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História da Igreja 1ª Época: Capítulo XVI

maximino

Sexta perseguição

A tolerância de Alexandre para com os cristãos, foi um motivo para que Maximino, seu assassino e sucessor, os odiasse com mais escarnecimento. Com o fim de ter um pretexto para persegui-los, lhes atribuía a derrota de seus exércitos, a peste, a carestia, os terremotos e outras coisas que naqueles tempos desolavam o império romano, como se esses males fossem o efeito da cólera dos deuses pela tolerância que se tinha para com os fiéis de Cristo.

Porém o fato que mais excitou a indignação do imperador, foi o santo valor de um de seus soldados. Quando Maximino foi proclamado imperador fez, conforme se costumava então alguns presentes a seus soldados. Todos os homens que compunham o exército, deviam aparecer perante ele, para receber aqueles dons, com uma coroa de louro na cabeça; mas um dos soldados, suspeitando que essa prática, naquelas circunstâncias, importava um sinal de idolatria, levou a coroa na mãos.

Perguntando-lhe um oficial a razão da que singularidade, respondeu-lhe:

“Sou cristão e minha religião me proíbe levar na cabeça vossa coroa se fazendo, assim pudesse, eu parecer Idólatra.”

Tiraram-lhe no mesmo instante o uniforme militar e levaram-no preso. Alguns fiéis pensavam que se podia levar tal coroa como sinal de festa cívica sem incorrer em culpa alguma. Nesta ocasião Tertuliano escreveu um livro intitulado: Da coroa do soldado; nele demonstra que naquele caso tal cerimônia era um ato de idolatria, e como tal ilícito, pois é fora de dúvida que muitas vezes, a moralidade das ações depende da interpretação exterior que lhes dão os homens.

São Ponciano, São Antéro e Santa Barbara

São Ponciano
Maximino decretou no mesmo instante uma perseguição contra todos os cristãos. Quando porém soube que estes constituíam uma grande parte de seus súditos, limitou-se a proibir que se abraçasse a religião que eles professavam, e ao mesmo tempo deu ordens para que se desse morte particularmente aos Bispos, pois que eles eram os autores dos progressos do cristianismo. A vitima principal do furor de Maximino foi São Ponciano. Desterraram-no para a pequena ilha de Tavolara na Sardenha, e depois de dois anos de cadeia e sofrimentos, condenaram-no a morrer a pauladas. Sua morte teve lugar no ano 238. Sucedeu-lhe Santo Antero, ao qual cortaram a cabeça depois de um mês de pontificado.

Santa Barbara foi primeiramente provada com cruéis tormentos da parte de seu desnaturado pai e mais tarde condenada a morte na cidade de Nicomedia.

A perseguição teria sido muito mais longa se Deus não tivesse tirado do mundo seu autor. Achava-se ele sitiando a cidade da Aquila que tinha rebelado e lhe havia fechado as portas. Tendo-o levado o assalto várias vezes, porém em vão, atribuía a seu soldados os seus infelizes insucessos, e deixando-se levar pelo seu furor, entregava-se a atos brutais contra os mesmos. Alguns deles, cansados de tanto maus tratos, atiraram-se sobre ele e o assassinaram em sua tenda.

Sétima perseguição e São Fabiano

A sétima perseguição suscitada pelo imperador Décio, foi uma das mais sanguinolentas. Êmulo de seus predecessores, Décio publicou um edito que foi executado com o maior rigor. Os açoites, os garfos de ferro, o fogo, as feras, a pez fervente, as tenazes incandescentes, tudo foi posto em obra para atormentar os confessores da fé.

É tão grande o número dos que padeceram o martírio nesta perseguição, que seria impossível numera-los. Distinguiam-se especialmente São Poliuto na Armênia, Santo Alexandre bispo da Capadócia, o magnânimo São Piônio, sacerdote da Igreja de Smirna, Santa Águeda de Catânia, Santa Vitória de Toscana e São Fabiano. Este Pontífice trabalhou muito pela fé, até que finalmente o denunciaram como chefe dos cristãos. Depois de longos e graves padecimentos, cortaram-lhe a cabeça a 20 de Janeiro do ano 253; governou a Igreja cerca de 13 anos.

São Cipriano, tendo recebido do clero de Roma a relação da morte de São Fabiano, ao responder­-lhe, expressou nestes termos:

“Já havia corrido entre nós a notícia de que o Pontífice Fabiano tinha morrido; e, enquanto vagava incerta esta nova, recebi uma carta que me dá todas as minúcias de sua gloriosa morte. Muito me regozijei em meu coração por ter ele coroado tão gloriosamente as fadigas de seu apostólico ministério. Vós também deveis por esse motivo vos alegrar muito comigo. Desse modo a memória gloriosa do vosso bispo, será de glória para vós, e para nós um belíssimo exemplo de constância na fé e na virtude.” (s. Cip., Ep. 4).

A perseguição de Décio cessou tão somente com sua morte. Enquanto combatia contra os bárbaros do Danubio, tendo por segura a vitória, intentou-se inconsideradamente em um pântano para ter melhor a sua vista os inimigos; porém oprimido pelo furor dos combatentes, pereceu miseravelmente afogado naquele pântano. Ano 253.

São Gregório Taumaturgo

Enquanto os mártires, sacrificando sua vida no meio de tormentos atrocíssimos, davam testemunho da verdade de sua fé, outras maravilhas eram operadas por outros heróis do cristianismo pela prática da virtude e por grandes prodígios. Entre estes sobressai São Gregório, chamado Taumaturgo, isto é, fazedor de milagres. Era sua pátria Neo-Cesareia, no Ponto, e descendia de família nobre. Na morte de seus pais desprezou os cargos honrosos que se lhe ofereciam, distribuiu sua fortuna aos pobres e, não confiando senão na Providência, retirou-se para a solidão afim de ai terminar seus dias num retiro. Mas suas preclaras virtudes atraiam-lhe as admirações do publico, que queria proclama-lo bispo, porém ele, espantado em presença só da ideia de tão alta dignidade, mudou de moradia e andou errante de deserto em deserto. Encontraram-no sem embargo e, apesar da sua repugnância foi eleito bispo de sua pátria (Ano 250).

É impossível narrar aqui tudo o que fez o santo Bispo em prol do rebanho que lhe foi confiado.

Os Santos Padres comparam-no a Moisés e aos profetas pelo dom de profecia e de milagres, e aos apóstolos pela virtude, zelo e trabalhos, e especialmente pela multidão de prodígios operados por ele. Com uma oração livrou seu povo de uma mortandade que horrivelmente o dizimava; com uma ordem dada mudou para outro lugar um monte que estorvava a ereção de uma Igreja, e servindo­-se do mesmo recurso secou um pântano que era causa de uma discórdia fraterna. Um rio inundava e devastava os campos causando grandíssimos estragos; corre o Santo para lugar do desastre, finca na margem do rio o bastão em que se apoia, o qual logo transforma-se numa árvore verde e frondosa que serve de limite ao rio.

Estando próximo a morte, perguntou quantos infiéis ainda existiam em Neo-Cesareia, e como se lhe respondesse que ainda havia dezessete, disse: “Graças sejam dadas a Deus; pois esse era justamente o número de fiéis quando fui eleito bispo.” Morreu no ano 268.

São Paulo Eremita

São Paulo, primeiro eremita

Os estragos que a perseguição causou entre os cristãos foram, causa de que muitos deles seguissem o conselho do Salvador e fugissem das povoações onde a perseguição tomava maior incremento, para ir buscar um asilo nas vastas solidões que se estendem naquela parte do Alto Egito, chamada Tebaida, na Palestina e na Síria.

O primeiro eremita, isto é, primeiro que foi , conhecido entre aqueles solitários, foi São Paulo. Este nasceu perto de Tebas no ano 229. Ali vivia levando uma vida cristã. Sua juventude, suas riquezas e seu nascimento não foram capazes de seduzi-lo, pois só amava a virtude; porém sua humildade que lhe fazia temer expor-se aos tormentos, induziu-o primeiramente a esconder-se numa casa de campo, e depois a retirar-se para as partes mais remotas do deserto (Ano 250). Deus que o guiava, fez-lhe encontrar uma rocha em que a natureza tinha formado uma espécie de aposento, belamente iluminado por uma abertura na parte superior. Do alto da montanha brotava uma fonte de água cristalina, que alimentava um claro regato que tornava mais amena aquela solidão. Nutria-se o Santo com os frutos de uma palmeira que sombreava a entrada da gruta, até que o Senhor, servindo-se de um corvo, fez chegar a suas mãos meio pão cotidiano, alimento mais próprio para sua avançada idade. Ali viveu Paulo noventa e dois anos, sem outra companhia do que a das feras e quase desde conhecido dos homens. Pouco tempo antes de sua morte, Deus lhe fez conhecer o grande Abade Santo Antão, que havia levado, igualmente, durante muitos anos uma vida solitária em outra parte daquele deserto. Sua morte teve lugar aos 113 anos de idade e no ano 342 de nossa era.