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Glória do homem pela Encarnação

Sexta-feira. Glória do homem pela Encarnação

Meditação para Sexta-feira da 2ª Semana do Advento

Sumário

Meditaremos a glória que provém ao homem da Encarnação do Verbo, e veremos:

1.° Que ela eleva o homem em Jesus Cristo ao apogeu da grandeza;

2.° Que o coloca, sob vários aspectos, em um estado melhor do que antes da queda de Adão.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De respeitar e conservar sempre puro o nosso corpo, já que o Verbo Encarnado tanto o honrou;

2.° De crescer todos os dias no amor de Nosso Senhor, que tanto nos amou, e de multiplicar os nossos atos de amor de dia e de noite.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra da Igreja:

O felix culpa, quae talem ac tantum meruit habere Redemptorem – Ó feliz culpa, que nos mereceu ter um tal Redentor! (Benedictio cerei paschalis)

Meditação para o Dia

Adoremos, amemos e louvemos a infinita bondade de Deus, que se compraz em fazer bem aos homens, até mesmo depois que O ofenderam. O homem tinha-se degradado pelo seu pecado; o Verbo Encarnado eleva até ao apogeu da grandeza a sua natureza decaída. O homem tinha se privado dos dons da graça e tornado inferior aos demônios; Deus engrandece-o e coloca-o em um estado melhor, sob certos aspectos, de que o seu estado primitivo. Manifestemos na Sua presença todos os sentimentos do nosso reconhecimento e amor.

PRIMEIRO PONTO

Deus elevou em Jesus Cristo a natureza humana ao apogeu da grandeza

Oferece-se aqui às nossas meditações um prodígio, que fará a admiração eterna do céu. O verbo de Deus, unindo a Si a natureza humana em unidade de pessoa, tornou-a por isto mesmo não só superior a todos os anjos, mas também igual a Deus mesmo; porque em virtude da união hipostática, dir-se-á eternamente com verdade, que em Jesus Cristo o homem é Deus, e que este Homem-Deus tem direito ao mesmo culto que Deus. Desde a sua entrada no mundo os anjos recebem a ordem de adorá-lO (1). No deserto, os anjos veem servi-lO (2). No dia da Ascensão, Deus Pai fá-lO sentar à Sua mão direita, como seu igual (3). Dir-se-á eternamente com verdade, falando de Jesus Cristo: A alma deste homem é a alma de um Deus: as Suas mãos são as mãos de um Deus; o Seu corpo é o corpo de um Deus; o Seu coração é o coração de um Deus: e este corpo será adorado por toda a terra e no céu; esse coração será o objeto do culto de toda a criatura do tempo e na eternidade. Que inefável transformação da nossa natureza, de tão baixo elevada tão alto! Mas se Deus no seu Verbo honrou tanto a natureza humana, aprendamos daí a honrá-la em nós, conservando-a sempre pura, sempre casta e santa, sempre afastada de tudo o que mancha e degrada, sempre adornada de tudo o que é bom, edificante, amável e honroso (4).

SEGUNDO PONTO

Deus, pela Encarnação, colocou-nos, sob vários aspectos, em um estado melhor do que o estado antes da queda de Adão

Com efeito Deus, por Jesus Cristo, não se contentou de nos tirar do abismo infernal a que estávamos condenados, de nos livrar da escravidão do demônio, e de nos alcançar a remissão das nossas culpas (5);  reintegra-nos também no Seu agrado e nos nossos direitos ao céu, não só uma vez, mas todas as vezes que os perdemos pelo pecado, por mais enormes, por mais numerosas que sejam as nossas culpas, com a única condição de aí confessar e nos arrependermos delas; de sorte que, graças à Encarnação, salva-se quem quer; não se condenam senão os que querem condenar-se. Não é tudo: a Encarnação, com o auxílio dos Sacramentos, faz-nos filhos de Deus, irmãos de um Deus, membros de Jesus Cristo e um mesmo corpo com Ele; faz-nos participar com Ele do reino dos céus e do Seu próprio trono (6); transforma-nos em templos do Espírito Santo (7), que habita em nós, em santuários vivos da divina Eucaristia, pela qual Jesus Cristo se anexa ao nosso corpo e faz do nosso coração um paraíso na terra; finalmente, torna-nos irmãos e co-ordeiros dos santos, com quem devemos reinar eternamente na glória. Ó meu Deus, quão verdadeiramente se pode dizer, que a Vossa santa Encarnação nos colocou em um estado melhor do que o estado antes do pecado original; e quanta razão tem a Vossa Igreja para exclamar, falando da queda de Adão: Feliz culpa, que nos mereceu ter um tal Redentor! Mas como apreciamos nós uma tal graça? Louvamos a Deus todos os dias? Amamo-lO mais? Servimo-lO com mais zelo?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Cum introducit Primogenitum in orbem terrae, dicit: Et adorent eum omnes angeli Dei (Hb 1, 6)

(2) Angeli… ministrabant ei (Mt, 4, 11)

(3) Dixit Dominus Domino meo: bede a dextris meis (Sl 109, 1). Qui consedit in dextera sedis magnitudinis in caelis (Hb 8, 1)

(4) Quaecumque sunt vera, quaecumque pudica, quaecumque justa, quaecumque sancta, quaecumque amabilia, quaecumque bonae famae, si qua virtus, si qua laus disciplinae, haec cogitate (Fl 6, 8)

(5) In quo habemus redemptionem per sanguinem ejus, remissionem peccatorum (Cl 1, 14)

(6) Dabo ei sedere mecum in throno meo… (Ap 3, 21). Consedere fecit in caelestibus in Christo Jesu (Ef 2, 6)

(7) Membra vestra templum sunt Spiritus sancti qui in vobis est (1Cor 6, 19)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 66-69)

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