À fé da juventude moderna poderá oferecer grande perigo ao grito de guerra de espíritos superficiais, que em toda a parte se ouve:
“O homem inteligente de hoje já não pode ser cristão e crente. As ciências modernas fizeram progressos fantásticos, e chegaram a resultados, que já não se podem coadunar com os preceitos da fé; e, pois, pode ser cristão somente aquele que ficou atrás do seu tempo.”
Tal é a expressão, enunciada com maior ou menor franqueza, tanto em livros e conferências, como nas conversas levianas e superficiais dos salões ou na imprensa diária.
Que se poderá responder? É possível que um jovem moderno, ilustrado, instruído, ainda seja devotado filho da Igreja católica? Ciência moderna e fé católica? Não se excluem elas reciprocamente?
Todos sabem que o homem, em nossos dias, pode olhar com justo orgulho para o progresso gigantesco da técnica no século passado e no atual. Como não abriria os olhos em profunda estupefação um falecido de há cem anos, se ressuscitasse agora, à vista do altivo transatlântico a sulcar as ondas, dos rapidíssimos trens, do veloz automóvel, os homens a voar pelos ares, o rádio e as centenas de outras maravilhas da técnica? Essas invenções atestam o portentoso e admirável triunfo do espírito humano. Ao mesmo tempo, todavia, que o reconheço orgulhoso e dele me aproveito, faço uma pergunta: Seria esse maravilhoso progresso, a multidão de invenções, toda a progressista ciência, inimiga da religião e da fé?
Encontramos esta resposta em José Eotvos:
“É-me totalmente incompreensível que a fé dum homem possa ser abalada pelo progresso das ciências naturais. Ou será este nosso universo menos imenso porque reconhecemos mundos inteiros nas nebulosas existentes entre as estrelas? Ou acaso ter-se-á nossa vida tornado menos assombrosa, desde que o microscópio nos mostrou um número infinito de seres vivos e sensíveis, além dos conhecidos até o presente? Ou ainda… será mais compreensível a encantadora ordem do universo e as muito mais maravilhosas contradições do coração humano, depois que chegamos a conhecer um pouco mais de perto as leis da natureza, e se nos tornou mais clara a relação entre os seres minúsculos e os grandes deste mundo? Encontramos sempre mais razões que nos causam assombro, e nada que nos explique a origem dessas coisas.” (Eotvos, Pensamentos)
Perigo sério para a mocidade representa, sem dúvida alguma, não a própria ciência, mas o abuso que se fez deste nome sagrado.
Aos jovens falta ainda aquela profunda reserva, a ampla ilustração, que lhes faculte uma crítica dos argumentos apresentados numa leitura. é, pois, natural que aceitem como ouro castiço as hipóteses anticristãs que não se coadunam com a religião, mas nem tão pouco… com a ciência séria. Não se pode esperar de um rapaz dos seus 16 a 18 anos, que perceba a carência de fundamento das conclusões dolosas de um livro ou o partidarismo das asserções. Exatamente nessa idade não se deveria esquecer a palavra do Apóstolo:
“Visto que aceitastes a Cristo Jesus, vivei nele, construí nele; sede firmes na fé como o aprendestes, e por ela daí graças frequentemente. Cuidai que ninguém vos seduza com filosofias e seduções ditadas pelo mundo e pela doutrina humana, e afastadas da doutrina e Cristo” (Col. 2, 6-8).
Se o considerarmos, convenientemente, não aceitaremos como “cientificamente demonstrado” tudo o que anunciam as montras dos antiquários, e não trocaremos a fé cristã que resistiu inabalável, 2OOO anos, a múltiplos ataques, por um sistema devido a espíritos loquazes, cuja duração não ultrapassa a vida de uma mosca efêmera.
Dizem que a ciência imparcial provou de fato muita coisa.
Primeiro: Até o presente, a ciência nada afirmou que estivesse em contradição com nossa fé.
— Nenhuma afirmativa? — E as muitas obras de ciências naturais que negam a existência de Deus, que fazem descender o homem do macaco, que contestam a existência da alma?
— Vamos devagar. Tudo isso prova apenas o fato extremamente importante de que a ciência não é, infelizmente, imparcial.
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(TOTH, Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 135-138)