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Demolir ou edificar?

Na linda natureza de Deus
Hoje em dia faz-se a miúdo um emprego abusivo do termo “ciência”. Tanto na positiva técnica como na teórica filosofia existe, a par de uma ciência construtiva e fecunda, outra que é destrutiva e malsã. Por exemplo, o gigantesco trabalho técnico, durante a Primeira Conflagração Mundial, foi preferentemente destrutivo, armas da guerra, gases devastadores, projéteis explosivos. Também no combate sempre aceso do mundo espiritual, o inimigo lança mão de gases deletérios, ardilosas minas e bombas explosivas.

Destruir é fácil. Muito mais fácil do que construir. Alcebíades sozinho destruiu mais em Atenas, do que uma série de geniais governantes puderam edificar durante séculos, desde Solon até Milcíades, de Temístocles a Péricles. Alguns decênios de invasões bárbaras foram suficientes para aniquilar as grandiosas obras de mil anos de cristianismo. Por que demolir é mais fácil do que edificar? Porque para construir são necessárias grandes qualidades espirituais e morais, planos, perseverança, domínio de si mesmo, valorização de ideais. Destruir, porém, qualquer malfeitor ou imbecil o pode fazer.

Estejamos, pois, convencidos que não é qualquer ciência que representa um progresso cultural, como muitos afirmam erroneamente.

Logo na primeira página da Sagrada Escritura já se declara encontrarem-se na mesma árvore o fruto do conhecimento do bem e o do mal, significando, em outras palavras, haver ao lado da ciência do belo e do bom, outra ciência nociva e ruim. Lancemos à história um olhar retrospectivo e veremos que eram homens sábios, mas perversos, os que maior prejuízo causava à humanidade. Posse de espíritos leais, a ciência é uma bênção; mas o saber do mau é uma maldição para o mundo. Já os pagãos honravam os benefícios dos primeiros, e apavoravam-nos os malefícios dos segundos. O inteligente Prometeu, Apoio, o vidente e os sábios pensadores foram festejados ao passo que Aristófanos, nas “Nuvens”, estigmatiza com toda a razão, a filosofia sofístico-racionalista como envenenadora da vida espiritual de Atenas.

Se grandes autores modernos do Oriente, como Rabindaranth Tagore, Gandhi e outros, fogem das ciências do Ocidente como da peste, referem-se unicamente à pseudociência que destrói os ideais e aniquila os valores. É natural que nós não gostemos da penumbra mística intuitiva, mas devemos confessar que suas manifestações de repulsa nos mostram claramente que nem toda a ciência representa progresso, construção. Em definitiva, somente pode dar felicidade ao homem a ciência que nos aponta a Suma Sabedoria, e nos conduz ao Sumo Bem, a Deus.

Excluamos da Arte o pensamento divino; que vem a ser a rainha do belo? Uma escrava da sensualidade.

Tiremos ao Direito sua base divina; que resta? Desaparece toda a diferença entre bem e mal, entre justo e injusto.

Privemos a Moral da vontade divina a que sanciona a observância das leis. Que fica? Uma problemática obediência a ditames, conveniências sociais, um verniz de moralidade — sem essência, nem conteúdo, nem durabilidade.

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(TOTH, Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 132-135)