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Desapego e Santidade

Meditação para a Sexta-feira depois da Ascensão. Desapego e Santidade

Meditação para a Sexta-feira depois da Ascensão

SUMARIO

Depois de termos visto ontem o que Jesus Cristo fez por nós no mistério da Ascensão, meditaremos o que devemos fazer por Ele; e veremos, que este mistério:

1.º Nos prega o desapego universal;

2.º Nos convida à santidade.

— Tomaremos depois a resolução:

1.º De erguermos multas vezes os olhos ao céu, para nos animarmos a santificar-nos com o desapego das criaturas, e com o firme propósito de sermos do número dos santos;

2.º De nos conservarmos, por meio de orações jaculatórias de amor e de santos desejos, constantemente unidos a Jesus Cristo, que reina nos céus.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salmista:

“Saciar-me-ei quando aparecer a vossa glória” – Satiabor cum opparnerit gloria tua (Sl 16, 15)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo na glória da Sua ascensão e da Sua entronização à mão direita de seu Pai. Ó supremo Senhor! Vós sois o único Altíssimo, o único Santo, com o Espírito divino na glória de vosso Pai (1). Oh! Quanto me deliciarei de Vos contemplar nessa glória e de ver em Vós a natureza humana sentada à mão direita de Deus! Submeto-me de antemão para sempre, e com todo o afeto do meu coração, ao Vosso amável domínio.

PRIMEIRO PONTO

O mistério da Ascensão prega-nos o Desapego Universal

Como poderíamos nós ter apego a alguma coisa na terra, quando vemos Jesus nosso amor voar aos céus? Que afeto do nosso coração poderia lá não O seguir? Buscai as coisas que são lá de cima, dizia São Paulo, onde Jesus Cristo está sentado à destra de Deus (2). Desejo, dizia o mesmo Apóstolo, ser desatado da carne e estar com Jesus Cristo (3). Vendo o meu Salvador subir ao céu, compreendo que só somos viadores. Desterrados, caminhamos para a pátria gemendo de nós mesmos, esperando esse belo céu, em que efetuará a perfeita adoção dos filhos de Deus (4). Cheio do mesmo pensamento, São Pedro dizia aos fiéis:

“Eu vos rogo, que vos abstenhais de todo o apego ao que é transitório, e que vos olheis como estrangeiros e peregrinos cá na terra” – Obsecro vos tanquam advenas et peregrinos abstinere vos a carnalibus desideriis (1Pd 2, 11)

Ora é vendo Jesus Cristo subindo ao céu e ostentando aos nossos olhos na glória toda a felicidade, que lá nos espera, que devemos ter estes sentimentos. Chamados a tão sublimes destinos, não podemos já afeiçoar-nos aos bens tão pequenos, tão miseráveis, tão efêmeros da vida presente. Chamados a uma felicidade infinita devemos desprezar o gozo enganador, que dão o amor-próprio, a satisfação dos sentidos, o uso dos bens temporais. Chamados a uma glória incomparável, devemos ter em pouco a glória tão falsa do mundo, a opinião dos homens, o brilho das honras, e dizer com Santo Inácio:

“Oh! Que desprezível me parece a terra, quando olho para o céu!” – Quam sordet tellus cum caelum aspicio!

E com São Paulo:

“Tudo avalio por esterco, com tanto que ganhe a Jesus Cristo” – Omnia… arbitror ut stercora, ut Christum lucrifaciam (Fl 3, 8)

SEGUNDO PONTO

O mistério da Ascensão convida-nos à Santidade

Quando considero Jesus Cristo subindo ao céu, abrindo-me as Suas portas, mostrando-me lá o lugar que me preparou, compreendo duas coisas:

1.º Que me é preciso ser um santo: porque o céu, para onde Jesus Cristo me chama, só foi feito para os santos; e como poderia eu ter esperança de ser admitido no céu entre os santos, se não fosse um santo na terra, se não dissesse comigo muitas vezes durante a vida:

De que maneira faziam os santos esta oração, esta ação, para me animar a orar e obrar como eles?

2.º Que nada me deve custar para alcançar a santidade, porque não se possui o céu sem generosos esforços (5); não se entra nele sem porfiar (6); mas também não vale o céu bem a pena de nos sujeitarmos a estes sacrifícios? A pena é momentânea, a glória é eterna (2Cor 4, 17), e tudo o que podemos fazer ou padecer cá na terra não tem proporção com a grandeza da recompensa (Rm 8, 18).

Entremos de todo o coração nestas duas disposições: a primeira de querer ser santo; a segunda de o querer à custa de todos os sacrifícios.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Tu solus Sanctus, tu solus Dominus, tu solus Altissimus, Jesu Christe, cum sancto Spiritu, in gloria Dei Patris

(2) Quae sursum sunt quaerite ibu Christus est in dextera Dei sedens; quae sursum sunt sapite, non quae super terram (Cl 3, 1-2)

(3) Desiderium habens dissolvi, et esse cum Christo (Fl 1, 23)

(4) Intra nos gemimus, adoptionem filiorum Dei expectantes (Rm 8, 23)

(5) Regnum caelorum vim patitur (Mt 11, 12)

(6) Contendite intrare per augustam portam (Lc 13, 24)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 83-86)