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História da Igreja 1ª Época: Capítulo V

Separação dos Apóstolos e seu Símbolo de Fé

Os Apóstolos começaram a pregar o Evangelho na Judéia, não separando-se muito uns dos outros; porém quando reconheceram que tinha chegado o tempo de levar a luz da verdade a todas as nações, determinaram, separar-se, repartindo-se o mundo, por assim dizer, escolhendo uma parte cada um para exercer o ministério apostólico. Antes porém de fazê-lo, reuniram-se e de comum acordo fizeram um compêndio da Religião Cristã, que chegou até nós sob o nome de Símbolo dos Apóstolos e se chama comumente o CREDO. Depois de feito isto, separaram-se para levar o Evangelho a todas as nações. São Pedro ficou cerca de três anos em Jerusalém, e obrigado pela perseguição, transladou-se para a Antioquia, que era então a capital do Oriente. Nesta cidade cresceu tanto o número dos fiéis, que para distingui-los dos outros começaram a chamá-los cristãos, que quer dizer sequazes de Jesus Cristo. Desde Antioquia São Pedro ia pregar nas cidades e povoações vizinhas e depois de sete anos, isto é, no ano 42 da era cristã, foi a Roma.

  • São Paulo levou a fé à Arábia, Ásia Menor, à Macedônia e à Grécia, e depois foi unir-se a São Pedro na capital do Império Romano
  • São Tomé pregou em Jerusalém, entre os Partos e nas Índias
  • São João Evangelista deteve-se especialmente na Ásia Menor
  • Santo André evangelizou os Citas e obteve a Palma do martírio em Patras cidade da Grécia
  • São Felipe foi a Ásia Menor
  • São Bartolomeu à Armênia, onde padeceu um martírio atroz, sendo esfolado vivo
  • São Matheus trabalhou muito para a conversão dos Etíopes e foi coroar seu apostolado com o martírio na Pérsia
  • São Tiago, o maior, evangelizou a Judéia e também a Espanha
  • São Judas Tadeu pregou a fé na Arábia, na Mesopotâmia e na Armênia

Assim depois de trinta anos da primeira pregação do Evangelho por São Pedro em Jerusalém, o verdadeiro Deus tinha adoradores em todas as partes do mundo até então conhecido.

Os 12 Apóstolos de Jesus Cristo
Os 12 Apóstolos de Jesus Cristo

Livros do Novo Testamento

Nosso Senhor Jesus Cristo, depois de haver pregado de viva voz sua doutrina, subiu aos Céus sem deixá-la escrita nem reunida em livro algum ditado por Ele. Por que o fez assim? Para nos ensinar que Ele tinha feito depositários de sua doutrina os Apóstolos, isto é, a Igreja que devia depois explicá-la aos fiéis: ensinando-nos também que o principal instrumento da sua palavra devia ser a viva voz da sua Igreja. Com efeito, nos primeiros tempos, durante o curso de não poucos anos, o santo Evangelho foi conservado, ensinado e professado tão somente por meio da palavra viva dos Apóstolos e dos primeiros crentes. Nosso Senhor Jesus Cristo querendo, por outra parte, que ao menos uma grande parte da sua doutrina fosse confiada à palavra escrita, por inspiração divina moveu alguns dos Apóstolos e primeiros discípulos a por escrito sua vida e doutrina; e os livros por eles escritos formam juntos o que nós chamamos de Novo Testamento. Foram estes escritos: os quatro Evangelhos, escritos por São Matheus, São Marcos, São Lucas e São João; os Atos dos Apóstolos; as quatorze epístolas de São Paulo, duas de São Pedro, uma de São Tiago, uma de São Judas, e finalmente, três epístolas e o Apocalipse de São João. Estes livros sempre têm sido conservados em grande veneração por todos os cristãos, pois que foram inspirados por Deus.

Sem embargo, como já foi dito, não se acham neles todos os feitos da vida de Jesus Cristo, nem todas as verdades ensinadas por Ele. As verdades não escritas foram ensinadas e transmitidas pelos Apóstolos e seus sucessores como um sagrado depósito que se chama Tradição divino-apostólica. A Tradição divino-apostólica contém as verdades que não se encontram escritas nos livros sagrados, a interpretação destes mesmos livros: por isso, quando a Igreja define um artigo de fé que não está manifesto na sagrada Escritura, o tira desse depósito chamado Tradição. Daí se tirou o dogma da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria e da infalibilidade Pontifícia.

O Novo Testamento
O Novo Testamento

Morte de Maria Santíssima

O Doutor da Igreja São João Damasceno narra nestes ou semelhantes termos a morte ou assunção de Maria Santíssima desta vida mortal para a glória do Céu, que se acredita tenha-se dado aos 62 anos de sua idade e doze depois da Ascensão do seu divino Filho.

Tendo chegado o tempo em que Deus queria livrar deste desterro a Rainha dos Anjos, os Apóstolos que se achavam dispersos em diversas partes do mundo pregando o Evangelho, por virtude angélica encontraram-se todos reunidos em Jerusalém ao redor do leito de Maria juntamente com São Dionísio, bispo de Atenas e de São Timóteo, bispo de Éfeso. Maria exalou seu último suspiro, não de dor, mas de puro amor de Deus, à semelhança de quem docemente adormece. No mesmo instante ouviu-se naquela habitação uma salmodia celestial, cujos ecos ressoaram por três dias e ainda continuaram enquanto se levava em procissão seu corpo para o horto de Getsêmani para ser enterrado. São Tomé não se achava presente quando se deu a preciosa morte de Maria, e tendo chegado ao terceiro dia, pediu por favor, já que não podia vê-la viva, que ao menos se lhe permitisse, por uma vez mais venerar seu santo corpo. Com este fim se dirigiu com os outros Apóstolos ao sepulcro: quando chegaram, já tinham cessado os cânticos celestiais; abriram-no, olharam-no, porém não viram ali o corpo de Maria, mas somente os panos em que o tinham envolvido, os quais ainda exalavam perfumado odor. Cheios de admiração não puderam acreditar noutra coisa senão que o Deus Verbo, o Senhor da glória, o mesmo que setinha comprazido de encarnar-se na própria pessoa da Virgem Maria, e tinha-se feito homem conservando intacta a virgindade de sua Mãe, também se tinha comprazido em honrar o seu corpo imaculado depois de sua morte, conservando-o incorrupto e transportando-o para o Céu antes da ressurreição comum e universal. A Santa Igreja celebra todos os anos, no dia 15 de agosto, a Solenidade desta maravilhosa Assunção de Maria.

Assunção de Nossa Senhora
Assunção de Nossa Senhora

Milagres de São Pedro

Os meios principais de que se serviam os Apóstolos para confirmar a doutrina que pregavam era a santidade de vida e os milagres. Os que faziam São Pedro eram tantos e tão ruidosos que não só no número como em grandeza excediam aos do próprio Redentor: curava os enfermos de toda a classe, que a ele levavam em tão grande número que quase se tornava impossível aproximar-se dele. Por conseguinte nas praças e nas ruas e em qualquer parte por onde passava levavam-lhe grande número de enfermos, afim de ao menos os tocasse sua sombra, pois era suficiente para curá-los. Entre outros é maravilhoso o milagre que operou em Jope ressuscitando uma Santa matrona anciã, chamada Tabita, comumente conhecida pelo nome de mãe dos pobres. Tendo enviuvado, empregou suas grandes riquezas em socorrer os necessitados. Aflitos estes por terem perdido nela a sua mãe, foram à procura de São Pedro para que viesse ressuscitá-la. Este acudiu logo, e ao chegar à casa da defunta, viu-se rodeado por uma multidão de pobres, mergulhados na mais profunda dor, os quais lhe mostravam os vestidos e os calçados que Tabita lhes tinha dado para se cobrirem. Pedro chorou com eles e, cheio de confiança em Deus, aproximou-se do cadáver e disse em voz alta: ” Tabita levanta-te!”. No mesmo instante Tabita abriu os olhos e sentou-se. Quando se divulgou a notícia deste milagre, muitos daqueles cidadãos converteram-se à verdadeira fé.

Tabita, levanta-te!" - Milagre de São Pedro
“Tabita, levanta-te!” – Milagre de São Pedro

Concílio de Jerusalém

Desde o tempo dos Apóstolos quando suscitavam-se questões concernentes à religião, apelava-se para o Chefe da Igreja. Este, nos assuntos de maior importância e quando achava conveniente, reunia os demais Apóstolos e também os principais eclesiásticos para que lhe ajudassem a conhecer a vontade do Senhor ou a promulgar e por imediatamente em execução as resoluções que se tomavam.

A Sagrada Escritura recorda três reuniões especiais dos Apóstolos em Jerusalém, celebradas com o fim de tratar de alguns assuntos concernentes ao bem dos fiéis: a primeira vez se reuniram afim de prepararem-se para receber o Espírito Santo, e eleger a São Matias em lugar do traidor Judas; a segunda para escolher os sete Diáconos; e a terceira, que foi a que se chamou propriamente Concílio, e que serviu de certo modo de modelo aos Concílios que foram celebrados posteriormente pela Igreja, foi convocado para se decidir se já tinha chegado o tempo de suprir as cerimônias da lei mosaica, entre as quais se acham a circuncisão e a abstinência de carne de certos animais. Suscitou-se a questão na cidade de Antioquia, cujo fiéis delegaram a São Paulo e São Barnabé para que fosse consultar a São Pedro, que se achava então em Jerusalém.

São Pedro para definir mais formalmente o ponto, convocou os demais Apóstolos e Eclesiásticos que se achavam em Jerusalém; e tendo se reunido, ele como chefe, pastor supremo e vigário de Jesus Cristo na terra, propôs a questão, falou acerca do que devia estabelecer-se, e depois de um longo e animado discurso pronunciou a sentença à qual todos aderiram começando por São Tiago o Menor. Em seguida foi formulado o decreto que devia ser enviado a todos os fiéis, e que é do teor seguinte:

“Aprouve ao Espírito Santo e a nós outros, que não vos se impusesse mais carga do que a necessária, que vos abstenhais do sacrificado aos ídolos, do sangue, do sufocado, da fornicação, das quais coisas abstendo-vos, obrareis bem”.

Primeiro Concílio em Jerusalém (ano 51)
Primeiro Concílio em Jerusalém (ano 51)

Convém notar aqui que sendo a fornicação um pecado gravíssimo, proibido pela própria lei natural e pelo sexto preceito do decálogo, parece que não era necessário renovar a proibição: porém, acreditou-se necessário proibi-la novamente de maneira mais explícita e clara porque os gentios que abraçavam a fé, antes de receberem as luzes do Santo Evangelho acreditavam que a fornicação não era pecado: tanto se lhes tinha ofuscado a luz da razão! Depois deste discurso já não teve vigor o preceito da antiga lei (ano 51).

Perseguição de Nero

No reinado dos imperadores romanos dos três primeiros séculos, desencadearam-se cruéis e sangrentas perseguições contra os cristãos, com o fim de impedir os progressos do Evangelho; as principais chegam ao número de dez. Para compreender as causas das perseguições é mister advertir, que no império romano era rigorosamente proibido pregar ou professar novas crenças que não fossem aprovadas pelo Estado: por conseguinte todos os que pregavam ou professavam o Evangelho, nos países submetidos aos Romanos, expunham-se a um evidente perigo de morte. Outra causa destas perseguições era também a frequente confusão que havia entre cristãos e judeus, pois a estes últimos queriam destruir. Mas o principal pretexto era constituído pelas graves calúnias com que os pagãos, e especialmente os sacerdotes dos ídolos acusavam os cristãos para torná-los odiosos diante das autoridades civis. Por estas razões foi perseguida a fé com encarniçamento logo que começou a ser pregada em Roma.

Nero, chamado na História o verdugo do gênero humano, fez incendiar Roma somente pelo prazer de vê-la arder. Este fato, como é de supor-se, excitou contra ele grande indignação, e este para se ver livre de semelhante crime, culpou aos cristãos e os condenou à morte. Em muito concorreu para que aumentasse sempre mais o ódio contra os sequazes de Jesus Cristo, o ter as orações de São Pedro e São Paulo causado a ruína de Simão o Mago, e obtido a conversão de muitos do próprio palácio imperial. Irritado contra eles, o imperador, como leão furioso contra um rebanho de cordeiros, inventou os mais cruéis suplícios para os atormentar, e chegou a tal ponto sua crueldade, que os próprios pagãos, compadecidos dos cristãos, censuravam seus atos. Com efeito, por um excesso de crueldade, até então desconhecida, fez cobrir alguns com peles de feras para arrojá-los depois a cães esfaimados e a outros os fez envolver em trapos, coberto de piche e enxofre e atados depois a postes os fazia acender durante a noite para servirem de luminárias nos jogos dos circos.

Perseguição aos Cristãos pelo Imperador Nero (Jean-Léon Gérôme (1824–1904)
Perseguição aos Cristãos pelo Imperador Nero (Jean-Léon Gérôme (1824–1904)

Martírio de São Pedro e São Paulo

Os dois mártires mais insígnes da perseguição de Nero foram os príncipes dos Apóstolos, São Pedro e São Paulo. Conhecendo a violência da perseguição, correram a Roma para administrar os consolos da religião e assistir aos que se achavam em perigo de perder a fé. Acreditando Nero que com a morte dos chefes dos cristãos eles se dispersariam e já não se falaria deles no mundo, mandou buscá-los e encarcera-los na prisão Mamertina, a mais escura de Roma, que se achava ao pé do Capitólio. Apesar de metidos em algemas não deixaram os Apóstolos de trabalhar para a salvação das almas, por meio dos sermões converteram os dois carcereiros Processo e Martiniano e mais quarenta e cinco companheiros seus.

Estes receberam o batismo com água que, a mandado de São Pedro, brotou milagrosamente num canto da prisão, e que ainda em nossos dias continua brotando; todos eles morreram mártires. Sabedor destas novas, irritou-se ainda mais Nero; ordenou que se desse a morte aos dois Apóstolos, mandando que São Pedro fosse crucificado e São Paulo decapitado. São Pedro, por humildade, pediu que o crucificassem de cabeça para baixo, e ganhou a palma do martírio no ano 67 da era vulgar, na idade de 86 anos. Sepultaram-no no Vaticano, no mesmo lugar onde, depois, Constantino edificou a grande Basílica de São Pedro.

Crucificação de São Pedro (Caravaggio)
Crucificação de São Pedro (Caravaggio)

No mesmo dia em que são Pedro subiu ao Céu, São Paulo foi levado a três milhas de Roma para um lugar denominado Águas Sálvias, onde lhe cortaram a cabeça. Esta caindo por terra, deu três saltos, e em cada um dos lugares onde tocou, brotaram outras tantas fontes que existem ainda hoje.

Decapitação do Apóstolo São Paulo
Decapitação do Apóstolo São Paulo