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Jejum e Abstinência

Jejum e Abstinência, Tesouros de Cornélio à Lápide

Necessidade do jejum e da abstinência

Seja na Antiga Lei, seja na Nova, Deus ordena o jejum. A Igreja faz dele um preceito. Tirai a lenha do fogo, se quereis que mingue a chama, diz um poeta: Subtrahe ligna foco, si vis restinguere flammam. Mas, a concupiscência é um fogo devorador; é, pois, preciso fazer a carne jejuar.

Muito melhor é para vós, diz São Jerônimo, que padeça melhor vosso estômago que vossa alma; vale muito mais mandar sobre a carne do que lhe obedecer; vacilar com pé incerto e débil, que cair em impurezas. É com o rigor dos jejuns e das vigílias que se podem afastar os dardos envenenados do demônio: morto está aquele que vive em meio das delícias[1].

O mesmo Platão proibia comer carne duas vezes ao dia e saciar-se (Lib. de Legib.).

Necessidade de jejum e abstinência para evitar o pecado! Necessidade de jejum e abstinência para vencer e afastar o demônio!

Qual o motivo pelo qual não conseguimos expulsar este demônio? perguntavam os discípulos a Jesus Cristo. Ele respondeu-lhes: Estes demônios não podem ser expulsos senão por meio da oração e do jejum: Hoc genus in nullo potest exire, nisi in oratione et jejunio (Mc 9, 27-28).

É impossível que seja casto quem não se mortifica.

O jejum é obrigatório, sob pena de pecado mortal, desde a idade de vinte e um anos, a menos que razões legítimas o dispensem.

Exemplos de jejum e de abstinência

Os exemplos que temos de jejum e de abstinência provam-nos sua necessidade.

Moisés, Elias e Jesus Cristo jejuaram durante quarenta dias. E a Igreja, à imitação destes jejuns, estabeleceu o dos quarenta dias da quaresma.

Os primeiros cristãos jejuavam todos os dias, e não tomavam mais que uma só refeição, que tinha lugar ao pôr do sol.

Os ermitães, os anacoretas jejuavam constantemente. Em todos os séculos, os religiosos jejuaram. Os verdadeiros fieis sempre foram exatos em jejuar. Judite jejua; Ester, sentada no trono, jejua. Os judeus tinham seus jejuns. Os maometanos têm também os seus, e os observam religiosamente.

João Batista, no deserto, jejuou e fez abstinência todos os dias durante trinta anos; seu alimento consistia em mel silvestre e gafanhotos. Todos os ninivitas, desde o menor ao maior, desde o mais jovem ao mais velho, desde o pobre até ao rei, fizeram um rigoroso jejum; e até obrigaram aos animais a jejuar.

Excelência do jejum, seus admiráveis efeitos e suas vantagens

O jejum, diz São Leão, engendra os pensamentos castos, as vontades razoáveis e retas, e os mais saudáveis conselhos; com esta aflição voluntária, a carne morre para as concupiscências, e o espírito se renova com as virtudes[2].

Ouvi a Santo Ambrósio: O que é o jejum, diz, senão a imagem do céu e o preço com que se pode ser adquirido? O jejum é o alimento da alma, o alimento do espírito. O jejum é a vida dos anjos; o jejum é a morte do pecado, a destruição dos crimes, o remédio da salvação, o manancial da graça, fundamento da castidade. Por meio do jejum, chega-se logo a Deus[3].

O jejum, diz Santo Efrém, é o carro que conduz ao céu. O jejum suscita profetas, e ensina sabedoria aos legisladores. O jejum é o guarda perfeito da alma, coabita com o corpo sem lhe prejudicar. O jejum é uma arma a toda a prova para os soldados valentes e os intrépidos atletas. O jejum resiste às tentações, dá unção à piedade. O jejum apaga a violência do fogo, fecha as mandíbulas dos leões e encaminha as orações ao céu. A abstinência é mãe da santidade, disciplina da juventude e adorno da velhice[4].

Não somente é o jejum uma virtude perfeita, senão o fundamento das demais virtudes; é a santificação, a pureza, a prudência, virtudes sem as quais ninguém pode ver a Deus[5].

A fome, diz Santo Ambrósio, é amiga da virgindade, e inimiga da luxúria; porém, os excessos na mesa afogam a castidade e alimentam as paixões: Fames amica est virginitatis, inimica lasciviae; saturitas vero prodigit castitatem, nutrit illecebram (Serm. de Quadrag.).

Assim como o soldado não é nada sem armas, diz São João Crisóstomo, e as armas tampouco não são nada sem o soldado, da mesma maneira a oração não é nada sem o jejum, nem o jejum sem a oração: Sicut nec miles sene armis est aliquid, nec arma sine milite, ita neque oratio sine jejunio, nec jejunium sine oratione (In Matth., c. VI).

O jejum, diz São Basílio, faz que os homens sejam semelhantes aos anjos: Jejunium est similitudo hominum cum angelis (De Jejun.).

O jejum é o alimento da alma, diz São João Crisóstomo: Jejunium est alimentum animae (In Matth., c. VI).

O jejum, acrescenta o mesmo Santo, purifica a alma, alivia os sentidos, sujeita a carne ao espírito, faz com que o coração esteja contrito e humilhado, dissipa as nuvens da concupiscência, apaga os ardores das paixões abrasadoras, e acende a tocha da castidade[6].

Vede o que faz o jejum, diz Santo Atanásio: cura as enfermidades, acalma a impetuosidade do sangue, afugenta os demônios, expulsa os maus pensamentos, dá mais beleza e brancura a alma, mais pureza ao coração, e faz com que o corpo esteja mais sadio e robusto[7].

Por meio do jejum é como Elias sobe ao céu em um carro triunfal, diz Santo Ambrósio: Hoc gradu, tamquam curru, ascendit Elias (De Elia et Jejun.).

Sabemos, diz São Pedro de Ravena, que o jejum é o castelo de Deus, o campo de Jesus Cristo, a muralha inexpugnável do Espírito Santo, o estandarte da fé, o sinal da castidade, o troféu da santidade: Jejunium scimus esse Dei arcem, Christi castrum, murum Spiritus Sancti, vexilium fidei, castitatis signum, sanctitais tropheum (Serm. de Jejun.).

Posto que, por gula, perdemos as alegrias do paraíso, diz São Gregório, esforcemo-nos em conquistá-las de novo com o jejum e a abstinência: Quoniam a paradisi gaudio per cibum cecedimus, quantum possumus, per abstinentiam resurgamus (Homil. de Jejun.).

A que deveu Sansão o ser tão forte e invencível?, pergunta São Basílio. Não foi o jejum que o fez a sua mãe merecer a graça de concebê-lo? O jejum o concebeu, o jejum o alimentou, e o jejum fez dele um prodígio de força[8].

O jejum, acrescenta aquele grande Doutor, engendra profetas, dá mais força aos fortes; o jejum dá sabedoria aos que ditam leis, é o escudo dos que combatem com valor. O jejum é o que deu força a Sansão que, enquanto foi fiel em guardá-lo, derrubou milhares de inimigos em cada combate, arrancou as portas das cidades, e os leões não puderam resistir ao vigor de seu braço. Porém, desde o momento em que a embriaguez do vinho e da voluptuosidade apoderaram-se dele, logo em seguida, prenderam-no seus inimigos, arrancaram-lhe os olhos, e foi joguete das crianças[9].

Quando a alma derrama lágrimas de arrependimento, diz São Gregório, é também indispensável que a carne, que tem sido escrava dos prazeres criminosos, seja castigada com jejum: Dum mens flendo compungitur, necesse est etiam ut caro, quae delectationibus subjacuit, afligatur (Homil. de Jejun.).

Samuel, diz São Jerônimo, reuniu o povo em Masfa, fortificou-o com um jejum que impôs, e, assim, (o profeta) o fez vitorioso de seus inimigos (In Lib. Reg.). A fim de poder combater a seus inimigos, diz São Leão, reparam as forças de sua alma e de seu corpo por meio de um jejum severo. Abstiveram-se de comer e de beber; impuseram-se esta rude penitência, e para vencer seus inimigos, começaram por vencer, em si mesmos, o atrativo da gula (Serm. de Quadrag.).

Os jejuns, acrescenta o mesmo São Leão, fazem-nos fortes contra o pecado, triunfam das concupiscências, afastam as tentações, acalmam o orgulho, tempera a ira, alimentam todos os afetos de boa vontade para fazer-nos praticar perfeitamente todas as virtudes[10].

O jejum, diz Santo Atanásio, eleva o homem até o trono de Deus: Jejunium ad throno Dei hominem sistit (Tract. de Virgin.).

Judite jejuava todos os dias de sua vida menos o dia de sábado, diz a Escritura: Jejunabat omnis diebus vitae suae praeter sabbata (Jud 8, 6).

Holofernes e seus soldados, amigos do muito beber, embriagaram-se, diz Santo Ambrósio; porém, havia uma mulher, Judite, que não bebia, jejuava todos os dias, menos nos festivos. Armada com o jejum adianta-se e destrói todo o exército dos assírios. Por meio da energia de uma resolução formada na abstinência, corta a cabeça a Holofernes, salva seu pudor e alcança a vitória. Fortificada com o jejum, introduz-se no campo estrangeiro. Holofernes fica submerso no vinho, e não sente o golpe mortal. Assim o jejum de uma só mulher subjuga o numeroso exército dos assírios, e salva o povo de Deus.

Por causa do ódio e da crueldade de Aman, o rei Assuero ordenou o extermínio dos judeus que estavam cativos. Imediatamente, diz a Escritura, a rainha Ester, assustada pelo iminente perigo, recorre ao Senhor. Deixando todos os adornos de rainha, põe-se vestidos de luto; em vez de usar perfumes, cobre sua cabeça com cinzas e pó, castiga o corpo com jejuns, e manda dizer a Mardoqueu: Ide, reuni a todos os judeus que encontrardes em Lusan, e rogai por mim; não comais, nem bebais nada, durante três dias e três noites; eu jejuarei também com minhas criadas; e então, apesar da lei que o proíbe, entrarei sem ser chamada às habitações do rei, e me exporei ao perigo e à morte para salvar meu povo (Est 4, 16).

Ester, diz Santo Ambrósio, tornou-se mais formosa com o jejum; porque o Senhor aumentava sua graça naquela alma sóbria: Estherpulchrior facta est jejunio; Dominus enim gratiam sobriae mentis augebat (Lib. de Elia et Jejun.). Assim é que desde o momento em que se apresentou ao rei, diz a Escritura, Deus mudou o coração de Assuero, o qual se lançou em seus braços. Que quereis, Ester? -disse-lhe ele – Sou vosso irmão, nada temais, não morrereis (Est 15, 11-13). Deste modo, Ester, com seu jejum e sua oração, conquistou para si um nome imortal, alcançando a liberdade para seu povo, um patíbulo para o cruel Aman, justiça para Assuero e glória para Deus.

Aquela que jejuou três dias, diz Santo Ambrósio, agradou ao rei e obteve o que pedia: a salvação de seu povo. E, entretanto, Aman, sentando em um régio festim, em meio à sua intemperança, pagou a pena que sua embriaguez merecia. O jejum é, pois, o sacrifício da reconciliação e o aumento da virtude: Est ergo jejunium reconciliationis sacrifium, virtutis incrementum (Lib. de Elia et Jejun.).

Ester, com seu jejum, diz Clemente de Alexandria, é mais forte que todos os seus inimigos; rasga o decreto tirânico que faria perecer a seu povo, acalma ao tirano, reprime a Aman e faz triunfar aos seus[11].

Judas Macabeu e seus soldados obtêm, com seus jejuns, os socorros do céu, e numerosas vitórias sobre seus poderosos e temíveis inimigos (Lib. Machab.).

O jejum, diz Santo Ambrósio, é o dono da continência, a disciplina da pureza, a humildade do espírito, a flagelação da carne corrompida, a expressão da sobriedade, a regra da virtude, a purificação a alma, a mão da misericórdia, o princípio da doçura, o atrativo da caridade, a graça da velhice, o guarda da juventude. O jejum é o alivio das enfermidades, o alimento da salvação, o viático do bom caminho, o tesouro da vida[12].

Os ninivitas são condenados pela justiça divina a ser destruídos; dedicam-se a um rigoroso e universal jejum, e imediatamente Deus perdoa-lhes.

Os Apóstolos jejuam e oram; o Espírito Santo desce sobre eles, enche-os de seus dons e converte-os em homens heroicos.

Santo Ambrósio atribui todos os milagres de Elias a seus jejuns. Com seus jejuns, diz, Elias fecha os céus ao criminoso povo judaico; com seu jejum, ressuscita ao filho da viúva; seu jejum, detém as inundações; seu jejum faz descer o fogo do céu; seu jejum faz-lhe subir ao céu em um carro de fogo; com seu jejum de quarenta dias, consegue conversar com Deus e achar-se em sua presença. Quanto mais jejua, mais poderoso é; detém também as águas do Jordão com seu jejum[13].

O jejum é a saúde do corpo, da alma, da memória e da inteligência. O jejum prolonga a vida, nos livra de mil enfermidades precoces e cruéis. Qual é sempre o primeiro mandato de um médico? Qual é o primeiro e principal remédio? A dieta, que é um jejum e uma abstinência absolutos.

Falsos pretextos que se alegam para o não jejuar

Alegamos mil razões falsas para livrar-nos da lei do jejum: a idade, a debilidade de estômago, as ocupações, a rigidez da lei, etc.

Os pecadores não podem jejuar, isto é, não tem forças para salvar-se, e a tem para condenar-se; porém, é mais custoso ir ao inferno que ir ao céu.

O mundo tem tormentos, sacrifícios, privações, exigências, ordens mil vezes mais penosas que as do Evangelho. E não haveria nenhuma energia para o bem, havendo tanta força para o mal? Os que se creem demasiado débeis para jejuar e fazer abstinência sabem perfeitamente se impor provações, ainda quando se trata de meramente ganhar uma pequena quantidade de dinheiro; e, quando se lhes assegura que obterão a graça, o céu e a glória eterna, por alguns dias de jejum, são demasiado débeis.

Ah! Não é a debilidade de temperamento a verdadeira causa da violação de uma lei tão santa e tão vantajosa; as verdadeiras causas desta desordem são a perda da fé, a indiferença, a gula e a impiedade.

Queixais-vos de que vossa saúde seja débil; porém não tendes a culpa de haver perdido vossa saúde? Não a destruístes com a avareza, os jogos e outros excessos? Muitas vezes, a saúde somente está alterada pela desordem das paixões… Ó, quantos há que abusam desta saúde, dom tão precioso de Deus!.

Ha várias espécies de jejuns

Há o jejum da vontade. Temos jejuado, dizem alguns, e por que não teve Deus em conta nossos jejuns? Porque, diz Isaías, seguis vossos caprichos e vontades nos dias de jejum: Ecce in die jejunii vestri invenitur voluntas vestra (Is ~58, 3). Acaso o jejum que eu estimo, diz o Senhor por meio de Isaías, não é, antes, que tu desfaças os contratos injustos, que canceles as obrigações usurárias que oprimem, que deixes em liberdade aos que foram à falência, e retires todos os gravames? Nonne hoc est magis jejunium quod elegi: dissolve colligationes impietatis, solve fasciculos deprimentes, dimitte eos qui confracti sunt líberos, et omne onus disrumpe (Is 58, 6). Que partas tu o pão com o faminto, e que aos pobres e aos que não tem abrigo acolha-os em tua casa, e vistas aquele que encontres nu, e não desprezes a tua própria carne ou ao teu próximo. Frange esurienti panem tuum, et egenos vagosque induc in domum tuam: cum videris nudum, operi eum, et carnem tuam ne despexeris disrumpe (Is 58, 7). Se isto fazes, amanhecerá a tua luz como a aurora, e chegará logo a tua cura; e diante de ti, irá sempre tua justiça, e a glória do Senhor de acolherá em seu seio (Is 58, 8)[14]. Então, invocarás o Senhor, e Ele te ouvirá benignamente; clamarás e Ele dirá: Aqui estou (Is 28, 9)[15].

Notai aqui que o Senhor ensina e explica qual deve ser o jejum dos cristãos durante a quaresma e os demais dias de jejum.

É preciso:

  1. que a alma abstenha-se dos vícios, assim como o corpo abstenha-se dos alimentos, diz São Jerônimo: Ut mens tam a vitiis quam corpus a cibo jejunet (Ad Celant.). Porque o objeto do jejum é humilhar o corpo e sujeitá-lo à alma, sujeitar a alma à razão, a razão à virtude e ao espírito, e o espírito a Deus; e, se não vos encaminhais para esse fim, é vão que empregareis o remédio dos jejuns, da mesma maneira que o enfermo toma inutilmente o remédio se não se abstém daquilo que o pode prejudicar, diz São João Crisóstomo: Sicut frustra ager assumit remedium, si a noxiis non abstineat (In Gen. I, Homil. VIII).

O mérito de nossos jejuns, diz São Leão, não se apoia somente na abstinência dos alimentos; de nada serve tirar ao corpo sua nutrição, se a alma não se aparta da iniquidade, e se a língua não deixa de falar mal[16].

Se somente a boca pecou, diz São Bernardo, que jejue tão somente ela; porém, se tudo em nós peca, porque não haverá de ser total o jejum? Que jejue, pois, a vista e prive-se dos olhares e de toda curiosidade vã; que jejue o ouvido, e não se abra nem às fábulas, nem aos rumores; que jejue a língua e prive-se da maledicência e da murmuração; que jejuem as mãos, fugindo da preguiça; e, sobretudo, que jejue a alma, afastando-se dos pecados e de sua própria vontade. Porque sem semelhante jejum, Deus recusa os demais[17].

É, pois, preciso fazer que o jejum do corpo seja meritório por meio do jejum da alma e do coração, bem como pela abstinência dos pecados. Este é o jejum que prescreve o profeta Joel: Santificai vosso jejum: Santificate jejunium (Jl 1, 25). Porque, como explica São Gregório, santificar o jejum é dedicar-se a outras boas obras, oferecendo a Deus a abstinência da carne. Cesse a ira, acalmem-se as querelas, porque em vão se mortifica o corpo quando não se põe um freio às más inclinações[18].

São Jerônimo diz-nos: De que serve debilitar o corpo com o jejum se o espírito rebela-se pelo orgulho? Que louvores pode nos merecer a palidez que o jejum imprime, se estamos plenos e manchados de inveja? Que virtude há em não beber vinho, e embriagar-se de ira e de ódio?[19]

  1. repartir o vosso pão com aquele que tem fome (Is 58, 7). Esta é a segunda condição que Deus exige no jejum para que Ele aceite-o. O jejum, diz São Gregório, deve ir acompanhado de piedade e de esmola; é preciso dar ao pobre o que subtraímos ao estômago: é preciso dar pão aos pobres, hospitalidade ao peregrino e vestes ao nu[20].

Aquilo de que vos privais, diz o mesmo Doutor, é necessário doar ao outro, a fim de que o meio que empregais para castigar vossa carne sirva para reparar as forças de vosso próximo: Quod tibi subtrahis, alteri largire; et unde tua caro afligitur, inde egentis proximi caro reparetur (Homil. XVI, in Evang.).

Santificai vosso jejum. Que vosso jejum tenha assas para penetrar até ao céu, diz São Bernardo: a asa da oração e a asa da justiça. Santifiquem o jejum, para que a intenção pura e a oração fervorosa ofereçam-no à Majestade divina[21].


Referências:

[1] Multo melius est stomachum te delere, quem mentem; imperare corpori, quam servire; gressu vacilare, quam pudicitia. Ardentes diaboli sagittae, jejuniorum et vigilarum rigore, retorquendae sunt: quae in deliciis est, vivens, mortua est (Epist.).

[2]   Da abstinentia prodeunt castae cogitationes, rationabiles voluntates, salubriora concilia, ac per voluntarias afflictiones, caro concupiscentiis, virtutibus spiritus innovatur (Serm. II de Jejunio decim. mensis)

[3] Quid est jejunium nisi substantia et imago caelestis? Jejuium refectio animae, cibu mentis est. Jejunium vita est angelorum; jejunio culpae mors, excidium delictorum, remedium salutis, radiz gratiae, fundamentum est castitatis. Hoc ad Deum citius gradu pervenitur (De Elia et jejun., c. III).

[4] Jejunium est vehiculum ad coelum. Jejunium profetas suscitat, legislatores sapientiam docet. Jejunium vita est angelorum; jejunium bona animae custodia, et securus corporis cohabitator. Jejunium strenuis militibus telum, athetisque exercitum. Jejunium tentationes redundit, ad pietatem inumgit. Jejunium ignis virtutem extinguit, ora leonum obturavit, orationes in coelum dirigit, Jejunium mater est sanctitatis, juventutis disciplina, ornamentum senibus (De Jejun., c. IX).

[5]  Jejunium non solum perfecta est virtus, sed et coeterarum virtutum fundamentum est, et santificatio, et pudicitia, atqueprudentia, sine qua nemo videbit Deum (Lib. II adDemetriad.).

[6]  Jejunium purgat mentem, sublevat sensum, carnem spiritui subjicit, cor fecit contritum et humiliatum; concupscenctia nebulas dispergit, libidinum ardores extinguit, castitatis lumen ascendit (In cap. IV, Matth.)

[7]  Vide quid faciat jejunium: morbos sanat, distillationes exsiceat, daemones fugat, malas cogitationes expellit, mentem reddit niditiorem, cor purgatius, est corpus salubrius (Lib. I de Virgin.).

[8]  Quid fortissimus Sansonem inexpugnabilem reddidit? None jejunium, per quod in matriz útero conceptus est? Jejunium concepit, jejunium nutrivit, jejunum fortem effecit (Homil. de Jejun.).

[9]  Jejunium profetas generat, potentibus addit robur. Jejunium legum latoris subministrat sapientaiam; armatura fortiter belligerantibus. Jejunium Magnum illum Samsonem educavit, idque quamdiu viro adfuit singulis conflictibus milleni hostes prostati sunt, urbium portae subruptae sunt, leonês robur manuum illius non sustinuerunt. At simul atque ebrietas ac acordatio corripuit hominem, captus est ab hostibus, atque exoculatus, pro ludo expositus est pueris alienigenarum (Homil. de Jejun.).

[10]  Jejunia nos contra peccata faciunt fortiore, concupiscentia vicunt, tentationes repellunt, superbiam inclinat, iram mitigant, et omnes bonae voluntatis affectus ad maturitatem totius virtutis enutriunt.

[11] Esther afflicta jejuniis, restitit armatis copiis innumerabilibus, tyrannicum solvens decretum et tyrannum mitigavit; Aman repressit, et Israelem illaesum conservavit (Lib. VI, Strom., c. IV).

[12] Jejunium continentiae magisterium est, pudicitiae disciplina, humilitas mentis catisgatio carnis, forma sobrietatis, norma virtutis, purificatio animae, miserationis expensa, lenitatis institutio, caritatis illecebra, senilis gratia, custodia juventutis. Jejunium est infirmitatis levamen, alimentum salutis, bonum itineris viaticum, bonum totius vitae (De Elia et Jejun.).

[13] Eliae, jejuno ore, voz emissa caelum clausit sacrílego populo Judaeorum. Jejunus, filium viduae suscitavit; jejunus, pluvias ore deposuit; jejunus, ignes de caelo eduxit; jejunus, curru raptus est ad caelum; et quadraginta dierum jejunio, divinam acquisivit praesentiam. Tunc denique, plus meruit, quando plus jejunavit; jejuno ore statuit fluente Jordanis (De Elia et Jejun.).

[14]  Tunc erumpet quasi mane lumen tuum et sanitas tua citius orietur et anteibit faciem tuam iustitia tua et gloria Domini colliget te. (Citação da Vulgata)

[15] Tunc invocabis et Dominus exaudiet clamabis et dicet ecce adsum si abstuleris de medio tui catenam et desieris digitum extendere et loqui quod non prodes (Citação da Vulgata).

[16] Non in sola abstinentia cibi stat nostri summa jejunii, aut fructuose corpor esca subtrahitur, nisi mens ab iniquitate revocetur, et ab obtrectationibus língua cohibeatur (Serm. IV in Quadrag.).

[17] Si sola gula peccavi, sola jejunet, et sufficit; si vero peccaverunt et membra caetera, cur non jejunent et ipsa? Jejunet ergo óculos a curiosis aspectibus et omni petulantia; jejunet auris, nequiter pruriens, a fabulis et rumoribus; jejunet língua a detractatione et murmuratione; jejunet manus ab otiosis signis. Sed et multo magis anima ipsa jejunet a vitiis, et a propria voluntate sua. Etenim, sine jejunio hoc, caetera a Domino reprobantur (Serm. III de Jejun. Quadrag.).

[18] Nam jejunium santificare est, adjunctis bonis aliis, dignam Deo abstinentiam carnis ostendere. Cesset ira, sapiantur jurgia. Incassum enim caro atteritur, si a pravis suis voluptatibus animus non refrenatur (Homil. XVI in Evang. ).

[19]  Quid prodest tenuari abstinentia corpus, si animus intumescat superbia? Quam laudem merebitur de pallore jejunii, si invidia lividi sumus? Quid virtutis habet vinum non bibere, et ira atque odio inebriari? (Ad Celant.).

[20]  Condiatur jejuniam pietate et eleemosyna, ut quod subtrahitur ventri, detur pauperi, esurienti detur panis, peregrino hospitium, nudo vestis (Homil. XVI in Evang.).

[21]   Sint jejunio nostro, ut facile caelos penetret, duae alae, orationeis, scilicet, et justitiae. Santificent jejunium, utpura intentio et devota oratio divinae illud offetantMajestati (Serm. IV de Jejun. Quadrag.).