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XIII. O “Mundanismo” da Igreja

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A santa Igreja de Cristo nada precisa dissimular. A sua história dezenove vezes centenária é uma sequencia tão ininterrupta de atividade grandiosa e abençoada, que é tranquilamente, sem espanto, que vemos na sua fisionomia algumas rugas acidentais, e lemos, sem decepção, nos grossos e magníficos volumes da sua história as poucas páginas deploráveis em que o elemento humano sobressai dolorosamente, na sua existência ao passo que se obscurecem os traços divinos.
O grande pensador húngaro Joseph Eötvös tem razão em escrever:

Numa história perto de dois mil anos, achamos sem dúvida muita coisa que parece vil. Os séculos, como as águas, não depositam na sua passagem os seus elementos mais puros; e, se consideramos o longo passado da civilização cristã, realmente não devemos nos admirar de nenhuma dessas excrescências, mas julgar a árvore, não apenas pelo tronco fendilhado, – que traz cicatrizes centenárias – mas também pela sua abundante folhagem, pelas suas flores e frutos. E quem pode considerar assim o cristianismo sem reconhecer a sua grandiosa beneficência?”.

Na instrução anterior consideramos algumas das críticas que espíritos superficiais dirigem gratuitamente à Igreja, e vimos que os fatos assim censurados não constituem defeitos, mas, pelo contrário, virtudes. Desejaria que não ficasse na alma dos meus caros leitores, nem a menor sombra de duvida. Por isto, na presente instrução continuarei a responder a outras objeções.

Falamos, anteriormente, da pretensa “intolerância” da Igreja; agora falaremos do pretenso “mundanismo” da Igreja. Quisera ocupar-me aqui da censura que certas pessoas fazem levianamente, sob o nome de secularização da Igreja. Quem é que não tem ouvido frases deste gênero:

“A Igreja Católica está hoje bem afastada do cristianismo antigo, não é mais a velha Igreja de Cristo. Cristo disse: “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18, 36), mas a Igreja Católica, com a riqueza dos seus papas e dos seus padres, com o seu luxo, com o seu poder exterior, com a tiara de ouro, com os seus paramentos preciosos, é, certamente, bem deste mundo. Para quê esse poderoso palácio do Vaticano, aqueles grandes aposentos, aqueles tesouros, quando Cristo e seus apóstolos não tinham onde repousar a cabeça? Para quê essa multidão de empregados, para quê o óbolo de São Pedro, quando Cristo era pobre e andava descalço? Para quê essas numerosas cerimônias, esses paramentos sagrados, de ouro e prata, essas pedrarias e as riquezas artísticas das igrejas, quando se poderia também adorar a Deus no silêncio de um simples quarto? Eis aí em que larga medida a Igreja Católica se mundanizou”.

Meus irmãos, quem não tem ouvido críticas, censuras, objeções desse gênero ou análogos? Que havemos de fazer? Assustam-nos?

Absolutamente não. Encaremo-las corajosamente. Estudemos tranquilamente essas afirmações.

1. O brilho exterior e a riqueza da Igreja

Em primeiro lugar censuram-nos o brilho exterior do papado e a riqueza material da Igreja, como provas do “mundanismo” da Igreja.

A) Censuram ao papa o magnifico palácio do Vaticano, os seus grandes aposentos, os seus funcionários, os seus secretários, todo aquele imenso aparelho administrativo com o qual ele dirige os negócios da Igreja universal. “Para quê todo esse imenso organismo de direção? Perguntam em tom de indignação. Não havia nada disso na época de Cristo”.

a) É bem verdade: na época de Cristo não havia nada disso. Porque absolutamente não era necessário.

Mas devemos reconhecer que, se Nosso Senhor Jesus Cristo quis realmente estender a sua Igreja pelo mundo inteiro, precisava para isso duma grande organização. À medida que a Igreja crescia, foi-se tornando necessário que crescesse também essa organização. Na época de Cristo havia 12 apóstolos e 72 discípulos, mas atualmente os 12 apóstolos são cerca de 1.500 bispos, e os 72 discípulos cerca de 300.000 sacerdotes.

Quando Cristo atingiu a idade de trinta anos, já não usava as vestes que tinha aos três anos; assim também, o governo duma Igreja de 360 milhões de membros exige essa multidão de paróquias e de dioceses e as congregações romanas, isto é, esses ministérios variados que, na verdade, não existiam outrora, porque seriam supérfluos na Igreja primitiva, que contava apenas algumas centenas ou milhares de membros. Mas, por causa disso, não se tem o direito de dizer que a Igreja Católica se mundanizou.

b) Além disso, se Cristo realmente quis estender a sua religião pelo mundo inteiro, certamente ninguém se escandalizará de que, entre os povos ocidentais, os fiéis e os sacerdotes usem trajes diferentes do dos orientais, vivam noutros alojamentos, noutras formas sociais, se alimentem diferentemente e segundo as evoluções do tempo e os progressos das épocas, não andem descalços, não se vistam de burel, não comam gafanhotos nem mel silvestre… Por causa disso, não se tem o direito de acusa-los de se haverem mundanizado e de se terem afastado de Cristo.

Sem dúvida, Cristo disse a seus discípulos: “Segui-me”; mas não disse: “Copiai-me”. Sim, copiemos-lhe a alma, o espírito, mas não o aspecto exterior.

Nosso Senhor, provavelmente, andava de sandálias ou talvez descalço; mas em parte alguma lemos que Ele tenha dito: “Aprendei a andar descalço, a meu exemplo”; Ele disse: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).

Nosso Senhor alimentava-se de pão, peixe, tâmaras, mel, e andava a pé, mas nunca disse: “Se não andardes a pé como eu, e se não comerdes como eu, não podeis ser meus discípulos”.

Nosso Senhor, provavelmente, tinha cabelos compridos e usava barba, mas os padres atuais não estão distanciados de Cristo, porque cortam o cabelo e a barba.

Nosso Senhor navegava em canoa de remos, o missionário atual viaja em transatlântico; Cristo entrou em Jerusalém numa mula, o sucessor atual dos apóstolos circula de automóvel por entre os fiéis, – e no entanto não se afasta de Cristo. Na verdade, Cristo viajou, vestiu-se, comeu e falou, como os homens da sua época; e não se pode censurar à sua Igreja e aos seus sacerdotes seguirem exteriormente os usos dos diferentes povos e épocas em que vivem. Na China, os missionários usam rabicho, e vi pessoalmente um bispo católico índio, trazendo na cabeça magnifico enfeite de penas da sua tribo, mas não ousaria afirmar, por isso, que eles se afastam de Cristo.

B) “Mas – replicam – por favor, se trata só de semelhantes coisas. Digam-nos, então, por que é que a Igreja precisa de bens terrenos, e por que é que o papa precisa de tanto dinheiro, que lhe é enviado, do mundo inteiro, sob o nome de óbolo de São Pedro? Quando a Santa Sé faz uma nomeação ou confere uma distinção, quando dá uma dispensa, por exemplo, por ocasião dum casamento misto, há uma taxa, a pagar, uma compensação. Atualmente cunham-se mesmo moedas do papa. Não é um sinal de secularização?” – perguntam certas pessoas.

E para mostrar que nada temos a ocultar relativamente à nossa Igreja, não me quero esquivar a essas perguntas.

a) A Igreja de Cristo, sem dúvida, não é deste mundo, mas exerce a sua ação no mundo. Não pode, pois libertar-se dessa lei geral, que a obriga a utilizar, para a sua obra, meios materiais. Com efeito, ela também tem de pagar seus empregados; não lhe dão de graça o papel, os carimbos, a tinta e a luz; tão pouco pode ela, sem dinheiro, construir igrejas, socorrer os pobres, auxiliar os missionários. O próprio Nosso Senhor tinha uma caixa comum com seus apóstolos, a qual era guardada pelo desgraçado Judas (Jo 12, 6); Cristo não se escandaliza, pois, certamente, se sua Igreja possui também uma caixa.

b) O governo da Igreja universal exige dinheiro, muito dinheiro, e os católicos do mundo inteiro fornecem-no sob o nome de óbolo de São Pedro. O óbolo de São Pedro é a contribuição feita à Igreja com fins eclesiásticos. Mas é uma contribuição voluntária – jamais alguém vem cobrá-la. É o único imposto no mundo, que cada qual paga com alegria, e de todo coração. Mesmo porque, quem não o desse com alegria, não o pagaria.

Mas – deixai-me falar-vos francamente – o papa não gasta esse dinheiro com a sua cozinha. Não sei se existe uma família da classe média, cuja mesa não seja muito superior à mesa do papa! Já falei disto numa das últimas instruções, mas sou forçado a repisá-lo, porque sempre há pessoas que imaginam que o papa, quando se senta para almoçar, senta-se diante de um banquete.
Para onde vai então o óbolo de São Pedro? Vai para as obras de caridade do papa, vai para as obras de beneficência que socorrem os fiéis feridos pela sorte, em todas as partes do mundo, vai para as obras missionárias.

A basílica de São Pedro, de mármore cintilante, não existe para o papa, mas para toda a Igreja Católica. Nos magníficos aposentos do Vaticano não vive um particular riquíssimo – como um grande banqueiro – mas o chefe de 360 milhões de católicos. E se um pequeno reino de 4 ou 5 milhões de habitantes faz questão que o chefe do Estado viva suntuosamente num palácio grandioso, quem poderia acusar a Igreja de 360 milhões de católicos, porque lhe apraz ver seu chefe nas esplêndidas salas do Vaticano?

Repito, porém, com insistência, que tudo isso não é coisa essencial para a Igreja. E se um dia um terrível terremoto sacudisse o solo de Roma, se todas as paredes da Basílica de São Pedro ruíssem, se o fogo consumisse todos os museus, as obras de arte e os aposentos luxuosos do Vaticano, a Igreja não perderia nenhum dos seus valores vivos. Basta-lhe que subsista o túmulo de São Pedro, o túmulo desse Pedro que é o predecessor de todos os papas, e a pedra de base da Igreja eterna.

Aí está de que é que nos devemos lembrar, quando espíritos superficiais censuram à Igreja o se haver afastado da sua antiga simplicidade, e sustentam que o luxo e o poder mundanizaram o papado. Recordemos o grande elogio que Schiller fez aos papas, quando escreveu, de maneira própria para impor silencio aos que ignoram a História:

Tem-se visto imperadores e reis, homens de Estado esclarecidos e guerreiros indomáveis, sob o impulso das circunstancias, sacrificarem direitos, tornarem-se infiéis aos seus princípios e cederem à necessidade; só raramente, ou mesmo nunca, se tem encontrado semelhante coisa no papa. Mesmo quando ele vagueava na penúria, quando não tinha mais uma polegada de território na Itália, e vivia da caridade dos estrangeiros, sempre sustentou firmemente os privilégios da Santa Sé e da Igreja… Por mais diferentes que os papas possam ter sido no temperamento, no modo de pensar e na capacidade, a sua politica tem sido igualmente firme, igualmente idêntica, igualmente imutável. As suas capacidades, o seu temperamento, o seu modo de pensar parecem não terem tido nenhuma influencia nas suas funções; a ‘personalidade’, poder-se-ia dizer, desaparecia-lhes sob a dignidade, e as paixões se estinguem sob a tríplice coroa. Se bem que, a cada papa que morre, a cadeia de sucessão se quebre e se renove com cada novo papa; se bem que no mundo nenhum trono tenha mudado tanto de senhor, tenha sido ocupado e deixado às vezes tão repentinamente, ele tem sido sempre o único trono do mundo, que parece nunca ter mudado de possuidor, pois os papas morrem, mas o espirito que os anima é imortal” (Schiller, Universalhistoriche Übersicht der merkwürdigsten Staatsbegebenheiten zur Zeit Friedrichs I).

2. O brilho das nossas cerimônias

Não se pode, pois, censurar à nossa Igreja o se haver mundanizado porque, para sua imensa atividade, precisa de uma vasta hierarquia e de numerosos empregados. São também fracas as objeções que querem acusar-nos de mundanismo por causa dos esplendores da nossa liturgia e da riqueza das vestes e objetos litúrgicos.

“Para quê essa multidão de cerimônias que têm lugar, por exemplo, numa missa pontifical? As pessoas levantam-se, sentam-se, vão para aqui, vão para acolá, incensam, tocam campainha, cantam… E aqueles ricos paramentos de veludo ou de seda, aqueles cálices de ouro…”.

Como vedes, irmãos, não nos esquivamos a responder a essas censuras.

A) Primeiramente, não nos esqueçamos de que, por trás da liturgia atual e das vestes litúrgicas, há longos séculos, há o legado precioso das velhas gerações cristãs, dos nossos antepassados cristãos.

a) Eu mesmo estou persuadido de que, se a Igreja regulasse na época de hoje as suas vestes e cerimônias litúrgicas, fá-lo-ia de modo diverso e sob forma muito mais simples.

Mas essas vestes e essas cerimônias, esses ritos e esses gestos foram introduzidos, há muitos séculos, numa época em que os próprios indivíduos viviam com esse cerimonial e, nos dias de festa, se revestiam de hábitos suntuosos e cobertos de pedrarjas.

b) Mas então, por que não os simplificar segundo as ideias atuais? – poderia alguém perguntar.

Não faz muito tempo, circulava através da humanidade obcecada pelos progressos técnicos, esta palavra de ordem: Desvencilhemo-nos do passado! Esqueçamos o passado! Só o progresso, o progresso!

Mas naturalmente começamos a abrir os olhos. Começamos a descobrir que, assim como o futuro forma-se do presente, assim também o presente só pode construir-se sobre o passado. Por toda parte começa-se a apreciar o passado, e sob todos os seus aspectos. A família estima os seus antepassados e prega com ufania o seus retratos nas paredes do lar. A nação estima a sua História e ensina-a com orgulho à nova geração. No povo, estimam-se os antigos costumes e as antigas cerimônias; isso é tudo recolhido no “folk-lore” e preservado do desaparecimento. Mas então, pode alguém razoavelmente indignar-se se a nossa Igreja Católica se ufana do seu passado dezenove vezes centenário, e se a sua piedade respeitadora do passado o afasta da simplificação, mesmo hoje em dia, e conserva suas antigas e pitorescas cerimônias?

Nossos avós vestiam-se de maneira diferente da nossa. É entretanto para admirar que, por ocasião de uma festa nacional, os costumes antigos sejam relembrados? Compreende-se, pois, muito bem que, nos maiores acontecimentos da vida religiosa e nos ritos mais solenes, na santa missa e nas demais cerimônias eclesiásticas, essa tradição seja respeitada no culto do passado.

Os soldados também usam uniforme, e, nas circunstâncias mais solenes, uniforme de gala, mais fino, mais enfeitado. E por que usam eles uniforme, quando podiam fazer igualmente bem o seu serviço com roupas comuns de trabalho? É para que todo mundo perceba que eles não são simples particulares, mas servidores do país. Ninguém censura aos soldados o seu uniforme. Mas então por que não se estende a mesma compreensão aos sacerdotes que celebram a santa missa? Por que se há de criticar a Igreja porque os reveste dum uniforme de cerimônia quando eles se encaminham para o altar, pois que ela indica, por essas vestes, que eles não estão ali como indivíduos particulares, mas como servos de Deus?

B) E eis-nos chegados à segunda parte da resposta. Os que se escandalizam dos nossos ricos paramentos, dos cálices de ouro, das igrejas ornamentadas; esquecem-se de que todo esse luxo não visa aqueles que o ostentam, mas a Deus, cujo culto reclama, com direito, as coisas mais belas e mais preciosas

a) Quem não acreditasse que todo esse brilho e todas essas pompas litúrgicas não se dirigem ao homem, teria apenas que assistir à coroação de um novo papa; notaria que, quando o papa entra na basílica de São Pedro, no meio das mais grandiosas solenidades, queimam diante dele um punhado de estopa e dizem-lhe ao ouvido: “Beatissime Pater, sic transit gloria mundi” – “Santíssimo Padre, assim se esvai a glória do mundo”.

O esplendor e a pompa das nossas cerimoniais não existem, pois, para o sacerdote ou para o bispo que celebra a missa, mas unicamente para Deus. E, certamente, poder-se-ia considerar muito mais como mundanismo se, em vez da alva branca e dos paramentos de seda, impostos por um habito milenário, eles se encaminhassem para o altar, para celebrarem o santo sacrifício, vestidos como os outros mortais, com as vestes usadas no mundo.

Dai vós mesmos a resposta: a Igreja serviria melhor a causa de Deus, facilitaria o culto divino, se vendesse aos negociantes de antiguidades os paramentos recamados de ouro, herdados dos nossos piedosos antepassados, para servirem de estofo aos canapés de ricos salões? Faria ela bem com isso? E se tirassem das igrejas toda ornamentação, toda imagem santa e toda estatua, de maneira que elas fossem como celeiros caiados, seria com isso favorecido o culto divino?

Mas se alguém disser – como se costuma dizer – “Cristo era pobre, vivia com simplicidade, e o luxo e o esplendor eram-lhe coisas estranhas”, lembre-se de que nas nossas cerimônias nós não honramos somente a Cristo vivendo numa pobreza voluntária na terra, mas também a Cristo Rei que, por seus sofrimentos voluntários mereceu os esplendores do céu; lembre-se de que, quando Judas murmurou, por causa do perfume precioso derramado nos és do Salvador, o próprio Nosso Senhor tomou a defesa do amor generoso de Madalena.

b) É, portanto, verdade que as nossas cerimônias são ricas e faustosas. É verdade também que, no tempo de São Pedro, não havia nem Vaticano de paredes de mármore, nem sala de audiências atapetada de Gobelins. Mas, se São Pedro ressuscitasse um dia, e saísse do túmulo com a aureola da gloria eterna, se penetrasse as abóbadas da Basílica de São Pedro, se entrasse no Vaticano e no gabinete de trabalho de Pio XII… É certo que não consideraria Pio XII sem o compreender, que não ficaria espantado, mas, antes, se exprimiria assim:

Irmão, saúdo-te, a ti que és a pedra fundamental que eu fui outrora. Há mil e novecentos anos! Certamente há muito tempo – para nós, para homens. Mas, diante de Deus, ‘mil anos são como o dia de ontem que não existe mais’ (Sl 89, 4).

Certamente, a vida terrestre mudou. Minhas vestes eram diferentes das tuas. Meu alojamento era diferente do teu. Minha língua era diferente da tua… Muita coisa é hoje inteiramente diversa da do meu tempo. Numa só coisa não há entre nós diferença alguma: na nossa fé. O que tu ensinas sobre Nosso Senhor Jesus Cristo, eu também o ensinei. O que tu pregas sobre a redenção nas tuas pastorais apostólicas, eu o preguei também. Os sacramentos que conferes, eu também os conferi.

Temos uma mesma fé. Temos um mesmo amor. Eu compareci perante Nero por causa de Cristo, e tu também te ergues contra os Neros do México, da Rússia, da Espanha… O que eu vejo hoje na Igreja Católica, as cerimônias, os belos paramentos, as festas, as peregrinações, se não as conheci, tudo isso é um desenvolvimento natural da semente que Nosso Senhor Jesus Cristo semeou”.

Eis aí, pouco mais ou menos, como São Pedro falaria ao papa atual, e em seguida voltaria ao seu túmulo. É certo que não iria repousar nem em Wittermberg, nem em Genebra, nem em Oxford, nem em Petrogrado, nem em Constantinopla, mas certamente, escolheria ainda a Roma católica para seu tumulo.

***

Meus irmãos, uns censuram à Igreja o haver-se mundanizado; outros, em compensação, atacam-na porque ela se afastou do mundo, porque não progride suficientemente com seu século, porque não compreende a linguagem dos tempos novos. A Igreja, realmente, não se mundanizou; o fato de sempre haver o mundo perseguido e odiado a Igreja Católica prova-o melhor do que qualquer argumento. Porventura Nosso Senhor não predisse aos seus discípulos: “Se fosseis do mundo, o mundo amaria o que lhe pertenceria como seu; mas, por isso que não sois do mundo… o mundo vos odeia” (Jo 15, 19)? O ódio incessante com que o “mundo” persegue ainda hoje a Igreja de Cristo é a prova mais evidente de que a Igreja realmente não se “mundanizou”.

Infelizmente, também há tristes páginas na história da igreja – como o vimos na instrução precedente; houve-as porque Nossos Senhor pôs o destino terrestre da Igreja divina nas mãos de homens frágeis e inclinados aos pecado. Mas quem lê sem opinião preconcebida a história da igreja, é obrigado a fazer esta afirmação:

O corpo da Igreja é da terra, sua alma é do céu, mas eu quero ser da Igreja Católica toda.

Quero ser agora fiel à minha Igreja na terra, para poder ser, um dia, ditoso filho de Deus no céu. Amém

(Toth, Mons. Tihamer. A Igreja Católica. Rio de Janeiro: José Olympio, 1942, p. 160-172)