repreendendo os judeus, sobretudo alguns judeus convertidos ao cristianismo, que se julgavam superiores aos cristãos vindos do paganismo: “És inescusável, ó homem, quem quer que sejas – mesmo judeu – que te arvoras em juiz”.

E por que os judeus não têm desculpas? Porque, mesmo tendo o conhecimento do Senhor Deus dado pela Lei de Moisés, também eles são fracos, também eles quebrados interiormente, a ponto de transgredir os preceitos da Lei, sendo infiéis à Aliança antiga! “Julgando a outrem, condenas a ti mesmo, pois praticas as mesmas coisas, tu que julgas” (v.1).

Julgar os outros é sempre uma empresa perigosa.

O cristão deve saber separar o bem do mal, o correto do errado, a virtude do pecado, mas deve evitar julgar as intenções das pessoas. À luz do Evangelho, o cristão é juiz sim: “Os santos – os cristãos – julgarão o mundo” (1Cor 6,2) e “o homem espiritual – cheio do Espírito – julga todas as coisas e por ninguém é julgado” (1Cor 2,15). Mas, aqui, trata-se de julgar no sentido de discernir o certo do errado, o virtuoso do pecaminoso à luz do Evangelho. Nada tem a ver esse julgamento com o espírito temerário de se meter a juiz dos outros, condenando-os maldosamente!
Uma coisa é ver a ação, outra é julgar a intenção!

Além do mais, ainda que vejamos os outros agindo erradamente e digamos que tal ação ou atitude é contrária ao Evangelho, devemos respeitar a consciência dos demais, rezando pelos que erram, procurando caridosa e respeitosamente ajudá-los a ver e pensar segundo o Evangelho, sem nunca desesperar da conversão: “Ou desprezas a riqueza da bondade de Deus, de Sua paciência e longanimidade, desconhecendo que a benignidade de Deus te convida à conversão?” (v. 4) Em outras palavras: olha o Senhor e aprende Dele: Ele odeia o pecado, mas ama o pecador e sempre o espera:

“Sede misericordiosos como o vosso Pai celeste é misericordioso” (Lc 6,36).

b) Depois de chamar atenção dos judeus-cristãos para não desprezarem os irmãos que vieram do paganismo – e esta advertência serve para nós -, São Paulo recorda e absoluta necessidade da conversão contínua para todos nós: a obstinação, a teimosia, a falta de espírito de penitência ( = conversão) é um acúmulo negativo para o Dia do Julgamento de Deus! (vv. 5-8)

Quanto mais alguém é consciente dos bens recebidos do Senhor, mais será cobrado por Ele: primeiro o judeu – que é o filho do Povo da Antiga Aliança – e depois para o cristão – que entrou na Nova Aliança em Cristo Jesus!

A regra vale sempre: a quem muito foi dado, muito será pedido (cf. Lc 12,48)! O Senhor não faz acepção de pessoas (v. 11): a todos ama e a todos julgará!

E “retribuirá a cada um segundo as suas obras”(v. 6) – aqui note como o Apóstolo está bem distante do pensamento protestante de que as obras não contam para a salvação e só a fé salva! Não há lugar algum das Escrituras que ensine que as obras não sejam necessárias para a salvação ou que alguém possa ser salvo sem as obras! O que há é a advertência do Apóstolo que as obras ( = observâncias) da Lei de Moisés não salvam; é a fé em Jesus que dá às obras um novo sentido, um novo tempero, um sentido salvífico!

Os irmãos protestantes confundem obras com obras de Lei de Moisés… Exemplos dessas obras: guardar o sábado, não comer sangue, fazer distinção entre alimentos puros e impuros, não fazer imagens, circuncidar-se… Tais obras não têm valor salvífico, pois pertencem à Lei de Moisés que preparava para o Cristo. Chegando o Cristo, a Lei cumpriu sua missão e caducou! Ela não caiu por terra: cumpriu sua razão de ser, como um botão que se cumpre na flor!

Faça agora um exame de consciência de suas obras em Cristo

Tome como critério as obras de misericórdia corporais e espirituais:

As corporais

Dar de comer a quem tem fome;
Dar de beber a quem tem sede;
Vestir os nus;
Dar pousada aos peregrinos;
Assistir aos enfermos;
Visitar os presos;
Enterrar os mortos.

As espirituais

Dar bom conselho;
Ensinar os ignorantes;
Corrigir os que erram;
Consolar os aflitos;
Perdoar as injúrias;
Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo;
Rogar a Deus por vivos e defuntos.

c) A partir do v. 12, São Paulo dá um passo importante no seu raciocínio:

Primeiro, ele diz que tantos os pagão quanto os judeus serão julgados de acordo com a lei! Mas, como, se os pagão não conhecem a Lei de Deus?

Bem, os judeus serão julgados a partir da Lei de Deus, a Lei de Moisés; os pagãos serão julgados a partir da lei da sua consciência, onde o Senhor fala secretamente a cada homem! (cf. vv. 112-16)

Sobre a consciência, é necessário observar uma coisa importante: devemos sempre agir de acordo com a nossa consciência, mas a consciência não é algo absoluto: ela precisa ser educada, iluminada!

Um pagão tem o dever de procurar sempre iluminar sua consciência procurando o bem dos outros e tudo quanto contribui para a paz, a justiça, a verdade, a compaixão, a solidariedade… O coração de todo ser humano grita por isso! Um pagão que fuja disso está pecando, pois desobedece ao Senhor que lhe fala na consciência.

Um judeu tem a obrigação de iluminar sua consciência com os preceitos da Lei de Moisés e será julgado por seguir ou não tal Lei.

Um cristão tem o dever de iluminar e educar e esclarecer sua consciência pelo conhecimento do Cristo e do Seu Evangelho tal qual é crido e proclamado pela Igreja. Aí sim, com a consciência educada e iluminada, ele poderá, de modo livre e maduro, seguir sempre a voz da sua consciência!

Sem a iluminação e a educação da consciência, o homem torna-se incapaz de discernir o bem do mal… Certamente, para Hitler, Stalin e outros monstros, era normal e justo matar os opositores… Para outros, é lícito roubar e corromper para se manter no poder… E a consciência não os acusa… E por quê? Porque cauterizaram a consciência, fecharam-na em si mesmo e bloquearam toda referência ao Criador!

É o caso de quem vive folgadamente uma vida dupla! E se acha maduro e livre! Nada disso: é somente um escravo do pecado, de consciência tão cauterizada, tão adormecida, que já não consegue ver a miséria em que vive!

Atenção: em caso de incêndio, desligar o alarme não resolve o problema; é necessário enfrentar as chamas! Sufocar a consciência, anestesiá-la, não nos livra do fogo eterno: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir a ira que está para vir?” (Mt 3,7)

Pergunte-se:

a) Tenho procurado educar a minha consciência, iluminando-a com o Evangelho anunciado pela Igreja católica de Cristo Jesus?

b) Procuro realmente agir de acordo com minha consciência?

c) Sou reto no meu pensar, falar e agir?

d) Alimento deliberadamente pensamentos maus?

e) Meu falar é segundo Cristo ou, ao invés, é segundo a carne? Sou sincero ou dúbio no falar?

f) Ajo segundo minha consciência ou sou hipócrita, mascarado?

g) Meu sim é sim e meu não é não em Cristo? Sou reto ou sou insincero?

Reze o Mt 5,1-16
Depois reze o Sl 49/50