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Perguntas e respostas sobre o Natal

Dom Henrique Soares da Costa
Dom Henrique Soares da Costa

Que significa celebrar o Natal?

Significa celebrar NA LITURGIA, memorial do culto cristão, instituído por Jesus nosso Senhor, o mistério e a graça da Sua piedosa Vinda, da Sua graciosa Manifestação na nossa natureza humana e no nosso mundo, cumprindo as promessas feitas por Deus a Israel.

Que é esse MEMORIAL instituído pelo Senhor?

No Israel da Antiga Aliança, toda a obra salvífica do Senhor era celebrada anualmente nas festas instituídas pelo Senhor Deus: a Páscoa, Pentecostes, as Tendas, o Kippur, a Dedicação do Templo…
Tudo isto preparava para o Cristo nosso Senhor.

Ele veio, realizou a salvação e na noite em que foi entregue instituiu o Sacramento do Seu Corpo e do Seu Sangue, Memorial sagrado de tudo quanto Ele fez por nós, cumprindo tudo quanto Deus havia prometido.
Assim, no Sacramento da Ceia, no santo Sacrifício Eucarístico, toda a salvação torna-se presente: a criação do mundo, a história santa do antigo Israel, os atos e gestos salvíficos do Senhor, as graças dadas aos cristãos, a vida da Igreja e até mesmo a Sua Vinda no final dos tempos.

NA LTURGIA, pela força potente do Santo Espírito do Cristo imolado e ressuscitado, tudo, tudo absolutamente, em Cristo Senhor, torna-se contemporaneamente, simultaneamente presente, de modo que, para um cristão, celebrar os santos mistérios litúrgicos é entrar realmente e verdadeiramente em contato com o Mistério da nossa salvação e com cada um dos mistérios especificamente.

NA LITURGIA, toda a obra da salvação é-nos dada realmente: “Fazei isto em memória ( = memorial, zikaron, isto é, celebração ritual, eficaz e presentiiacante ) de Mim!”

O Natal é, então, celebração do quê?

É real e verdadeira celebração da Manifestação, da Vinda do Senhor na nossa carne mortal.
Celebrar a Eucaristia no Natal é tornar realmente presente sobre o Altar como oferta ao Pai no Espírito Santo o Cordeiro imolado e ressuscitado no Qual tudo, absolutamente tudo da nossa salvação se encontra presente!
Cristo é tudo, resume tudo, sintetiza tudo, atrai tudo, realiza tudo! Nele, eucarístico, está a criação do mundo,
Nele, toda a história de Israel,
Nele o Natal,
Nele a Páscoa,
Nele a vida da Igreja,
Nele a Glória dos santos,
Nele o Dia Final, na consumação de tudo!

Cada mistério da nossa fé que celebramos na Liturgia coloca-nos realmente, verdadeiramente em contato com a graça que nos veio daquele mistério.
Quem celebra as Eucaristias do tempo sagrado do Natal entra em contato real com a graça da Vinda do Salvador!

Este é um luxo, uma graça, uma elegância de Deus que somente recebe quem participa da Liturgia e só na Liturgia é dado!

O Natal é aniversário de Jesus?

De modo algum!
Jamais a Igreja pensou numa coisa dessas!

Na Liturgia não se diz: Jesus nasceu há 2000 anos! Diz-se: “Hoje nasceu para vós um Salvador: Cristo, o Senhor!”

A Liturgia, na potência do Espírito, coloca-nos no HOJE de Deus, coloca-nos em contato direto com a graça salvífica do acontecimento que, ocorrido uma vez por todas no passado, torna-se eternamente presente na Glória do Céu, em Cristo, único e eterno sacerdote, que na Tenda eterna do Céu ministra a Liturgia eterna que torna-se presente sobre o Altar da Igreja!

No Natal nunca, de modo algum, por motivo algum, deve-se cantar “Parabéns” para Jesus! Seria algo totalmente contrário ao significado do Natal cristão!

Cristo nasceu no dia 25 de dezembro?

Não, com certeza. E os cristãos sempre souberam disso!
Desde o início, esta festa é celebrada em datas diferentes pela Igreja no Oriente e no Ocidente: no Oriente, a 6 de janeiro; no Ocidente, a 25 de dezembro.

Eis os motivos do 25 de dezembro:

Segundo antigas tradições, o mundo teria sido criado no dia 25 de março. Neste dia também se celebrava a Festa da Anunciação de Gabriel à Virgem Maria, início da recriação de todas as coisas em Cristo: Ele, vindo ao nosso mundo no seio da Virgem, recriou o mundo envelhecido e caduco pelo pecado. Assim, o 25 de dezembro ocorre nove meses após a celebração da concepção.

Mas, há outro motivo. Depois de o cristianismo já ter se espalhado no Império Romano e os imperadores terem aceitado a fé cristã, surgiu um que apostatou da fé e quis restaurar o paganismo em Roma: Juliano, o Apóstata! Ele fez o possível para restaurar a festa do deus Sol Vencedor em Roma, que ocorria no dia 25 de dezembro, solstício do inverno. Exatamente a época em que o sol começa a ficar mais forte e fazer os dias começarem a ficar mais longo, vencendo o frio e as trevas do inverno. Esta seria a vitória do deus sol sobre as trevas!

Os cristão reagiram fortemente, celebrando aí não o deus sol, mas o verdadeiro Sol da justiça, Luz do Alto que nos veio visitar, vencendo as trevas da idolatria, do pecado e da morte! O verdadeiro Sol Invicto é o Cristo nosso Deus, que vindo à nossa terra, tudo iluminou com a Sua piedosa Manifestação.

Assim, a data do Natal estabeleceu-se de vez no século IV para toda a Igreja do Oriente e do Ocidente. No dia 6 de janeiro, a Igreja passou a celebrar a Epifania do Senhor. Mas, isto é outra história…

Seria realmente errado ver o Natal como aniversário de Jesus?

Totalmente.

  1. Comemora-se o aniversário contando os dias de acontecimentos ou pessoas neste tempo. Jesus é o Senhor, entrou na Eternidade, é Senhor do tempo; não mais está preso ao nosso tempo, mas preenche todos os tempos: “A Ele o tempo e a eternidade˜!” – diz a Igreja na Vigília Pascal.
  2. Comemora-se o aniversário de alguém para festejar sua entrada nesta vida. Jesus entrou nesta vida, neste mundo, por humilhação, por esvaziamento de Si mesmo: sendo rico fez-se pobre, sendo Deus fez-Se homem, sendo Senhor fez-Se servo para nos salvar. Na verdade o nascimento de Jesus segundo a carne é um gesto de humildade e humilhação por amor!
  3. O nascimento definitivo para um cristão é o nascimento para a Glória: dos santos, celebra-se não o dia do nascimento para este mundo, mas o Die Natalis para o Céu, o dia da morte para este mundo.
  4. E o mais importante: NENHUMA celebração da Liturgia é de aniversário; nunca é uma recordação do passado que ficou lá trás, mas é um torna-se realmente presente de um fato ou evento salvífico que se torna atual e atuante na vida dos que celebram os santos mistérios na Liturgia. É uma pena que a deficiência de catequese tenha feito os cristãos perderem isto, que no início da Igreja era claro para todos os filhos da Igreja!

O que é essencial para um cristão celebrar o Natal?

O que é essencial para qualquer festa cristã: participar da santa Liturgia eucarística.
É na Eucaristia que todo o mistério da nossa fé, o mistério da nossa salvação, da criação à Parusia do Senhor, faz-se presente: “Eis o Mistério da fé!” Isto é: ali, no Cordeiro imolado e ressuscitado, tudo faz-se contemporâneo na potência do Espírito!

Na Eucaristia tudo é celebrado na vida cristã e na vida do cristão! Sem a participação na Eucaristia é impossível ser cristão plenamente!

A Liturgia para o Natal fala das “festas que se aproximam”. Do que se trata?

O Natal litúrgico (e este é o que importa) não é um dia, mas um tempo: o tempo no qual a Igreja celebra a Manifestação, a Vinda, o Aparecimento do Salvador na nossa carne mortal.

Este tempo é celebrado com cinco festas:

  1. A Natividade
  2. A Sagrada Família
  3. Santa Maria Mãe de Deus
  4. A Epifania
  5. O Batismo do Senhor

Todas estas festas, cada uma com um aspecto próprio, celebram um só Mistério: o Verbo Eterno, Filho Eterno do Eterno Pai, fez-Se verdadeiramente homem de Maria a Virgem para que, assumindo o humano salvasse a humanidade e assumindo toda a criação, salvação todo o universo!

Há ainda mais uma festa que não pertence ao Tempo do Natal, mas está ligada ao ciclo do Natal: A Apresentação do Senhor, no dia 2 de fevereiro. É uma festa importantíssima do ponto de vista teológico! Infelizmente, a nossa catequese litúrgica é muito fraca e essa festa fica na penumbra.

Qual é a Missa principal do Natal?

A Igreja celebra o Dia do Natal com quatro missas, isto é, quatro formulários diferentes de missas: orações próprias e leituras próprias para cada uma, todas preciosas, todas belíssimas:

      1. A Missa da Vigília, celebrada na tarde do dia 24.
      2. A Missa do Galo, celebrada na Noite Santa. Chama-se do galo porque a antiga rubrica prescrevia que deveria iniciar-se ao cantar do galo.
      3. A Missa da Aurora, celebrada sempre de madrugada, logo ao sol nascer.
      4. A Missa do Dia, celebrada já com o sol alto. É celebrada a qualquer hora do dia 25.

Dessas, a menos importante do ponto de vista litúrgico, é a da vigília. As mais importantes são a Missa da Noite e a Missa do Dia. Quem participa de qualquer uma delas, celebra o Natal. Contudo a Missa da Vigília não dispensa de participar de uma das outras três.

(Texto extraído do Facebook de Dom Henrique Soares.)