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Do Ecce Homo

Capítulo X

1. Pilatos, vendo o Redentor reduzido a um estado tão digno de toda a compaixão, pensou que a sua só vista comoveria os judeus e por isso, conduziu-o a uma varanda, levantou o farrapo de púrpura e, mostrando ao povo o corpo de Jesus coberto de chagas e dilacerado, disse-lhe: “Eis aqui o homem” (Jo 19,4). Ecce homo, como se quisesse dizer: Eis o homem que acusastes perante mim como se pretendesse fazer-se rei; eu, para vos agradar, condenei-o aos flagelos, ainda que inocente.

“Eis o homem, não ilustre pelo império, mas repleto de opróbrio” (St. Ag. Trac. 11 in Jo 6).

Ei-lo reduzido a tal estado que parece um homem esfolado ao qual restam poucos instantes de vida. Se, apesar de tudo, pretendeis que eu o condene à morte, afirmo-vos que não posso fazê-lo, porque não encontro motivo para o condenar. Mas os judeus, à vista de Jesus assim maltratado, mais se enfurecem:

“Ao verem-no, os pontífices e ministros clamavam, dizendo: ‘Crucifica-o, crucifica-o’. Vendo Pilatos que não se acalmavam, lavou as mãos à vista do povo, dizendo: ‘Sou inocente do sangue deste justo: vós lá vos avinde’. E eles responderam: ‘Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27,23-26).

Ó meu amado Salvador, vós sois o maior de todos os reis, mas agora eu vos vejo como o homem mais desprezado, dentre todos: se esse povo ingrato não vos conhece, eu vos conheço e vos adoro por meu verdadeiro rei e Senhor. Agradeço-vos, ó meu Redentor, por tantos ultrajes por mim recebidos e suplico-vos me deis amor aos desprezos e aos sofrimentos, já que vós os abraçastes com tanto afeto. Envergonho-me de haver no passado amado tanto as honras e os prazeres, chegando por sua causa a renunciar tantas vezes à vossa graça e ao vosso amor; arrependo-me disso mais que de todas as coisas. Abraço, Senhor, todas as dores e ignomínias que vossas mãos me enviarem; dai-me aquela resignação de que necessito. Amo-vos, meu Jesus, meu amor, meu tudo.

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Da coroação de espinhos

Capítulo IX

1. Continuando os soldados a flagelar cruelmente o inocente Cordeiro, conta-se que se adiantou um dos presentes e corajosamente disse-lhes: vós não tendes ordem de matar este homem, como o pretendeis. E assim dizendo cortou as cordas com que estava ligado o Senhor. Isto foi revelado a Santa Brígida (Lib. 1 Rev., c. 10). Mas, apenas terminada a flagelação, aqueles bárbaros, instigados e corrompidos com o dinheiro dos judeus, como assegura São João Crisóstomo, fazem o Redentor sofrer um novo gênero de tormentos:
“Então os soldados do governador conduziram Jesus ao pretório e reuniram ao redor dele toda a corte; despiram-no e revestiram com uma clâmide vermelha e, tecendo uma coroa de espinhos, a puseram sobre sua cabeça e na sua mão direita uma cana" (Mt 27,27-29).
Os soldados, pois, o despiram novamente e, tratando-o como rei de comédia, lhe impuseram um manto carmesim, que outra coisa não era senão um pedaço de um velho manto de soldado romano, chamado clâmide; deram-lhe na mão uma cana em sinal de cetro e um feixe de espinhos na cabeça em sinal de coroa. Mas, ó meu Jesus, não sois vós o verdadeiro rei do universo? e como vos tornastes rei de dores e de opróbrios? Eis até onde vos levou o amor. Ó meu amabilíssimo Senhor, quando virá o dia em que eu me una tão intimamente a vós que nenhuma coisa possa separar¬me de vós e não possa mais deixar de vos amar? Ó Senhor, enquanto vivo nesta terra, estou sempre em perigo de voltar-vos as costas e negar-vos o meu amor, como infelizmente o fiz no passado. Ah, meu Jesus, se virdes que eu, continuando a viver, hei de chegar a essa suma desgraça, fazei-me morrer agora que espero estar em vossa graça. Rogo-vos por vossa paixão não permitais que me suceda tão grande desgraça. Eu a mereci pelos meus pecados, mas vós não o merecestes. Escolhei para mim qualquer outro castigo, mas não esse. Ó Jesus, não quero ver-me outra vez separado de vós.

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Da flagelação de Jesus Cristo

Capítulo VIII

1. Entremos no pretório de Pilatos, convertido em horrendo teatro de ignomínias e dores de Jesus, e consideremos quanto foi injusto, ignominioso e cruel o suplício que aí sofreu o Salvador do mundo. Vendo Pilatos que os judeus continuavam a bradar contra Jesus, injustissimamente o condenou a ser flagelado:

“Então Pilatos tomou a Jesus e mandou açoitá-lo” (Jo 19,1).

Pensou esse iníquo juiz que com esse bárbaro tratamento despertaria a compaixão dos inimigos e o livraria da morte:

“Eu o mandarei punir e depois o soltarei” (Lc 23,22).

Era a flagelação castigo reservado só aos escravos. Nosso amoroso Redentor, diz São Bernardo, não só quis tomar a forma de escravo, sujeitando-se à vontade de outrem, mas a de um mau escravo, para ser castigado com açoites e assim pagar a pena merecida pelo homem feito escravo do pecado (Serm. de pass. Dm.). Ó Filho de Deus, ó grande amante de minha alma, como pudestes vós, Senhor de infinita majestade, amar tanto um objeto tão vil e ingrato como eu sou, submetendo-vos a tantas para livrar-me do castigo merecido? Um Deus flagelado! Causa mais espanto um Deus sofrer o mais insignificante golpe do que os homens todos e todos os anjos serem destruídos e aniquilados. Ah, meu Jesus, perdoai-me as ofensas que vos fiz e castigai-me então como vos aprouver. Uma só coisa desejo: é amar-vos e ser amado por vós e declaro-me então pronto a sofrer todas as penas que quiserdes.

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Do amor de Jesus em sofrer tantos desprezos em sua paixão

Capítulo VII

1. Diz Belarmino que os espíritos nobres sentem mais com os desprezos que com as dores do corpo, pois se estas afligem a carne, aqueles atormentam a alma, a qual, sendo mais nobre que o corpo, tanto mais sente as ofensas que lhe são feitas. Mas quem poderia imaginar que a personagem mais nobre do céu e da terra, o Filho de Deus, vindo a este mundo por amor dos homens, tivesse de suportar deles tantos vitupérios e injúrias, como se fosse o último e o mais vil dos homens.

“Nós o vimos desprezado e como o último dos homens” (Is 53,2).

Assevera Santo Anselmo que Jesus Cristo quis sofrer tantos e tão grandes desprezos que não podia ser mais humilhado do que o foi na sua paixão (In Fl 2). Ó Senhor do mundo, sois o maior de todos os reis e quisestes ser desprezado mais que todos os homens para ensinar-me a amar os desprezos. Já, pois, que sacrificastes a vossa honra por meu amor, quero sofrer por vosso amor todas as afrontas que me forem feitas.

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Do suor de sangue e agonia de Jesus no horto

Capítulo VI

1. Contemplai como o nosso amorosíssimo Salvador, chegando ao jardim de Getsêmani, quis dar começo à sua dolorosa paixão, permitindo que os sentimentos de temor, de tédio e de tristeza viessem afligi-lo com todas as suas conseqüência. Começou a ter pavor e angustiar-se e entristecer-se (Mt 26,37; Mc 14,33). Começou primeiramente a sentir um grande temor da morte e das penas que teria em breve de sofrer: Começou a atemorizar-se. Mas como é isso possível? Não foi então ele que se ofereceu espontaneamente a sofrer tais tormentos? Foi sacrificado porque ele mesmo o quis. Não foi ele que tanto desejara o momento de sua paixão, tendo dito pouco antes: Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco? E agora como é que está tão cheio de temor de sua morte, que chega a rogar a seu Pai que dela o livre: Meu Pai, se for possível, afastai de mim este cálice? (Mt 26,39). São Beda, o Venerável, responde: Pede se afaste o cálice para mostrar que é verdadeiramente homem (In Mc 14). Nosso amantíssimo Senhor muito desejava morrer por nós, para com sua morte patentear-nos o amor que nos tinha; mas, para que os homens não pensassem que ele tinha tomado um corpo fantástico (como o afirmaram alguns hereges) ou então por virtude de sua divindade ele tivesse morrido sem experimentar nenhuma dor, fez essa súplica a seu Pai, não para ser atendido, mas para nos dar a entender que morria como homem e morria atormentado com um grande temor da morte e das dores que a deviam acompanhar. Ó Jesus amabilíssimo, quisestes tomar sobre vós a nossa timidez para nos conceder a vossa coragem no sofrer os trabalhos desta vida. Sede bendito para sempre por tanta piedade e amor. Que todos os corações vos amem quanto vós o desejais e mereceis.

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Do amor que Jesus nos mostrou, deixando-se a si mesmo em comida antes de entregar-se à morte

Capítulo V

1. Sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo ao Pai, tendo amado os seus, amou-os até ao fim (Jo 13,1). Nosso amantíssimo Redentor, na última noite de sua vida, sabendo que já era chegado o tempo suspirado de morrer por amor dos homens, não teve ânimo de nos deixar sós neste vale de lágrimas. e para não se separar de nós nem mesmo depois de sua morte, quis deixar-se-nos todo em alimento no Sacramento do altar. Com isto deu-nos a entender que, depois desse dom infinito, não tinha mais o que dar-nos para nos testemunhar o seu amor. Cornélio e Lápide, com São Crisóstomo e Teofilacto, explica segundo o texto grego a palavra até ao fim e escreve: É como se dissesse: amou- os com um amor supremo e sem limites. Jesus neste sacramento fez o último esforço de amor para o homem, como diz o Abade Guerrico (Serm. de Ascens.). Essa idéia foi ainda mais bem expressa pelo sagrado Concílio de Trento, que, falando do sacramento do altar, disse que nele nosso Salvador derramou, por assim dizer, todas as riquezas de seu amor para conosco. (Sess. 13, c.2). Tinha, pois, razão Santo Tomás d’Aquino de chamar este sacramento de sacramento de amor e o maior penhor de amor que um Deus nos podia dar (Op. 18, c. 25). E s. Bernardo o chamava amor dos amores. Santa Maria Madalena de Pazzi dizia que uma alma depois de comungar pode exclamar: “Tudo está consumado”, já que o meu Deus, tendo-se dado todo a mim nesta comunhão, nada mais tem para comunicar-me. Uma vez perguntou esta santa a uma de suas noviças em que havia pensado depois da comunhão? Respondeu-lhe a noviça: no amor de Jesus. Sim, replicou então a santa, quando se pensa no amor, não se pode ir mais avante, antes é preciso deter-se nele. O Salvador do mundo, que pretendeis dos homens, deixando-vos levar a dar-lhes como alimento o vosso próprio ser? E que mais vos resta dar-nos, depois deste sacramento para nos obrigar a vos amar? Ah! meu Deus amantíssimo, iluminai-me para que conheça qual foi o excesso de bondade que vos reduziu a vos fazerdes minha comida na santa comunhão. Se, pois, vos destes inteiramente a mim, é justo que eu também me dê todo a vós. Sim, Jesus, eu me dou todo a vós, vos amo acima de todos os bens e desejo receber-vos para vos amar ainda mais. Vinde, sim, vinde muitas vezes à minha alma e fazei-a toda vossa. Ah! se eu pudesse dizer que em verdade como São Filipe Néri ao receber a comunhão em viático:

“Eis aí o meu amor, eis aí o meu amor; dai-me o meu amor.”

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Do grande desejo que teve Jesus de padecer e morrer por nosso amor

Capítulo IV

1. Muito terna, amorosa e afetuosa foi aquele declaração que fez nosso Redentor quando veio à terra, afirmando que ele tinha vindo para acender nas almas o fogo do amor divino e que não tinha outro desejo senão ver acesa nos corações de todos os homens essa santa chama.

“Eu vim trazer fogo à terra e que desejo senão que ele se acenda?” (Lc 12,49).

E ajunta imediatamente que desejava ser batizado no batismo de seu próprio sangue, não para lavar seus próprios pecados (pois era impecável), mas os nossos, pelos quais ele vinha satisfazer por seus tormentos. A paixão de Cristo chama-se batismo, porque fomos purificados por seu sangue, diz São Boaventura. Em seguida nosso amantíssimo Jesus, para nos fazer compreender o ardor desse seu desejo de morrer por nós, acrescenta, com grande expressão de amor, que ele sentia uma imensa aflição por ter de diferir a execução de sua paixão, tão grande era o seu desejo de padecer por nosso amor. Eis suas amorosas palavras:

“Tenho de ser batizado em um batismo e quão grande é minha angústia enquanto não o vejo cumprido” (Lc 12,50).

2. Ó Deus, abrasado em amor pelos homens, que podíeis mais dizer e fazer para obrigar-me a vos amar? E que bem vos podia trazer meu amor, que, para obtê-lo, quisestes morrer e desejastes tão ardentemente a morte? Se um meu escravo tivesse apenas desejado morrer por mim, seguramente teria conquistado o meu amor, e poderei viver sem amar com todo o meu coração a vós, meu Rei e meu Deus, que por mim morrestes e com tão grande desejo de obter o meu amor!

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Jesus por nosso amor quis desde o princípio de sua vida sofrer as penas de sua Paixão

Capítulo III

1. Para fazer-se amar do homem foi que o Verbo divino veio ao mundo tomar a natureza humana. Veio com tão grande desejo de sofrer por nosso amor, que não quis perder um só momento em dar começo a seus tormentos, ao menos pela apreensão. Apenas concebido no ventre de Maria, já se representou em espírito todos os tormentos de sua Paixão e para nos obter o perdão e a graça divina se ofereceu ao Padre Eterno para satisfazer por nós, sujeitando-se a todas as penas e castigos devidos a nossos pecados. Deste esse instante começou a padecer tudo o que depois veio a sofrer na sua dolorosa morte. Ah! meu amorosíssimo Redentor, e eu até agora que fiz ou que padeci por vós? Se durante mil anos suportasse por vós os tormentos sofridos pelos mártires, seria ainda pouco em comparação daquele só primeiro momento em que vos oferecestes e começastes a padecer por mim. 2. Os mártires sofreram de fato grandes dores e ignomínias, mas unicamente na ocasião de seu martírio. Jesus padeceu sempre, desde os tormentos de sua Paixão, já que, desde o primeiro momento, se pôs diante dos olhos toda a cena horripilante dos tormentos e das injúrias que devia receber dos homens. Por isso ele, por boca do profeta, disse: Minha dor está sempre à minha vista (Sl 37,18). Ah! meu Jesus, vós por meu amor vos mostrastes tão desejoso de padecer, que quisestes sofrer antes do tempo e eu sou tão ávido de prazeres da terra. Quantos desgostos vos dei para satisfazer o meu corpo! Senhor, pelos méritos de vossos padecimentos, tirai-me o afeto aos prazeres terrenos. Eu proponho por vosso amor abster-me de tal satisfação (nomeai-a).

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Jesus quis padecer tanto por nós, para nos fazer compreender o grande amor que nos consagra

Capítulo II

1. Duas coisas fazem conhecer um amigo, escreve Cícero: fazer- lhe bem e padecer por ele, e esta é a maior prova de um verdadeiro amor. Deus já tinha demonstrado seu amor ao homem, dispensando- lhe inúmeros benefícios, mas, segundo São Pedro Crisólogo, beneficiar unicamente ao homem parecer-lhe-ia muito pouco a seu amor, se não tivesse encontrado o modo de demonstrar-lhe quanto o amava, padecendo e morrendo por ele, como o fez de fato, tomando a natureza humana (Serm. 69). E que maneira mais apta poderia Deus encontrar para manifestar-nos o amor imenso que nos consagra, do que fazer-se homem e padecer por nós? Não poderia se manifestar de outra maneira o amor de Deus para conosco, escreve a esse respeito São Gregório Nazianzeno. Meu amado Jesus, muito vos tendes esforçado por demonstrar-me vosso afeto e patentear-me vossa bondade. Grande, pois, seria a ofensa a vós feita, se vos amasse pouco ou amasse outra coisa além de vós. 2. Cornélio a Lápide diz que Deus nos deu o maior sinal de amor, deixando-se ver coberto de chagas, pregado à cruz e morto por nós. E antes dele, disse São Bernardo que Jesus em sua Paixão nos fez conhecer que seu amor para conosco não podia ser maior do que foi (De pass. c. 14). Escreve o Apóstolo que, quando Jesus Cristo quis morrer por nossa salvação, demonstrou até onde chegava o amor de um Deus para conosco, miseráveis pecadores (Tito 3,4). Ah! meu amante Salvador, compreendo: todas as vossas chagas me falam do amor que me tendes. E quem poderá deixar de vos amar, depois de tantos sinais de vossa caridade? Santa Teresa tinha razão de dizer, ó amabilíssimo Jesus, que quem não vos ama demonstra que vos desconhece.

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Do amor de Jesus Cristo querendo satisfazer a justiça divina por nossos pecados

Capítulo I

1. A história narra-nos um caso de um amor tão prodigioso que será a admiração de todos os séculos. Havia um rei, senhor de muitos reinos, que tinha um único filho, tão belo, tão santo, tão amável, que, sendo o encanto do seu pai, este o amava como a si mesmo. Ora, este príncipe se afeiçoou grandemente a um escravo e tendo este cometido um delito, pelo qual fora condenado à morte, o príncipe se ofereceu a morrer por ele. O pai, amante apaixonado da justiça, resolveu condenar seu amado filho à morte, para livrar o escravo do castigo merecido. E assim aconteceu: o filho morreu justiçado e o escravo ficou livre. 2. Este caso, que uma só vez se deu e nunca mais se repetirá no mundo, está consignado nos santos evangelhos, onde se lê que o Filho de Deus, o Senhor do universo, vendo o homem condenado à morte eterna por causa do pecado, quis tomar a natureza humana e pagar com sua morte a pena devida pelo homem. “Foi oferecido por¬que ele mesmo o quis” (Is 53,7). E o Eterno Pai o fez morrer na cruz para nos salvar a nós, míseros pecadores. “Não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por nós todos” (Rm 8,32). Que vos parece, alma cristã, este amor do Filho e do Pai?

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