Aos Padres e Irmãos da Congregação do Santíssimo Redentor
Nota: Novas perseguições não só dos Mafei e Sarnelli, mas ainda dos que atacam diretamente o Instituto, como os jansenistas. O Santo, nesta carta, recomenda de novo o fervor na observância regular e na prática das virtudes.
Arienzo, 30 de setembro de 1770.
Vivam Jesus, Maria e José!
Meus caríssimos Irmãos em Jesus Cristo.
Creio que já ouvistes falar da grande tempestade que desabou sobre a Congregação, por causa das acusações que nossos inimigos levaram à presença de sua majestade, o Rei.
Eu não temo as acusações, porque sei que nesse ponto somos inocentes; temo porém, por causa do pouco espírito que reina em alguns de nossos Irmãos. Não amam a pobreza, como se nossas casas tivessem rendas como têm as dos PP. Cartusianos; quando é verdadeiro milagre da Divina Providência ter cada um à mesa simples pão para matar a fome. Conheceis o estado de indigência de todas as casas. Entretanto, ama-se pouco a obediência; ama-se pouco a caridade, e ouço que alguns vivem murmurando ora sobre isto, ora sobre aquilo.
O que, porém, mais me angustiou foi ter de ouvir que alguns Confrades pretenderam ser preferidos para o exercício da pregação. Meu Deus! Como poderá Deus nos ajudar, conhecendo o nosso orgulho? De semelhante defeito ainda não tinha ouvido falar. Pretender pregar! Mas que proveito podem trazer as pregações do congregado que prega, porque pretendeu pregar? Por caridade, por amor de Deus, não me façais ouvir tais coisas daqui em diante! Essa é uma falta pela qual o súdito merece ser expulso da Congregação, ou ao menos ser para sempre deixado num canto (a pontone), assim que não possa mais abrir a boca.
Por caridade, estejamos unidos com Deus; não lhe demos desgosto, porque não temos ninguém por nós senão Deus; mas, se continuarmos procedendo dessa maneira, Deus nos abandonará e destruirá a Congregação; é o que eu temo muito se não nos emendarmos. Cada um pense em si próprio e procure emendar-se. E a quem não agrada a observância ou a Congregação, que se vá com Deus. Estou muito contente com a saída de certos confrades, porque as ovelhas empestadas empestam as outras. Não faz mal que fiquem poucos; Deus não quer que sejamos muitos, mas que sejamos bons e santos.
Repito: a tempestade, agora, é grande; cada um recomende a Deus a Congregação, e na comunidade recitem-se três ladainhas cada dia com três De Profundis. Precisamos de orações, e somente Nosso Senhor nos pode ajudar. Mas de pouco servirão as orações, se não nos corrigimos dos defeitos.
Eu, pelo que me toca, estou no fim da carreira. Nesta idade avançada, e prostrado no leito, que posso fazer? Vós, meus filhos, deveis manter a Congregação; e estai certos de que, se nos comportarmos bem, Deus nos assistirá sempre; e quanto mais pobres, mais desprezados e perseguidos formos, maior bem faremos e maior será o prêmio que Jesus Cristo nos dará no céu.
Abençoo a todos um por um e peço a Deus que encha cada um de seu santo amor. Cada um reze por mim diariamente, enquanto eu, várias vezes ao dia, faço o mesmo por todos e cada um de vós, meus filhos e irmãos. Jesus e Maria vos abençoem.
Irmão Afonso Maria, do SS. Redentor
(P. S.) — Vejam que todas as rendas das casas passem pelas mãos do ecônomo secular para isso destinado.
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(LIGÓRIO. Santo Afonso de. Cartas Circulares. Oficinas Gráficas Santuário de Aparecida, 1964, p. 70-73)