Origem
Outubro é verdadeiramente o nosso mês das flores. O mês das rosas. A primavera.
Maio só o podemos chamar o mês das flores da nossa piedade e fervorosa devoção à Maria. É o nosso outono.
Só temos flores nos jardins porque vivemos numa primavera eterna.
Já não é assim outubro.
Vicejam rosas e lírios, as flores simbólicas de Nossa Senhora. É o nosso mês de Maria — Rosa mística, a Rainha do Santíssimo Rosário.
Ao mês de maio quis a piedade católica juntar mais um mês durante o ano, consagrado à Mãe de Deus. E como o Rosário é a mais bela e a mais alta expressão do culto à Maria, a rainha das devoções marianas, e, em outubro, se celebra a Festa litúrgica de Nossa Senhora do Rosário, ficou pois naturalmente consagrado este belo mês ao Rosário.
Esta prática piedosa não data de muitos anos. É bem nova, relativamente. Não tem um século. Um Dominicano espanhol, missionário nas Filipinas em Ocana, zeloso em propagar o Rosário quis facilitar a prática desta devoção e a ela pensou consagrar todo o mês de outubro.
Compôs um belo mês do Rosário.
Das Filipinas a devoção passou à Espanha onde trinta e três Bispos logo a acolheram e recomendaram para suas Dioceses.
A França em breve também a recebeu e propagou.
S. S. Pio IX enfim consagrou este novo mês de Maria, aprovando-o carinhosamente e concedendo-lhe as mesmas indulgências do mês de maio, em 28 de Julho de 1868.
Entretanto, a bela devoção não era conhecida e praticada além da Espanha, a França e as Filipinas. A Leão Xlll, o Papa do Rosário, se deve a propagação do mês do Rosário em todo o mundo. Este grande Pontífice quis ver o Rosário no seu lugar de honra de primeira devoção e rainha das devoções marianas.
O mês do Rosário pareceu então ao Papa o mais eficaz e poderoso meio de realizar o seu ideal.
Oportunidade do Mês do Rosário
Insistiu Leão XIII com outros pontífices seus antecessores sobre a oportunidade da devoção do Rosário.
E, na Encíclica admirável: Supremi Apostolatus de 1.º de Setembro de 1883 ordena que em todo mundo católico se consagre o mês de outubro ao Rosário de Maria para a salvação do mundo. Depois de lembrar as glórias do Rosário nos elogios de soberanos Pontífices, seus antecessores na cátedra de Pedro, e, de haver provado a necessidade extrema do recurso à Maria nas horas tormentosas da Igreja; comparando os nossos dias aos da época de São Domingos e da heresia Albigense e a do perigo da invasão Maometana conjurada por São Pio V pelo Rosário, Leão XIII escreve:
“Por tudo quanto dissemos, desejamos vivamente que todos os cristãos cuidadosamente pratiquem em público ou em particular, e também no seio das famílias, a piedosa devoção do Rosário. E para que este hábito não se perca queremos que todo o mês de outubro seja consagrado e dedicado à Celeste Rainha do Rosário. Decretamos e ordenamos, portanto, que em todo o mundo católico sejam celebradas com especial devoção as Festas de Nossa Senhora do Rosário com todas as solenidades do culto. Recitem-se piedosamente, pelo menos cinco dezenas do Rosário seguidas das Ladainhas da Virgem todos os dias, de primeiro de outubro até o dia 2 de Novembro. E isto se faça em todas as Igrejas paroquiais, e, se o Bispo julgar útil, em todas as Igrejas e Capelas.
Desejamos também que o povo assista em grande número a estes exercícios de piedade que serão feitos durante a Missa pela manhã, ou à tarde diante do Santíssimo Sacramento solenemente exposto.”
Na Encíclica Quamquam pluries de 15 de Agosto de 1889, Leão XIII manda acrescentar às Ladainhas depois do Terço, a oração de São José.
Eis aí o mês do Rosário como hoje o temos. A sua oportunidade não passou. Ao invés, os tempos são hoje piores e mais terríveis. O mundo tira agora as últimas consequências dos males apontados por Leão XIIl. Pois então, nunca foi mais oportuno o mês do Rosário.
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EXEMPLO
Um Terço que traz felicidade
Pela estrada que ia de Anagni em direção a um castelo de Carpineto, na Itália, seguia um carro de luxo levando um jovem distinto da nobreza Romana e seu preceptor.
Ouvem gemidos e param.
Encontram um pobre pastorzinho a gemer com um dos pés todo ferido e ensanguentado.
O pobre menino chorava e, com o Terço nas mãos implorava a proteção de Nossa Senhora do Rosário.
— Que te aconteceu?
— Um carro me passou por cima deste pé e sofro horrorosamente aqui, atirado à beira da estrada…
O moço fidalgo, muito comovido, desceu do carro, foi a um regato ali próximo, trouxe água no chapéu, banhou as feridas, amarrou-as com um lenço umedecido.
— E onde moras meu pequeno?
— Lá naquele morro…
— Mas não poderás caminhar até lá, vamos levar-te primeiro a Carpineto onde farás o tratamento desse pé ferido, e depois te levaremos à tua casa.
O pequeno foi transportado ao carro com todo cuidado e carinho.
— Joaquim, diz o Mestre, que vai fazer rapaz?
— O que todo cristão deve fazer.
Hei de abandonar aqui este pobrezinho?!…
Ao chegar ao Castelo, a mamãe de Joaquim alegrou-se ao ver o bom coração do filho.
Recebeu nos braços o pastorzinho e lhe deu logo um bom quarto. É chamado o médico da família. Algumas horas mais tarde o carro do Castelo transportava o ferido à sua choupana.
Joaquim foi levá-lo e já lhe havia dado uma boa esmola e alguns presentes.
A pobre camponesa, mãe do pequeno ferido, chorava comovida e profundamente grata.
Ó meu bom moço que hei de fazer para vos provar o meu agradecimento? Nossa Senhora do Rosário vos abençoe e vos pague!
Só tenho o meu Rosário, só este Rosário e eu o rezarei muitas vezes na vossa intenção. É a gratidão desta pobre viúva. Meu Terço vos há de tornar feliz!
O moço fidalgo caridoso era Joaquim Pecci. Mais tarde foi o Padre Joaquim Pecci. Depois o Cardeal Pecci e finalmente Leão XIII, o Papa do Rosário, o Papa que instituiu o mês do Rosário.
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(BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. O Mês do Rosário, Edições do “Mensageiro do Santíssimo Rosário”, 1943, p. 9-14)