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As Dores de Nossa Senhora

Meditação para a Sexta-feira da Paixão. As Dores de Nossa Senhora

Meditação para a Sexta-feira da Paixão

SUMARIO

Meditaremos:

1.° Sobre as dores que padeceu Maria junto à cruz;

2.° Sobre as virtudes que ali pratica;

3.° Sobre as palavras que Jesus lhe dirige.

— Tomaremos depois a resolução:

1.º De honrarmos muitas vezes com piedosos suspiros as dores da Santíssima Virgem;

2.° De imitarmos hoje por algum ato particular a paciência, a humildade e o espírito de sacrifício, cujo exemplo nos oferece neste mistério;

3.° De agradecermos bem a Nosso Senhor de nos haver dado Maria por mãe.

O nosso ramalhete espiritual será a súplica da Igreja:

“Ó Mãe, fonte de amor, fazei-me sentir a força das vossas dores, para que chore convosco” – Eia, Mater, fons amortis, me sentire vim doloris fac, ut tecum lugeam

Meditação para o Dia

Transportemo-nos pelo pensamento ao santo monte do Calvário, junto à cruz, ao lado de Maria. Saudemos esta mãe dolorosa como rainha dos mártires, porque ela não quer já outro nome neste mistério:

«Não me chameis Noemi, isto é, formosa, mas chamai-me Maria, isto é, amargosa, porque o Senhor me encheu de aflição» – Ne bocetis Noemi (id est, pulchram), sed vocate me Maria (id est amaram), quia amaritudine valde replevit me Omnipotens (Rt 1, 20)

PRIMEIRO PONTO

Dores que padece Maria junto à cruz

Tudo o que de mais cruel se tem feito padecer aos mártires é leve em comparação das dores que padece Maria. Ao menos os mártires só padeciam em seu corpo, e ainda assim a unção da graça suavizava os seus tormentos, a ponto de se ter visto alguns exultando entre os mais cruéis suplícios: mas, em Maria, é a mesma alma que é traspassada da espada da dor sem ser suavizada por alguma consolação (1). E que dor, meu Deus! Se uma mãe, que vê o seu filho expirar nos seus braços, padece inefáveis dores, quantas não sentiria Maria, que tem para com Jesus um amor que a natureza e a graça elevam ao apogeu; a natureza mostrando em Jesus o mais amável dos filhos, o mais santo, o mais perfeito de todos os homens; a graça revelando nele o Deus infinitamente bom e amável? (2). É necessário que ela veja esse tão amado filho arrastado pelas ruas de Jerusalém, a casa dos sacerdotes, a casa de Pilatos, a casa de Herodes, por toda a parte insultado, escarnecido, desprezado; é necessário que o veja açoitado, coroado de espinhos, proclamado pelo povo réu de morte e pior que o ladrão e o assassino Barrabás; é necessário que o acompanhe ao Calvário, subindo o monte, carregado com a cruz, exausto de forças e de sangue, coberto de feridas e de escarros: e ela não pode prestar-Lhe socorro! Para uma mãe como Maria, que martírio! É necessário que ela O veja estendido sobre a cruz, que ouça as marteladas que metem profundamente os cravos nos Seus pés e nas Suas mãos, que O contemple com todas as Suas chagas suspenso entre o céu e a terra, agonizante por espaço de três horas; que ouça a Sua última despedida, receba o Seu último suspiro, sem poder morrer com Ele! (3). E o que ainda é pior, padece dores que ela mesma causa a seu Filho com a sua extrema aflição, e essas outras dores inteiramente inefáveis, que o seu próprio Filho sente vendo todos os pecados dos homens, que se hão de condenar apesar de tantos meios de salvação.

Ó filha de Jerusalém, a que comparar a vossa acerba aflição? Ela é grande como o mar (4). Obtende-me, minha Mãe, a graça de me compadecer das vossas dores (5). É dever meu:

1.° Porque um filho deve tomar parte nas dores de sua mãe (6);

2.° Porque aquele que fosse insensível às dores que padece Jesus, não O amaria (7);

3.º Porque, ó Mãe aflita, os meus pecados são ao mesmo tempo a causa e o objeto das dores de vosso Filho e das vossas! (8).

SEGUNDO PONTO

Virtudes que Maria pratica junto à cruz

1.° Ali pratica uma inabalável paciência. Conserva-se em pé nesta horrível tormenta, como um rochedo no meio das vagas, que nele batem sem o abalar. Nem o abismo das suas dores, nem o espetáculo da morte, nem o furor dos homens, nem a raiva dos demônios podem abatê-la (9). Está em postura de resolução e de coragem; sem deixar escapar uma queixa, adora em silêncio os desígnios de Deus e submete-se-lhes.

Consideremo-nos neste belo espelho de paciência e confundamo-nos. É preciso tão pouca coisa para nos abater, nos desanimar, provocar as nossas queixas e os nossos murmúrios!

2.º A humildade em Maria é aqui igual à sua paciência. Uma mãe, cujo filho é supliciado, envergonha-se de aparecer; teme que a ignomínia do filho recaia sobre ela, e esconde-se; mas Maria mostra-se, e isto ao pé da cruz (10). É ali que ela espera todos os opróbrios, todos os insultos, feliz por esgotar com Jesus o cálice das suas humilhações. Que lição para nós!

3.º Maria ensina-nos o espírito de sacrifício. Sabendo que o desígnio de Deus é que Jesus morra para salvar o mundo, conforma-se com Ele de toda a sua alma.

Pai celestial, diz ela, pegai no vosso gladio, feri a vítima, lacerai o meu peito, arrancai-me o coração tirando-me este Filho amado; resigno-me a isso para Vossa glória e salvação do mundo

Que sublime exemplo do espírito de sacrifício!

TERCEIRO PONTO

Palavras de Jesus a Maria

Enquanto Maria padecia tão grandes dores e praticava tão sublimes virtudes, Jesus, olhando para São João e vendo, dizem os padres, que ele representava todos os fiéis:

«Mulher, diz ele a Maria, eis aí teu Filho» – Mulier, ecce Filius tuus (Jo 19, 26)

Bem-aventurada palavra, com a qual nos deu sua Mãe para ser nossa Mãe, Ele que já nos tinha dado seu Pai para ser nosso Pai, a fim de que fôssemos seus irmãos por parte do Pai e da Mãe! Palavra que deve encher o nosso coração de consolação e felicidade! Ó Maria, vós sois minha Mãe! Já não temo, sou feliz e tenho esperança.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Et tuam ipsius animam pertransibit gladius (Lc 2, 35)

(2) O quam tristis et afflicta fuit illa benedicta Mater Unigeniti! (Hino Stabat Mater)

(3) Vidit suum dulcem Natum moriendum deolatum, dum emisite spiritum (Ibid)

(4) Cui comparabo te, filia Jerusalem… magna est enim velut mare contritio tua (Lm 2, 13)

(5) Eia, Mater, fons amoris, me sentire vim doloris fac, ut tecum lugeam (Lm 2, 13)

(6) Quis posset non contristari piam Matrem contemplari dolentem cum filio? Quis est homo qui non fleret Matrem Christi si videret in tanto suplicio? (Hino Stabat Mater)

(7) Sancta Mater, istud agas, crucifige plagas cor idmeo valide (Ibid)

(8) Fac me tecum pie flere, crucifixo condolere, donec ego vixero (Ibid)

(9) Stabat Mater

(10) Stabat juxta crucem Jesu (Jo 19, 25)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 200-203)