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Jesus no Horto das Oliveiras

Meditação para a Terça-feira da Septuagésima. Jesus no Horto das Oliveiras

Meditação para a Terça-feira da Septuagésima

SUMARIO

Para nos conformarmos com a liturgia romana que honra Jesus no Horto das Oliveiras, meditaremos sobre este mistério, e aprenderemos:

1.° A evitar o pecado;

2.° A santificar as provações da vida.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De nos lembrarmos de Jesus Cristo no Horto das Oliveiras para nos excitarmos à contrição das nossas culpas, quer de tarde no exame de consciência, quer preparando-nos para a confissão;

2.° De prevermos cada manhã as provações do dia, para nos animarmos a suportá-las cristãmente e sem murmurar.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Nosso Senhor no Horto das Oliveiras:

“Pai, não se faça a minha vontade, mas sim a tua” – Pater, non mea voluntas, sed tua fiat (Lc 22, 42)

Meditação para o Dia

Transportemo-nos pelo pensamento ao Horto das Oliveiras, e contemplemos ali o Salvador do mundo prostrado com o rosto em terra diante da majestade de seu Pai, todo banhado no sangue, que extraem das Suas veias a dor das nossas culpas e o amor que nos tem. Prostrados, mentalmente ao seu lado, como para apanhar as gotas deste sangue precioso, adoremo-lO neste estado de angustia, e unamos a nossa dor à Sua dor, as nossas lágrimas ao Seu sangue! (1)

PRIMEIRO PONTO

Jesus, no Horto das Oliveiras, ensina-nos a evitar o Pecado

Se pecamos, é porque não tememos bastantemente o pecado: daí a facilidade com que o cometemos, e porque não o detestamos bastantemente, depois de o termos cometido: daí a falta de contrição, daí o pouco fruto das nossas confissões e talvez o abuso sacrílego do Sacramento da Penitência; é porque não o combatemos bastantemente: daí as nossas reincidências. Ora Jesus Cristo, no Horto das Oliveiras, remedeia estes três grandes males:

1.º Ensina-nos a temer o pecado. A Sua alma santa via o pecado, até o pecado venial sob outro aspecto do que nós; compreendia o que é Deus com o Seu amor infinito, e quanto é terrível ofendê-lO; o que é o inferno, e quão terrível é cair nele; o que é o céu, e que imensa desgraça é perdê-lo; o que é uma alma, e quanto vale; o que é a graça, e quão horroroso é abusar dela. E este conhecimento, junto com o pensamento de todos os pecados da terra, que Ele abrangia com uma vista d’olhos, lançava-O em um pavor mortal (2). Oh! Se encarássemos do mesmo modo todos estes pecados, a quem ligamos muitas vezes pouca importância, esse amor-próprio, essa cobiça, essa vaidade, essas maledicências, essas ações culpáveis, essas omissões tão numerosas, como temeríamos muito mais o pecado!

2.° Assim compreendida a gravidade do pecado, Jesus ensina-nos a deplorar tê-lo cometido. A Sua alma está numa tristeza mortal (3). Vem-Lhe um suor como de gotas de sangue (4). É posto em agonia, sendo necessário que um anjo do céu venha confortá-lO: o que nos recorda, para o dizer de passagem, que as nossas tribulações são conhecidas no céu e que só do céu nos pode vir a verdadeira consolação (5). Que belo modelo de contrição!

3.° Jesus, no Horto das Oliveiras, ensina-nos a combater o pecado. Sente em Si a maior repugnância aos opróbrios, aos tormentos e à morte que O aguardam: combate generosamente essa repugnância; e à despeito da natureza que se queixa, ergue-se e diz:

“Levantai-vos, vamos para onde Deus nos chama” – Surgite, eamus (Mt 26, 46)

Por conseguinte, é necessário sempre servir a Deus, por mais que nos custe violentar os nossos gostos e as nossas aversões, e sujeitarmo-nos à vontade divina, lembrando-nos que as revoltas da natureza contra a graça, da carne contra o espírito, não podem causar-nos nenhum mal, em quanto a vontade persistir unida a Deus.

É assim que tememos o pecado, que o detestamos, que o combatemos?

SEGUNDO PONTO

Jesus no Horto das Oliveiras, ensina-nos a santificar as provações da vida

Jesus, no meio das cruéis provações que O cercam, recorre a três meios:

1.° À oração. Separa-se dos Seus Apóstolos, e ora. Duas vezes por caridade interrompe a Sua oração, duas vezes a continua; e quanto mais aumenta a Sua angústia, tanto mais ora (6). Nas nossas tribulações nós buscamos a nossa consolação entre as criaturas, queixamo-nos a elas, e disso não tiramos senão mais amarguras. Recorramos a Deus, e seremos consolados (7).

2.° Jesus Cristo conforma-Se com a vontade de Deus: não pede o livramento da Sua angústia, mas o cumprimento dessa adorável vontade (8). Se todos os padecimentos não são acompanhados desta resignação à vontade divina, não só perdem o seu mérito, mas transformam-se em ocasiões de pecado com as nossas impaciências e lamentações. Oh! Porque não sabemos nós dizer então:

“Deus é o nosso pai; aflija-nos, castigue-nos quanto quiser, que será para nosso bem?” – Saeviat, quantum vult, Pater est

3.° Jesus, no meio das Suas dores, sofre com paciência a indiferença dos Seus Apóstolos. Duas vezes os acha adormecidos, ainda que lhes haja tanto recomendado que vigiem e orem; e sem se irritar, limita-se a repreendê-los brandamente, desculpa-os, e exorta-os de novo:

“Visto isso não pudestes uma hora vigiar comigo, lhes diz ele; vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26, 41)

Deste modo ensina-nos a nunca afligirmos os outros com as nossas dores pessoais, a não nos queixarmos da sua indiferença, e a desculparmos as suas injustiças. Não fazemos nós muitas vezes o contrário?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Compatitur mihi Filius Dei et plorat; compatitiar et illi ac simul cum lugente lugebo (São Bernardo, Serm. III in Nativ. Dom., n. 4)

(2) Caepit pavere (Mc 14, 33)

(3) Tristis est anima mea usque ad mortam (Mt 26, 38)

(4) Factus est sudor ejus sicut guttae sanguinis decurrentis in terram (Lc 12, 44)

(5) Apparuit illi angelus de caelo, confortans eum (Lc 22, 43)

(6) Factus in agonia prolixius orabat (Lc 22, 43)

(7) In die tribulationis meae… renuit consolari anima mea. Memor fui Dei, et delectatus sum (Sl 76, 3-4)

(8) Non sicut ego volo, sed sicut tu (Mt 26, 39)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 26-30)