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O Precioso Sangue

Meditação para a Sexta-feira da Quarta Semana da Quaresma. O Precioso Sangue

Meditação para a Sexta-feira da Quarta Semana da Quaresma

SUMARIO

Meditaremos sobre a festa do precioso Sangue, que a Igreja romena celebra neste dia, e veremos:

1.° O reconhecimento devido a Jesus Cristo pelo dom que nos fez de Seu sangue;

2.° As consequências práticas que nos resultam deste dom inefável.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De amarmos mais a Jesus Cristo, que tanto nos amou, e de O sentirmos com mais generosidade do que nunca;

2.° De pormos toda a nossa confiança nos méritos deste Sangue, e de nunca sucumbirmos à desanimação e à desconfiança.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São João:

“Jesus Cristo nos lavou dos nossos pecados no Seu sangue” – Lavit nos a peccatis nostris in sanguine suo (Ap 1, 5)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo fazendo-nos o dom de todo o Seu sangue até à última gota; agradeçamos-Lhe este inefável dom, amemo-lO por tanto amor, e supliquemos-Lhe a graça de nos aproveitarmos bem dEle.

PRIMEIRO PONTO

Reconhecimento devido a Jesus Cristo pelo dom que nos fez de Seu Sangue

Que um homem desse a outro toda a sua fortuna, seria muito por certo, principalmente se a supusermos considerável. Que seria, pois, se lhe desse o seu sangue e o derramasse todo por ele? Seria evidentemente o amor levado ao seu apogeu. Ora é o que Jesus Cristo fez com relação a nós; e notemos :

1.° O valor desse Sangue. Excede infinitamente o valor de qualquer outro sangue humano; porque é o sangue de um Deus, em virtude da união hipostática, sangue, por conseguinte, de um preço infinito. Um Deus em pessoa oferece este sangue em cada sacrifício à divina majestade; e a dignidade de um Deus-sacerdote oferecendo o sangue de um Deus-vítima, comunica-lhe um novo valor infinito.

2.° Os admiráveis efeitos deste Sangue. Extingue o fogo da cólera divina excitada com os nossos crimes (1). É a hóstia de propiciação pelos nossos pecados (2). É o preço da nossa redenção (3). É o banho que purifica a nossa consciência (4). É o selo da paz entre o céu e a terra (5). Abre-nos o céu e fecha o inferno debaixo dos nossos pés (6). Longe de clamar vingança, como o sangue de Abel, cada gota deste sangue clama misericórdia (7).

3.º Que este Sangue de tão elevado preço, nos é dado, não com uma mão avara, mas com uma generosidade incomparável. Quando uma só gota teria bastado para apagar os pecados de milhares de mundos, Jesus Cristo dá-o todo; e dá-o assim por aqueles mesmos que Ele prevê que hão de mostrar-se tão pouco dignos disso; dá-o, não uma vez, mas milhares de vezes. Começa a derramá-lo oito dias depois do Seu nascimento na circuncisão; derrama-o no Horto das Oliveiras, onde um suor de sangue inunda a terra; espalhado na flagelação, na coroação de espinhos, na crucifixão, à abertura do Seu sagrado lado; oferece-o todos os dias no Santo Sacrifício sobre toda a superfície do globo terrestre, e no-lo dá a beber pela comunhão; conserva-o em todos os tabernáculos do mundo; e ali este sangue pede incessantemente perdão para nós. Finalmente, aplica-nos os Seus méritos nos Sacramentos, que são como outros tantos; canais, pelos quais este adorável sangue se comunica às almas.

Ora que reconhecimento não devemos nós ao Salvador por esta prodigalidade de Seu sangue para com pobres pecadores como nós?

SEGUNDO PONTO

Consequências práticas que nos resultam destas considerações

1.º É preciso uma grande generosidade no serviço de Jesus Cristo. Quando um Deus nos dá o Seu sangue, somos nós desculpáveis por Lhe recusar o sacrifício, da nossa vontade, dos nossos atos, do nosso gosto? Quando possuímos no nosso peito o sangue de Jesus Cristo, quando somos de tão nobre e tão divino sangue, devemos ter disso o espírito generoso e os sentimentos elevados, a que nada convém melhor do que o sacrifício.

2.° É preciso honrar este sangue assistindo devotamente e com frequência ao Santo Sacrifício, frequentando os Sacramentos, correspondendo às graças interiores e exteriores, que são os frutos deste sangue; oferecendo muitas vezes as nossas ações e o nosso coração por espírito de reconhecimento.

3.° É preciso ter uma ilimitada confiança nos méritos deste divino sangue. Perturbem-se e careçam de confiança aqueles que não conhecem o preço do sangue do Salvador: mas quando se sabe pela fé, que Jesus Cristo deixou à nossa disposição todos os méritos do Seu sangue, com faculdade de no-los apropriarmos pela oração, pelos sacramentos e sacrifício, somos inescusáveis de não ter confiança. Com o crucifixo na mão, nunca o ânimo deve desfalecer. Verdade é, ó Jesus, que eu não posso dizer: Sou inocente do sangue deste Justo, pois que o meu pecado é ter entregue este gangue (8); mas direi em outro espírito que os judeus: Caia o seu sangue sobre mim (9), para lavar as minhas iniquidades, e me preservar do anjo exterminador, como o sangue do cordeiro pascal nas portas das casas do antigo povo.

Sou eu pontual em tirar estes frutos, da, Paixão do Salvador?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Justificati in sanguine ipsius, salvi erimus ab ira peipsum (Rm 5, 9)

(2) Proposuit Deus propitiationem in sanguine ipsius (Rm 3, 25)

(3) Habemus redemptionem… per sanguinem ejus (Ef 1, 7)

(4) Sanguis Christi… emundabit conscienciam nostram (Hb 9, 14)

(5) Pacificans per sanguinem crucis ejus sive quae in terris sive quae in caelis sunt (Col 1, 20)

(6) Per proprium sanguinem introivit semel in sancta (Hb 9, 12)

(7) Sanguinis aspersionem melius loquentem quam Abel (Hb 12, 24)

(8) Peccavi tradens sanguinem justum (Mt 27, 4)

(9) Sanguis ejus super nos (Mt 27, 25)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 175-178)

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