Depois de alguns minutos de inspeção estávamos de volta, junto à fogueira. Carlos e Francisco voltaram rindo.
“Por que se riem, rapazes?”, inquiriu o professor.
“Carlos de novo quis dizer um chiste, e desta vez, por acaso, teve espírito.”
“Conta! Também queremos rir.”
“Ora, só me ocorreu que é interessante que o céu estrelado atrai exatamente tipos humanos opostos: o poeta e o matemático. O lírico o assalta com suaves ritmos; o astrônomo, ao contrário, com rígidos logaritmos.”
“Grandioso!”, exclamou Francisco rindo, “vou contar isso amanhã aos companheiros. Mas, senhor doutor, eu me lembrei de outra coisa. Refleti, como devem ser quentes as estrelas para brilharem tanto.”
“Que calor têm? Há uns astros apagados, gelados por frio glacial, e outros que são fogaréus chamejantes.”
“Por exemplo, o Sol. Deve ser quente lá!”
“Ouçam, rapazes,” respondeu o mestre, “a temperatura da camada externa do Sol, na superfície, conta ‘apenas’ 4.OOO graus, pois é um tanto arrefecida pelo ambiente frio… No interior? A respeito, podemos levantar somente hipóteses, em vista de erupções vulcânicas que, pela crosta solar fendida, se arremessam a algumas centenas de milhares de quilômetros de altura. Essas ‘protuberâncias’ flamejam com seu fogo incrível espaço a dentro. Já foram observadas erupções de 5OO.OOO km de altura.”
“Donde tem o Sol esse horrendo calor?”, perguntou Carlos.
“Olhe, você me faz uma pergunta, que ninguém sabe responder. Procurou-se explicá-lo pela contração da massa solar, por irradiações de urânio, pela temperatura que proviria da compressão dos átomos; na realidade ninguém o sabe. O padre Secchi e Ericson calculam a temperatura interna do Sol em 5 a 6 milhões de graus centígrados! Quantos graus tivemos hoje ao meio dia, quando vocês todos, ofegantes e abatidos, procuravam a sombra!”
“35 graus C.”
“Vejam, rapazes, qual deve ser o poder capaz de acender um fogo como o que chameja no Sol, quem sabe há quantos milhões de anos! E sabem que se julga o Sírio 3O vezes mais quente do que o Sol? Carlos, aqui tenho o livro dos Salmos, leia o início do salmo 18°”
Carlos aproximou-se do fogo e leu baixinho:
“Os céus narram a glória de Deus e o universo anuncia a obra de suas mãos. O dia conta-o a outro e a noite o comunica à seguinte”.
“São realmente coisas interessantes”, observou Carlos pensativo. “Logo que chegar a casa, vou fazer um pequeno esquema do sistema estrelar”.
“Ora, amiguinho”, disse o professor, “temo que terá muita dificuldade com as proporções! Se tomaria Terra como simples ponto, girando num círculo de um centímetro (que será a órbita da Terra), sabe onde teria de colocar a Alfa do Centauro? Mais ou menos numa distância de 1,5 km. Sírio, aquela estrela brilhante, irá a 3 km. Canopus, a estrela mais brilhante do céu austral, deveria estar na distância de 16O km. Tem você agora uma idéia das enormes dimensões de que falamos? Percorremos em carreira vertiginosa as imensas distâncias do universo. Sim, rapazes, para onde quer que olhemos, sempre nossa fraca inteligência se demonstra incapaz e deve dobrar-se humilde ante a atividade de um Poder misterioso e sublime. O menor grão de areia, como os gigantescos sóis, são modelados e regulados por essa força como rodinhas dum relógio, mantidos em andamento regular e equilibrado. Pois, não devemos esquecer que todo esse grandioso universo não está parado, imóvel, mas se acha num movimento regular e harmônico. Os corpos celestes giram e movem-se em tumultuosa dança ao redor de si mesmos, e uns à volta dos outros. Todo esse entontecedor movimento pode ser imaginado somente com problemas matemáticos, dos quais o espírito humano nem ousa aproximar-se. Nem mesmo o matemático mais ardiloso seria capaz de determinar a órbita de apenas três desses corpos… Entanto, aos milhões volteiam os astros e, além disso, com velocidades fora de toda a concepção humana. A terra precipita-se ao redor do sol com a velocidade de 3O km por segundo. Aldebarã com 49, Pollux com 53, Arcturo com 674 km por segundo! Comparado com isso, o vôo duma bala de canhão é simples arrastar de lesma!”
“Como é, então, que nada disso sentimos?”
“Isso é também muito interessante. Tudo está tranqüilo… Folha alguma se move, nenhuma hastezinha se mexe, e, contudo, precipitamo-nos pelo universo. Onde está o piloto? Quem é o comandante? Quem é o condutor supremo? Quem resolveu esses problemas, esses cálculos esmagadores? Só podemos pensar na resposta do célebre astrônomo F. W. Herschel: Únicamente a presença dum Espírito infinitamente sábio resolve as dificuldades”. (Familiar Lectures 456).
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(TOTH Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 13-16)