Por Dom Henrique Soares da Costa
No Evangelho deste Domingo, o Senhor nosso Jesus Cristo fala-nos sobre o Reino de Deus que Ele mesmo veio inaugurar com Sua santa Encarnação, com Seu ministério público, com Sua Paixão, Morte e Ressurreição; Reino que Ele, efetivamente, nos deu com o dom do Seu Espírito Santo!
Observai, Irmãos, que sempre que fala do Reino, Jesus nosso Senhor usa imagens, fala-nos em parábolas. É que o Reino não pode ser descrito, não pode ser resumido num conceito; sequer esse Reino bendito pode ser totalmente compreendido por nós. Por isso o Evangelho fala em “mistério do Reino de Deus” (Mc 4,11)!
Esse Reino bendito de Deus Pai é o próprio Senhor Deus de Israel reinando no nosso coração, na nossa vida e, através de nós, na vida do mundo. Esse Reino foi trazido pelo Senhor Jesus porque Nele, o Filho feito obediente por nós até a morte e morte de cruz, o Pai reinou totalmente, até ressuscitá-Lo na potência do Santo Espírito. Assim, em Jesus, o Reinado do Pai manifesta-se de modo pleno, em Jesus, Deus reinou totalmente; em Jesus, aparece as dores do Reino, dores de cruz; em Jesus, aparece a glória do Reino, glória de ressurreição; em Jesus, aparece a fraqueza do Reino e a força do Reino! E tudo isto se dá na força, na energia, na ação potente do Santo Espírito que, dando-nos os sentimentos de Cristo, dá-nos a graça de deixar que o Reinado de Deus entre em nós nesta vida e nos faça dele herdeiros na Vida que há de vir, na plenitude do Reino, na Glória do Céu!
Caríssimos, o que diz o Senhor? Que parábolas nos conta para fazer-nos entrever algo do Seu Reino bendito?
Primeiro nos ensina que o “Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece… Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou!”
Que significa isto, Irmãos? O Reino é semeado por Jesus e por todos aqueles que em Seu Nome pregam o Reinado de Deus. A nós compete pregar, como Jesus pregou; mas, atenção: a Palavra do Reino tem sua força própria! Não depende de nós! Como a semente, uma vez lançada à terra, cresce com seu próprio vigor, assim o Reino! Confiemos: ele tem a força vinda do próprio Espírito do Senhor Deus! Como nos ensina o Senhor na primeira leitura de hoje, Ele mesmo sabe levar adiante o Seu plano a partir de instrumentos tão fracos, tão frágeis, tão pequenos… A lógica e a medida do Senhor não são as nossas…
Vede bem: às vezes, esse Reino parece tão frágil e nossa pregação e nosso esforço tão inúteis… Não, meus caros: o Reino tem seu próprio tempo, sua própria força, sua própria dinâmica! No tempo de Deus e no modo de Deus chegará o momento da colheita; então, todos e tudo seremos colocados diante do tremendo tribunal de Cristo, como nos diz o santo Apóstolo na segunda leitura de hoje! Aliás, é por esta certeza, por este inabalável esperança, que o Apóstolo não perde o ânimo:
“Estamos sempre cheios de confiança e bem lembrados de que, enquanto moramos nos corpo, somos peregrinos longe do Senhor!”
Sim, agora é o tempo do caminho, do trabalho, da semeadura. E devemos fazê-los com ânimo, com os olhos fixos no Senhor! Muitas vezes, semeando entre lágrimas (cf. Sl 126/125,5s); mas, certos de que haverá o tempo da colheita e, até lá, o Reino crescerá na força do Senhor, do modo do Senhor, nos tempos do Senhor, na lógica do Senhor! O Reino é Dele, não nosso!
A nós cabe acolher o Reino, a nós cabe testemunhá-lo, a nós cabe anunciá-lo onde quer que vivamos! Ao Senhor cabe o restante, Ele que é fiel, atuante e tudo pode… Somente recordemos: os tempos e modos do Senhor Deus não são os nossos! Ele é capaz de abater o soberbo e elevar os humildes e insignificantes, como faz com os cedros do Líbano na profecia de Ezequiel, que ouvimos hoje!
Depois, a outra parábola:
“O Reino de Deus é como um grão de mostarda, menor de todas as sementes. Cresce e se torna maior que todas as hortaliças e os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra”.
Compreendeis? O Reino parece tão pequeno, tão insignificante, tão frágil… No entanto, anunciado, semeado, ele crescerá e a humanidade toda, as nações, representadas pelos pássaros dos céus, poderão abrigar-se nele!
Eis quão pequeno e quão grande é o Reino! Ei-lo, tão frágil e tão forte, tão dom de Deus e tão responsabilidade nossa como testemunhas, como anunciadores!
Um dia, meus caros, esse Reinado de Deus que deve por nós ser acolhido, acolhido na nossa existência, recebido em todos os aspectos da nossa vida, esse Reino será pleno em nós, no Dia de Cristo. Nossa vida neste mundo é caminho para a plenitude do Reino na Glória celeste.
Na segunda leitura desta Eucaristia sagrada, São Paulo recorda que “enquanto moramos no corpo, somos peregrinos, longe do Senhor”, caminhando na sombra do fé, não ainda na visão clara. Gostaríamos de ir morar logo com o Senhor, deixando a moradia deste corpo. A questão é que desejamos receber um corpo glorioso sem ter que passar pela desnudez da morte, quando este nosso corpo, separado da nossa alma, será destruído. Mas, não será assim: vamos ser desvestidos deste corpo e, no final dos tempos, receberemos um vestido de glória, este nosso corpo ressuscitado e glorioso! No Dia de Cristo, na plenitude do Reino, quer estejamos nus – isto é, já no Céu somente com nossa alma – ou vestidos – quer dizer, ainda aqui neste mundo, com este corpo -, todos nós seremos transfigurados, recebendo um corpo de Glória, um corpo para o Reino, um corpo pleno do mesmo Espírito Santo que ressuscitou Jesus dentre os mortos!
Então, caríssimos meus no Senhor, nosso compromisso neste mundo com o Reino do Pai, que o Senhor veio nos trazer no Espírito Santo, nosso empenho em acolhê-lo, em testemunhá-lo, em difundi-lo, será o critério para o nosso destino quando estivermos no tremendo tribunal de Cristo, no limiar da plenitude do Reino, na Glória imperecível!
Levemos a sério a advertência do Senhor! Não sejamos cristãos frios, descomprometidos, preguiçosos em relação ao que é do Senhor! Que lástima: quando se trata do trabalho do Reino tudo para nós é difícil, tudo é custoso! Que raça de cristãos somos nós, que deixamos Deus e o Seu Reino no último lugar! Atentos ao Juízo do Senhor! Convertamo-nos! Na família, no trabalho, na vida social, na vida paroquial, no nosso grupo, em tudo quanto fizermos e onde estivermos, sejamos testemunhas e semeadores do Reino! E que o Senhor, por compaixão nos conceda dele participar em plenitude na Glória eterna. Amém.