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Jesus Cristo nosso Mestre

Meditação para a Quinta-feira da 1ª Semana depois da Epifania. Jesus Cristo nosso Mestre

Meditação para a Quinta-feira da 1ª Semana depois da Epifania

SUMARIO

Meditaremos um quarto título de Jesus Cristo, muito próprio para nos afeiçoarmos a Ele. Veremos :

1.º Que Ele é nosso mestre pelos Seus ensinos;

2.° O que Lhe devemos nesta qualidade.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De venerar nEle o mestre que deve dirigir-nos em todas as nossas ações;

2.° De seguir os Seus divinos ensinos, sem nos importarmos com o que o mundo poderá dizer ou pensar de nós.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Evangelho:

“Um só é o vosso mestre, o Cristo” – Magister vester unus est, Christus (Mt 23, 10)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo como o mestre vindo do céu para nos ensinar a ciência da salvação (1). O homem não fala senão aos ouvidos do corpo; Jesus Cristo fala aos do coração (2). Prostremo-nos aos pés deste melhor dos mestres: afeiçoemo-nos aos Seus divinos ensinos; e digamos como São Vicente de Paula:

Senhor, que felicidade ser os Vossos discípulos!

PRIMEIRO PONTO

Jesus Cristo é nosso Mestre pelos Seus ensinos

O Pai celestial declarou-o do alto dos céus nas margens do Jordão:

“Este é aquele meu Filho amado, ouvi-o” (Lc 9, 37)

O Salvador proclamou-se a Si mesmo nosso único mestre (3); e São Paulo ensina-nos, que Deus, que tinha ensinado os antigos judeus por seus profetas, nos ensinou nestes últimos tempos por Seu próprio Filho (4). Quão felizes somos por ter um tal mestre!

1.° É um mestre infalível: o céu e a terra passarão, mas as Suas palavras não passarão; sabe tudo com certeza, e a Sua ciência é tirada das mesmas fontes da eterna verdade.

“O Filho unigênito que está no seio do Pai, nos revelou todos os seus segredos” – Unigenitus Filius, qui est in sinu Patris, ipse enarravit (Jo 1, 18)

Portanto, todas as vezes que se puder dizer sobre qualquer ponto: Jesus Cristo disse-o; esta palavra decide a questão: já não há que discorrer, discutir; o oráculo do céu falou; não resta senão submeter-nos. Jesus Cristo disse-o, a coisa é verdadeira, porque Ele é a mesma verdade (5). Ele é, o teólogo que forma a fé, o casuísta que dirige a consciência, o conselheiro que regula o modo de proceder; e a Igreja, com todos os seus doutores, não merece a nossa crença senão porque é o Seu órgão.

2.° É um mestre de uma incomparável habilidade, que faz que se aprenda depressa tudo o que ensina, que esclarece a inteligência para penetrar a Sua doutrina, e dispõe a vontade a apreciá-la. Quando se tem Deus por mestre, diz Santo Ambrósio, quão depressa se aprende a lição! (6). É um mestre que sabe pôr os Seus ensinos ao alcance dos mais simples, que fala mais ao coração do que à inteligência, e eleva num instante a alma humilde ao conhecimento de mais verdades, do que teria aprendido em dez anos na escola dos homens.

Ó Salvador, quão excelente mestre sois, e quão felizes somos por receber as Vossas lições!

SEGUNDO PONTO

O que devemos a Jesus Cristo na qualidade de nosso Mestre

Devemos:

1.° Tomá-lO por supremo regulador dos nossos sentimentos e de toda a nossa conduta.

“Para quem havíamos nós de ir, ó bom mestre? Só Vós tendes palavras da vida eterna” – Domine, ad quem ibimus? Verba vitae aeternae habes (Jo 6, 69)

De um lado, o mundo engana-nos; de outro, a nossa razão tem a vista curta e não muda o coração, como provam esses sábios da antiguidade, que moralizaram tão bem e viveram tão mal; ela é ineficaz para amparar a alma na tentação, consolá-la nas aflições. Um lance de olhos, um suspiro para Vós, ó meu Deus, diz-me mais e consola-me melhor do que todas as palavras dos homens. Jesus Cristo disse-o, esta só palavra induz-me mais a crer e a orar do que quaisquer razões humanas. Jesus Cristo disse-o:

“O que despreza as pequenas culpas, pouco a pouco cairá nas grandes” – Qui spernit modica, paulatim decidet (Eclo 19, 11)

Eu creio. Ele disse:

“Ai de vós os que sois ricos, os que estais fartos, os que agora rides, ai de vós, quando vos louvarem os homens! (1) – Vae vobis divitus, quia habetis consolationem vestram. Vae vobis qui saturati estis, quia esurietis. Vae vobis qui ridetis nunc, quia lugebitis et fiebitis (Lc 6, 24ss)

“Bem-aventurados os pobres, bem-aventurados os que choram, que padecem” (Mt 5, 3-4)

Eu o creio! Ele disse:

“Aquele que não dá de mão a tudo que possui, não pode ser meu discípulo” – Qui non renuntiat omnibus quae possidet, non potest meus discipulos (Lc 14, 33)

Eu o creio. Não compreendo no desprezo, a paz na guerra; mas o mestre disse-o; não o teria dito se não fosse verdade; eu o creio; reporto-me a Ele e regulo por isto a minha conduta.

2.° Estudar o Evangelho, os escritos dos Apóstolos, os livros de piedade, onde estão desenvolvidas as Suas divinas lições, prezar as leituras piedosas, ouvi-las com a docilidade de um discípulo aos pés do Seu mestre; e com o auxílio destes livros, penetrar-nos do espírito cristão, no intuito de conformar com Ele em tudo a nossa conduta.

3.° Desprezar o espírito e as máximas do mundo, como sendo diretamente opostos ao Seu espírito e às Suas máximas. O mundo censura-nos; deixemo-lo falar; ele é mau juiz; é um mestre ignorante e enganoso, que Jesus Cristo abomina. Examinemos se somos dóceis discípulos de Jesus Cristo, e se os nossos sentimentos e atos se conformam sempre com os Seus ensinos.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Qui docet hominem scientiam (Sl 93, 10)

(2) Sonus berborum nostrum aures percutit, magister intus est (Santo Agostinho, Tract. III, in Ep. Joan)

(3) Magister vester unus et, Christus (Mt 23, 10)

(4) Multifariam multisque modis olim Deus loquens patribus in prophetis, novissime diebus istis locutus est nobis in Filio (Hb 1, 1.2)

(5) Ego sum veritas (Jo 14, 6)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 191-194)