“Ai! Depressa! Onde está o amoníaco?!”
Jorge era que cuidava da farmácia portátil. Francisco, que soltara tais gritos, tivera a desgraça de ser picado por uma abelhinha, justamente na ponta do nariz. Por isso, aquele barulho infernal. De nariz inchado saltava e pulava, enquanto segurava na mão o atrevido inseto morto.
“Veja só, que animal estúpido é a abelha, enquanto age tão inteligentemente em outras coisas”, começou o professor, quando amoníaco tinha aliviado um pouco as dores do rapaz. “Tola foi ela, quando lhe aplicou a ferroada, não sabia que o ferrão havia de quebrar e, com isso, estava condenada à morte. Sabem que a mesma abelha, em outros assuntos, por exemplo, na alta matemática, é mais versada do que muito bacharel?”
“Na matemática? A abelha e matemática? Como pode rimar isso?”
“Sentem-se, e ouçam”
Os rapazes alojaram-se curiosos, a volta do mestre.
“Já conhecem os favos que a abelha constrói com solicitude. É compreensível, que ela procure uma fórmula, que, com o menor dispêndio de forças e material, comporte o máximo de mel.
Para esse fim o que melhor corresponde é o prisma hexagonal.
Entanto, qual deve ser a medida dos ângulos sólidos das faces? Aí está uma grande pergunta. Réaumur mediu-os e achou que, em cada célula, os ângulos obtusos mediam 1O9° 28’ e os ângulos agudos 7O° 32’.
Réaumur, porém, quis resolver também teoricamente o problema e formulou-o assim: Dado um prisma hexagonal, qual deve ser a medida dos ângulos sólidos das faces, para que o vaso tenha o máximo de volume, com o mínimo de material? Os complicados cálculos deram por resultado; ângulos obtusos, 1O9° 26’; ângulos agudos, 7O° 347*
‘‘Interessante! As abelhas enganaram-se apenas por 2 minutos”, comentou Jorge.
“Realmente, é assombroso! Aquilo que os matemáticos calculam com grande esforço mental, mercê do auxílio de transferidor, logaritmos, etc., as abelhinhas o resolvem maravilhosamente na colmeia escura e superlotada! Não é só admirável que o consigam, mas que o façam muito melhor do que os próprios sábios. Por que disse eu ‘muito melhor’? Porque a história não acabou. Agora vem o melhor.
Certa vez um navio naufragou, ao bater em escolhos. O comandante foi chamado a Juízo. Pois tinha a bordo todos os instrumentos astronômicos e a tábua de logaritmos; por que não calculou a rota do vapor? Ora, o comandante defendia-se, alegando ter feito exatamente todos os cálculos, embora a pesar disso tivesse acontecido o desastre. Sucedeu que o cálculo dera uma longitude errada, o que ocasionara o naufrágio. — Fizeram de novo os cálculos. Tudo certo, mas o resultado não estava de acordo com a posição do navio. Finalmente deram com a causa, a tábua de logaritmos continha um erro — E agora o sensacional! Sanado o erro dos logaritmos, calculou-se de novo o valor dos ângulos dos favos. Resultado?! Os ângulos obtusos, 1O9° 28’; os agudos, 7O° 32’! Quer dizer que os ângulos devem ter a medida, tal qual a abelha os constrói! Portanto, o, inseto não se enganou, e sim os graves matemáticos! Ao verificá-lo, é como se um raio da Sabedoria Divina nos iluminasse…
“Eu não sabia que a abelha fosse animal tão inteligente”, comentou alguém.
“Não é a abelha que é inteligente”, respondeu o professor, “nada sabe de sua inteligência; o sábio é quem deu ao bichinho esse instinto. Que infinita a sabedoria do Criador que proveu a abelhinha, e todos os seres, da capacidade e dos conhecimentos que lhe são necessários à vida!
Pois vejam: a abelha, quer queira, quer não, deve construir a célula hexagonal. Outra forma não conhece, logo não é inteligente. A andorinha, ainda hoje, sabe construir seu ninho somente naquela forma milenar, antiquíssima. A aranha tece agora ainda a antiga teia, o que demonstra não ter ela inventado essa obra fina e grandiosa, mas que é apenas um operário do Criador. Ela tecerá sua teia mesmo dentro duma caixa de vidro, embora devesse saber, se tivesse inteligência, que lá em vão esperará pelas moscas. A galinha esgaravata afanosamente o rochedo, onde não poderá encontrar nem grãos nem vermes”.
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(TOTH, Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 57-59)