Evangelho de São Mateus 27, 33-50; São Marcos 15, 23-37; São Lucas 23, 33-46; São João 19, 18-30
Chegando ao lugar chamado Gólgota que quer dizer Calvário, deram-lhe a beber vinho misturado com mirra e fel, mas tendo-o provado, não quis beber. E aí o crucificaram com os dois ladrões, um à direita, outro à esquerda e Jesus no meio. Assim se cumpriu a profecia: “o foi computado entre os iníquos”. Porém Jesus dizia:
“Meu Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”
Depois de o terem crucificado tomaram os soldados as suas vestes, dividindo-as em quatro partes, uma para cada soldado. Porém como a túnica era inconsútil de um só tecido de alto à baixo disseram eles entre si:
— Não a rasguemos mas deitemos sortes para ver a quem a de tocar. A fim de que se cumprisse a Escritura que diz:
— Repartiram entre si as minhas vestes e deitaram sorte sobre a minha túnica.
Assim, pois, fizeram os soldados, e, sentando-se puseram-se a guardá-lo. Era então a hora tercia. Ora, Pilatos tinha escrito e colocado no alto da cruz, acima da cabeça de Jesus uma inscrição que indicava o seu crime:
— Jesus Nazareno, Rei dos Judeus.
Muitos Judeus leram esta inscrição porque era perto da cidade o lugar onde Jesus foi crucificado e ela estava escrita em hebraico, em grego e em latim. Mas os pontífices dos Judeus disseram a Pilatos:
“Não deveis escrever: Rei dos Judeus, mas o que ele disse: — Eu sou Rei dos Judeus”.
Respondeu Pilatos:
“O que escrevi, escrevi”
Estava o povo olhando de pé e os que passavam blasfemavam dele sacudindo a cabeça:
“Ó, tu que destróis o templo e o reedifica em três dias, salva-te a ti mesmo”.
“Se és o filho de Deus, desce da cruz”.
Também os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os fariseus zombavam dele dizendo:
“Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é o Rei de Israel que desça agora da cruz e nós acreditaremos nEle! Confiou em Deus. Se, pois, Deus o ama que o livre agora porque disse: — Eu sou o Filho de Deus”.
Também o insultavam os soldados que, aproximando-se, lhe ofereciam vinagre dizendo:
“Se és o Rei dos Judeus, salva- te a ti!”
E estes mesmos impropérios lhe dirigiam os ladrões que estavam crucificados com ele. Mas enquanto um dos ladrões blasfemava, dizendo:
“Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e nós, repreendeu-o o outro dizendo: — Tu não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Nós outros, sem dúvida, sofremos com justiça, porque recebemos o digno castigo de nossas obras, mas este nenhum mal fez. E dizia a Jesus: Senhor, lembrai-vos de mim quando chegardes ao vosso reino”
Respondeu-lhe Jesus:
“Em verdade te digo, que hoje estarás comigo no Paraíso”
Era quase a hora sexta e as trevas cobriram toda a terra até a hora nona e escureceu o sol.
De pé junto à cruz estavam a Mãe de Jesus, Maria, irmã de sua mãe, mulher de Cleofas e Maria Madalena. Vendo Jesus à sua Mãe e ao discípulo amado que ali estava, disse a sua Mãe: “Mulher, eis aí o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis ai a tua Mãe”. E desde aquele instante a tomou o discípulo em sua casa. Quase à hora nona clamou Jesus com grande brado dizendo:
“Eli, Eli, lamma, sabactani”, isto é — Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?
Alguns que ali estavam e o tinham ouvido disseram:
“Ele chama por Elias”
Sabendo Jesus que tudo estava consumado para se cumprir a Escritura disse:
“Eu tenho sede!”
Ora, ali havia um vaso cheio de vinagre. Imediatamente correu um dos soldados a tomar uma esponja, embebendo-a em vinagre, e colocando-a na extremidade de uma cana lhe dava a beber. Mas os outros diziam:
“Deixa, vejamos se Elias o vem livrar”
Deixai-me, replicou o soldado, veremos então se Elias virá desce-lo da cruz.
Tendo tomado o vinagre disse Jesus:
“Tudo está consumado”
Depois, lançando de novo um grande grito, disse:
— Meu Pai, nas vossas mãos entrego o meu espírito. Dizendo isto, inclinou a cabeça e expirou.
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Fruto: O Amor às Cruzes
Bem poucos amam a cruz de Jesus Cristo. Aprendamos no Rosário a amar esta cruz desprezada do mundo.
Nosso Senhor quer salvar-nos pela cruz. Ele parece dizer-nos quando se nos apresenta com a cruz:
“Alma querida deixa-me plantar a minha cruz no teu coração”
Sejamos generosos, vamos! Plante-a Ele onde e como quiser, e deixe-a bem firme. Que a tempestade de minhas ingratidões e os ventos furiosos das tentações não a possam nunca arrancar! Só Nosso Senhor sabe onde vai plantar sua cruz na terra árida de meu coração. É preciso cavar a terra e as enxadas das provações, em mãos de bons operários — as criaturas que nos perseguem e humilham — preparam a cova. Depois a cruz é levantada. É mais um sofrimento. Quando a cruz não está nos ombros, mas penetra numa chaga aberta e a sangrar, custa suportá-la, meu Deus… Quantas vezes, justamente quando a terra de nosso coração sofreu tantos golpes, foi cavada e batida pelos operários da dor, nos chega a cruz pesada do Calvário! Deixemos que Nosso Senhor plante essa cruz bendita ! Morremos de dor, numa agonia triste! Não importa! Ressuscitaremos no Amor! Feliz, mil vezes feliz a alma que compreendeu o mistério da cruz! No deserto desta vida, só há um abrigo seguro: é à sombra da arvore frondosa da cruz. Não tenhamos medo da cruz. Deixemos que Nosso Senhor venha, sim, deixemos que Ele venha quando e com a cruz que quiser. E Ele nos dirá cheio de amor:
“Deixa-me plantar a cruz!”
Plantai-a, sim, meu Jesus, neste deserto do meu coração ingrato, aqui bem no centro, ou melhor onde quiserdes; mas plantai-a bem, porque a tempestade aqui é forte!
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Intenção: Os Agonizantes
Não sabemos que enquanto em nossos dedos vão passando as contas do Rosário, passam também para a vida eterna milhares de criaturas e comparecem na presença de Deus? Os agonizantes! Como sofrem! Que hora terrível a da morte! E que angústias horrorosas as dos últimos instantes!
Oremos pelos agonizantes! E por eles ofereçamos a prece mais querida de Nossa Senhora e a mais eficaz: — O Rosário.
Um dia também estaremos num leito de dores e chegará também a nossa hora dos últimos combates. Felizes seremos e muito nos consolará se tivermos a doce convicção de termos sempre ajudado com nosso Rosário aos pobres agonizantes!
Senhora do Rosário, afastai o demônio do leito dos moribundos, acalmai-lhes as tempestades interiores de consciência e as crises de desespero! Ó Mãe querida, Refúgio seguro dos pecadores, salvai neste momento em que rezo vosso Rosário bendito, salvai algum infeliz pecador que agoniza!
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EXEMPLO
Santuário salvo pelo Rosário
Em Ostra-Brama (Polônia), venera-se desde alguns séculos uma estátua de Nossa Senhora das Dores. Esta milagrosa imagem é o objeto de uma grande romaria e conserva-se na bela igreja desta cidadezinha.
Ora, durante o mês de Março de 1896, um estrangeiro, que, pelo sotaque, parecia russo, apresentou-se, uma tarde, em casa do sacristão da Igreja:
“Desejaria, disse ele, queimar estas duas velas diante da Madona”
E, ao mesmo tempo, tirava debaixo de seu capote dois círios enormes. É preciso acendê-los hoje mesmo e devem arder toda a noite, até amanhã, depois da missa paroquial; porque tenho um negócio importantíssimo e urgente que deve decidir-se amanhã. Não tenho senão o tempo de recomendá-lo à proteção da Virgem milagrosa:
“Se quiser, logo que o senhor estiver pronto iremos à Igreja; quero colocá-los eu mesmo diante do altar”
— Fá-lo-ei de boa vontade! Respondeu o sacristão; mas quando alguém me pede para deixar velas acesas durante a noite, devo passar a noite na Igreja, por medo de incêndio.
— Sei, atalhou o desconhecido; por isso, eis aqui dois rublos para pagar-lhe o trabalho.
A filha do sacristão preparou às pressas alguns alimentos para seu pai, deu-lhe um sobretudo, e os dois homens seguiram para a Igreja. O Russo colocou, ele mesmo, os dois círios de cada lado do altar. O Russo acendeu-os, ajoelhou-se durante alguns minutos e, depois, retirou-se não sem ter ainda insistido com o sacristão para deixar as velas acesas até o dia seguinte, depois da Missa, e se fosse possível, até que fossem consumidas.
“Se aquilo suceder, acrescentou o Russo, o senhor será o primeiro a receber notícias minhas”
Uma vez sozinho, o sacristão deu uma volta pela Igreja, tocou as Ave-Marias e fechou as portas. Em seguida, tendo feito a sua oração, ficou em observação na sacristia, ao lado esquerdo do Santuário.
Depois de alguns momentos esteve com sono e adormeceu numa cadeira.
De repente, parece-lhe ouvir uma voz que lhe diz:
“Apaga, apaga os dois círios!”
Acorda, olha, procura, e não achando pessoa alguma julga ser isso tudo efeito de um sonho. Torna a sentar-se e, pouco a pouco, seus-olhos cansados cerram-se de novo. Mas apenas começa a dormir, percebe a mesma voz, de modo ainda mais distinto:
“Apaga, apaga os dois círios!”
O sacristão sai de novo de seu cantinho, dá uma busca e, como na primeira vez, não acha nada de anormal. Então, pergunta a si mesmo se não seria melhor, para acabar com a obsessão, apagar as duas velas para acendê-las só na Missa. Mas, lembra-se da promessa que fizera, do dinheiro que recebera, e acha que, em consciência, fica obrigado a deixar acesos os dois círios, ao menos até depois da Missa do dia seguinte.
Enquanto assim refletia, toma o Rosário e reza-o na sacristia, até que, vencido ainda pelo sono, adormece pela terceira vez e profundamente. Mas eis que, pela terceira vez também, a voz misteriosa, acorda-o de sobressalto, e com energia, clama:
“Apaga. Apaga depressa os dois círios!”.
Não há dúvida; o bom sacristão entende que é preciso obedecer, porque está convencido de que essa ordem vem do alto: apaga as duas velas.
Acaba-se a noite; o sacristão toca as Ave-Marias da manhã, abre as portas da Igreja, prepara o altar e acende as outras velas, e às 8 horas, a Missa reúne os fiéis.
A filha do sacristão está também presente.
Depois da Missa, ela vai ter com o pai:
“Porque, disse ela, não deixastes acesas as velas, como aquele homem recomendou?”
— “Minha filha, respondeu o pai, a isso fui obrigado de modo bem singular. E narra tudo quanto ocorrera durante a noite.
“Nisso deve haver algum mistério”, acrescenta ela.
“Quando estivermos sozinhos, levaremos as velas à casa para examiná-las, talvez descubramos porque Nossa Senhora não quis que os círios daquele desconhecido ardessem diante dela”.
Depois que todos os fiéis saíram do templo, o pai e a filha tomam as velas e logo reparam que têm um peso extraordinário.
— Não devem ser só de cera, observa o sacristão, porque são muito pesadas; devem conter outra coisa. Enfim vou certificar-me disso.
Levando as velas, ambos voltaram para a casa, e, lá chegados, o pai lança mão de uma faca, mexe na parte superior de um dos círios; nada de extraordinário. Continuando as suas pesquisas, quase no meio, a ponta da faca encontra um corpo resistente. Com infinitas precauções, tira a cera, e reconhece que a torcida penetra num tubo de ferro. Não há mais dúvida, estão em presença de alguma conspiração sacrílega! O sacristão e sua filha colocam os dois círios cuidadosamente numa tina cheia de água e julgam que o melhor é dar parte imediatamente ao Vigário.
Alguns instantes depois, o pároco e o sacristão estavam perto do delegado da polícia.
Informada de tudo, a autoridade foi com o padre à casa do sacristão.
Tiveram cuidado, de deixar na água os círios suspeitos; e, com muitíssima precaução, descobriram cada um dos dois tubos escondidos na cera.
Abrem-nos… Estavam cheios de dinamite!
Tudo fora calculado de modo que a matéria explosiva fizesse voar a Igreja pelos ares, precisamente no momento da Missa paroquial.
Imaginem a horrorosa catástrofe a que escaparam os habitantes de Ostra-Brama!
A Santíssima Virgem velou sobre os seus devotos, e, foi graças à sua intervenção direta, que o atentado infernal dos niilistas ou socialistas malograra completamente, graças ao Rosário!
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(BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. O Mês do Rosário, Edições do “Mensageiro do Santíssimo Rosário”, 1943, p. 203-213)