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Jesus Adolescente

79 jesus adolescente monsenhor hamon

Meditação para a Sexta-feira da 5ª Semana depois da Epifania

SUMARIO

Meditaremos o mistério da adolescência de Jesus Cristo, e consideraremos:

1.º Porque é que o Verbo Encarnado não quis crescer senão pouco a pouco como os outros meninos;

2.º O que é que devemos entender por estas palavras que diz dEle o Evangelho:

“Crescia em sabedoria, e em idade, e em graça” – Proficiebat sapientia, et aetate, et gratia apud Deum et homines (Lc 2, 52)

— Tomaremos depois a resolução:

1.º De nos animarmos reciprocamente a progredir na vida cristã, a viver melhor hoje do que ontem, na hora presente do que na que a precedeu;

2.º De dizermos conosco muitas vezes:

“Nada fiz ainda para Deus, convém que comece seriamente a servi-lO melhor” – Dixi: Nunc caepi

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Evangelho:

Jesus crescia em sabedoria, e em idade, e em graça diante de Deus e dos homens (Lc 2, 52)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus, na idade da adolescência, crescendo todos os dias em sabedoria e em graça, não neste sentido que adquire algum novo grau de conhecimento e de santidade, pois que desde o primeiro momento em que foi concebido, Ele era a sabedoria consumada e a infinita santidade; mas neste sentido que deixava aparecer exteriormente pouco a pouco e gradualmente a Sua sabedoria e a Sua santidade, não as dando a conhecer senão segundo o progresso da Sua idade. Oh! Quão admirável é neste delicado cuidado do Seu amor em não deixar ver senão pouco a pouco o que Ele era de Si mesmo! É assim que, em vez de nos mostrar de repente o sol no seu zênite, o que nos deslumbraria, não o leva senão pouco a pouco ao horizonte, depois de ter começado por um crepúsculo, que se confunde quase com a noite, para poupar a debilidade da nossa vista. Tributemos-Lhe o nosso louvor e amor.

PRIMEIRO PONTO

Porque é que o Verbo Encarnado quis não crescer senão pouco a pouco, como os outros meninos?

Há neste crescimento sucessivo do Salvador, até que chegasse à idade madura, ao estado do homem feito, um profundo mistério. Jesus, ocultando-Se no começo da Sua vida, queria duas coisas: primeiro que tudo preparar pouco a pouco os ânimos para os Seus esplendentes milagres e para a Sua missão divina; depois dar uma grande lição ao nosso amor-próprio e à nossa ignorância: ao nosso amor-próprio, que não pode sofrer sem pesar o aspecto das suas misérias, das suas fraquezas e tentações; à nossa ignorância, que não sabe compreender que o homem não se aperfeiçoa de repente; que a perfeição é um trabalho de longa duração, que somente se completa à força de arrancar e de plantar, de destruir e de edificar; que todas as coisas se não fazem em um dia; e que finalmente acontece com a vida perfeita o mesmo que com uma escada misteriosa, ao cimo da qual não se chega de um pulo, mas apenas subindo a custo e sucessivamente os seus degraus.

É este imoderado zelo, este impaciente amor-próprio, que quis corrigir o nosso amável Salvador, mostrando exteriormente menos perfeição, menos ciência e menos santidade nos dias da Sua infância do que na Sua adolescência (1), diz o texto sagrado. Aprendamos daí:

1.° A ter paciência conosco, a suportar, com um espírito humilhado, todas as nossas fraquezas, e a fazer delas a base de uma sólida humildade;

2.° A crescermos sinceramente em uma vida melhor, a convencermo-nos de que estamos ainda longe do fim proposto; a repararmos o mal passado com o bem presente, e encobrirmos continuamente os nossos defeitos, e a avançarmo-nos sempre ao que resta para diante, a exemplo de São Paulo (2).

SEGUNDO PONTO

O que é que devemos entender por estas palavras:
Jesus crescia em sabedoria, e em idade, e em graça

Crescer em sabedoria é crescer no conhecimento de Deus e das Suas infinitas perfeições, no conhecimento de nós mesmos e das nossas misérias, no conhecimento de quanto respeita à nossa salvação e aos deveres do nosso estado. A inteligencia não nos foi dada senão para isto.

Crescer em idade é desfazermo-nos das misérias espirituais de uma outra idade, tais como a leviandade que não reflete, a vaidade, a inconstância, a malícia, todas essas fraquezas, de que São Paulo folgava de ser isento, dizendo:

“Quando eu era menino, falava como menino, julgava como menino, discorria como menino. Mas depois que eu cheguei a ser homem feito, dei de mão às coisas que eram de menino” – Cum essem parvulus, loquebar ut parvulus, saplebam ut parvulus, cogitabam ut parvulus. Quando autem factus sum vir, evacuavi quae erant parvuli (2Cor 13, 11)

Enfim, crescer em graça é crescer em santidade, e é isto para nós uma obrigação quotidiana, até que tenhamos chegado à idade completa do homem perfeito em Jesus Cristo, coisa que se não verifica senão no céu. Tal é a vida santa, em que Jesus adolescente fazia aparecer todos os dias progressos exteriores, diante de Deus e dos homens (3); diante de Deus com a vida interior, diante dos homens com a edificação dos Seus divinos exemplos. Nós devemos fazer o mesmo, porque não avançar é recuar; devemos ao menos desejá-lo ardentemente, pois que não avançamos senão à proporção do desejo que disso temos: o desejo exclui o pensamento de obrar mal, e dá à alma a energia e o valor para obrar bem.

Examinemos se temos este grande zelo pelo nosso progresso espiritual, se todos os dias tomamos a peito tornarmo-nos melhores, e se empregamos para isto esforços sérios, constantes, acompanhados de fervorosas orações e de santos desejos.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Proficiebat sapientia, et aetate, et gratia (Lc 2, 52). Crescebat et confortabatur (Lc 2, 40)

(2) Ad eo quae sunt priora extendens me ipsum (Fl 3, 13)

(3) Apud Deum et homines (Lc 3, 52)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 286-289)