Vamos mais adiante.
“Creio apenas o que posso perceber com meus cinco sentidos!”
Todavia, não poderíamos ter dez sentidos em vez dos cinco que temos agora? Por que não? Deus bem nos poderia ter criado assim. E então, quanta coisa seria possível ver! Que maravilhosa magnificência deste nosso mundo! Ora, há animais que possuem, além dos nossos cinco sentidos, ainda outros, o que verificamos diariamente em casos de fazer pasmar.
Um morcego foi privado da vista e solto numa sala, atravessada, a torto e a direito, por fios, munidos de campainhas. O morcego cegado voou durante horas, para cá e para lá, para cima e para baixo, sem que tocasse em um único fio. Um morcego sem vista! Com que percebeu por onde devia voar? Por meio dum sentido de que não temos idéia. Sim, isto nos faz embasbacar!
Consideremos outro exemplo. Na Bélgica, criam-se pombos correio em grande quantidade… Certa vez, alguns foram levados de Bruxelas para a Espanha e lá mantidos em gaiolas durante cinco anos. Depois dos cinco anos foram soltos, e algumas horas após, imaginem a distância, uma parte chegava à casa do criador. Como puderam achar o caminho para casa, passado tanto tempo, por montes e vales, numa distância de várias centenas de milhas? Também eles foram guiados por um sentido que a nós falta por completo.
Um exemplo mais recente. Uma tartaruga foi extraída do oceano Pacífico e jogada ao Mar da Mancha, depois de ter o dorso marcado com um ferro em brasa. Notem bem a distância entre os dois pontos! Que aconteceu? Três anos após, a mesma tartaruga foi de novo pescada no mesmo local que da primeira vez. Como chegou lá? No tenebroso fundo do oceano percorrer um trajeto de 4000 horas, e encontrar de novo seu antigo local… Que sentido a conduziu? Mais uma vez, falta a resposta; nosso latim acabou.
Não é apenas a experiência diária que nos prova a possibilidade de mais sentidos do que possuímos, mas a teoria no-lo faz ver também. Temos conhecimento da existência de muitas coisas, sem que possuamos um sentido para as perceber. Por exemplo, falta-nos um sentido térmico que nos faça sentir as diferentes espécies de calor, suas alterações e delicadas graduações.
O calor é certo número, de vibrações, a cor também. Com o auxílio da cor o homem criou uma grandiosa arte, porque sua vista, a vista normal de homem, é tão sensível que é capaz de perceber as diferentes graduações e variações da cor. Certos olhos são afetados de daltonismo, uma anormalidade de que não lhes permite distinguir as diferentes cores; percebem apenas que é mais clara ou mais escura. A sensação de calor e em nós tão limitada que, podemos dizer, somos sujeitos à “cegueira térmica”, isto é, percebemos unicamente que é mais quente ou mais frio. Não zombem, embora o pensamento seja fantasista: que pena que o Criador não nos tenha dotado de um sentido térmico. Se tivéssemos para a temperatura um órgão como o temos para as cores, existiria, não apenas a arte da pintura, mas também uma grandiosa “arte térmica” com maravilhosas sensações e impressões, que nem nós podemos imaginar.
Negou-nos Deus igualmente um sentido para a eletricidade. Uma multidão de estações de rádio enviam a cada minuto diferentes ondas através do espaço e delas nada sentimos. De todas as partes do mundo procedem ondas elétricas, fervilhando nos ao redor ininterruptamente, sem que as percebamos, pois carecemos do sentido elétrico.
Agora ninguém pode dizer:
“Creio apenas aquilo que posso ver com meus olhos e ouvir com meus ouvidos.”
“E, pois, acreditamos que nesta sala pululam, não somente monstros no ar, como já disse, mas que a atmosfera está cheia de música e de discursos. Aqui um belo canto italiano de Roma, ali o discurso do primeiro ministro inglês de Londres, música de Paris, etc.”
Tudo existe realmente aqui e quem sabe quantos outros discursos nas diversas línguas, quanta música, canções, etc., nos circundam! Um mundo gigantesco permanece oculto para nós, oculto porque não o vemos nem ouvimos. Acaso, não existiria ele porque é oculto para nós? Existe e é verdadeira realidade pois basta ligar o rádio para convencer-me de que aí está.
“E sem ele?”
“Sem o rádio não ouço nada disso, nada sinto, nem mesmo posso distinguir se no ar está eletricidade positiva ou negativa: Deus não nos dotou de sentido para a eletricidade.”
“Oh, que bom se Deus nos tivesse criado com olhos de microscópio e ouvidos de rádio! Quanta coisa poderíamos então ver e ouvir!”
Bem, não precisamos lastimar-nos porque não possuímos tal-vista e ouvidos. Antes agradeçamos a Deus não nos ter dado sentidos mais apurados. Era só o que faltava! Todo o mundo havia de transformar-se em manicômio, a vida humana tornar-se-ia uma impossibilidade. Se tivéssemos de ver, ouvir, sentir, perceber tudo que acontece no mundo!… Todas as ondas de rádio que percorrem o espaço…, as modificações magnéticas do mundo…, os milhões de bacilos…! Basta perguntar a um homem nervoso, ultrassensível, que tormentos lhe causam o calor, a chuva, o vento, mudanças de pressão atmosférica que ele sente de antemão. Teria você coragem de beber da água cristalina, se nela pudesse ver os monstros que ali vivem? Bilhões de bactérias se acham nos delicados flocos de neve e no ar fresco da floresta — como é bom não vermos nada disso!
Considerem, pois, meus amigos, quão infundada é a expressão:
“Creio somente naquilo que vejo e compreendo.”
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(TOTH, Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 162-165)