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As Festas Litúrgicas e o Povo de Deus

Dom Henrique Soares da Costa
Reze o Salmo 119/118,169-176
Agora, leia com piedade, com atenção e um coração que escuta Dt 16,13-17

13«Celebrarás a festa das Tendas durante sete dias, quando recolheres os produtos da tua eira e do teu lagar. 14Alegrar-te-ás durante a festa, com os teus filhos, as tuas filhas, os teus servos, as tuas servas, com o levita, o estrangeiro, o órfão e a viúva que estiverem dentro das portas da tua cidade. 15Festejarás esses sete dias em honra do SENHOR, teu Deus, no santuário por Ele escolhido, pois o SENHOR, teu Deus, abençoará todos os teus bens e toda a obra das tuas mãos. Faz a festa com alegria.

16Três vezes por ano, todos os varões se apresentarão diante do SENHOR, teu Deus, no santuário que Ele tiver escolhido: na festa dos Ázimos, na festa das Semanas e na festa das Tendas. Ninguém aparecerá com as mãos vazias diante do SENHOR. 17Cada um dará segundo as suas posses, conforme as bênçãos que o SENHOR, teu Deus, lhe tiver concedido.»

1. Os vv. 13-17 tratam da terceira das festas de peregrinação, a Festa das Tendas, chamada pelo judeus de Sucot (tenda, tabernáculo). Ela é a festa mais alegre e popular de Israel: durante sete dias, os israelitas moram debaixo de tendas cobertas com ramagens para que Israel nunca esqueça que foi peregrino no deserto e aí, foi pelo Eterno conduzido e protegido! A Igreja, Novo Israel, nunca deve esquecer de que está a caminho, de que aqui estamos de passagem e “não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da Cidade que está para vir” (Hb 13,14). O cristão nunca deve se esquecer desta dimensão de provisoriedade, própria da existência humana…

2. E você? Recorde:

“A vida é tua embarcação, não tua morada!”

– Santa Teresinha detinha-se muito neste pensamento… Reze o Salmo 56/55… Com todo o coração, repita o v. 9:

“Do meu exílio registrastes cada passo, em Vosso odre recolhestes cada lágrima e anotastes tudo isso em Vosso livro!”

Por que somos assim? Teimamos em esquecer que aqui estamos de passagem e somente lá, em Deus, permaneceremos para sempre!

3. Os israelitas cobrem as tendas de palha, de modo que se possa, de dentro dela, ver o céu com suas nuvens. Isto recorda que aquele que é peregrino diante do Altíssimo, não constrói castelos, não se encastela com as situações e bens desta vida, não se fecha em suas falsas seguranças. Numa simples tenda, coberta por tênue ramagem, pode-se sempre ver o céu, sem que se perca a lembrança e o temor de Deus, o Eterno, o Santo, o fundamento da nossa existência! Reze o Salmo 103/102. Medite, sobretudo, os vv. 15-18. Coloque sua vida, seus problemas, seus desafios, seus projetos, seus medos nas mãos do Senhor. Reze Mt 6,25-34

4. Na tradição judaica, poder olhar as nuvens através da ramagem das tendas recorda a Shekiná, a santa Presença do Senhor Deus que, em forma de nuvem, guiou o Seu Povo no deserto. Leia Ex 13,21s.

A Nuvem, Presença protetora do Senhor Deus, aparece também quando da dedicação da Tenda de Reunião. Leia Ex 40,34-38.
Depois, já na Terra de Israel, quando Salomão dedicou o Templo, o Senhor fez Sua Shekiná habitar nele. Leia 1Rs 8,10-13.
Não esqueça que esta Nuvem é símbolo do Espírito do Senhor, Espírito que Cristo derramaria sobre a Sua Igreja, Seu Novo Israel!
Esta mesma Nuvem repousou sobre a Virgem Maria Toda Santa, cobrindo-a com Sua sombra, para, no seu ventre bendito, gerar segundo a carne o Salvador do mundo. Leia Lc 1,35.

5. Quando o Povo entrou na Terra Santa, nesta Festa também se suplicava e se suplica ainda hoje as nuvens que trazem a chuva, recordando-se de que no deserto o Senhor Deus matou a sede do Seu Povo, fazendo brotar água da rocha (cf. Ex 17,1-7; Nm 20,1-13). Assim, nesta Festa das Tendas, os israelitas liam as profecias que anunciavam a fonte que deveria regenerar Israel, quando viesse o Messias (cf. Is 12,3; Zc 14,8; Ez 47,1s). Fazia-se também uma procissão até a Piscina de Siloé para buscar água, como sinal do dom de Deus e das bênçãos messiânicas. Foi numa festa das Tendas que o Senhor nosso Jesus Cristo se manifestou como o verdadeiro Rochedo (cf. 1Cor 10,4), de cujo seio brotariam rios de água viva (cf. Jo 7,37-39): esta água que brota da Rocha que é Cristo, é o próprio Espírito Santo, fonte que jorra para a Vida eterna, como o Salvador revelou à Samaritana (cf. Jo 4,13s). Jesus é tudo: Ele é o Rochedo verdadeiro do qual mana a Água que sacia Israel; Ele é o verdadeiro Poço, donde se pode aurir a Água que jorra para a Eternidade! Tudo isto se realiza misticamente quando, na Cruz, do Seu lado aberto, brota a fonte a água e do sangue, prenúncio do Dom, que é o Santo Espírito, dado em Pentecostes e continuamente derramado nos sacramentos da Igreja. Leia 1Jo 5,5ss.

6. Antes de concluirmos, é preciso que meditemos um pouco sobre o sentido das festas de Israel e da Igreja, as festas litúrgicas. Para nós, a Páscoa, com a Ascensão e Pentecostes, o Natal com a Epifania e o Batismo do Senhor, e as demais festas, derivadas todas destas, principais, ou com elas tendo alguma relação… Por que o Senhor Deus as instituiu? A festa é um tempo especial para Deus, é festa para o Senhor… Celebrando as festas, o fiel abre o tempo, o seu tempo, para o Eterno, Senhor do tempo e dos tempos! Além do mais, a festa vai recordando o sentido da vida, dos tempos de nossa peregrinação terrestre. Sem as festas, os tempos da nossa vida estariam presos na mesmice de cada dia, numa vida sem sentido, como se fôssemos simples animais, que vivem, mas não sabem que vivem nem para que vivem… As festas nos fazem descobrir o sentido da existência: é caminho vivido diante do Eterno, em amizade com Ele, pois Dele vimos e para Ele vamos! A festa é também tempo de alegria no Senhor – não somente a minha alegria, mas a alegria do inteiro Povo de Deus, do qual eu sou membro! Veja quantas vezes, neste capítulo, está dito:

“Alegrar-te-ás no Senhor teu Deus… tu, tua família, o levita, o pobre, o estrangeiro…”

As festas, portanto, nos fazem sentir parte de algo maior, de um povo, o Povo de Deus, que se alegra no seu Senhor! Não celebrar as festas do Senhor é trancar-se em si mesmo de modo egoístico e autossuficiente, não reconhecendo as maravilhas que o Senhor realizou, não reconhecendo que o tempo é de Deus e não se reconhecendo membro de um povo, o Povo Santo e sacerdotal de Deus! Ainda um detalhe muito importante e urgente no mundo atual: as festas são instituídas pelo Senhor; não são festinhas inventadas pelos homens, pela comunidade! Uma coisa são as grandes festas cristãs; outras os eventos festivos que uma comunidade inventa… São de importância e qualidade totalmente diferentes! As festas do Senhor celebram os grande atos salvadores de Deus na história da salvação, são verdadeiros sacramentos, mistérios, como se diz na Liturgia! Essas festas, como toda a Liturgia, não podem ser celebradas do nosso jeito, com os nossos critérios, de modo arbitrário, mas, precisamente porque são instituídas pelo Senhor e celebradas por toda a Igreja, devem ser celebradas de acordo com os ritos próprios de cada uma e estabelecidos pela venerável tradição litúrgica da Igreja! Hoje, muitos – inclusive entre os ministros sagrados – esqueceram isto! É uma verdadeira lástima, uma traição, uma miséria! Ninguém – absolutamente ninguém! – tem o direito de adulterar a Liturgia com seus gostinhos, suas mogangas, suas piruetas, sua criatividade metida, soberba e autossuficiente! Não se brinca com as coisas santas, que são manifestação do Santo e tesouro da inteira Igreja, novo Israel, Povo de Deus da Nova e Eterna Aliança!

7. Olhe nas sua Bíblia os Salmos 120/119 a 134/133. São os salmos graduais, ou salmos das subidas, ou salmos das ascensões… São os salmos cantados pelos israelitas quando subiam para Jerusalém para as três festas de peregrinação: a Páscoa, o Pentecostes e as Tendas. Reze os Salmos 120/121 129/128 e 134/133.

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