Meditação para a Terça-feira da Trindade
SUMARIO
Meditaremos sobre o culto da Santíssima Trindade, e consideraremos dois atos deste culto: o primeiro é um pensamento frequente, ceio de respeito e de amor das três Pessoas divinas; o segundo é a prática das orações fervorosas em Sua honra.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De nos lembrarmos muitas vezes, com respeito e amor, das três Pessoas divinas, e de nada fazermos à Sua vista, que não seja Santo;
2.° De oferecermos a estas três adoráveis Pessoas todas as nossas ações e tribulações, não querendo viver, obrar e padecer senão por elas.
Conservaremos, como ramalhete espiritual, as aspirações de São Francisco Xavier, que repetiremos muitas vezes de dia e de noite:
“Ó Santíssima Trindade!” – O Sanctissima Trinitas!
Meditação para o Dia
Elevemo-nos acima de todos os pensamentos da terra; penetremos com devoção e tremor até às profundidades de Deus, nessa unidade de natureza e nessa trindade de Pessoas, que os anjos não se cansam de adorar e de louvar com o seu sagrado cântico: Santo, santo, santo é o Senhor Deus dos exércitos. Repitamos este cântico do céu, com o respeito dos Serafins, que cobrem as suas asas, porque não ousam fixar a vista em tão augusta majestade; e como nada que é criado se aproxima do que merece esta adorável Trindade, ofereçamos-Lhe a beatitude, que ela goza em Si mesma, vendo as Suas grandezas conhecidas perfeitamente pelo Pai, louvadas não menos perfeitamente pelo Filho, e amadas dignamente pelo Espírito Santo.
PRIMEIRO PONTO
Devemos pensar frequentes vezes nas três Pessoas Divinas com Respeito e Amor
Suponhamos um homem, a quem alguns grandes personagens, por uma afeição toda gratuita e desinteressada, fizessem a insigne honra de o acompanhar por toda a parte e sempre. Se este homem não tivesse nenhuma atenção para com tão honrosa companhia, se lhe não desse provas de respeito e de amor, se nem sequer nela reparasse, ou só nela pensasse com frieza ou indiferença, não seria isto extraordinária irreverência? Ora muito mais repreensível é o cristão, que não se lembra com frequência das três Pessoas Divinas, cheio de respeito e de amor. Sabe que essas três Pessoas adoráveis estão com ele noite e dia, em jornada como em casa; quão culpado pois seria, se não fizesse caso da augusta presença, se quase nunca lhes falasse, nem lhes desse um testemunho de respeito e do amor? Com alguma fé, seria o encanto do seu coração, considerar-se na companhia desse Pai tão bom que o criou, que o conserva, que o tem sobre o Seu peito com um amor mais que maternal (1); na companhia desse Filho tão amável, que o remiu a custa de tantas dores, que não cessa de rogar por ele do céu e nos tabernáculos; na companhia desse Espírito Santo, que lhe quer tanto bem e se ocupa sem descanso na sua salvação. Uma tal companhia fazia a felicidade dos solitários e anacoretas. Vivendo separados da sociedade, nunca se sentiam menos sós do que quando estavam sós; e longe de se enfastiarem ou de se entristecerem desta aparente solidão, achavam no deserto mais retirado um paraíso, na cela mais escura um céu, porque, lembrando-se que estavam na companhia do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sabiam falar-Lhes e ouvi-lOs, gozá-lOs e amá-lOs. Sucedia o mesmo com São Francisco Xavier: no meio dos seus imensos trabalhos, a lembrança da Trindade fazia a sua fortaleza, a sua esperança, a sua consolação; era tudo para o seu coração, e o brado de amor: Ó Santíssima Trindade! (2) estava tantas vezes nos seus lábios, que os mesmos pagãos se tinham acostumado a proferir aquela palavra, porque era, diziam eles, a do homem de Deus.
Oh! Se como aqueles Santos, não esquecêssemos que um cristão nunca está só, que tem sempre consigo quatro pessoas, as três Pessoas da Santíssima Trindade e a pessoa do seu Anjo da Guarda, quanto esta lembrança nos consolaria, nos consolaria nos nossos trabalhos e descanso, nos fortaleceria nas nossas fraquezas, nos reanimaria nos nossos desalentos, nos faria resistir a todas as tentações! O respeito, que dela é inseparável, nos conservaria modestos, moderados, adversos ao mal, e atentos em fazer bem todas as coisas, em sofrer tudo com paciência, em obrar com prudência.
Peçamos perdão à Santíssima Trindade de a termos tanto esquecido, ou de termos tantas vezes pensado nela sem respeito e sem amor.
SEGUNDO PONTO
Devemos dirigir às três Pessoas Divinas frequentes e fervorosas Orações
O fundador de São Sulpício, Mr. Olier, tinha compreendido tão perfeitamente este dever, que ordenou aos seus religiosos, que começassem as orações da manhã e da tarde com estas palavras: Bendita seja agora, para sempre e em todos os séculos dos séculos a santa e indivisível Trindade; que adorassem, louvassem, e invocassem cada dia as três Pessoas Divinas; que oferecessem as suas obras ao Pai, os seus pensamentos e palavras ao Verbo, os afetos do seu coração ao Espírito Santo, que renunciassem a toda a confiança em si mesmos para confiarem na virtude do Pai, ao seu próprio espírito para se unirem à sabedoria do Filho, às suas inclinações para entrarem nos desejos de santidade, que o Espírito divino inspira aos corações dóceis; que se entregassem finalmente ao Pai, para que aperfeiçoasse a sua alma, ao Filho para que a iluminasse, ao Espírito Santo para que a movesse. Da mesma maneira, a Santa Igreja começa, continua, e termina o augusto sacrifício pela invocação da Santíssima Trindade, à qual só professa oferecê-la:
“Recebei, Santa Trindade, esta oferta; aceitai, Santa Trindade, o obséquio da minha sujeição” – Suscipe, Sancta Trinitas… Placeat tibi, Sancta Trinitas obsquium servitutis meae (Orat. Placeat, versus finem Mis.)
Ela diz com frequência estas belas palavras:
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como no princípio, agora e sempre e em todos os séculos dos séculos.
Repete-as debaixo de mil formas diversas no fim de todos os seus hinos, de todos os seus salmos, de todos os seus cânticos; e concede cem dias de indulgência plenária por cada mês em que se recitarem três vezes ao dia. Basta isto para que todos os corações cristãos conheçam, quanto ela deseja, que eles dirijam à Santíssima Trindade este brado de amor e de louvor, este suspiro de um zelo, que anceia ver o Pai, o Filho e o Espírito Santo conhecidos, louvados, glorificados e amados por toda a terra, esse cântico celeste e eterno, que ouviu São João no seu sublime êxtase:
“A que está sentado no trono e ao Cordeiro, benção, honra, glória e poder por séculos dos séculos” (Ap 5, 13)
Oh! Quão pouco dóceis discípulos a Igreja tem achado em nós! Deploremos o passado e proponhamos obrar melhor para o futuro.
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) In ipso vivimus, et movemur, et sumus (At 7, 28)
(2) O Sanctissima Trinitas!
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 146-150)