Legião fulminante
A São Aniceto sucedeu São Sotero que se distinguiu muito pelos benefícios que fez aos romanos e a todos os fiéis da cristandade. Durante seu pontificado, fez Deus um milagre que foi causa de que o imperador Marco Aurélio olhasse com melhores vistas aos cristãos. Achava-se este príncipe em guerra com uns povos bárbaros, quando estes o cercaram entre as áridas montanhas da Boêmia; seu exército estava rodeado de todas as partes e a falta de água punha seus soldados em iminente perigo de morrer de sede. Afortunadamente achavam-se naquele exército muito cristãos, que sabendo que o Evangelho diz, que se deve recorrer a Deus em todas as necessidades da vida, puseram-se a rezar na presença do inimigo. Este, vendo-os como em um estado de imobilidade enquanto rezavam, pensou que chegara o momento oportuno para atacar; porém no mesmo instante cobriu-se o Céu de nuvens e caiu uma chuva abundantíssima ali onde estavam os romanos, ao mesmo tempo que uma espantosa chuva de pedras acompanhada de frequentes raios caiu sobre os bárbaros e os dispersou deixando um grande números de mortos e a vitória aos romanos. Estes já estavam a ponto de render-se pela grande sede que sofriam; mas sentindo chover, levantaram seus olhos para o céu afim de dar graças a Deus, e conjuntamente com a água receberam novas forças e valor. Narram este acontecimento todos os escritores cristãos e gentios daquele tempo. (V Capitolino, Decio, Tertuliano). O imperador reconheceu que este favor foi devido às orações dos cristãos, e para conservar sua memória fez esculpir o fato em baixo relevo em uma coluna de mármore que se levantou em Roma, e que ainda existe e se conhece com o nome de Coluna Antonina. Também escreveu uma carta ao senado, participando-lhe o acontecimento e proibiu ao mesmo tempo que se perseguissem os cristãos; porém depressa esqueceu o imperador o favor que recebera.
São Fotino
Alguns anos mais tarde se atiçou novamente a perseguição, e muitos cristãos receberam a coroa do martírio. Entre estes distingue-se São Fotino, Bispo de Lion. Este fora enviado pelo Papa às Galias juntamente com outros eclesiásticos, para pregar o Evangelho. Havia já quarenta anos que ocupava aquela sede, quando seus zelo e os progressos que fazia a palavra de Deus, atraiam para ele a inveja e o ódio dos idólatras. Ainda que enfermo e sem forças arrastaram-no ao tribunal do prefeito e depois de ter sustentado com heróica firmeza um penoso interrogatório, conseguiu a palma do martírio aos 90 anos de idade.
Heresia de Marcos e a confissão dos pecados
Entre os mais famosos sectários de Valentim, já citados mais atrás, distingue-se o herege Marcos, homem muito astuto e prático na arte de enganar. Jatava-se de possuir o poder de Deus, e também ao de conceder aos outros o poder de fazer milagres, e conhecer o futuro. Levando uma vida devota em aparência, ganhou a estima de muitos que se deixaram arrastar a cometer os maiores excessos de impiedade e libertinagem. Alguns dos enganados tendo mais tarde conhecido o mal em que haviam caído, renunciaram a Marcos e voltaram para a Igreja Católica.
“Marcos, disse São Irineu, adotou certas artes para acender as paixões e fascinar… algumas mulheres, que voltando mais tarde para Igreja de Deus o confessaram…, de modo que, certa pessoa da Ásia também caiu nesta desgraça… porque sua mulher… tendo sido pervertida por este mágico… depois tendo se convertido, não cessou de confessar entre lágrimas e gemidos durante o resto de sua vida, o pecado cometido”. (Santo Irineu, lib. 1, c. 13)
Este é um dos fatos da Igreja primitiva, que nos dá a conhecer como já existia então a prática da confissão sacramental e a crença de que esta tinha sido instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, em virtude da capacidade que tinha dado aos Apóstolos de perdoar os pecados. (São João, 20). Dão-nos outra prova desta santa prática as multidões de fiéis que, a contar do tempo dos Apóstolos, iam desde Éfeso ajoelhar-se aos pés dos sagrados ministros, confessando e declarando seus feitos. (Atos dos Apóstolos, 19).