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Novena de Natal do Padre Faus

Orientações para esta Novena

A finalidade desta novena de Natal – baseada no Evangelho e na contemplação das figuras do presépio – é ajudar-nos a preparar com fervor a vinda de Jesus no Natal. Pode nos auxiliar a ter um encontro cheio de fé e de amor com Cristo que vai nascer. Vale a pena pedir-Lhe desde já, pela intercessão de Maria e de José, a graça de que este Natal seja para todos nós um novo nascimento espiritual, uma renovação da nossa vida cristã.

Este livreto apresenta nove “encontros” (que são designados como “primeiro dia”, “segundo dia”…), com um roteiro dialogado de meditação e oração para cada um deles. Os que desejarem fazer uma novena em sentido próprio, de nove dias, bastará que sigam pela ordem a seqüência dos textos. Os “dias” da novena não precisam ser consecutivos: pode haver intervalos entre um e outro.

Os que só puderem fazer uma preparação mais breve do Natal – dedicando-lhe menos dias –, podem escolher livremente os “dias” que acharem preferíveis (três deles, quatro, etc.). Parece recomendável começar todas as preparações usando o texto do “primeiro dia” e terminar com os dos dias “oitavo” (que contém um exame de consciência) e “nono” (que oferece a contemplação de Jesus recém-nascido). No próprio texto há sugestões para essas escolhas; contudo não passam de sugestões, pois podem ser alteradas livremente a critério dos que fazem a novena.

Cada “dia” da novena encerra-se com uma oração. Pode-se acrescentar, depois, se os participantes acharem conveniente:
– um “gesto concreto”, definido de comum acordo entre os participantes, como fruto prático da meditação realizada;
– um cântico apropriado.

Primeiro dia

O ANJO ANUNCIA A MARIA (Lucas 1, 26-38)

TODOS. – Senhor, nosso Deus, concedei-nos a vossa graça para que, auxiliados pela intercessão de Nossa Senhora e de São José, possamos preparar-nos dignamente para acolher, com a alma pura e o coração generoso e sincero, a vinda do vosso Filho, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

LEITOR 1. – O Natal começou no coração da Virgem Maria. Hoje, neste primeiro dia da preparação para o Natal, depois de nos lembrarmos de que estamos na presença de Deus – que sorri para nós e nos quer falar ao coração –, ficaremos olhando atentamente (com os olhos ou com a imaginação) para a figura de Nossa Senhora, que está no Presépio, tão bela!, e procuraremos ver o seu coração, que é o lugar onde o Natal amanheceu e a Redenção começou a despontar.

LEITOR 2. – Eu acho que será muito bom termos presente, nestes dias, que a Novena é, acima de tudo, um tempo diário de recolhimento, de meditação, de oração… O Natal foi anunciado com uma grande luz – a que refulgiu na noite do Nascimento de Jesus, envolvendo os pastores –, e creio que todos desejamos que, neste ano, a luz do Natal também nos ilumine com fulgores novos, até mesmo surpreendentes, que nos envolva no seu resplendor e fique como calor de vida nova dentro do nosso coração.

TODOS – Senhor, nós desejamos e pedimos isso. Queremos que, neste ano, o Natal deixe nos nossos corações uma luz nova de fé e um novo calor de esperança e de amor: de amor a Jesus Cristo e aos nossos irmãos.

LEITOR 1. Pois bem. É com essa disposição que vamos dar início à nossa meditação. O Natal principiou – conta o Evangelho de São Lucas – quando o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de Davi, e o nome da Virgem era Maria. E continua dizendo que, ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: Ave, ó cheia de graça, o Senhor está contigo!…

LEITOR 3. – Imaginam o que deve ter sentido Nossa Senhora?

LEITOR 1. – A Virgem Maria era tão humilde, que o elogio do Anjo a deixou perturbada. Deve ter corado: Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. Mas o mensageiro de Deus apressou-se a tranqüilizá-la: Não tenhas receio, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Hás de conceber no teu seio e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e se chamará Filho do Altíssimo… e o seu Reino não terá fim.

LEITOR 2. – É impressionante ver como, após anunciar a Maria que ela fora escolhida por Deus como Mãe, para ser a Mãe de Deus, o Anjo ficou aguardando – com toda a delicadeza – que ela desse a resposta, esperou pelo seu livre consentimento. É tocante verificar como Deus ama e respeita a liberdade, esse grande dom que Ele nos concedeu… Sem liberdade – repetia um grande santo –, não se pode amar.

TODOS: Senhor, fazei que compreendamos que a liberdade é boa e santa, quando a usamos para escolher a verdade e o bem, mesmo que isso nos custe grandes sacrifícios; e que, pelo contrário, ela se corrompe quando a usamos só para servir ao nosso prazer, ao nosso interesse, ao nosso egoísmo.

LEITOR 1. – Ao anúncio do Anjo, Maria respondeu dizendo “sim”, um “sim” total a Deus: Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra. Mas antes de dizer sim, fez uma pergunta: Como se fará isso? Aqui temos duas palavras que, na boca e no coração de Maria, têm o brilho de uma estrela: a palavra COMO e a palavra SIM. Que acham se pensamos nelas com calma, e tentamos captar um pouco das luzes que podem trazer à nossa alma?

LEITOR 2. – Será ótimo. Na verdade, o anúncio do Anjo e a resposta de Maria entendem-se bem quando se sabe – como nós sabemos – que Maria tinha consagrado a Deus todo o seu ser: o corpo e a alma. O seu corpo era um templo puríssimo, reservado virginalmente para Deus; e também a alma imaculada de Nossa Senhora estava entregue sem reservas nas mãos do seu Senhor.

TODOS. – A cheia de graça era toda de Deus! Quando Deus a contemplava, via-se a si mesmo refletido nela, como num espelho sem mancha e sem sombra. Que Maria nos ajude a ter uma alma pura, semelhante à dela.

LEITOR 1. – Sabendo da entrega virginal de Maria, compreendemos melhor que, quando o Anjo acabou de lhe comunicar que seria a Mãe do Filho do Altíssimo, ela perguntasse: Como se fará isso, se eu não conheço homem?

LEITOR 2. – É claro. Perguntou como por isso mesmo – porque era difícil entender que Deus a quisesse virgem e mãe ao mesmo tempo– ; mas eu acho que também perguntou por outro motivo, muito bonito e profundo: porque ela queria que fosse feita a vontade de Deus, e não a sua vontade…, e não entendia como poderia ser feita. O como da Virgem Maria significava precisamente: “Deus me pede isso. Eu não vejo a maneira de fazê-lo. Mas quero ver, quero mesmo, porque desejo abraçar com toda a minha alma a vontade do meu Deus. É por isso que pergunto”.

LEITOR 3. – O como de Maria foi uma pergunta de amor. E justamente isso nos faz lembrar, com tristeza, que essa mesma pergunta, essa mesma palavra – como – é pronunciada muitas vezes num sentido completamente contrário, como recusa ao amor.

LEITOR 2. – Infelizmente é assim. Muitos perguntam como só para tirar o corpo, para desculpar-se e omitir-se…, quando não querem dar ou dar-se, quando não querem amar.

TODOS.– Jesus, livrai-nos da covardia de fugir ao dever, de querer escapar das exigências difíceis e sacrificadas do amor.

LEITOR 2. – Dizia que muitos perguntam como só para tirar o corpo. É, por exemplo, o caso da pessoa a quem Deus pede que dedique um pouco mais de tempo à oração, à formação religiosa ou a colaborar com uma obra de serviço aos necessitados…; e ela responde: “Como?” Mas é um como que, no caso, significa: “Como é que posso fazer isso, se não tenho tempo e, sobretudo (deveria acrescentar, para ser sincera), não tenho vontade?” Outro exemplo: o caso da esposa que pede ao marido que converse mais com um dos filhos, o mais difícil, e ele se esquiva dizendo: “Como?” Um como que ele mesmo explica, quando acrescenta: “Mas como vou fazer isso, se já tentei, se o garoto não me escuta, se, além do mais, você já sabe que não tenho jeito para essas coisas…”

TODOS. – Maria, Mãe nossa, livrai-nos dessa desculpa de não ter tempo e de não ter jeito… Por causa dessa desculpa, muitas coisas boas ficam sem fazer, morrem antes de ter começado.

LEITOR 2. – Mas é claro que Maria nos ensina a maneira boa de perguntar como, que é a das almas generosas que acolhem com alegria tudo o que Deus lhes sugere, e igualmente as solicitações dos familiares, amigos, colegas, que precisam da sua ajuda. Assim fez Maria. Seu coração estava ansioso por dizer sim, e como não compreendia, estava ansiosa para ver como o poderia concretizar…

LEITOR 3. – Eu gosto de ficar imaginando e meditando e repetindo o que se passava no coração de Maria: “Deus pediu-me e aceitou a oferenda do meu amor virginal. Agora me pede ser mãe. Eu o amo muito, e amo tudo o que Ele quiser. Ele sabe disso. E Ele também me ama. Por isso vai ajudar-me… Eu sei que Deus nunca abandona as almas de boa vontade!”

LEITOR 1. – Foi isso que aconteceu. Deus não a deixou no escuro. O Anjo deu-lhe a resposta esclarecedora: O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso mesmo é que o Santo que vai nascer de ti se chamará Filho de Deus. Também a tua parente Isabel – acrescentou Gabriel – concebeu um filho na sua velhice e está já no sexto mês, ela a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus. E Maria respondeu: Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra. De todo o coração, repleta de alegria, Maria disse: Faça-se! Sim!

LEITOR 2. – Agora vemos melhor que, ao perguntar como, Maria fez um primeiro ato de amor. E, ao dizer sim, um segundo. Eu acho que, na nossa vida, o amor deverá seguir, muitas vezes, as etapas do amor de Maria. Com o coração bem disposto, teremos que começar primeiro por procurar e descobrir, sinceramente, qual é o melhor modo de amar a Deus e aos outros; e logo a seguir – uma vez esclarecido isso – deveremos dizer sim. Um sim que será bem concreto e prático… Porque o amor, ou é concreto, ou é uma ilusão.

TODOS. – É verdade. O sim do amor verdadeiro é concreto e, além disso, é sem reservas, sem condições, sem limites.

LEITOR 2. – É tão fácil opor reservas ao amor de Deus e do próximo. Nós dizemos: “Farei isso que Deus me pede só «se eu gostar», «se eu tiver vontade», «se não for difícil»”… Maria não fez assim. Nós é que colocamos condições: “Vou dar isso a Deus, se Ele me conceder o que lhe peço” (fazemos comércio!); “Vou ser amável com os outros, lá em casa, se os outros forem amáveis comigo; se não, nada…”. Nós é que fixamos limites e marcamos prazos: “Vou ser fiel aos amigos, enquanto for agradável andar com eles”, “Vou à Missa, mas não sempre, nada de obrigações”, “Claro que pretendo ser fiel aos meus compromissos…, desde que não fiquem pesados”…

TODOS. – Santa Mãe nossa, nós vos pedimos que nos ajudeis a responder a tudo que Deus nos pedir com um “sim” total, sem restrições nem limites.

LEITOR 3. – Eu me comovo pensando como o sim de Maria foi puro. Quero dizer que foi total e para sempre. Ao longo da sua vida, manteve o mesmo brilho, a mesma força e a mesma alegria em todas as circunstâncias, nas fáceis e nas difíceis, nas felizes e nas dolorosas. As dificuldades nunca anularam nem enfraqueceram esse seu sim, que ela manteve desde o dia da Anunciação até o final, até o momento em que, ao pé da Cruz, se uniu ao sacrifício redentor do seu Filho.

LEITOR 2. – Ela não era como nós, que facilmente, nas dificuldades, transformamos o sim em um não. Nas próprias dificuldades, ela via apelos de Deus, que a convidavam a dizer um sim ainda mais forte: a ser mais generosa do que antes, mais humilde, mais desprendida, mais caridosa, mais compreensiva… E tudo, com a plena confiança de que Deus – que a chamara – não deixaria de ajudá-la.

TODOS. – Ela nunca se cansou de dizer sim, nem mesmo quando lhe custou sangue. Foi para o Céu sorrindo, com o seu maravilhoso sim nos lábios e no coração…

LEITOR 2. – Esse foi o sim que uniu o Céu e a terra. No mesmo instante em que Nossa Senhora o pronunciou, o Verbo se fez carne – no seu seio puríssimo – e habitou entre nós. Deus se fez criança por nós. O Natal começou a existir.

LEITOR 1. – O coração de Maria mostrou-nos hoje uma grande luz. Acho que tudo se pode resumir numa belíssima palavra: fidelidade. Vamos guardar na nossa alma o exemplo da nossa Mãe Santíssima, vamos aprofundar nessa palavra – fidelidade – mais preciosa do que o ouro, e – como fazia Maria – vamos meditá-la no nosso coração. Será este o nosso primeiro passo rumo ao Natal.

TODOS. – Senhor Deus, ao anúncio do Anjo, a Virgem imaculada acolheu o vosso Verbo inefável e, como habitação da divindade, foi inundada pela luz do Espírito Santo.

Concedei que, seguindo o seu exemplo, abracemos humildemente a vossa vontade. Por Cristo, nosso Senhor.

Segundo dia

SÃO JOSÉ (Mateus 1, 18-25 e 2, 13-23)

TODOS. – Senhor, nosso Deus, concedei-nos a vossa graça para que, auxiliados pela intercessão de Nossa Senhora e de São José, possamos preparar -nos dignamente para acolher, com a alma pura e o coração generoso e sincero, a vinda do vosso Filho, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

LEITOR 1. – Hoje, no segundo dia da Novena, vamos olhar para a figura de São José. Vejam: no Presépio, ele está sempre um pouco recuado, quase na sombra, olhando para o Menino e amparando Maria e Jesus com a sua vigilância amorosa,. Que figura, São José! O Evangelho o define com uma só palavra: Era JUSTO. Vale a pena meditarmos nisso…

TODOS: Senhor, ajudai-nos a aprender do exemplo de São José!

LEITOR 2. – Penso que nos ajudará lembrar que, quando a Bíblia diz de alguém que é justo, quer dizer que é bom, que é reto, que está sempre “ajustado” com Deus, ou seja, que está sempre em plena sintonia com Deus, com os seus preceitos e os seus pedidos…, numa palavra, que é santo; e que, por isso mesmo, é também íntegro e honesto com os outros.

LEITOR 3. – Que bonito! Parece-me que será ótimo meditarmos sobre o Natal de São José, porque ele teve um caminho sofrido, cheio de sombras e de luzes, até chegar ao Natal… E penso que poderemos ver como ele foi reto, no meio das dificuldades, como foi leal com Deus e com Maria naqueles momentos desconcertantes em que não podia entender o que estava acontecendo.

LEITOR 1. – Realmente, não foi nada fácil para ele. Lembremo-nos do Evangelho. São Mateus conta que, depois de Maria ter concebido por virtude do Espírito Santo, José, seu esposo, que era um homem justo e não queria infamá-la, resolveu deixá-la secretamente… Precisamos refletir bem sobre essas palavras, pois não é na hora que se apanha todo o seu sentido. O que fica claro desde o começo – porque o Evangelho o diz explicitamente – é que José resolveu abandonar Maria secretamente porque era justo, precisamente porque era justo: esse foi o motivo. Deus – que inspirou o texto sagrado de São Mateus – quis mostrar-nos com essas palavras que a resolução de José foi um ato de bondade, de retidão.

LEITOR 3. – Com certeza foi isso! José percebeu a gravidez de Maria, que era um tremendo mistério entre ela e Deus. E aqui começou a sua reação, que eu acho comovente. Em nenhum momento quis pensar mal dela. Nem por um segundo admitiu a possibilidade de que nela houvesse a menor sombra de pecado ou de traição….

TODOS. – Ele a amava, ele a conhecia, ele percebia a pureza santíssima dos olhos, dos gestos, da alma de Maria… Quem nos dera ter um coração tão nobre e generoso como o dele!

LEITOR 2. – Olhando para Maria, José sentia-se envolto num mistério inefável que o ultrapassava. E Deus… permitiu que sofresse… Eu acho que foi para que nós víssemos o que é ser justo, o que é ser bom. Porque, não querendo nem por sombra pensar mal, a primeira coisa que lhe veio à cabeça foi proteger Maria, não acusá-la. Nem pensou em se proteger ou defender a si mesmo…

LEITOR 1. – Justamente pelo grande amor que tinha à Virgem Maria, para não difamá-la, para não dar nem de leve a impressão de que a acusava, preferiu ficar pessoalmente mal; passar – se assim o quisessem pensar os outros – por um irresponsável, um covarde, que deixa a noiva grávida e não quer assumir… Dessa maneira, ela ficava inocentada.

TODOS. – É isso mesmo! José preferiu sujar a sua própria imagem, antes que profanar aquele amor santo, que o próprio Deus tinha feito nascer entre ele e Maria.

LEITOR 1. – Sim. Ser reto é isso: fazer o que a consciência indica como o melhor caminho, o mais certo, o mais perfeito aos olhos de Deus, ainda que esse bom caminho nos traga sacrifícios e prejudique os nossos interesses. José era reto porque agia por motivos retos, puros (por amor, por fidelidade, por honradez, porque via aquilo como seu dever…), e não se deixava arrastar por motivos “tortuosos” (nem pelo interesse, nem pela vaidade de preservar a sua reputação, nem pelo comodismo de lavar as mãos e dizer “eu não sei de nada”…).

TODOS . – Precisou de muita coragem!

LEITOR 3. – E de muita fé em Deus, como Maria. Aquilo era saltar no escuro. Era lançar todo o seu futuro nas mãos do Senhor, e esperar que Ele cuidasse de tudo como um Pai.

LEITOR 2. – Eu acho que a vida de José também se poderia resumir assim: foi um homem justo, um homem de Deus que soube amar e, por isso, deu tudo, em silêncio, sem procurar nada para si…

TODOS. – Deu a sua honra, renunciou aos seus planos pessoais, deu a vida… Soube desprender-se totalmente de si mesmo por amor.

LEITOR 2. – Como custa o desprendimento, não é? Como é fácil deixar que o interesse seja a motivação forte das nossas ações, dos nossos desejos, dos nossos pensamentos, dos nossos projetos! Poucos dizem: “Vou fazer isto porque é bom, porque é justo, porque é verdadeiro, porque vai fazer bem aos outros, porque Deus me pede.., ainda que me contrarie, que me doa, que me exija sacrificar coisas que muito aprecio”.

LEITOR 3. – Quantos casais rezariam mais e lutariam melhor para superar desavenças se pensassem assim, em vez de dizer que estão saturados, que não agüentam mais, ou que chegou a hora de cada um “viver a sua própria vida”, ou de “aproveitar a vida enquanto é tempo”… José não quis aproveitar nada. Só quis ser bom e fiel. E tudo por amor.

LEITOR 1. – Por isso Deus o amou com predileção. Passados os primeiros momentos de angústia, o Senhor tranqüilizou-o. Enquanto assim pensava – diz o Evangelho –, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela foi concebido é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados”.

TODOS. – Que alegria deve ter inundado a alma de José, ao receber essa mensagem! Com que carinho imenso, com que admiração, com que veneração olharia para Maria, a partir daquele momento!

LEITOR 2. – E, com certeza, se antes já era justo e vivia em plena sintonia com a Vontade de Deus, a partir desse instante iria ser ainda mais justo e reto. Vejam que a vida de José se pode escrever com as mesmas palavras com que Deus lhe vai manifestando a sua Vontade. Recebe as indicações de Deus com o coração aberto de par em par, e não perde um minuto hesitando, negaceando… Ao contrário, na hora, com muita paz e serenidade, com a segurança do homem de consciência pura, começa a pôr em prática o que Deus lhe manifesta.

LEITOR 1. – Lembrávamos há um instante a primeira voz de Deus que ele ouviu: Não temas receber Maria. E o que é que José fez?

TODOS – Despertando do sono, fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa. Obedeceu sem titubear.

LEITOR 2. – E é fantástico ver que sempre fez a mesma coisa. Quando Deus o chamou para que fugisse para o Egito, livrando o Menino da perseguição de Herodes…

TODOS – … levantou-se de noite, tomou o Menino e sua Mãe e partiu para o Egito.

LEITOR 3. – E quando, após a morte de Herodes, Deus lhe pediu que voltasse para a sua terra…

TODOS – … levantou-se, tomou o menino e sua Mãe e voltou para a terra de Israel.

LEITOR 2. – Sempre a perfeita sintonia com a vontade de Deus!

LEITOR 1. – Esta é a grande lição que José nos dá hoje. Vamos pedir-lhe que nos ajude a ser justos, a ser retos e a não torcer os caminhos da consciência com os desvios do interesse e da vaidade; que nos ensine também a ser retos nos nossos juízos sobre os outros: a não pensar precipitadamente nem julgar mal; que nos ensine a estar sempre em sintonia com o que Deus quer. Pensemos que, se a partir de hoje a nossa história se pudesse escrever um pouco mais em harmonia com a vontade de Deus, com o que Ele nos diz no fundo da consciência, teríamos aproveitado muito bem este segundo dia da Novena.

TODOS. – Ó Deus de bondade, que nos destes Maria e José como exemplo, concedei-nos imitar as suas virtudes para que, unidos pelos laços do amor, possamos chegar um dia às alegrias da vossa casa. Por Cristo, nosso Senhor.

Terceiro dia

MARIA VISITA ISABEL (Lucas 1, 39-44)

TODOS. – Senhor, nosso Deus, concedei-nos a vossa graça para que, auxiliados pela intercessão de Nossa Senhora e de São José, possamos preparar-nos dignamente para acolher, com a alma pura e o coração generoso e sincero, a vinda do vosso Filho, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

LEITOR 1. – Hoje vamos contemplar de novo a figura de Maria. Fixemos bem a atenção nela. Lembremo-nos de que, no primeiro dia da Novena, nós a víamos abrindo as portas do coração a Deus, pronunciando um sim puro e cristalino àquilo que o Anjo lhe anunciava da parte do Senhor: anunciava-lhe que Deus, o Filho de Deus, vinha ao mundo para nos salvar, e pedia à Virgem Maria que aceitasse ser a sua Mãe. Ela aceitou, e o Verbo se fez carne no seu ventre imaculado e habitou entre nós.

TODOS. – Não custa muito imaginar como ficou extasiada, depois da Anunciação. Tinha Deus no seu seio. Começava a amar o seu Deus como Mãe!

LEITOR 2. – Não acham que teria sido muito natural que ela se ensimesmasse, ficasse concentrada em si mesma, se absorvesse nesse mistério inefável que já habitava nela?

LEITOR 3. – Sim, claro. Tinha motivos de sobra para ficar concentrada nisso, com a cabeça e o coração fascinados pela graça recebida, pela missão que Deus acabava de lhe confiar. Como não ficar pensando no Filho, no futuro, nesse porvir novo, que ela jamais tinha imaginado?

LEITOR 3. – O impressionante é que não fez assim; quero dizer que não ficou enclausurada em si mesma, pensando no seu mistério interior. Aí está a beleza da alma de Maria! Não ficou ensimesmada, mesmo tendo tantas razões para fazê-lo.

LEITOR 1. – Foi isso exatamente o que aconteceu, e o Evangelho o descreve assim: Por aqueles dias – isto é, logo depois da Anunciação –, pôs-se Maria a caminho e dirigiu- se à pressa para a montanha, a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias – o marido da sua prima Isabel – e saudou Isabel Será bom procurar entender por que fez isso. O que a moveu a ir correndo à casa da sua prima Isabel?

TODOS.- Com certeza foi o seu amor, um amor tão grande que a fazia esquecer-se de si e voltar-se com carinho para Deus e para as necessidades dos outros.

LEITOR 2. – É isso mesmo que o Evangelho nos mostra No dia da Anunciação, o Anjo Gabriel, para explicar a Maria que era possível tornar-se Mãe de Jesus e permanecer virgem, deu-lhe – como víamos há dois dias – uma prova palpável de que nada é impossível para Deus. A prova era que a sua parenta Isabel tinha concebido um filho na velhice e estava já no sexto mês, ela a quem chamavam estéril. O Anjo mencionou isso só de passagem, como ilustração do poder de Deus. Maria, porém, captou nessa notícia um apelo: a prima Isabel, já idosa, estava para ter o seu primeiro filho; com certeza precisaria de apoio, de ajuda… Bastou-lhe tomar consciência dessa necessidade, para se esquecer imediatamente de si mesma e partir à pressa para ajudar Isabel….

LEITOR 1. – Aqui temos um exemplo encantador do amor de Maria pelo próximo: tão delicado, tão generoso, tão pronto. Nestes dias passados, destacávamos algumas palavras, cheias de luz, que nos ajudavam a meditar. Acho que hoje, contemplando Maria, também podemos sugerir duas palavras, dois verbos que indicam qualidades do verdadeiro amor aos outros: ADIANTAR-SE e ADIVINHAR.

LEITOR 3. – Que acham se começamos pela segunda palavra? Pensando no que nos sugere a palavra adivinhar?

TODOS.– Vai ser ótimo pensar nisso! Já dá para perceber que essa reflexão nos vai trazer uma mensagem muito positiva.

LEITOR 2. – De fato. Essa palavra, “adivinhar”, me faz lembrar que houve um escritor cristão que dizia: “Amar é adivinhar”. Tinha razão. Quem não é capaz de adivinhar o que o outro precisa, o que sente, o que o faz sofrer, não ama de verdade. Não se trata de ser vidente nem de ter poderes paranormais. Basta ter carinho, porque então vemos…

LEITOR 3. – É mesmo. O marido que ama de verdade percebe, vê, que a mulher precisa de um gesto de afeto, de um sorriso de agradecimento, de uma palavra de consolo… A mulher vê que o marido precisa de bom humor lá em casa, de um ambiente positivo e encorajador, que compense os dissabores profissionais… O irmão vê que a irmã menor – ou vice-versa – precisa de uma ajudazinha no estudo, porque está aflita na véspera da prova…

LEITOR 1. – E, igualmente, poderíamos acrescentar que no trabalho, na rua, na pobreza de muitos, na doença de outros, nos sofrimentos e aflições de tantos que nos cercam, aquele que ama ouve uma voz silenciosa, um apelo mudo dirigido à sua capacidade de ajudar, de consolar, de acompanhar, de fazer o bem… Ele adivinha!

TODOS. – Meu Deus, fazei com que sempre tenhamos os olhos abertos e o coração sensível para as necessidades do próximo!

LEITOR 2. – Como seria triste que o nosso “aparelho receptor”, por causa do nosso egoísmo, não captasse essa longitude de onda… Que só apanhasse as vibrações do seu próprio eu. Para a pessoa egoísta, o que não é do seu interesse não tem voz nem vez. O que incomoda e pede sacrifício, para essas pessoas, é inaudível.

LEITOR 1. – Há uma maneira disfarçada de ser egoísta e de não adivinhar… Sabem qual é? É dizer: “Eu sou muito distraído; gosto muito de vocês, mas sou meio aéreo, esqueço-me, não me dou conta do que vocês precisam…” Na verdade, noventa por cento das vezes, o esquecimento é a conseqüência de pensarmos demais nas nossas coisas e pouco nas dos outros. O eu ocupa tanto espaço na cabeça e no coração que os outros não cabem… O esquecido, o distraído, não consegue adivinhar.

LEITOR 3. – É evidente que Maria nunca andava esquecida, nunca estava distraída ou desligada do que afligia os outros. Acho que todos recordamos a cena das Bodas de Caná. Naquela festa de casamento, a Mãe de Jesus foi a única a “captar” que, por um descuido – por não terem calculado bem a quantidade de vinho – a alegria da festa podia acabar em fiasco… Então adiantou-se, falou com Jesus; e conseguiu que o Filho fizesse – porque ela intercedeu – o primeiro milagre: a conversão da água em vinho. Amar é adivinhar, e, depois, adiantar-se, como Maria fez em Caná… É claro que amar não se reduz a essas duas atitudes, mas elas são fundamentais.

LEITOR 2. – Acaba de mencionar a segunda palavra: adiantar-se!

TODOS. – Que Deus nos ajude a compreender a mensagem que essa segunda palavra – “adiantar-se” – nos traz!

LEITOR 2. – Sim. Eu diria – é o que me parece – que adiantar-se é dedicar-se ao serviço dos outros, sem necessidade de que nos peçam e sem esperar que nos retribuam. Há quem fique aguardando que os outros se manifestem para dar uma mão; e quando lhe pedem alguma ajuda concreta, reage com má vontade; ou se desculpa dizendo que não pode; ou presta o serviço de cara amarrada, reclamando.

TODOS.– Como é tocante ver que Maria servia sorrindo, como uma boa filha de Deus, e adiantava-se como uma Mãe solícita!.

LEITOR 1. – Falando de adiantar-se, não podemos esquecer-nos de que essa é uma das características mais belas e profundas do amor do próprio Deus. Posso mencionar dois trechos da Bíblia, do Novo Testamento?

LEITOR 3. – Claro. Estamos aqui, sobretudo, para meditar a palavra de Deus.

LEITOR 1. – Ótimo. O primeiro é de São Paulo, e diz: Deus demonstra o seu amor para conosco pelo fato de Cristo haver morrido por nós quando ainda éramos pecadores. Quer dizer, Deus deu tudo, antes de que nós lhe tivéssemos dado coisa alguma, e sem aguardar que lhe retribuíssemos a sua doação. O segundo trecho é de São João, muito bonito: Nisto consiste o seu amor – o amor de Deus –: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou primeiro e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Deus é assim. Deus adianta-se no amor!

LEITOR 2. – Já pensaram que Jesus fez o seu auto-retrato usando a imagem do Bom Pastor? O Bom Pastor toma a iniciativa, adianta-se e sai à procura da ovelha perdida, mesmo daquela que continua fugindo – dessa ovelha meio-perdida que somos todos nós –, e não descansa até encontrá-la. E a sua maior alegria é carregá-la de volta, com carinho, sobre os ombros, até o lugar seguro, até a terra de Deus.

TODOS. – Obrigado, meu Jesus. Quem me dera saber imitar esse teu amor que não se cansa, que não desiste nunca de nós!

LEITOR 3. – “Que coisa admirável, Senhor – dizia Santa Teresa –, que procures quem não te procura, que cures quem não quer ser curado e até ama a sua doença…” Diz Jesus que haverá mais alegria no Céu por um pecador que se arrependa do que por noventa e nove justos que não têm necessidade de penitência…

LEITOR 2. – Sim, o Bom Pastor nos mostra a alegria de Deus, a alegria de nos salvar. A alegria é inseparável do amor e do serviço bem vividos. Mas também é inseparável do serviço a elegância, que consiste em servir sem exibir-se, dar sem cobrar retorno, sacrificar-se sem se fazer de vítima, fazer o bem e esquecer… Pensemos, a título de exemplo, em coisas muito pequenas do dia-a-dia, como procurar, lá em casa, pôr no lugar o que outros bagunçaram, desligar a luz que se esqueceram de apagar, atender o telefone ou a campainha que ficam tocando sem que ninguém os atenda…, e fazer isso sem queixar-se nem reclamar dos que se omitem.

TODOS. – Como é bom enxergar aplicações – pequenas e grandes – da lição de amor que Maria nos dá!

LEITOR 1. –Penso que agora é um excelente momento para nos perguntarmos coisas muito concretas. Por exemplo: Será que, nestes dias que precedem o Natal, nos estamos esforçando por adivinhar necessidades alheias que antes nos escapavam? Quantas vezes nos adiantamos? Quantos serviços ocultos prestamos, quantas ajudas e colaborações já demos, daquelas de que só nós e Deus ficamos sabendo? Esse balanço pode fazer-nos acordar de um sono egoísta e levar-nos a descobrir – sob a luz do exemplo de Maria – o fantástico panorama de amor e de serviço que temos dia a dia à nossa espera. Peçamos à nossa Mãe Santíssima que nos ajude a parecer-nos, nisso, um pouco mais com ela.

TODOS. – Ó Deus todo-poderoso, que inspirastes à Virgem Maria a sua visita a Isabel, levando no seio o vosso Filho, fazei-nos dóceis ao Espírito Santo, para que vejamos constantemente ocasiões de amar e de servir os nossos irmãos. Por Cristo, nosso Senhor.

Quarto dia

AS ALEGRIAS DE MARIA E ISABEL (Lucas 1, 41-55)

TODOS. – Senhor, nosso Deus, concedei-nos a vossa graça para que, auxiliados pela intercessão de Nossa Senhora e de São José, possamos preparar-nos dignamente para acolher, com a alma pura e o coração generoso e sincero, a vinda do vosso Filho, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

LEITOR 1. – Quarto dia da Novena. Pedindo a ajuda de Deus, vamos dar mais um passo rumo ao Natal. Hoje continuaremos a olhar com carinho a figura de Maria, transportando-nos de novo com a imaginação para a cena que ontem meditávamos, a da Visitação de Maria a Isabel. Se ontem procuramos nessa cena uma lição de amor, hoje podemos buscar nela uma lição de alegria e de humildade.

LEITOR 3. – É bonito ver que o Evangelho apresenta a visita de Nossa Senhora a Santa Isabel como uma explosão de alegria: foi a alegria de Deus, unida à alegria das duas futuras mães e à alegria dos filhos que ambas traziam no seio! Todos exultaram de alegria!

TODOS. – Isto é um anúncio das alegrias divinas, profundas, que o Natal vai nos ensinar a encontrar…

LEITOR 1. – O Evangelho diz assim: Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, o menino (o futuro São João Batista) saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então Isabel olhou, encantada, para Maria – como fazemos também nós, que somos seus filhos –, e exclamou em voz alta: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E de onde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor? Pois logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio.

LEITOR 2. – Acho que há aí uma luz que não podemos perder, uma bela reflexão a ser feita. Vejam. Isabel ficou cheia do Espírito Santo, diz o Evangelho. E, com isso, mostra que a fonte dessa grande alegria do menino e da mãe foi o Espírito Santo. Movidos pela graça do Espírito Santo, Isabel e o seu filhinho estremeceram de alegria – João, aos pulos! – , como acabamos de ouvir. E por que houve essa efusão do Espírito Santo? Porque ali estava Maria e ela trazia consigo Jesus. Esta é a luz que eu achava interessante salientar: foi pela presença de Cristo, trazido por Maria, que o Espírito Santo veio àquelas almas e derramou nelas as alegrias de Deus.

TODOS. – É verdade! Sempre que ficamos perto de Maria, nossa Mãe, ficamos também perto de Jesus e, então, nosso Senhor nos dá a sua graça, que é a graça do Espírito Santo. E, com ela, vem a alegria.

LEITOR 3. – Parece-me que todos nos lembramos de que, quando São Paulo enumera os frutos do Espírito Santo, depois de falar do primeiro, que é o amor, menciona a seguir a alegria e a paz. Amor, alegria e paz: três sinais maravilhosos da presença de Deus.

LEITOR 2. – Na verdade, as únicas alegrias autênticas são as que vêm de Deus. Só quem está com Deus, como Maria, é capaz de tê-las e de transmiti-las. Aliás, o amor verdadeiro e a autêntica alegria sempre andam juntos. Por isso, um escritor famoso dizia – e nem todos o entendem – que “a única tristeza é a tristeza de não sermos santos”.

LEITOR 1. – Mas a mais bela expressão de alegria, no dia da Visitação, foi a da própria Maria. Também ela se sentiu inundada pelo gozo do Espírito Santo, e extravasou-o num cântico, o Magnificat, que é uma das orações mais sublimes, um dos poemas mais tocantes que jamais se entoaram em louvor de Deus. Lembram-se dele?

TODOS. – Como não? Ela disse: A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para a pequenez da sua serva! Assim começou Maria o seu cântico…

LEITOR 1. – Vejam que, já no início, falando da alegria, disse uma palavra que brilha como uma luz fascinante: a palavra OLHOU! Maria proclama que está radiante de alegria, porque Deus olhou para ela… Não vale a pena meditar hoje sobre esse olhar…?

TODOS– Claro que vale a pena!

LEITOR 1. – A primeira coisa que eu diria é que Maria ficou exultando de alegria porque se julgava tão pouca coisa, tão pequena serva, tão pura pequenez, que achou fantástico Deus ter olhado para ela com predileção.

LEITOR 2. – E eu acrescentaria que Deus ama os corações humildes, e, pelo contrário, afasta o seu olhar dos orgulhosos… A Bíblia repete, pelo menos três vezes, esta frase: Deus resiste aos orgulhosos, e dá a sua graça aos humildes. Por isso Maria, que era tão humilde, foi cheia de graça. E no cântico do Magnificat, inspirada pelo Espírito Santo, ela mesma disse que Deus desconcertou os corações dos soberbos; derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes.

LEITOR 3. – É uma pena um coração orgulhoso. O orgulho é o pecado que mais desgosto causa a Deus…, porque é o grande inimigo do amor. Sem humildade, não há amor. E, sem amor, não há alegria. Vejam se não é o orgulho (o amor-próprio ferido, o ressentimento, a teimosia de não dar o braço a torcer, a arrogância de não querer dar ou pedir perdão…) a causa da maior parte das brigas e divisões nas famílias. Essas divisões que doem tanto e que se sentem ainda mais no tempo de Natal!

TODOS. – Que Deus nos livre desses males e encha de humildade o nosso coração!

LEITOR 1. – Lembrávamos, com palavras de Maria, que Deus exaltou os humildes… Esta frase, creio eu que nos leva a um segundo aspecto do olhar de Deus. Maria, no seu cântico, disse: Deus, meu Salvador, olhou para a pequenez da sua serva; e acrescentou:… realizou em mim maravilhas Aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Deus sempre faz coisas grandes com as pessoas que têm o coração humilde.

LEITOR 2. – Realmente, na vida dos homens e mulheres humildes de coração, Deus faz muitas maravilhas, que os orgulhosos, sozinhos (porque se isolam de Deus), não conseguem jamais alcançar. A pessoa humilde, por exemplo, recebe de Deus energias espirituais novas, que a tornam capaz de vencer dificuldades antes invencíveis; a pessoa humilde recebe a graça de ver com a luz da fé coisas que antes eram totalmente obscuras; a pessoa humilde torna-se capaz de ter uma paciência, uma mansidão e uma compreensão incríveis, que antes julgava impossíveis de alcançar; a pessoa humilde, com a graça de Deus, vence todos os obstáculos…

LEITOR 3. – E, além disso, Deus escolhe os que são humildes como instrumentos para realizar coisas grandes em favor do próximo. Os melhores mestres – os que não só transmitem a ciência, mas formam homens e mulheres de verdade – são humildes; os bons pais – os que não só dão comida, saúde e estudo, mas ajudam os filhos a ser gente de valores e de virtudes – são pacientes e humildes; os bons colegas – os que caminham e avançam junto com os seus amigos – são compreensivos e humildes; os bons voluntários, os autênticos servidores dos pobres , todos são humildes.

TODOS. – Meu Deus! Ajudai-nos a arrancar da nossa alma o veneno do orgulho e a ter um coração humilde.

LEITOR 1. – Claro que a humildade que estamos considerando não é a falsa humildade da pessoa encolhida e sem caráter, que sofre porque se sente inferior, mas a humildade dos santos, a de Maria, que se vê a si mesma muito pequena aos olhos de Deus, mas está feliz porque Deus é seu Pai e ela sua filha pequena, uma filha muito amada, que o Pai celeste contempla com infinita ternura.

LEITOR 2. – Infinita ternura Isso que acaba de dizer acho que nos leva, como que pela mão, a um terceiro aspecto desse olhar de Deus que é fonte de alegria. É o seguinte: Deus, além de olhar para nós, olha por nós, ou seja, Deus cuida de nós. Uma das primeiras verdades que Cristo nos revelou foi esta: que Deus é Pai, que nos vê, que nos ama, que cuida de nós, mais do que cuida das aves do céu e das flores do campo, mais do que a mãe cuida do filho. Que, muitas vezes, quando mais nos ama é justamente naqueles momentos em que pensamos que se esqueceu de nós. Os santos sabem disso.

TODOS. – O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará. Ainda que atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo. A vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me por todos os dias da minha vida…

LEITOR 1. – Essa alegria de viver sob o olhar amoroso do Pai, que inundava a alma de Maria, também fazia São Paulo vibrar de júbilo. Ele tinha um otimismo que não era banal, mas era confiança profunda, conseqüência da fé: Se Deus é por nós – dizia –, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?

LEITOR 3. – Todas as coisas! Sem a mínima dúvida, ele falava de que Deus nos dará todas as coisas que trazem alegrias verdadeiras, alegrias eternas. Não só coisas boas que desejamos porque são agradáveis e favoráveis, mas também coisas dolorosas e adversas, que – por incrível que pareça – podem trazer-nos depois alegrias mais profundas e duradouras, se estivermos junto de Deus…

TODOS. – Nós podemos colher alegria tanto das flores como dos espinhos; depende do nosso amor a Deus e do nosso amor ao próximo…

LEITOR 2. – Não nos esqueçamos de que São Paulo resumia essa visão otimista, tão própria dos filhos de Deus, com uma frase que deveríamos trazer gravada no coração: Nós sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus. Se conseguíssemos entender isso, acreditar nisso, nada nos roubaria a paz!

LEITOR 1. – Realmente, há muito que pensar na cena que hoje meditamos. Creio que teremos aproveitado muito bem este quarto dia da Novena, se compreendermos um pouco melhor a importância de ser humildes. Porque Deus olha para os humildes, na terra e no Céu – como diz a Bíblia e hoje nós estivemos recordando. Será que Deus pode olhar assim para nós? Peçamos a Maria, nossa Mãe, que nos ajude a imitá-la. Digamos-lhe: “Mãe, nós queremos ser humildes; queremos que Deus – ao olhar para nós – possa achar- nos dignos da sua graça, dignos de receber as coisas grandes que preparou para nós, e dignos de possuir aquela feliz confiança dos filhos que se sabem muito amados e têm a certeza de que o Pai está encaminhando tudo, absolutamente tudo, para o seu bem”.

TODOS. – Cheguem à vossa presença, ó Deus, as nossas orações suplicantes, e, pela intercessão da gloriosa sempre Virgem Maria, possamos preparar-nos com coração humilde e confiante para celebrar o grande mistério da encarnação do vosso Filho, que vive e reina para sempre.

Quinto dia

OS PASTORES (Lucas 2, 8-20)

TODOS. – Senhor, nosso Deus, concedei-nos a vossa graça para que, auxiliados pela intercessão de Nossa Senhora e de São José, possamos preparar-nos dignamente para acolher, com a alma pura e o coração generoso e sincero, a vinda do vosso Filho, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

LEITOR 1. – Hoje vamos achar um bom tema de meditação olhando para os pastores, aqueles pastores que cuidavam dos rebanhos nos arredores de Belém, na noite em que Jesus nasceu. As suas figuras estão em todos os presépios, e são dignas de ser contempladas, porque eles foram os primeiros a adorar o Deus Menino na noite de Natal.

LEITOR 2. – Parece-me que por alguma razão é que Deus lhes anunciou essa alegria em primeiro lugar, antes que a ninguém mais. Penso que é porque eram criaturas SIMPLES, e Deus ama a simplicidade de coração.

TODOS. – Como é bom lembrar que Jesus disse, certa vez: Eu te dou graças, Pai, porque revelaste estas coisas – as grandezas do amor de Deus e da nossa Redenção – aos pequeninos, aos simples.

LEITOR 2. – Certo, certíssimo. Jesus ama a simplicidade, como estávamos dizendo. Mas essa virtude é como o arco-íris: tem cores diversas, todas bonitas. A mim, parece-me ver uma primeira cor nas palavras com que o Evangelho os apresenta: Havia nos arredores uns pastores que vigiavam e guardavam o seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite. O que nos sugere isso?

LEITOR 1. – Vigiavam! Como gosta Jesus desta palavra! Felizes os servidores a quem o seu Senhor achar vigilantes! – diz. Vigiar é estar atento ao que se faz, ao que se deve fazer – porque é o dever que Deus nos pede –, sem cair em descuidos nem cochilos. Vigiar é fazer as coisas bem feitas, com carinho, com capricho, colocando nelas a cabeça e o coração. Vigiar é fazer com amor o que Deus nos solicita em cada momento do dia, e apresentá-lo a Ele como uma oferenda perfeita.

LEITOR 3. – Com certeza, aqueles pastores gostavam do seu trabalho, trabalhavam com alegria. Conheciam as suas ovelhas uma a uma, pelo nome. Eram daqueles que as faziam repousar sobre pastos verdejantes, que procuravam as que estavam perdidas, curavam as feridas, protegiam as doentes e ajudavam as fracas…

TODOS. – Como é belo amar o trabalho e trabalhar com amor, como um filho de Deus bem disposto!

LEITOR 3. – Sim. Como é bonito – por exemplo – ver esses rapazes e moças que trabalham de dia e estudam à noite. Muitos só conseguem dormir quatro ou cinco horas, mas não se queixam. Estão felizes porque podem estudar. E sonham com o futuro, e pensam que, quando chegar, poderão ajudar outros rapazes e moças, pobres de dinheiro e ricos de esperança, a formar-se também. São bons e simples.

LEITOR 1. – Pois foi, de fato, a uns corações como esses que um anjo do Senhor anunciou, primeiramente, o Natal: Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova, que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu, na cidade de Davi, um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: Achareis um recém-nascido envolto em panos e posto numa manjedoura.

TODOS. – Como é tocante! Deus vem ao mundo pequenino. O Filho de Deus é simples. Maior simplicidade é impossível…

LEITOR 2. – Antes lembrávamos que há várias cores no arco-íris da simplicidade. Vejamos mais algumas. Por exemplo, o Evangelho nos mostra que os pastores, essas almas simples, eram pessoas capazes de se admirar. A capacidade de admiração é uma das qualidades características dos corações simples.

LEITOR 1. – Tem toda a razão. Depois de receberem o anúncio do Natal, diz o Evangelho que os pastores foram correndo ver o recém-nascido: Vamos até Belém, e vejamos o que se realizou e que o Senhor nos manifestou – diziam. Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o Menino deitado na manjedoura. Depois o adoraram, ofertaram-lhe o que tinham – pão, queijo, leite, um cordeirinho novo –, e voltaram glorificando e louvando a Deus, por tudo o que tinham ouvido e visto.

LEITOR 3. – Ficaram encantados com Jesus. Deus e eles entenderam-se perfeitamente bem. Os corações simples descobrem maravilhas, captam alegrias que os complicados ignoram e infelizmente perdem….

LEITOR 2. – Complicados são os egoístas, que desconfiam de tudo e tudo discutem. Os simples não são assim. Não têm o olhar enfastiado, nem o coração entediado, nem a mente desconfiada dos egoístas. Os simples são alegres, com alegrias singelas e profundas. Os egoístas e os orgulhosos são tristes e irritados, e vivem enjoados de todos e de tudo. É como se tivessem um véu nos olhos que os impedisse de ver as maravilhas de Deus.

TODOS. – Que Deus nos livre do mal do orgulho, que fecha o coração, impede a alegria e estraga o amor.

LEITOR 1. – Eu acrescentaria ainda outra característica bonita dos corações simples. Eles sabem apoiar-se e animar-se uns aos outros, como os pastores, que mutuamente se incentivavam: Vamos até Belém!… Quando esses corações simples têm fé, ficam felizes de ajudar, de animar os parentes e amigos, com toda a delicadeza, a se aproximarem de Deus. É outra cor do arco-íris. Mas ainda há mais. Acho que nos falta comentar a respeito dos pastores algo que é essencial…

LEITOR 2. – Refere-se à mensagem dos anjos, não é verdade?

LEITOR 1. – É, sim. Subitamente – diz o Evangelho –, ao anjo se juntou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus e dizia: “Glória a Deus no mais alto dos céus e, na terra, paz aos homens de boa vontade!” Alegria no céu e paz na terra. Paz! Que falta nos faz! É um dom que Jesus traz ao mundo: A paz vos deixo, a minha paz vos dou.

LEITOR 3. – E sem dúvida é um dom que significa muito mais do que tranqüilidade e falta de problemas.

LEITOR 2. – Com certeza, essa paz não é a tranqüilidade dos adormecidos, nem a dos desligados, nem a dos mortos. É outra coisa muito mais bonita e profunda.

LEITOR 3. – Eu diria que é a harmonia. A nossa harmonia com Deus, conosco – no íntimo da consciência – e com os outros. É algo de muito grande. A harmonia com Deus alcança-se com o amor e com o arrependimento. Os corações simples e bons vivem fazendo as coisas certas por amor a Deus, e pedindo perdão pelas erradas também por amor a Deus. Cada confissão sincera, para eles, é um banho de paz, da paz que só Cristo pode dar.

TODOS. – Que Jesus nos conceda a paz da alma neste Natal, sobretudo a paz que nos invade após ter recebido o perdão dos nossos pecados!

LEITOR 1. – Todas as vezes que olhamos para Deus e para nós com sinceridade, sem nos enganarmos, sem desculpas esfarrapadas para encobrir as nossas misérias, todas as vezes que falamos como o filho pródigo – Eu me levantarei, irei a meu pai e direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti –, todas as vezes que fazemos este ato sincero de contrição, a paz nos invade. Paz com Deus e conosco.

LEITOR 2. – Eu me atreveria a afirmar que um coração sincero e bom, que ama a Deus, tem três princípios, que são regras de ouro e caminhos de paz:
Primeiro: Colocar o amor acima do prazer. O prazer egoísta mata o amor, é um veneno tão forte como o orgulho. Ai da mulher, ai do homem, que abandona o sacrifício que lhe pede o amor dos outros, por uma razão tristemente egoísta: porque não lhe dá satisfação, e só pensa em gozar a vida e sentir-se bem… Segundo: Pôr a verdade acima do gosto. Isso exige também sermos muito sinceros. Muitas vezes, na vida moral, achamos que é certo o que gostamos de fazer, e nem sempre temos a coragem de perguntar a Deus a verdade, ou seja, o que é certo aos olhos de Deus. Terceiro: Colocar Deus e os outros acima do nosso “eu”… Primeiro Deus, depois o bem dos outros, depois “eu”… Os que seguem a ordem inversa procuram-se a si mesmos sem parar, e caem num círculo vicioso, que poderíamos descrever assim: o seu “eu” vazio procura a plenitude que ainda não encontrou, mas – infelizmente – procura-a voltando-se para si mesmo, andando em círculo, como a cobra que morde o rabo; e como em si mesmo só tem vazio, passa a vida correndo atrás do vazio…

LEITOR 3. – Não é isso o que dizia Santo Agostinho? Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração estará inquieto enquanto não descansar em Ti…

TODOS. – Jesus, fazei com que nos convençamos de que só nos encontramos a nós mesmos quando nos damos a Deus e aos outros. Ajudai-nos a colocar o amor acima do prazer, a verdade acima do gosto, Deus e os outros acima do nosso “eu”.

LEITOR 3. – Sim. Dar-nos a Deus e aos outros é o segredo da paz! Não há harmonia melhor com Deus e com o próximo do que a que nasce da doação, da renúncia e da entrega por amor.

LEITOR 2. – Lembremo-nos de que é isso o que Jesus não se cansava de dizer: Quem quiser guardar a sua vida, a perderá; e quem perder a sua vida, por amor, a encontrará.

LEITOR 1. – Vejam quantas coisas maravilhosas nos sugere a meditação do Presépio. Acho que hoje é natural que terminemos pedindo a Deus que nos ajude, com a sua graça, a descobrir a beleza da simplicidade – de que os pastores nos dão um exemplo tão bonito – e a esforçar-nos por viver essa virtude. Maria e José, puros, bons e simples, sem dúvida vão-se inclinar para o Menino no Presépio e pedir-lhe que nos conceda esses dons.

TODOS. – Ó Deus, que iluminastes com a luz clara do vosso Natal os corações simples e humildes dos pastores, concedei-nos que, tendo vislumbrado na terra este mistério, possamos gozar da sua plenitude no céu. Por Cristo, nosso Senhor.

Sexto dia

A ESTRELA DOS MAGOS (Mateus 2, 1-10)

TODOS. – Senhor, nosso Deus, concedei-nos a vossa graça para que, auxiliados pela intercessão de Nossa Senhora e de São José, possamos preparar-nos dignamente para acolher, com a alma pura e o coração generoso e sincero, a vinda do vosso Filho, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

LEITOR 1. – Dentre as figuras do Presépio, hoje vamos escolher os Magos. Podemos vê-los – ou imaginá-los – no caminho que leva para Belém. São homens sábios, homens de ciência e estudo, conselheiros de reis (talvez por isso os chamamos Reis Magos), que vêm de longe, da banda do Oriente, montados em camelos e com acompanhamento de pajens. Diante deles, marcando o rumo – agora que já estão quase chegando – brilha uma estrela, com fulgores prateados. É a mesma estrela que os fez empreender a sua longa caminhada.

LEITOR 2. – Vale a pena lembrar que o Evangelho resume assim aquela incrível viagem: Tendo nascido Jesus em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente a Jerusalém. Perguntaram eles: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente, e viemos adorá-lo”. Percebemos que a primeira coisa que dizem é que aquela longa viagem foi feita porque viram “a sua estrela”, e que ela lhes indicou um rumo e uma meta: ir ao país dos judeus para adorar o Rei de Israel, o Messias Filho de Deus, que é Rei do mundo inteiro…

LEITOR 1. – Quantas coisas não há para meditar nessa frase tão breve que os Magos disseram ao chegar! Acho que, para obtermos fruto, bastaria que aprofundássemos nos dois verbos – apenas duas palavras – que resumem tudo o que aconteceu com eles: VIMOS e VIEMOS.

TODOS. – Que Deus nos conceda luz para entendermos também a riqueza da mensagem que Ele nos dá através do exemplo dos Magos.

LEITOR 2. – Eles dizem: Vimos a sua estrela! Era o sinal da vinda do Messias, que fazia mais de mil anos já fora anunciado pelos profetas. E disso, no Oriente, muitos tinham ouvido falar. Uma estrela sai de Jacó, um cetro levanta-se em Israel…

LEITOR 1. – Vocês acham que foi fácil ver a estrela? Não digo ver com os olhos, pois foi precisamente por perceberem a cintilação de uma estrela nova que ficaram intrigados, pesquisando e perguntando-se o que seria aquilo. Difícil foi querer ver mesmo, quando o significado da estrela ia ficando claro. Porque era uma estrela que anunciava… e chamava; que mostrava… e pedia; que era luminosa…, mas comprometia.

TODOS. – Claro! Era mesmo uma chamada de Deus! Mostrava-lhes o roteiro de Deus: o caminho que Deus desejava que eles percorressem.

LEITOR 1. – Sim. Para os Magos foi uma chamada, e agora é uma chamada e uma mensagem para nós. Do alto do céu do Presépio, Deus parece dizer-nos: “Por acaso você pensa que não tem estrela? Acha que Eu não conto com você nos meus planos? Pensa que há algum filho de Deus que não tenha um chamado e uma missão a cumprir nesta terra? Ou será que você veio à toa e sem finalidade a este mundo?…”

LEITOR 2. – É verdade. Cada um de nós tem a sua estrela. Como é importante vê-la!, porque só então se enxerga o sentido da vida. A estrela é a minha vocação, e a sua luz esclarece a missão que eu devo cumprir, a que Deus me confiou, e espera que eu não falhe.

LEITOR 1. – Quando descobrimos a estrela, fica claro o sentido da nossa existência: todas as peças da vida – como as pedras de um mosaico – passam a ocupar o seu lugar: as alegrias e as tristezas, o passado e o presente, os sonhos, o trabalho, o amor, as dificuldades, tudo…, tudo fica mais claro e se harmoniza. Mas se não sabemos qual é a nossa estrela, essas peças não passam de um amontoado de cacos embaralhados.

TODOS. – Que Deus nos livre da cegueira espiritual e da desorientação, e abra os nossos olhos à luz que deve guiar a nossa vida.

LEITOR 3. – Vejamos um exemplo. Quando um casal cristão descobre que o seu casamento é uma vocação, e que o próprio Deus lhes confiou uma grande missão – a bela missão de fazer, de edificar uma família –, esse casal viu a estrela. Em qualquer momento de crise, de dificuldade ou de cansaço, o coração lhes dirá: “Olha para a estrela. Ela te marca o caminho. Deus te chama. Sê fiel à tua estrela!”

LEITOR 1. – Mas, vocês acham que a estrela se vê sempre? Não foi isso o que aconteceu com os Magos. Viram a estrela no Oriente. Perceberam o que ela indicava, e não desviaram disso o coração. Prepararam logo a viagem – que ia ser longa e penosa – e começaram a caminhar. A estrela marcou-lhes inicialmente a direção, revelou-lhes o destino, estimulou-os na partida, mas depois desapareceu…

LEITOR 3. – Eles, porém, como tinham captado a mensagem de Deus, não hesitaram e continuaram a caminhar…

TODOS. – E o caminho foi longo e áspero. Passaram por desertos sem uma gota de água…

LEITOR 3. – Passaram por montanhas escarpadas, cheias de gelo, neve e abismos ameaçadores…

TODOS. – Muitas vezes dormiram ao relento, comeram mal, passaram frio e tiveram medo…

LEITOR 2. – E, por serem humanos, tiveram a tentação de desistir. Pensavam: “Será que vimos claro, que não houve engano?” Outras vezes: “Será que vale a pena?” Outras: “Será que Deus pode pedir-nos tanto sacrifício? Por quê? Para quê?”…

TODOS. – Mas continuaram a caminhar, mesmo sem ver nada…

LEITOR 3. – Perseveraram até o fim. Sabiam bem qual era o rumo da estrela. Não quiseram vacilar. Não traíram a estrela! Não a traíram!

LEITOR 2. – Como é tocante ver que o Evangelho diz que chegaram a Jerusalém dizendo, como a coisa mais natural do mundo: “Vimos e viemos”. Quantas vezes nós podemos pronunciar essas palavras juntas? Quantas vezes não vimos luzes de Deus, que nos chamavam – faz isso, ajuda aquele, vai confessar-te, muda naquilo outro, abandona essa má companhia ou esse mau hábito, esse vício… –, e, infelizmente, fizemos de tudo para adiar, para deixar estar, para não ir, para não pôr em prática as inspirações de Deus?

TODOS. – Que Deus nos perdoe e nos dê forças para não fazer isso nunca mais.

LEITOR 1. – Continuemos a acompanhar os Magos. Já chegaram e agora entram em Jerusalém. Mas lá as coisas ficam ainda mais difíceis. Na capital dos judeus, perguntam pelo recém-nascido rei dos judeus, e ficam perplexos, porque ninguém sabe de nada… Nem os sacerdotes, nem o rei Herodes, nem o povo…

LEITOR 2. – Devem tê-los tomado por malucos…

LEITOR 3. – Provavelmente. Mas, apesar disso, não traíram a estrela só porque ninguém na cidade de Jerusalém entendia os seus ideais, e todos achavam que eles eram esquisitos, ridículos ou fanáticos…

LEITOR 2. – Acho que nós também, hoje em dia, devemos ter a coragem de não nos abalarmos se as pessoas, se o ambiente não entende os nossos ideais cristãos.
Compreendamos e amemos a todos, também aos que não nos entendem, mas não nos deixemos influenciar nunca pelo ambiente, que em grande parte é pagão e cego para as coisas de Deus.

TODOS. – Que nunca sejamos covardes nem vacilemos na fé pelo fato de estarem junto de nós muitos que não crêem em Cristo, nem na Igreja, nem nos grandes ideais que Deus colocou no nosso coração.

LEITOR 1. – Os Magos, firmes na sua fidelidade, só se preocuparam de indagar dos sábios de Jerusalém qual era o lugar do nascimento do Messias anunciado pelas profecias; e, quando souberam que era a cidade de Belém, para lá se encaminharam em seguida, com a mesma determinação com que tinham saído de casa e enfrentado os perigos do caminho.

LEITOR 3. – Foi isso mesmo. E, então, a estrela que tinham visto no Oriente os foi precedendo, até chegar onde estava o Menino, e ali parou. A aparição da estrela os encheu de profundíssima alegria.

TODOS. – É maravilhoso! Deus sempre cumula de alegria os que procuram ser fiéis, especialmente se a fidelidade lhes custa sangue, suor e lágrimas! Deus se lhes mostra com amor e se lhes entrega!

LEITOR 1. – Acho que todos sentimos que hoje, mais uma vez, temos muito que pensar. Quantas coisas não nos sugere o exemplo dos Magos! Que Jesus, Maria e José nos ajudem a ser homens e mulheres que sabem ver e ir. Peçamos a graça, mais preciosa do que todas as jóias do mundo, de viver na presença de Deus e dos homens dizendo sempre: viemos, quer dizer, “estamos fazendo isto ou aquilo e nos comportamos assim por uma razão muito simples: porque vimos, porque vimos a estrela e entendemos qual é a nossa vocação e a nossa missão nesta terra…”

TODOS. – Ó Deus, que revelastes o vosso Filho aos Magos guiando-os pela estrela, concedei aos vossos filhos e filhas que já vos conhecem pela fé, seguir os caminhos que o vosso amor lhes marca, e contemplar-vos um dia face a face no Céu. Por Cristo, nosso Senhor.

Sétimo dia

A ADORAÇÃO DOS MAGOS (Mateus 2, 9b-12)

TODOS. – Senhor, nosso Deus, concedei-nos a vossa graça para que, auxiliados pela intercessão de Nossa Senhora e de São José, possamos preparar- -nos dignamente para acolher, com a alma pura e o coração generoso e sincero, a vinda do vosso Filho, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

LEITOR 1. – Neste sétimo dia da Novena, vamos continuar a olhar para os Magos. Só que hoje os contemplaremos – ou os imaginaremos – na cena da adoração, que o Evangelho descreve assim: Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Muitos pintores famosos deixaram-nos quadros belíssimos dessa cena. Ajoelhados, ou inclinados perante o Menino Jesus, os Magos o adoram, com o olhar extasiado, e lhe oferecem os presentes que trouxeram.

LEITOR 2. – Eu me permitiria observar que, nesta cena, aparece uma palavra ou, por melhor dizer, uma atitude, que merece uma boa reflexão: ADORAR. Creio que é uma das atitudes mais elevadas, mais sadias e mais necessárias para nós, os homens.

TODOS. – É uma coisa maravilhosa! Saber adorar a Deus! Tudo iria muito melhor, em nossa vida e no mundo, se aprendêssemos a adorar a Deus!

LEITOR 1. – Vocês estão dizendo uma grande verdade! Adorar é uma palavra cheia de conteúdo. Significa, em primeiro lugar, reconhecer Deus e dizer-lhe: Tu és o meu Deus e o meu Senhor! Depois, significa admirar com alegria a imensa grandeza, beleza e bondade de Deus. Em terceiro lugar, significa inclinar-se diante dEle com respeito e com obediência de filhos. E, ainda, em quarto lugar, significa fazer da vida um contínuo ato de agradecimento ao Senhor. Muitas coisas, não é?

TODOS. – Mas todas parecem importantes. Não será bom vê-las uma por uma?

LEITOR 1. – Vamos lá, então. Víamos que adorar é, primeiro, reconhecer. Quando dizemos “Tu és o meu Deus!”, estamos reconhecendo: “Eu não sou o meu deus!” Já pensamos nisso? Nenhum de nós comete a tolice de dizer com a boca: “Eu sou Deus”, mas muitos de nós o dizemos com a vida…

LEITOR 2. – Sim. Porque nos dedicamos a adorar-nos a nós mesmos e queremos colocar tudo aos nossos pés. Penso que todos recordamos que, quando o diabo tentou Jesus no deserto e lhe pediu que o adorasse, Jesus o repeliu dizendo: Para trás, Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás.

LEITOR 1. – Mas nós nos adoramos a nós mesmos, e não a Deus, quando pensamos: “Primeiro procuro o que eu quero, obedeço à minha vontade, sirvo o meu interesse, e depois verei se tenho tempo de pensar no que Deus quer”… Ou, então, dizemos: “Na conduta, na moral, no casamento, no namoro, etc., eu digo o que é certo e errado, o que tem importância e o que «não tem nada»; eu determino a minha moral, eu «escolho» a minha religião, e não preciso nem de perguntar a Deus nem de que me falem da lei de Deus”.

TODOS. – Os Magos não quiseram ser deuses: adoraram a Deus!

LEITOR 3. – Vocês não acham que só podemos adorar bem a Deus quando o conhecemos bem? Porque, quando o vamos conhecendo, Ele nos cativa e nos deslumbra com a sua bondade e a sua verdade. Dia após dia, causa-nos mais admiração e desperta mais amor. Sentimos desejos cada vez mais inflamados de compreendê-lo, de vê-lo – procurarei, Senhor, o teu rosto!, dizemos, com o Salmo –, e entendemos que uma alma santa afirmasse: “A adoração é o êxtase do amor”.

LEITOR 2. – Falando em conhecer a Deus, vale a pena lembrar que o Natal fez com que o rosto de Deus, que nós não vemos, se fizesse visível no rosto de Jesus, que é Deus e homem verdadeiro. Esta é uma das grandes alegrias destas Festas santas. São João Evangelista maravilhava-se com isso, e dizia: Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, ele no-lo deu a conhecer. Por isso, quem quiser ver a Deus deve olhar atentamente para Cristo, deve começar por conhecê-lo melhor.

TODOS. – O mesmo Jesus disse: Quem me vê, vê o Pai.

LEITOR 3. – Se o conhecêssemos de verdade, tal como aparece nos Evangelhos, o nosso coração arderia de amor, e brotaria em nós uma sede de estar com Ele tão intensa, que ficaríamos felizes ao pensar nEle, ao sentir-nos perto dEle…, sobretudo ao encontrá-lo intimamente nessa loucura de amor que é – como dizia um grande santo – a Eucaristia!

LEITOR 1. –Adorar, afinal, é amar. E confiar. Quando nos inclinamos para Jesus com um grande amor, confiamos totalmente nEle. Encaramos com plena confiança tudo o que Ele pede, tudo o que Ele manda. O amor faz nascer o desejo de agradar-lhe em tudo e de obedecer-lhe sempre…

TODOS. – Que poucas pessoas entendem que obedecer a Deus, aos seus mandamentos e aos da sua Igreja, é amá-lo!

LEITOR 2. – E, no entanto, deveríamos meditar que Jesus nos disse uma e outra vez que a obediência a Deus é a chave do verdadeiro amor: Se me amais, guardareis os meus mandamentos… Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor. E, falando da Igreja que Ele fundou – a minha Igreja, como Ele a chamava –, dizia aos Apóstolos, aos chefes dessa Igreja: Quem a vós ouve, a mim ouve; quem a vós despreza, é a mim que despreza. Infelizmente, a obediência a Deus e aos representantes de Deus é como uma gata borralheira, que muitos cristãos desprezam… Precisamos resgatá-la…

LEITOR 1. – Vamos agora a uma última reflexão. Conta o Evangelho que os Magos, como ato de reconhecimento e de louvor a Jesus, depois de prostrar-se diante dele em adoração, abriram os seus tesouros, e ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra. Cada presente tinha um significado. Sabemos qual é?

LEITOR 2. – Parece-me que, ao colocarem o ouro aos pés de Jesus, era como se dissessem: “Todo o ouro do mundo, ao lado do meu Deus, de Jesus menino, é pó. Todas as coisas materiais, se não nos levam a Jesus, se não as usamos de acordo com o espírito de Cristo, para louvar e servir a Deus e amar os outros, são lixo, são lama em que nos atolamos”. Só o amor a Deus e ao próximo transforma as coisas materiais, as tarefas materiais, as preocupações corriqueiras, em ouro puro aos olhos de Deus.

TODOS. – E o incenso aos pés de Jesus?

LEITOR 3. – Eu vejo o incenso que se queima e desaparece, enquanto se eleva em nuvens perfumadas, como um símbolo de adoração. Quando, na igreja, se oferece incenso a Deus, é como se todos nós disséssemos: “Não há vida mais bela, não há coração mais belo, que aquele que se queima – que queima a borra do seu egoísmo – e se transforma em perfume oferecido a Deus”.

TODOS. – E a mirra?

LEITOR 3. – Eles põem mirra aos pés de Jesus. Sabemos que a mirra era muito valiosa, mas muito amarga. A Jesus, quando estava no Calvário, ofereceram-lhe uma bebida com mistura de mirra, e a usaram também para embalsamar o seu corpo. Por isso, a mirra sempre foi vista como um anúncio da Paixão. Talvez esse presente significasse, numa antevisão, o agradecimento a Jesus pela infinita manifestação de amor que foi a sua morte na Cruz por nós. Talvez significasse também que o mistério da Cruz não pode estar ausente da vida do cristão, ou seja, que devemos aprender a ofertar a Jesus as nossas dores – aceitando a vontade de Deus – e os nossos sacrifícios voluntários.

LEITOR 2. – Depois de refletir sobre os presentes dos Magos, ocorre-me que o Natal é tempo de presentes. Que bom seria se pensássemos, primeiro, nos presentes que vamos oferecer a Jesus Menino. Muitos oferecem, nestes dias, orações especiais, sacrifícios um pouco mais custosos e, com muito carinho, atos de serviço para aliviar e alegrar pessoas carentes, desempregados, crianças, velhos, doentes…, lembrando-se de que Jesus dizia: Tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, é a mim que o fizestes. Não seria hoje um bom momento para fazer exame de consciência e perguntar-nos: “Eu não poderia fazer mais alguma coisa pelos necessitados neste Natal?”

LEITOR 1. – É uma boa pergunta, agora que terminamos a reflexão deste sétimo dia. Hoje, creio que podemos dizer, como ontem, que os Magos nos deixam a luz de um belo exemplo. Junto de Jesus, eles nos dizem: “Adorar com amor, essa é a atitude certa da criatura humana diante de Deus”. E nos animam a descobrir as riquezas desse espírito de adoração, que nos faz admirar a Deus e extasiar-nos com Ele; que desperta fome de conhecê-lo; que nos move a louvá-lo; que nos anima a obedecer-lhe; e que, por fim, faz nascer na alma ânsias de agradecer o amor que Ele nos tem, oferecendo-lhe os nossos dons. Os Magos, depois de adorar Jesus, voltaram para o seu país inundados de uma imensa alegria. Peçamos a Nossa Senhora e a São José que a adoração de Jesus, neste Natal, também nos deixe impregnados dessa imensa alegria.

TODOS. – Ó Deus, sede a luz dos vossos fiéis e abrasai os seus corações com o esplendor da vossa glória, para adorarem sempre o Salvador e a ele se entregarem com alegria. Por Cristo, nosso Senhor.

Oitavo dia

AS PORTAS DE BELÉM (Lucas 2, 1-7)

TODOS. – Senhor, nosso Deus, concedei-nos a vossa graça para que, auxiliados pela intercessão de Nossa Senhora e de São José, possamos preparar-nos dignamente para acolher, com a alma pura e o coração generoso e sincero, a vinda do vosso Filho, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

LEITOR 1. – Estamos nos aproximando do final dessa nossa preparação para a vinda de Jesus. O Natal está cada vez mais perto. Por isso, hoje já começaremos a olhar para Belém, aonde Maria e José chegaram afinal, buscando pousada, e procuraremos fazer uma reflexão que seja, ao mesmo tempo, um exame de consciência pessoal um pouco mais profundo, como se fosse um pequeno retiro espiritual de preparação para o Natal.

TODOS. – Que bom fazer assim, hoje que a maioria dos cristãos se esquece, infelizmente, de Jesus que vai nascer e só pensa em presentes, comida, bebida e coisas materiais!

LEITOR 2. – Uma coisa que vemos em todos os presépios é que o lugar onde Jesus nasceu é pobre: um estábulo onde se recolhe o gado. Umas vezes, tem a aparência de uma gruta – assim deve ter sido na realidade – e outras, a de um telheiro ou galpão de adobe e tábuas, chão batido e palha.

LEITOR 1. – É assim mesmo, porque o Evangelho diz que Maria e José chegaram a Belém para se recensear, e estando eles ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho primogênito e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o numa manjedoura; porque não havia lugar para eles na estalagem.

TODOS. – Pensar que Maria ia dar à luz e não achou nem uma só casa que a acolhesse!

LEITOR 2. – Todas as portas se fecharam. José foi batendo numa, noutra, também na hospedaria atulhada de viajantes…, e ninguém abriu. Todos disseram que não. Por isso, o nosso Deus teve que nascer no desamparo, num refúgio de animais, e o seu berço foi o presépio, a manjedoura onde o gado come a palha e o feno.

LEITOR 3. – … E uma velha tradição – que se conserva carinhosamente até hoje – diz que o único calor que a Sagrada Família recebeu, na Noite de Natal, foi o bafo quentinho de um burro e de um boi ou uma vaquinha.

LEITOR 1. – Não havia lugar para eles… Todas as PORTAS FECHADAS. Vale a pena meditarmos hoje sobre isso. Há um fato real, e é que Jesus continua a encontrar fechadas as portas de muitos corações. Perguntemo-nos como é que vai encontrar as nossas, quando vier na noite de Natal.

TODOS. – Jesus, que eu não te feche as portas e saiba oferecer-te, neste ano, uma hospedagem carinhosa num coração limpo!

LEITOR 2. – Se me permitem, fazer uma consideração, eu acho que nos pode ajudar, nessa reflexão, perceber que o ferrolho que tranca a porta do coração é sempre um não dito a Deus; assim como a chave de ouro que a abre é sempre um sim, como o que pronunciou Maria Santíssima no dia da Anunciação.

LEITOR 1. – Certo. Por isso, pode ser útil para nós perguntarmo-nos: “Eu digo sim a Deus, ou digo não?” Creio que todos nós poderíamos dirigir-nos a Jesus, neste Natal – hoje mesmo –, com íntima sinceridade, e dizer-lhe: “Jesus, eu te peço perdão porque, muitas vezes, tenho fechado a porta quando Tu batias; tenho passado o ferrolho do meu não”.

LEITOR 3. – Que dor! Cada não a Deus foi um ato de egoísmo nosso, algum tipo de falta de amor. Cada não a Deus é uma escolha que fazemos, colocando-nos a nós na frente e passando Deus para trás. Dentro de cada não, esconde-se algum inimigo do amor…

TODOS – É mesmo. Infelizmente, é um inimigo que se chama pecado… Pecar – que pena! – é sobretudo recusar-se a amar…

LEITOR 1. – E cada recusa concreta tem um nome concreto. Sim. Cada recusa tem algum destes sete nomes, bem conhecidos: orgulho, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça. São os sete grandes ferrolhos que trancam a porta. São os sete pecados capitais.

LEITOR 2. – Com certeza, a soberba, o orgulho, é o pior. Torna-nos convencidos, arrogantes, auto-suficientes, vaidosos. Leva-nos a desculpar e justificar todos os nossos erros e a não aceitar correções ou conselhos de ninguém. Leva-nos a criticar e a pôr as culpas de tudo nos outros. Faz-nos desprezar o modo de ser das outras pessoas. Enclausura- nos dentro de nós mesmos. Incha-nos como um balão…

TODOS. – Meu Deus, como é fácil cair nisso… Tende piedade de nós e livrai- nos deste mal!

LEITOR 3. – Mas há uma chave de ouro que abre essa porta: é a humildade. Por isso, Jesus, o nosso Salvador, o Médico que agora vem curar-nos, começa por dar-nos no Presépio um exemplo de humildade. Sendo Deus, faz-se pequeno, a última das criancinhas deste mundo…

LEITOR 1. – Outras portas foram trancadas pela avareza. A chave de ouro que as abre é a generosidade. A avareza – sabemos bem disso – é aquele egoísmo que nos faz agarrar-nos ao nosso tempo, aos nossos planos, ao nosso dinheiro, aos nossos gostos, que não queremos dar nem compartilhar com os outros. É o pecado do adjetivo possessivo, que fica sendo adjetivo obsessivo: meu, meu, meu…

TODOS. – Meu Deus, também é fácil cair nisso… Tende piedade de nós e livrai- nos deste mal!

LEITOR 3. – Mas Jesus, que é Deus, quis nascer pobre e desprendido, dando tudo e dando-se todo, para assim curar também a nossa avareza. Jesus Menino só diz tu, tu, tu… “É para ti e para a tua salvação que eu vim ao mundo”…

LEITOR 1. – A luxúria é outro pecado capital. Consiste na procura desordenada dos prazeres do sexo egoísta. E a chave de ouro que abre essa porta é a castidade, ou seja, a pureza do coração, dos olhos, da imaginação e do corpo; é o amor esponsal puro, belo, ardente e fiel: o amor que encontra o seu sentido pleno no sacramento do Matrimônio, a aliança santa que faz – com a bênção de Deus – de duas vidas uma só. E o ponto alto da castidade é – para aqueles a quem Nosso Senhor assim o pede – o amor total que faz dedicar alma, coração e corpo – a vida inteira, como Maria – ao serviço de Deus e dos irmãos, no santo celibato.

TODOS. – Senhor, tende piedade das nossas fraquezas, e fazei de nós testemunhas da pureza cristã no meio de um mundo dominado pela sensualidade doentia e descontrolada.

LEITOR 3. – Que alegria pensar que Jesus quis vir ao mundo através da pureza cristalina de uma Mãe, que é a Santíssima Virgem Maria. E quis ser cuidado por José, varão castíssimo e fiel.

LEITOR 1. – Prossigamos vendo – sempre em clima de exame de consciência – outro pecado capital: a ira. A chave de ouro que escancara as portas que a ira trancou é a mansidão. Como faz mal a ira! Que mal se vive com uma pessoa irritada, violenta, agressiva ou carrancuda, que está sempre de mau humor!

LEITOR 2. – No Natal vemos que a Sagrada Família foi desprezada, ficou abandonada no meio da rua, e não se irritou com ninguém. Neles tudo é paz. E Jesus, já desde o berço, diz, mesmo sem palavras: Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis repouso para as vossas almas. Que paz há em Belém!

TODOS. – Jesus, manso e humilde de coração: dai-nos um coração semelhante ao vosso!

LEITOR 1. – E a temperança? Essa virtude é a chave de ouro para abrir a porta que a gula fechou. A gula! Os nossos abusos e desordens no comer, na bebida, na diversão, na televisão, na Internet… E que dizer das drogas, que começam a tecer a sua teia de aranha peçonhenta com a desculpa de que é “só para experimentar”…? Depois, livrar-se da teia é uma luta gigantesca…

LEITOR 2. – Jesus vive, desde o seu nascimento, uma vida sóbria, discreta, modesta, com uma contenção serena. Ele é o contrário de um consumista e de um hedonista… Estas duas atitudes, tão comuns nos dias de hoje, são verdadeiras correntes de aço que aprisionam a mente e o coração.

TODOS. – Jesus, protegei-nos, a nós e às nossas famílias, das desordens da intemperança, que destroem tantas vidas e dividem tantos corações!

LEITOR 1. – E a inveja? Eis outro pecado capital que tranca os corações. Deixa-os crispados, despeja neles fel e vinagre, desperta ódios e maledicências… Mas a caridade é a chave de ouro, e consiste em querer o bem de todos, colaborar positivamente para o bem de todos, quer sejam amigos, quer inimigos…

LEITOR 3. – Ah, sim! Como Jesus, que ama até os que o torturam, o despojam de tudo e lhe tiram a vida, e reza com carinho por eles, e lhes estende a mão para que se salvem.

TODOS. – Jesus, quando aprenderemos a vos agradecer tudo o que nos dais e a fechar os olhos e o coração para a inveja e o rancor?

LEITOR 1. – E, por fim, resta o sétimo ferrolho, o da preguiça, que não é um pecado tão inofensivo como parece. Quantas vezes os não que mais nos prejudicam e fazem mal aos outros procedem da preguiça, da falta de vontade de esforçar-nos, da falta de vontade de lutar, de ser responsáveis, de ser constantes, de sacrificar-nos. Quantas omissões sérias não há na nossa vida! Pois bem, a chave de ouro para abrir essa porta é a diligência, que significa o empenho por cumprir todos os nossos deveres com prontidão, acabamento e amor.

TODOS. – Bom Jesus, Deus do Amor! Dai-nos o amor ao dever e o desejo de perfeição no trabalho, mesmo que seja cansativo e monótono.

LEITOR 3. – Como Jesus, que fez tudo bem, e jamais se poupou!

LEITOR 1. – Neste Natal, nós queremos abrir todas essas portas, não é verdade? Mas temos que entender que a única mão capaz de pegar nas chaves de ouro e de pô-las na fechadura é o amor. E, para nós, que somos pecadores, esse amor deve tomar muitas vezes – especialmente nesta preparação do Natal – a forma da contrição, que é a dor de não termos sabido amar a Deus como devíamos; é o arrependimento que leva à penitência, à reconciliação com Deus, à confissão. Quantas vezes uma boa confissão feita para preparar o Natal não tem sido o início de uma vida nova, de um novo nascimento. Peçamos a Jesus Menino que nos conceda a graça dessa mudança; que nos ajude a abrir as portas, mas a escancará-las bem, com generosidade, sem deixá-las presas com a correntinha de segurança, que só permite uma pequena fresta por onde Jesus não pode passar. Vamos dizer a Cristo: “Senhor, a porta está aberta. Podes entrar!”

TODOS. – Ó Deus todo-poderoso, concedei aos que gememos na antiga escravidão sob o jugo do pecado, a graça de confessar as nossas culpas e de sermos delas por Vós libertados, para assim preparar-nos com pureza para o Natal do vosso Filho que tão ansiosamente esperamos. Por Cristo, nosso Senhor.

Nono dia

JESUS NASCE EM BELÉM (Lucas 2, 1-20; João 1, 1-18)

TODOS. – Senhor, nosso Deus, concedei-nos a vossa graça para que, auxiliados pela intercessão de Nossa Senhora e de São José, possamos preparar- -nos dignamente para acolher, com a alma pura e o coração generoso e sincero, a vinda do vosso Filho, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

LEITOR 1. – Hoje é o último dia da nossa preparação para o Natal. Que vamos fazer? Voltar os olhos e o coração, inteiramente, intensamente, para a figura de Jesus Menino que, envolto nos paninhos que a Mãe trouxe de Nazaré, repousa sobre as palhas do Presépio. Não sentem desejos de olhar para Ele e dizer-lhe: Meu Senhor e meu Deus!? Porque esse Menino que vemos na manjedoura é Deus feito homem, que vem ao nosso encontro para nos salvar. Tanto amou Deus o mundo – dizia Jesus a Nicodemos – que lhe deu seu Filho único… Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.

TODOS. – Meu Senhor e meu Deus! Vós sois o Amor!

LEITOR 3. – Deixem-me proclamar bem alto que este é mesmo o coração da nossa fé cristã! A certeza de que Deus é Amor e nos quer com loucura. Essa é a certeza que fazia o Apóstolo São João exclamar: Deus é amor! Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado o seu Filho único, para que vivamos por Ele.

TODOS. – É fantástico! O amor de Deus invisível, no Natal se faz visível, fica perto de nós, ao nosso alcance. Está aqui, junto de nós, no Presépio!

LEITOR 1. – Vocês todos se recordam de que São João se extasiava com o Natal, com a vinda do Verbo encarnado, e dizia: Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou. E, cheio de júbilo por tê-lo conhecido, por ter convivido com Ele e ter experimentado o seu carinho, exclamava: Nós o vimos com os nossos olhos, nós o contemplamos, nós o ouvimos, nós o tocamos com as mãos…!

TODOS. – E também dizia, alto e bom som: Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor.

LEITOR 2. – Jesus é Deus feito homem, que nos ama com toda a força do seu Amor divino e humano. É um amor grande e verdadeiro, que tem os dois sinais claros de autenticidade. Primeiro, é uma doação plena. Amor que não se dá não é amor. Mas não é um dar-se qualquer, é uma doação que visa o nosso bem. E aí está o segundo sinal de autenticidade: todo o verdadeiro amor, ao dar-se, quer bem, ou seja, dá-se procurando o bem da pessoa amada.

LEITOR 3. – E qual é o bem que Jesus nos traz? Será tão bom lembrá-lo hoje!

LEITOR 1. – Todos os bens! A vida verdadeira, e vida eterna! A felicidade que não poderá morrer! Mas, nessa infinita riqueza de bens divinos, podemos distinguir três grandes tesouros. O tesouro da VERDADE, que Ele nos ensina; o tesouro do CAMINHO do Céu, que Ele abre e nos mostra; e o tesouro da VIDA nova dos filhos de Deus, que brota de seu Coração trespassado na Cruz. Tudo isso resumiu-o Jesus numa só frase: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Será que captamos a importância dessas palavras?

TODOS. – Jesus Menino, neste Natal, ensina-nos a compreender que só Tu és a verdade, só Tu ensinas o bom caminho, só Tu nos trazes a autêntica vida.

LEITOR 1. – Consideremos, então, que Jesus nos traz, primeiro, a luz da Verdade. Vem-me à cabeça agora o pai de São João Batista, Zacarias – o marido de Santa Isabel –, que profetizou o nascimento de Jesus de uma maneira muito significativa. Dizia que a ternura e misericórdia do nosso Deus nos vai trazer do alto a visita do Sol nascente, que há de iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz. Desde antes de nascer, Jesus já é anunciado como o Sol, como a Luz, a Luz da Verdade, que nos guiará para a paz, para a paz terrena e eterna.

LEITOR 2. – Não é isso também o que diz São João no prólogo do seu Evangelho? Ele era a verdadeira Luz, que vindo ao mundo ilumina todo homem… A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.

TODOS. – Que pena se nós não a recebêssemos, que pena se nós não a compreendêssemos!

LEITOR 1. – Porque a Verdade que Ele nos traz não é uma verdade qualquer: é a única verdade-verdadeira, a única verdade que salva: a verdade sobre Deus, sobre o mundo e sobre o homem. Só ela pode dar sentido à nossa vida.

LEITOR 2. – Eu diria que a Verdade que Ele nos ensina é como a semente na mão do semeador. Pode cair nas pedras ou entre espinhos e morrer; ou pode cair numa boa terra e dar fruto. Depende de nós.

LEITOR 3. – Se procurássemos acolher essa Verdade com carinho, seria uma maravilha, seríamos como o construtor de que Jesus falava: Aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. Nem a chuva, nem o vento, nem as tormentas conseguiriam derrubá-la. Porque essa verdade nos daria – como diz a Bíblia – um amor forte como a morte.

TODOS. – Concedei-nos, Senhor, que o nosso coração seja terra boa, onde a semente da Palavra de Deus possa enraizar-se, crescer e dar muito fruto.

LEITOR 1. – Continuemos a olhar para Jesus Menino. Ele fala-nos algo mais. Diz- nos, como víamos: Eu sou o Caminho. Toda a sua vida é exemplo e caminho para nós, é como a sinalização da estrada que conduz a Deus, o roteiro que devemos seguir para nos realizarmos nesta terra e na eternidade.

LEITOR 2. – É por isso que Jesus diz, muitas vezes: Segue-me!… E nos compara às ovelhas que Ele, o Bom Pastor, conduz, entre brumas e perigos, até o lugar seguro. Ele é o Bom Pastor que caminha adiante delas, adiante de nós…

TODOS. – Jesus, fazei com que nos decidamos a ler e meditar todos os dias o Evangelho, para conhecer a vossa vida e seguir o vosso exemplo.

LEITOR 3. – O exemplo de Cristo é o Caminho do Amor. Assim falava São Paulo: Caminhai no amor, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós se entregou…

LEITOR 2. – E como o Amor não é fumaça, nem é uma teoria, nem é só uma paixão que arde e se evapora, tem que se manifestar na prática das virtudes. Por isso, aquele que ama esforça-se por ser – com a graça de Deus – generoso, compreensivo, dedicado, paciente; e também por ser constante, por ser forte na adversidade; por ser caridoso, gentil, prestativo; por ser justo, discreto…; por dar a Deus cada dia mais amor, e aos irmãos também. Em suma, por levar a sério a prática das virtudes.

LEITOR 3. – É verdade. Quem ama, faz, age, pratica, não fica só pensando e sentindo. Vejam que traço do amor verdadeiro nos dá São João, o grande intérprete do Amor de Cristo: Meus filhinhos – diz –, não amemos com palavras nem com a língua, mas por atos e em verdade. E é claro que isso se aplica tanto ao amor a Deus como ao amor ao próximo.

TODOS. – Nunca esqueçamos o que também nos diz São João: Temos de Deus este mandamento: quem ama a Deus, ame também a seu irmão. Porque aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê.

LEITOR 1. – Com o olhar sempre fixo no Menino, pensemos na terceira coisa que Ele nos diz: Eu sou a Vida. Jesus é Deus que se faz homem, para que o homem, de uma maneira que não há palavras para expressar, se faça “Deus”. É um pensamento que deixava os santos pasmados, inebriados de alegria e agradecimento. Significa que Jesus nos traz a graça divina, que nos une intimamente a Ele e nos comunica a sua própria Vida: Da sua plenitude – diz São João – todos nós recebemos, e graça sobre graça. Pois a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.

LEITOR 2. – Como conforta pensar que a graça divina, que recebemos pela primeira vez no santo Batismo, nos transforma, comunicando-nos uma vida nova, que é – nada mais e nada menos – uma participação na própria vida de Deus. O Novo Testamento traz expressões belíssimas desse mistério da graça na alma. Por exemplo, São Pedro diz que nos faz participantes da natureza divina. São João afirma que a graça – que vem sempre à alma juntamente com o Espírito Santo – nos dá o poder de nos tornarmos filhos de Deus. E São Paulo declara, com grande alegria, que, com a graça do Espírito Santo, não recebemos um espírito de escravidão, para vivermos ainda no temor, mas recebemos o espírito de adoção como filhos, pelo qual clamamos: Abbá, Pai! Papai!

TODOS. – Sim! Jesus, o nosso Redentor, é a fonte de toda a graça. Aquele que tiver sede, venha a mim e beba, dizia… E nos prometia derramar sem medida na nossa alma o Espírito Santo, o Amor de Deus em pessoa, que vem para nos santificar.

LEITOR 1. – Na verdade, Jesus é o manancial de onde brotam as sete fontes pelas quais nos vem principalmente a graça do Espírito Santo: os sete Sacramentos. Cada um deles nos une a Deus (e aos irmãos) de uma maneira própria. O Batismo transforma-nos em filhos de Deus; a Crisma dá-nos a força do Espírito Santo para sermos fiéis soldados de Cristo e apóstolos; a Reconciliação ou Confissão cura a alma doente e ressuscita a que está morta pelo pecado; a Eucaristia une-nos intimamente ao Sacrifício redentor de Jesus, que se faz Alimento, Vida da nossa alma e companhia de Amigo no Sacrário; o sacramento da Ordem faz com que os que recebem a ordenação sacerdotal sejam instrumentos vivos de Cristo sacerdote, ajudados pelo ministério sagrado dos diáconos; o Matrimônio implanta a poderosa semente da graça e do amor de Deus no amor dos esposos e dos pais; e a Unção dos Enfermos é a mão carinhosa de Jesus, que nos ergue da doença, ou – quando é o caso – nos encaminha definitivamente para o Céu.

LEITOR 2. – E, assim, os sete Sacramentos, juntamente com as virtudes e com a força poderosa da oração – que é a respiração vital da alma do cristão – vão-nos identificando com Cristo, vão-nos transformando espiritualmente nEle, fazem com que pensemos como Cristo, sintamos como Cristo, amemos como Cristo, vivamos como Cristo. Esta é a vida dos cristãos, a vida dos filhos de Deus que se identificam com Jesus.

TODOS. – Que este Natal seja, para nós, um novo nascimento, uma nova descoberta da grandeza e da beleza de sermos filhos de Deus!

LEITOR 1. – Não acham que agora é um bom momento para nos perguntarmos, diante de Jesus Menino: “Eu vivo como filho de Deus? A minha oração é oração de filho, cheia do abandono e da confiança dos filhos muito amados? Posso dizer que o meu temor é filial, ou seja, que não temo que Deus me abandone ou me castigue, mas temo só magoá-lo, ofendê-lo? Cumpro os mandamentos com carinho de filho, ou com a má vontade do escravo forçado? Tenho delicadezas de afeto filial para com Deus, para com Nossa Senhora…? Enfim, eu poderia pôr o adjetivo filial em tudo o que penso, sinto e faço?…

TODOS – Seria tão bom que, neste ano, o Natal nos envolvesse totalmente no Amor de Deus, tal como uma grande luz envolveu os pastores, na noite em que Jesus nasceu! A glória do Senhor refulgiu ao redor deles…

LEITOR 1. – Se quisermos, será assim. É um desejo muito bom para pôr aos pés de Jesus, agora que vamos encerrar a nossa Novena. Em cada Natal, Deus chega muito perto de nós. Em cada Natal, Jesus – ultrapassando as barreiras do tempo – leva-nos para junto do Presépio. Em cada Natal, Maria, a Mãe, oferece-nos o Menino, sob o olhar sorridente de José. Em cada Natal, Jesus também sorri para nós, e nos pergunta: “Será agora? Será desta vez…? Confia – diz-nos –, eu estou aqui para te ajudar”. Sim, em cada Natal, uma grande luz brilha para nós. Em cada Natal, há uma esperança que desponta. Cada Natal, em suma, pode ser para nós um novo nascimento. É isso que agora, concluindo a Novena, pedimos com muita fé a Jesus, pela intercessão de Maria, sua Mãe e Mãe nossa, e de São José. Que assim seja! Que Deus nos conceda a todos um santo e feliz Natal!

TODOS.– Ó Deus onipotente, agora que a nova luz do vosso Verbo Encarnado invade o nosso coração, fazei que, neste Natal, manifestemos alegremente nas nossas ações o que brilha pela fé e pelo amor nas nossas almas. Por Cristo, nosso Senhor.

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Esta novena foi composta pelo padre Francisco Faus e publicada em seu site: https://padrefaus.org/arquivo-pe-francisco/.

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