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Flores a Maria
Confira todos os capítulos do livro Flores a Maria, do Pe. Martinho Pereira.
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Vive na pobreza
Consideremos a Sagrada Família, composta de Jesus, de Maria e de José. Esta Santíssima Família tinha só a Deus por seu único bem, vivia na obscuridade, nos trabalhos, talvez em desprezo, e sem dúvida na pobreza. Mas quanto não era rica em graças e virtudes! Nunca houve família mais santa, mais respeitável, mais feliz nem mais digna da vassalagem dos anjos e dos homens. Não são os bens e as honras deste mundo, o que faz a verdadeira felicidade, mas sim a graça de Deus; a virtude e a santidade. Oh! Quanto é rico e ditoso aquele que ama a Deus, e só a Ele possui!19
Motivos da dor da Virgem Mãe
A virtude da paciência é indispensável para a perfeição da alma. Tendo pois o Altíssimo, escolhido a Maria para exemplar de perfeição, quis que ela suportasse as mais as mais acerbas penas, angústias e dores, para que pudéssemos admirar e imitar nela a paciência mais heroica. Uma das mais agudas espadas que feriram esta virgem inocente foi quando, na volta da grande solenidade da Páscoa, se achou sem o seu divino Filho, que, sem ela o saber, ficara em Jerusalém. Este acontecimento foi como um raio do céu, que lhe traspassou o amante coração! Que tristes pensamentos combateram a sua alma! Que sentidas lágrimas derramariam os seus olhos! Admiremos os desígnios da Providência sujeitando a tão duras provações o Imaculado Coração de Maria, e persuadamo-nos de que por altíssimos fins o Senhor mortifica mais aquelas almas que mais queridas são ao Seu divino Coração.18
Dor de Maria Santíssima
A triste profecia do velho Simeão não tardou a começar a realizar-se. O Deus Menino, vindo ao mundo para redenção de todos os homens, principiou logo a ser o alvo das perseguições dos ímpios. Apenas a sagrada Família volta de Jerusalém, um anjo aparece em sonho a São José, e lhe manda que tome o Menino e sua mãe e fuja para o Egito, porque Herodes procuraria este divino infante para Lhe dar a morte. No mesmo momento o Santo Patriarca levanta-se, comunica à santíssima esposa a ordem do céu e dispõe-se para fugir. Que golpe para o coração de Maria! Deixar imediatamente a pátria, mudar de terra e, com o tenro Menino nos braços, partir para um país remoto! Fugir do meio do povo de Deus para uma gente supersticiosa; de um país onde se conserva a religião verdadeira, para uma região cheia de templos dos demônios! Ver o seu Menino apenas nascido, já perseguido de morte por aqueles a quem vem trazer a vida abundante de todas as graças! Que amargosa dor para tão sensível mãe! Compadeçamo-nos do terno coração de Maria, tão profundamente ferido; procuremos consolá-lo, fugindo de todo o pecado e exercitando-nos em todas as virtudes.17
Dor que Maria Santíssima sente, ouvindo o que o santo velho profetiza a respeito:
De seu divino Filho
Quando o velho Simeão teve a dita de receber nos braços o Deus Menino, depois de testemunhar sua gratidão ao Senhor por lhe ter concedido ver o Salvador que vinha ser a luz para iluminar as gentes, e a glória do povo de Israel; alumiado com luz profética, o venerando ancião profere este triste oráculo:Aqui, de repente, e como numa lance de olhos, foram presentes à Senhora todas as perseguições de que seria objeto o seu bendito Filho, e todas as circunstâncias de sua dolorosa Paixão. De quanta amargura este espetáculo não repassaria o seu amantíssimo coração! E todavia, que admirável resignação e tranquilidade conservava no meio de tantas angústias! Com que rendimento se submete aos inefáveis decretos de Deus! Aprendamos daqui a conformarmo-nos com as disposições da divina Providência em todas as tribulações da vida, embora tenhamos de sacrificar os nossos mais justos e santos afetos."Este Menino está posto para alvo de contradição"
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Obediência de Maria
A Mãe de Deus dá-nos neste mistério um grande exemplo de obediência, submetendo-se, como as outras mulheres, à lei da purificação a que não estava obrigada, porque, sendo Mãe de Deus e a mais pura das Virgens, não tinha necessidade de purificar-se. Maria observa com exatidão todas as cerimônias da lei, sem nenhuma excetuar, nem pretender dispensa alguma. Faz ainda mais do que deve; e nós, bem ao contrário, não fazemos a maior parte das vezes nem aquilo a que estamos rigorosamente obrigados! Quando obedecemos é quase sempre por força, de mau grado, com repugnância, o mais tarde que podemos, e, por consequência, sem merecimento aos olhos de Deus. Aprendamos de nossa divina Mãe a obedecer, e imitemo-la, quanto em nós couber, na prática de uma virtude que lhe é tão cara.15
Circunstâncias do nascimento de Jesus
Entramos em espírito no pobre presépio de Belém, e consideremos com os olhos da fé as circunstância do nascimento do nosso adorável Salvador. Neste mesquinho albergue é que a divina Maria, arrebatada em sublime contemplação e abrasada em ardente amor de Deus e em desejo extremo de ver o seu Filho, sem sofrer a menor dor e sem deixar de ser a mais pura das virgens, deu à luz o rei do céu e da terra, o Messias prometido e esperado, havia quatro mil anos. Prostremo-nos profundamente aos pés deste divino Infante, adoremo-lO como nosso Criador, Redentor, soberano Mestre e Deus. Depois de Lhe termos tributado vassalagem com todos os afetos que à fé, a religião, o amor e a gratidão podem inspirar-nos, rendamos obséquios a Sua terna Mãe; felicitemo-la pela ventura inefável de ser Mãe de Deus; honremo-la nesta qualidade e ponhamos nela a nossa confiança.14
Submissão de Maria Santíssima e São José às ordens do imperador
Como são diferentes os pensamentos de Deus dos pensamentos dos homens, e superiores os desígnios do Rei do céu aos de todos os grandes da terra! O imperador Augusto publica um edito para se fazer o recenseamento de todos os vassalos do seu império, sem ter nisto outro motivo, senão o de satisfazer a sua ambição e orgulho. Mas a Providência que tem mui diferentes desígnios, tudo dispõe em ordem a que sejam cumpridas as profecias, que anunciavam o nascimento do Messias em Belém. Maria e José não consideram no mandado do príncipe mortal senão a vontade de Deus: adoram os seus decretos impenetráveis; entregam-se aos cuidados da sua Providência; e, sem desanimarem com as dificuldades da jornada, só cuidam em obedecer prontamente à ordem que os chama a Belém. Oh! Quanto a obediência nos seria fácil e agradável, se, imitando a Maria Santíssima e a São José, víssemos sempre a vontade de Deus nas ordens dos superiores!13
Desejos de Maria ver nascido o Redentor do mundo
Maria Santíssima, inflamada na mais alta caridade desde o primeiro instante da sua conceição, desejava ardentemente a vinda do Messias para a redenção do gênero humano, porém depois que teve ventura e glória inefável de conceber em seu castíssimo ventre o mesmo Redentor divino, quem pode explicar quais foram os transportes do seu coração? Com que veemência desejava ver já nascido o Verbo encarnado para que Deus fosse glorificado, e os homens livres da tirania do demônio e do pecado, em que há tanto tempo gemiam! Suspirava sem cessar por este ditoso momento; era ele o objeto dos seus votos e ânsias. Nós temos muitas vezes a ventura de receber em nossos corações, pela sagrada comunhão, aquele mesmo Deus que Maria concebeu em suas entranhas virginais; mas por ventura preparamo-nos como ela para a sua vinda, pela prática das virtudes, ardor da caridade, e pureza de vida? Ah! Envergonhemo-nos da nossa tibieza e aprendamos da Virgem Santíssima a excitar em nós vivos afetos e fervorosos desejos de nos unirmos com Jesus, e aproveitar os saudáveis efeitos da Sua presença.12