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A ovelha perdida e o Pastor divino

Jesus Divino Pastor

3º Domingo depois de Pentecostes

Congratulamini mibi, quia inveni ovem meam, quae perierat – “Congratulai-vos comigo, porque achei a ovelha que se tinha perdido” (Lc 15, 6)

Sumário. No Evangelho de hoje, Jesus Cristo representa-nos a sua misericórdia para com os pecadores. Com efeito, nós éramos como que ovelhas desgarradas: cada um ia errando por seu caminho. O divino Pastor, porém, solicito por nós, desceu do céu à terra, para nos reconduzir ao aprisco. Oh! que festa houve então no paraíso! Mas a festa se torna em luto, cada vez que pecamos ou caímos novamente do fervor na tibieza. Como, pois, teremos a triste coragem de fazê-lo?

I. Refere-se no Evangelho de hoje que os Fariseus e os Escribas murmuravam de Jesus Cristo, porque se chegava aos publicanos e pecadores. Então o Senhor lhes propôs esta parábola: Qual de vós possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da que se perdeu até a encontrar? Achando-a põe-na aos ombros muito alegre e chegando à casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se tinha perdido: Inveni ovem meam quae perierat.

Sob uma figura tão bela quis Jesus Cristo representar a sua própria pessoa e a sua misericórdia para com os pecadores. Todos nós éramos como que ovelhas desgarradas, cada um ia errando pelo seu caminho (1). Então Jesus, solicito por nossa salvação, desceu do céu à terra para nos reconduzir a seu aprisco e pôr-nos de novo no caminho que conduz à felicidade eterna. Pelo que São Pedro escreve: Eratis sicut oves errantes (2). – Vós éreis como ovelhas desgarradas; mas agora estais reconduzidos ao Pastor e Bispo de vossas almas.

Ah, meu divino Pastor Jesus! Eu também fui uma daquelas ovelhas perdidas, mas Vós me viestes buscar até me achar, como tenho a confiança. Vós me achastes e eu Vos achei. – Mas, ó Senhor, porque é que convidais vossos amigos, quer dizer, os anjos e os santos, a alegrarem-se convosco? Parece que antes lhes devíeis dizer que se alegrem com a ovelha, por Vos haver achado, seu Deus e seu tudo. É, pois, tão grande o amor que tendes à minha alma, que Vos sentis feliz por a terdes achado! E depois disso, como poderei tornar a Vos deixar, ó meu amado Senhor?

II. Dico vobis, quod ita gaudium erit in coelo. Considera como Jesus conclui a sua parábola: “Assim também vos digo, haverá mais alegria no céu por um só pecador que faz penitência do que por noventa e nove justos que não precisam de penitência”. São Gregório nos explica a razão disso, dizendo: “É mais agradável a Deus uma vida fervorosa depois do pecado, do que a vida inocente mas arrefecida pela segurança”. A alegria, porém, do paraíso converte-se em luto, quando uma ovelha, procurada com tamanha solicitude e reconduzida com tanto amor ao aprisco do divino Pastor, de novo se desvia, pela recaída no pecado mortal, ou no hábito das faltas veniais deliberadas. Diz São Francisco de Sales, que os anjos, se pudessem chorar, chorariam de compaixão ao verem tão grande miséria. E São Bernardo acrescenta: Pecccatum, quantum in se est, Deum perimit – “O pecado, pela sua natureza, causa a morte de Deus”. Como se dissesse: Se Jesus Cristo pudesse morrer, um só pecado mortal bastaria para fazê-lo morrer de pura tristeza.

Ah, meu dulcíssimo Redentor! É assim que eu também Vos tenho tratado cada vez que desprezei a vossa graça. – Oh não! Ter eu antes morrido mil vezes do que ofender-Vos, ó bondade infinita! Mas já que me viestes procurar e me achastes, uni-me a Vós, prendei-me com os felizes laços do vosso santo amor, afim de que Vos ame sempre e não mais me afaste de Vós. Se desejais vingar-Vos das amarguras que Vos causei, vingai-Vos, eu vo-lo peço, não já expulsando-me da vossa presença, mas concedendo-me uma dor tão viva, que me faça chorar por toda a minha vida.

Ó meu Jesus, amo-Vos de todo o coração e sabei que não quero mais viver sem o vosso amor; socorrei-me com o vosso auxílio. – “Ó Deus, protetor dos que em Vós esperam, e sem o qual nada há firme nem santo, multiplicai sobre nós a vossa misericórdia, para que, por Vós dirigidos e guiados, passemos de tal modo pelos bens terrenos, que não percamos os eternos. Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo” (3). † Doce Coração de Maria, sede minha salvação.

Referências:

(1) Is 53, 6
(2) 1 Pd 2, 25
(3) Or. Dom.

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 178-180)

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