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Prática para a Santa Comunhão

Prática da Santa Comunhão
Para fazer uma fervorosa comunhão três coisas se requerem, a saber: preparação remota, preparação próxima e ação de graças.

I. A Preparação Remota

Consiste:
1.° Na isenção de pecado mortal, sem o que seria a comunhão um horrível sacrilégio. Prove-se cada um a si mesmo em antes de se aproximar da santa mesa, mas isto sem turbação e escrúpulos. Não esqueças que, se por um impossível, se achasse em tua consciência um pecado mortal sem que o soubesses, não cometerias sacrilégio algum recebendo a Santa Eucaristia (1), mas que o sacramento produziria na tua alma a graça santificante.

— Mas, meu padre, tremo todas as vezes que comungo, porque temo não estar em estado de graça, e não ter recebido o perdão dos meus pecados.

— Meu caro Teótimo, escuta esta resposta do sábio e piedoso Gerson, e segue os sábios conselhos que te vai dar:

“Quando um cristão, diz, resolveu receber a santa Eucaristia, e cai na perturbação e temor por imaginar que não fez uma confissão bem feita, deve olhar este temor como uma tentação do demônio que desejara privá-lo do grande bem da comunhão, e seguiu este meio. Deve, pois, pensar que quando mesmo se aplicasse cem anos a tornar-se digno de receber Jesus Cristo não poderia aproximar-se devidamente, sem um especial socorro de Deus; mas lembre-se que Deus pode conceder-lhe esta graça agora tão bem como depois de cem anos. De mais, considere que ninguém na presente vida, pode, sem uma particular revelação, conhecer com perfeita certeza se está em estado de graça; mas que há uma certeza humana e moral que é necessária, e que basta na matéria que tratamos. Para a ter, deves-te recolher, examinar a consciência e fazer o que a descrição e os que nos conduzem nos ordenam. Quando depois deste exame, nenhum pecado mortal reconhecemos, podemos comungar sem temor de cometer algum novo pecado. Se ainda depois nos sobrevieram ás vezes duvidas ligeiras, como por vezes acontece, desprezemo-las e passemos por cima”


2.° A preparação remota consiste na isenção, não de todas as faltas veniais, visto a nossa extrema fragilidade, mas da afeição ás faltas veniais; o que não é possível alcançar-se sem a prática habitual da oração e sem a fugida do mundo, tanto quanto o decoro do nosso estado o permite. Os pecados veniais, não apagam em nós, verdade é, o fogo da caridade, nem da graça e amizade de Deus nos privam; mas afrouxam o fervor da devoção, e privam-nos dessa abundância de graças que fruem os que com grande pureza da alma se aproximam da sagrada mesa.

3.° Consiste também esta preparação remota num ardente desejo de receber a Jesus Cristo, visto como este alimento só aos que têm fome é proveitoso. Deus quer ser desejado, mas principalmente dos que comungam.

4.° Está também na pureza de intenção. Cautela, meu caro Teótimo, nunca vás comungar por amor próprio, por vaidade ou respeito humano: Ai! O orgulho em tudo se insinua. Deus não permita que tu sejas dessas pessoas que querem comungar mui frequentemente, não tanto para se tornarem melhores, mais recolhidas, mais mortificadas, mas para parecer que têm mais piedade do que a que realmente tem! Seja sempre pura, sempre reta a tua intenção; tenha sempre por fim a gloria de Deus, a tua própria salvação, a extirpação de algum vício, o fortalecimento na prática de tal ou tal virtude, o livramento de tal ou tal tentação, se é do bom grado de nosso Senhor, ou enfim a petição de alguma outra graça para ti, tua família, teus filhos, teus conhecidos, etc., o livramento das almas do purgatório.

Há ainda uma outra sorte de preparação remota; consiste ela nas seguintes práticas: Alguns dias antes de comungar, e o mais tardar na véspera, faze as tuas orações e preces com vistas de obter as graças necessárias para bem comungar; junta a isto mais algumas boas obras, alguma esmola, alguma mortificação, etc. Empenha-te por te conservares no maior recolhimento, pensando amiúde na felicidade que terás de receber o teu Deus. Neste santo pensamento adormece, e seja o primeiro quando despertares. Dize então: Que belo dia! brevemente vem Jesus tomar posse do meu coração! Ó meu bom Mestre! vinde, vinde tomar posse do coração desta vossa pobre criatura… etc.

II. A Preparação Próxima

Consiste esta em recitar do fundo do coração os diferentes atos antes da comunhão. Encontrarás os modelos depois desta instrução; mas como é de temer que à força de os repetir não acabes de cair na rotina, vou, segundo Luiz de Granada e o Padre Afonso Rodrigues, indicar-te a maneira de os tirares de ti mesmo. Dizem os santos e mestres da vida espiritual que para da santa comunhão se recolherem abundantes frutos é preciso aproximarmo-nos dela: 1.° Com muita humildade e respeito; 2.° Com muito amor e confiança; 3.° Com muito ardor e desejo de comer deste pão celeste.

l.° É precioso aproximarmo-nos deste adorável Sacramento com um extremo Respeito e Humildade

Para em teu coração excitares este sentimento, podes primeiro representar-te a suprema grandeza e majestade infinita do Deus que está realmente na Eucaristia: considerar que é Aquele que criou o céu e a terra por um só ato da sua vontade, e que por um só ato da sua mesma vontade os pode aniquilar; e pensa enfim que os anjos tremem de respeito diante dEle, e que ao menor sinal que dá, abalam-se e tremem de terror as colunas do céu. Depois do que deves voltar os olhos sobre si mesmo, para considerar a tua miséria e baixeza. Ora entrarás nos sentimentos do publicano do Evangelho, que não ousava aproximar-se do altar nem levantar os olhos ao céu, mas que, conservando-se a um canto do templo, feria seu peito, dizendo:

“Senhor, tende piedade de mim que sou um pecador”

Ora servir-te-ás das palavras do filho pródigo:

“Senhor, pequei contra o céu e contra vós; não mereço ser chamado vosso filho; recebei-me somente como um dos servos da vossa casa”

Outras vezes repete amiúde as palavras de Santa Izabel à Virgem: E de onde me vem esta graça, de onde me vem este excesso de felicidade, que o Senhor dos anjos e toda a glória do céu venha a mim?… Ó meu Pai! Ó meu Pastor! Meu Senhor, meu Deus, e meu tudo! Não! Não Vos contentastes com me haver criado à Vossa imagem e remido com o Vosso sangue; mas ainda quereis por um incomparável prodígio de amor vir fazer em mim morada, transformar-me em Vós, e fazer-Vos uma e mesma coisa comigo, como se de mim dependêsseis e não eu de Vós!… De onde me vem esta felicidade, ó meu Deus? É de meus méritos, ou antes tirais algum proveito de estar comigo? Não, certamente: é um efeito só da Vossa bondade e misericórdia, que faz com que Vós estejais mais contente de estar comigo do que eu de estar conVosco. Eu não Vos desejo, senão porque sou um miserável e tenho necessidade do Vosso socorro; e Vós, Vós quereis-me por misericórdia, etc., etc. Ser-te-ia utilíssimo, caro Teótimo, fazer uma grande reflexão sobre as palavras de que se serve a Igreja para o tempo da comunhão e que são tiradas do Evangelho: “Senhor, não sou digno que entreis em minha morada; mas dizei uma só palavra e a minha alma ficará sã”. Senhor, não sou digno de Vos receber; mas aproximo-me de Vós afim que me torneis digno. Senhor, sou fraco e doente e aproximo-me de Vós afim de ser curado e fortificado por Vós, etc.

2.° Devemos aproximar-nos deste Sacramento com muito Amor e Confiança

Ah! Meu Deus! A quem amaremos nós, se não amamos a Jesus no momento em que se dá todo a nós? Para em ti excitares tão apetecíveis desejos de amor e confiança pensa em tudo o que este bom Pastor de nossas almas fez desde o presépio de Belém até ao Calvário; segue-O passo a passo em todos os mistérios da sua vida, e imagina que a cada ação que faz lança sobre ti um olhar cheio de bondade e misericórdia e te diz:

“Meu filho, por teu amor é que Eu faço isto; para ganhar teu coração é que eu sofro tantos opróbrios, que estou encerrado no Sacramento dos altares… Podias com razão recusar-me o coração?…”

Que lhe responderás?

3.° A terceira coisa que Deus pede de ti neste augusto Sacramento, é que te aproximes dEle com um Grande Desejo

Este pai, diz Santo Agostinho, quer ser comido com uma grande fome do homem interior; e assim como as coisas que se comem com o apetite de ordinário fazem bem ao corpo, assim este pão celeste fará um maravilhoso bem a tua alma, se ela o comer com uma grande fome, com uma impaciência extrema de a Deus se unir, e com ardente desejo de obter dele graças particulares. Diligência, pois, Teótimo, fazer com que em ti nasça esta fome tão necessária para tirar proveito do sacramento e para isto considera de uma parte a tua extrema miséria e pobreza e a última necessidade em que te achas de que Jesus te venha enriquecer de suas graças; por outra, os admiráveis efeitos que produz este sacramento na alma bem disposta e que certamente também há de produzir em ti, se lhe não opuseres obstáculo. És fraco? Tornar-te-á forte e cheio de coragem. Serves a Deus com uma certa tibieza? Dar-te-á um ardente fervor. A tua alma está acabrunhada sob o peso da cruz? Tornar-te-á leve e fácil de suportar. .. etc., etc. Que razões para excitar em ti este vivo desejo da Santa Comunhão! Pede a nosso Senhor que te dê este desejo, e não permita que nunca neste ato se intrometa nada de humano e indigno dele.

O desejo que tiveres de comungar será a medida das graças que receberás comungando. Abre o teu coração, diz Jesus Cristo, e eu o encherei; dilata-o, porque receberás à proporção que o abrires. Assim, Teótimo, se queres receber a Jesus Cristo e a abundância de suas graças, têm-lhe um ardente desejo. A medida das graças que pela santa Eucaristia tens de receber, de ti depende. Quando se não sente desejo algum de comungar, é um sinal de morte, ao menos de uma profunda letargia. Com que ardor, com que perseverança não deves pois, pedir a Deus para a santa comunhão essa sede espiritual que tantas almas fiéis hão tido! Ah! Não sejas do número desses frouxos e indignos cristãos que olham como uma bagatela o serem privados da felicidade de receber a Jesus Cristo no Sacramento do seu Amor, ou que o recebem com uma sorte de desgosto e repugnância. Ai! Não sentem fome alguma da santa comunhão; aproximam-se dela com indiferença e como que por costume: e deste modo não tiram dela lucro algum. Meu caro Teótimo, seja ardente o teu desejo de receber a Jesus Cristo, seja a tua mais predileta satisfação o preenchê-lo aproximando-te frequentemente do sagrado banquete, e seja a tua maior dor o ver-te privado da dita de receber a Jesus Cristo pela santa comunhão. Quando em ti não sentires esta devoção fervente, esses desejos ardentes que era mister, e bem racionável tivesses para receber tão grande Senhor, não creias tudo perdido. Eis uma prática que te poderá ser utilíssima. Exercita-te a desejar esta devoção e estes desejos, e por isto suprirás ao que te falta: porque Deus, que vê o coração, receberá a tua boa vontade, segundo estas palavras do profeta: O Senhor ouviu os desejos dos pobres; o teu ouvido, Senhor, ouviu a preparação do coração. Refere Luiz do Blois que nosso Senhor ensinou, ele mesmo, esta devoção e preparação a Santa Mectilde, e que lhe disse:

“Quando tens de receber o meu corpo e o meu sangue, deseja, para glória do meu nome, ter todo o fervor e todo o zelo que o mais inflamado coração jamais teve, e então poderás aproximar-te de mim confiadamente e com preparação; porque eu atenderei ao fervor que desejavas ter e tê-lo-ei no mesmo preço que se realmente o tiveras”

De Santa Gertrudes conta coisa semelhante. Um dia que ela ia receber o Santíssimo Sacramento, c que estava numa ansiedade extrema por não estar para isso preparada, pediu à santa Virgem e a todos os santos que oferecessem por ela a Deus tudo o que jamais fizeram de mais meritório para se prepararem a recebê-lo, e então o Senhor, aparecendo-lhe, lhe diz:

“Agora é que tu pareces aos olhos dos cidadãos do céu preparada como desejavas. De sorte que é uma mui excelente maneira de nos dispormos para a santa comunhão, o desejarmos aproximar-nos dela com o fervor com que o desejavam os grandes santos, e pedir a Deus que haja por bem suprir pelos méritos do seu Filho as disposições que nos faltam”

III. Ação de graças

Nada há mais importante que a ação de graças depois da comunhão. É o melhor momento para de nosso Senhor obtermos tudo o que temos necessidade. Empenha-te pois, caro Teótimo, em bem a fazer, para o que, depois de haveres recebido a Santa Hóstia, retira-te ao teu lugar, toma uma postura que indique o teu respeito profundo, fecha os olhos e esquece todas as criaturas para não pensar senão nAquele que em teu coração possuis. Multiplica então os atos de amor, de contrição, de ação de graças e de firme propósito de ser todo de Deus; dá-lhe cem e cem vezes o teu coração, conjura-o que to aceite, que te faça melhor, que te tire tudo o que Lhe desagradar. Imagina que como Maria Madalena estás de joelhos aos pés de Jesus, que Ele te fala e te pede tal ou tal sacrifício; por tua parte fala-Lhe também com toda a confiança, expõe-Lhe as tuas necessidades e misérias; mostra-Lhe as chagas da tua alma; dize-Lhe com uma simplicidade de menino tudo o que dentro em ti se passa de bem ou mal e pede-Lhe o Seu socorro, graça, amor, fervor, a perseverança final, e o perdão dos pecados, etc., etc. Pede-Lhe também a conversão dos pecadores, o livramento das pobres almas do purgatório, pede pelo teu marido, teus filhos, etc., etc.

Uma outra maneira excelente de fazer a ação de graças é oferecer a Deus depois da comunhão, o sacrifício de um defeito ou imperfeição. Aqui to vou brevemente expor o modo de o fazeres. Depois de haveres feito todos os atos de amor, petição, etc., de que acabo de te falar, volta sobre ti mesmo e vê que faltas são as que mais vezes cometes, as imperfeições a que estás mais sujeito; procura sacrificar alguma a Deus em cada comunhão, e oferece-lha em ação de graças. Não estou a deter-te com mais minudências sobre esta matéria; porque facílimo te será suprir a tudo o que aqui não digo para não ser muito longo. Aliás, por ti mesmo vês quão útil seja esta sorte de ação de graças, e que lucro poderás tirar em pouco tempo de tuas comunhões, se, todas as vezes que tiveres a dita de a fazer, tiveres o cuidado de te mortificar em alguma coisa e de te corrigir já de uma falta, já de outra.

Da Comunhão Frequente

Aqui naturalmente se apresenta uma questão. De onde vem, dir-me-ás, que tendo a ventura de tantas vezes receber a Santa Eucaristia, não reconheço tornar-me melhor? De onde nasce o eu não fazer, ao que me parece, progresso algum na virtude e fico sempre a mesmo? Temo fazer comunhões tíbias; temo comungar vezes de mais, etc.

1.° De primeiro respondo que, quando comungues com permissão do confessor e por obediência, deves estar tranquilo sobre o numero das tuas comunhões; se preciso fora diminuir este numero a ele competiria fazê-lo, como juiz que é do teu progresso na virtude. Digo em seguida com o Padre Rodrigues que se o frequente uso da comunhão nem sempre opera em nós o fruto quo era de esperar operasse, provém isto de falta nossa. É que algumas vezes não nos preparamos como é mister, e nos aproximamos do altar quase só por costume e como que por demais. Comunga-se porque os mais também comungam e se está no costume de comungar; não se pensa em antes no que se vai fazer, ou não se põe nisso assas atenção, e é isto o que faz com que tiremos tão pouco fruto.

2.° Também nasce muitas vezes o mal de nos deixarmos ir voluntariamente aos pecados veniais, porque duas sortes há de pecados veniais; uns, em que inadvertidamente e por negligencia caímos, outros que cometemos voluntariamente e de propósito deliberado. Os pecados de advertência nenhum impedimento trazem à graça do sacramento; mas os veniais voluntários são-lhe um grandíssimo obstáculo.

3.° Digo que muitas vezes pode acontecer não sentirmos em nós os efeitos admiráveis da santa comunhão sem que nisso haja falta da nossa parte e sem que deixemos de colher o seu fruto em nossa alma. Aqui é 0 mesmo que na oração, sobre a qual muitos fazem semelhante questão; porquanto, posto que não sintamos as doçuras e consolações que desejáramos e que muitas vezes podem ser sentidas, isso não impede que sempre venhamos a tirar dela um grande fruto. Um doente nenhum gosto acha ao alimento que toma; contudo este não deixa de 0 sustentar e fazer-lhe bem. Estas doçuras e consolações sensíveis são graças que Deus dá como lhe apraz; e quando dela priva os seus servos, é para os provar, para os humilhar e por este modo tirar outras vantagens e outros bens, cujo conhecimento só lhe toca.

4.° Respondo enfim que também deve ser por lucro contado não somente o fazer progresso, mas ainda o não cair nem recuar. Não são menos de estimar os remédios que impedem as doenças que os que fortificam a saúde; e note-se bem isto porque é um grande motivo de consolação para os que não experimentam tão sensivelmente o fruto que deste divino sacramento auferem. Ordinariamente se vê que os que dele com frequência se aproximam vivem no temor de Deus, e passam anos inteiros, alguns toda a sua vida sem caírem em pecado mortal.

É este dos efeitos do Santíssimo Sacramento, impedir que caiamos em pecado mortal… De sorte que, embora recebendo-o não sintamos esse fervor de devoção nem essas inefáveis doçuras que talvez outrora experimentamos, e em seguida em vez desse ardor e prontidão que alguns têm para o bem, nós só encontremos securas e tibieza, nem por isso deixamos de tirar o nosso fruto. Se, com comungar frequentemente, caímos em algumas faltas, em muito maiores cairemos se da comunhão nos apartamos, etc., etc.

Dir-me-ás tu agora: Então as almas imperfeitas podem comungar frequentemente?

Eis, Teótimo, a resposta que te dá um autor tão piedoso como o sábio, o Padre Vaubert, da Companhia de Jesus. Duas sortes de cristãos imperfeitos cumpre distinguir; querem os primeiros deixar-se estar em suas imperfeições, anseiam os segundos sair delas. Ouso dizer que aqueles se expõem a ser punidos da sua frouxidão; porque, segundo Taulero, o desejo de agradar a Deus, e no sentir de São Francisco de Sales, o desejo de o amar, de virem a ser melhores, de tender eficazmente à perfeição deve ser o principal motivo de todas as nossas comunhões. E para que é recorrer ao medico quando se não quer ser curado? Mas os que sinceramente querem sair das suas imperfeições e que por isso fazem tudo o que está em seu poder, nunca poderiam comungar vezes demais, com tanto que todas as vezes vão com as disposições atuais de que são capazes, e que requer estes sacramentos. A razão é evidente, porque, segundo os Padres da Igreja, tantas vezes se pode comungar, quantas a comunhão nos pode ser útil. Toma todos os dias, nos dizem, o que todos os dias te pode ser útil. Ora um cristão que está em estado de graça e se prepara segundo as suas posses, sem que este frequente uso da Eucaristia em nada diminua o respeito e a devoção com que dele se deve aproximar; um cristão, digo, deste caráter tira proveito da comunhão e é de todos o mais infalível meio para chegar à perfeição a que supomos aspirar. Deve pois comungar amiúde, e ainda todos os dias se seu confessor o permite.

Escuta sobre este ponto São Francisco de Sales:

“Se te perguntarem os mundanos porque tantas vezes andas a comungar dize-lhe que duas sortes de pessoas devem comungar frequentemente: os perfeitos porque estando bem dispostos grande mal fariam em não se aproximarem do manancial e fonte da perfeição: e os imperfeitos afim de justamente aspirarem à perfeição; os fortes para que não venham a enfraquecer, os fracos para se tornarem fortes; os doentes para que sejam curados, os sãos para não caírem doentes; e tu como imperfeito, fraco e doente, tu tens necessidade de comungar muitas vezes, com a tua perfeição, a tua força e o teu médico. Dize-lhes que os que não têm muitos negócios mundanos a tratar devem comungar muitos vezes, pois têm comodidade para o fazer: que os que estão cheios de trabalhos mundanos também devem, porque disso têm necessidade, que para quem mais trabalha mais sólidas e frequentes devem ser as comidas. Dize-lhes que recebes o Santíssimo Sacramento para aprender a bem o receberes, porque nunca se chega a fazer uma coisa sem a exercitar muitas vezes. Comunga muitas vezes, Filotéia, e as mais vezes que poderes, com consentimento do teu pai espiritual; e acredita-me, de inverno as lebres tornam-se brancas em nossas montanhas, à força de só verem e comerem neve, e à força de adorar e comer a beleza, a bondade e a pureza mesma neste divino sacramento, tornar-te-ás toda bela, toda boa, e toda pura”

Poder-se-á dizer nada mais consolador para as almas ainda imperfeitas, mas que têm um grande desejo da sua perfeição? Poder-se-á dizer nada mais estimulante para as excitar a comungar muitas vezes com uma humilde confiança? Mas, afinal, neste ponto devem sempre seguir o conselho de um sábio diretor, como este grande santo expressamente o diz e como o ordenou o Papa Inocêncio XI.

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(Pinnard, Abade Dom. As Chamas do Amor de Jesus ou provas do ardente amor que Jesus nos tem testemunhado na obra da nossa redenção. Traduzido pelo Rev. Padre Silva, 1923, p. 353-365)

1 Comment

  • Davine H Leite
    Posted 23 novembro, 2018 at 2:42

    B dia, estive a procurar algum site que divulgasse livros de leituras católicas. Eu muito aprendi em minha caminhada de fé, com os livros das biografias dos santos.
    Não consegui saber seu nome, ou onde você esta, mas gostaria de me comunicar contigo. Estou fazendo um trabalho de amor ao Padre Afonso de Santa Cruz, S.J
    ele esta com 93 anos e tem muitos livros publicados, quero ajuda-lo na divulgação, poderia, por favor, entrar em contato comigo.

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