É preciso ter compaixão
Sede um ‘Deus’ para o desvalido, diz São Gregório Nazianzeno: Esto calamitoso Deus (De curapaup.).
Não deixei, dia e noite, de advertir a cada um de vós com lágrimas nos olhos, diz São Paulo: Nocte et die non cessavi com lacrymis monens unumquemque vestrum (At 20, 31). E agora, encomendo-vos a Deus e à palavra de sua graça: Àquele que é poderoso para terminar o edifício da vossa salvação e fazer-vos participar de sua herança com todos os santos (At 20, 32).
Quem está enfermo que eu não esteja enfermo com ele?, pergunta aquele grande Apóstolo aos Coríntios: Quis infirmatur, et ego non infirmor? (2 Cor 2, 29). Se um membro padece, todos os membros se compadecem: Si quid patitur unum membrum, compatiuntur omnia membra (1 Cor 12, 26).
Sede todos, diz São Pedro, de um mesmo coração, compassivos, amorosos para com todos os irmãos, misericordiosos, modestos, humildes, não pagando mal com mal, nem maldição com maldição, antes, pelo contrário, bens ou bênçãos, porque a isto sois chamados, a fim de que possuais a herança da benção celestial (1 Pd 3, 8-9).
Eu, em outro tempo, chorava com aquele que se encontrava atribulado, diz Jó, e minha alma se compadecia do pobre (Job XXX, 25).
O Pontífice que temos, diz São Paulo aos Hebreus, não é tal que seja incapaz de compadecer-se de nossas misérias, havendo voluntariamente experimentado todas as tentações e debilidades, à exceção do pecado, por razão da semelhança conosco (Hb 4, 15). A vida inteira de Jesus Cristo está plena de compaixão por todas as calamidades e enfermidades etc.
Não há nenhum pecado cometido por homem que não possamos todos nós cometer, diz Santo Agostinho, se não estivermos sustentados por Aquele que fez o homem: Nullum est peccatum quod umquam facerit homo, quod non possit facere alter homo, si desit Creator a quo factus est homo (Soliloq., c. XV).
Não deixes de consolar aos que choram, e faze companhia aos aflitos, diz o Eclesiástico: Non desis plorantibus in consolatione, et cum lugentibus ambula (Eclo 7, 38).
Quão poderosa e vantajosa é a compaixão
A compaixão acalma a dor do aflito, porque:
1.° aquele que se compadece desafoga o coração daquele que sofre. Este coração estava cerrado e oprimido de dor; ele lhe dá expansão. Isto faz Santo Ambrósio dizer: O verdadeiro consolo nesta triste vida é achar um coração compassivo ao qual possamos abrir o nosso: Solatium hujus vitae est, ut habeas cui pectus aperias tuum (Serm. VI).
2.° aquele que se compadece sugere ao sofredor conselhos equilibrados que mitigam sua dor e que este não poderia achar em si mesmo, porque o sofrimento lhe aturde.
3.° A compaixão e uma terna amizade são um bem que está em contrapeso com o mal causado pela dor. Aquele que se compadece proporciona ao coração lastimado um alívio proporcionado a seus sofrimentos: toma a metade das aflições que pesam sobre o desgraçado; e este, fortificado, sofre com mais facilidade e resignação aquelas provas a que está sujeito. Uma carga dividida faz-se menos pesada.
4.° o desgraçado é como alguém que se afoga, sepultado na torrente das tribulações, de onde não pode sair por si mesmo; o homem compassivo estende-lhe a mão amiga e poderosa, com a qual o retira do abismo em que estava submerso, e conserva-lhe a vida. A compaixão inspira ao aflito paciência, valor e até esperança de um melhor porvir.