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O momento da Graça

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João 4, 48-

Ora havia em Cafarnaúm um funcionário real que tinha o filho doente. 47Quando ouviu dizer que Jesus vinha da Judeia para a Galileia, foi ter com Ele e pediu-lhe que descesse até lá para lhe curar o filho, que estava a morrer.

48Então Jesus disse-lhe: «Se não virdes sinais extraordinários e prodígios, não acreditais.» 49Respondeu-lhe o funcionário real: «Senhor, desce até lá, antes que o meu filho morra.»

50Disse-lhe Jesus: «Vai, que o teu filho está salvo.» O homem acreditou nas palavras que Jesus lhe disse e pôs-se a caminho. 51Enquanto ia descendo, os criados vieram ao seu encontro, dizendo: «O teu filho está salvo.» 52Perguntou-lhes, então, a que horas ele se tinha sentido melhor. Responderam: «A febre deixou-o há pouco, depois do meio-dia.» 53O pai viu, então, que tinha sido exatamente àquela hora que Jesus lhe dissera: «O teu filho está salvo». E acreditou ele e todos os da sua casa.

Meditação para o Vigésimo Domingo depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre o Evangelho do dia, e aprenderemos:

1.° A aproveitar-nos do momento da graça;

2.° A aproveitar-nos até das demoras da graça, depois das nossas deprecações.

— Tomaremos a resolução:

1.° De nunca resistirmos às inspirações da graça, e de nos deixarmos conduzir em todas as coisas pelo Espírito Santo;

2.° Em vez de esmorecer, quando a graça não cede imediatamente às nossas súplicas, de perseverarmos nelas com confiança e maior fervor.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salmista:

“Eu ouvirei o que é que fala o Senhor meu Deus dentro de mim” – Aud am quid loquatur in me Dominus Deus(Sl 84, 9)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor dando-nos no Evangelho dois ensinos da maior importância sobre o uso que devemos fazer da sua graça. Bendigamo-lO pelas luzes que se digna comunicar-nos para o governo da nossa vida, e imploremos-Lhe a graça de nos utilizarmos delas.

PRIMEIRO PONTO

Devemos aproveitar-nos do momento da Graça

Demonstram-no-lo três razões:

1.° O momento da graça, depois de passar, muitas vezes não volta. É o que nos ensina o Evangelho deste dia, com o exemplo desse regulo de Galileia, cujo filho estava gravemente doente. Apenas este regulo soube a chegada de Jesus Cristo a Galileia, vai ter com Ele. Se não se tivesse aproveitado da ida do Salvador a Galileia, nunca talvez O teria visto e conhecido. Deus liga as suas graças a tempos, a lugares, a objetos, a um conjunto de circunstâncias que raras vezes se tornam a encontrar. Não aproveitar então a graça, é correr o risco de não mais a possuir.

2.° O momento favorável da graça decide muitas vezes da salvação. Com efeito, o filho do regulo do nosso Evangelho teria morrido, se não se tivesse aproveitado da vinda de Jesus Cristo à Galileia. Porque é que, há tanto tempo, permanecemos na tibieza, ou num estado ainda pior? Não é porque deixamos passar, sem os aproveitar, alguns momentos de graças decisivos, como a graça de um retiro espiritual ou de uma missão, certas inspirações, certos remorsos?

3.° Quando nos aproveitamos do momento de uma graça, Deus concede-nos outras e maiores, que não esperávamos. O regulo do nosso Evangelho estava longe de pensar em obter a sua conversão e a de sua família; todavia Jesus Cristo concede-lh’a ao mesmo tempo que lhe cura o filho. Ele creu e toda a sua família, diz o Evangelho. Admiremos esta bondade do Salvador, e agradeçamos-Lhe por tantas vezes, quando nos aproveitamos das suas graças, nos ter concedido logo outras. Consideremos, de outro lado, que Deus nos concede graças a todos os instantes. Temo-las recebido todos os dias com abundância; e não obstante somos tão pobres, tão fracos, tão miseráveis! Deixamos, portanto, passar os momentos da graça. Temamos esta desgraça (1), e proponhamo-nos de Lhe ser mais fiéis para o futuro.

SEGUNDO PONTO

Como havemos de portar-nos nas demoras da graça depois das nossas deprecações

Se a graça nos previne muitas vezes, também Deus muitas vezes a retarda e não a concede logo que lh’a imploramos. Então devemos sofrer com paciência estas demoras, nos diz o Sábio (2). Deus prometeu-nos o seu socorro, e ama-nos. Portanto, se algumas vezes, diferindo ouvir-nos, parece desprezar-nos, é com intuitos de amor. Quer experimentar-nos, aumentar-nos a fé e os méritos, acostumar-nos à paciência. Adoremos aos seus desígnios, e bendigamo-lO em todos os tempos. Nos dias de provas, animemos a nossa confiança. É à perseverança na oração, que Deus prometeu o seu auxílio, e a perseverança só tem lugar quando Deus não nos atende logo. Digamos-Lhe nas nossas aflições:

Sim, meu Deus, é precisamente porque diferis ouvir-me, que eu espero que me ouvireis; e quanto mais me desatenderdes, mais Vos implorarei.

Aprendamos do regulo do nosso Evangelho a ter então mais fervor. Ele não se justifica da exprobação que lhe faz Jesus Cristo. Sem reparar nela, pede com instância:

“Senhor, vinde antes que meu filho morra” – Descende priusquam moriatur filius meus

E foi atendido. Portemo-nos do mesmo modo, e se-lo-emos também.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Time Jesum transeuntem (Santo Agostinho)

(2) Sustine sustentationes Dei (Ecl 2, 3)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 87-90)