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A Estrela dos Magos

A Estrela de Belém e os Reis Magos

Uns magos vieram do Oriente

Em todo presépio que se preze, sempre estão presentes as figuras dos três Reis Magos, montados em seus camelos e com um cortejo de pajens e oferendas. Eles avançam pela estrada que leva a Belém. Quantos de nós não fizemos avançar suas figurinhas de barro no presépio, um centímetro por dia, até colocá-los aos pés de Jesus Menino na data em que a Igreja comemora a sua chegada, 6 de Janeiro.

O Evangelho (cf. Mt 2, 1-10) não diz se eram mesmo três, nem de que país procediam. Mas usa uma expressão – «magos» – que naquele tempo designava, no Oriente, homens sábios, homens de ciência e estudo, conselheiros de reis (talvez por isso o povo cristão usou chamá-los de «Reis» Magos). Diante deles, marcando o rumo, brilhou no início do caminho uma estrela, que logo se ocultou e reapareceu mais brilhante quando já se aproximavam de Belém.

O Evangelho de são Mateus resume assim aquela aventura:

Tendo nascido Jesus em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente a Jerusalém. Perguntaram eles: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente, e viemos adorá-lo».

A primeira coisa que dizem é que aquela longa viagem foi feita porque viram a sua estrela, e que ela lhes indicou um caminho e uma meta: ir ao país dos judeus para adorar o Messias Rei. Fazia mais de mil anos que esse Rei universal fora anunciado pelos profetas, inclusive por um profeta pagão, o amonita Balaão: Uma estrela sai de Jacó, um cetro levanta-se em Israel (Nm 24, 17). Disso, no Oriente, muitos tinham ouvido falar mais ou menos confusamente. E os Magos sabiam, e aprofundaram na pesquisa.

Mas voltemos à breve frase com que os Magos, ao chegar a Jerusalém, explicaram a sua peregrinação: Vimos a sua estrela no Oriente, e viemos adorá-lo. Muitas luzes podemos tirar de tão poucas palavras. Há aí dois verbos – vimos e viemos -, que resumem tudo o que aconteceu. Retratam a grandeza da alma dos Magos e nos sugerem coisas importantes, se as soubermos escutar.

«Vimos a sua estrela»

Não foi fácil ver aquela estrela. Não no sentido de captá-la fisicamente com os olhos, pois foi precisamente por perceberem a cintilação de uma estrela nova que ficaram intrigados, e começaram a pesquisar e a perguntar-se o que seria aquilo. Difícil foi querer ver mesmo, quando o significado da estrela foi ficando claro. Porque era uma estrela que anunciava e lançava um apelo: mostrava e pedia; era bela, mas comprometia. E, com aquilo que compromete, é fácil fazer-se de desentendido.

Para eles, os Magos, foi uma chamada, e também o é para nós. Do alto do céu do Presépio, Deus parece dizer-nos:

«Por acaso você pensa que não tem estrela? Acha que Eu não conto com você nos meus planos? Pensa que existe algum filho de Deus que não tenha uma missão a cumprir nesta terra? Ou será que você veio a este mundo por engano, sem finalidade?»

A minha estrela é a minha vocação, ou seja, a luz que indica a missão que Deus me confia na vida. Quando descobrimos essa luz, fica claro o sentido da nossa existência: todas as peças da vida – como as pedras de um mosaico – passam a ocupar o seu lugar: as alegrias e as tristezas, o passado e o presente, os sonhos, o trabalho, o amor, as dificuldades, tudo…, tudo fica mais claro e se harmoniza. Mas se não sabemos qual é a nossa estrela, essas peças não passam de um amontoado de cacos.

Vejamos um exemplo. Quando um casal cristão descobre que o seu casamento é uma vocação, e que o próprio Deus lhes confiou uma grande missão – a bela missão de fazer, de edificar uma família -, esse casal viu a estrela. Em qualquer momento de crise, de dificuldade ou de cansaço, o coração lhes dirá:

«Olha para a estrela. Ela te marca o rumo. Ela vai te esclarecer e te recordará que Deus te chama, conta contigo e te ajuda. Sê fiel à tua estrela»

Seguir a estrela, porém, não é fácil, porque nem sempre se vê brilhar: frequentemente fica encoberta pela escuridão, por nuvens densas. Assim aconteceu com os Magos. Viram a estrela no Oriente. Perceberam o que ela indicava e não desviaram disso o coração. Ao contrário, prepararam logo a viagem – que ia ser longa e penosa – e começaram a caminhar, deixando a vida cômoda para trás. A estrela marcou-lhes inicialmente a direção, revelou- lhes o destino, estimulou-os na partida, mas depois desapareceu.

O caminho foi longo e áspero. Passaram por desertos sem uma gota de água; passaram por montanhas escarpadas, cheias de gelo, de neve e de abismos ameaçadores; muitas vezes dormiram ao relento, comeram mal, passaram frio e tiveram medo; e, por serem humanos, experimentaram a tentação de desistir. Pensavam:

«Será que vimos claro, ou foi ilusão?»

Outras vezes:

«Será que vale a pena?»

Outras:

«Será que Deus pode pedir- nos tanto sacrifício? Por quê, para quê?»

Mas nada os deteve. Continuaram a caminhar, mesmo sem verem nada. Não traíram a estrela!

«Vimos e viemos»

É tocante fitar os Magos, cansados, exaustos, empoeirados, chegando a Jerusalém e dizendo com simplicidade, como a coisa mais natural do mundo: «Vimos» e «viemos». Quantas vezes nós podemos pronunciar essas mesmas palavras? Quantas vezes nós não vimos luzes de Deus que nos chamavam – faz isso, ajuda aquele, muda de vida, abandona essa má companhia ou esse mau hábito, esse vício… -, e, infelizmente, fizemos de tudo para adiar, para deixar de lado, para não ir?…

Continuemos meditando. Os Magos já chegaram à que julgavam ser a meta, a capital da terra dos judeus, mas justamente lá as coisas ficaram ainda mais complicadas. Em Jerusalém, perguntaram pelo recém-nascido rei dos judeus e ficaram perplexos, porque lá ninguém sabia de nada. Nem os sacerdotes, nem o rei Herodes, nem o povo. Devem tê-los tomado por malucos. Mas, apesar disso, os Magos não desconfiaram da estrela só porque o povo de Jerusalém não os entendia ou porque os considerava ingênuos, doidos ou fanáticos.

Também nós, hoje em dia, devemos ter a coragem de não nos abalarmos se as pessoas, se o ambiente, se os parentes, não entendem os nossos ideais cristãos. Compreendamos e amemos a todos, também aos que não nos compreendem, mas não afastemos os olhos da estrela. É tão comum no mundo a cegueira para as coisas de Deus!

Os Magos, firmes na sua fidelidade, só se preocuparam em indagar dos sábios de Jerusalém qual era o lugar do nascimento do Messias anunciado pelas profecias; e, quando lhes disseram que era a cidade de Belém, para lá se encaminharam em seguida, com a mesma determinação com que tinham saído de casa e enfrentado a dureza do caminho.

Então:

A estrela que tinham visto no Oriente os foi precedendo, até chegar onde estava o Menino, e ali parou. A aparição da estrela os encheu de profundíssima alegria.

É maravilhoso! Deus sempre cumula de alegria os que se esforçam por ser fiéis, especialmente se a fidelidade lhes custa sangue, suor e lágrimas. Deus se lhes mostra então com mais amor e se lhes entrega.

Vimos e viemos. Temos muito que pensar. Quantas coisas não nos sugere o exemplo dos Magos. Peçamos a Maria e José – fidelíssimos à sua vocação e à sua missão – que nos ajudem a ser homens e mulheres que sabem ver… e ir. Tomara que sempre possamos dizer:

«Estou fazendo isto ou aquilo e me comportando assim por uma razão muito simples: porque vi, vi mesmo a estrela e entendi a razão porque Deus me pôs neste mundo»

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